Como acabar com um casamento escrita por Lily


Capítulo 5
V




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V

Caitlin abriu os olhos encarando seu reflexo no espelho, o cabelo preso de lado com alguns cachos soltos, o leve rosado em suas bochechas e o gloss em sua boca. O maquiador sorriu e ela tentou sorrir de volta.

—Está nervosa querida? – ele perguntou calmamente.

—Não. – ela com certeza não estava, na verdade ela estava magoada, os flashes da noite anterior ainda rodavam em sua cabeça. Barry a havia deixado.

—Aí minha filha, você está linda. – sua mãe comentou sorrindo. – A noiva mais linda que eu já vi.

Caitlin adoraria concordar, mas sabia que abrisse a boca era capaz de chorar.

—Ronnie tem muita sorte de se casar com você. – Laurel disse.

—Com certeza. – sua mãe assentiu. – Ele é o melhor para você.

Abaixou a cabeça. Eram as mesmas palavras que Barry havia dito. O melhor para você, e eles lá sabiam o que era melhor para ela?

Suspirou sentindo o peso sobre seus ombros. A porta se abriu e Íris entrou com um sorriso triste no rosto.

—O que houve? – Felicity perguntou.

—Um grande amigo meu vai viajar hoje, não poderei ir vê-lo no aeroporto. – Caitlin se virou para ela, não precisava nem perguntar, sabia exatamente quem era. Barry estava deixando-a sem nem dizer adeus, sentia as lágrimas se acumularem em seus olhos, respirou fundo tentando se acalmar. – Mas nada disso vem ao caso, agora temos que nos preocupar com essa linda noiva, nervosa, Caitlin?

Negou com a cabeça esse virou para o espelho, podia ver o reflexo do seu vestido pendurado na porta. Era isso, não podia voltar atrás, aquela era sua vida, realizar os desejos de todos. Ronnie era o melhor para ela, ele com certeza era. E Barry não passava apenas de uma forma de aliviar a tensão que tudo que estava acontecendo, suas incertezas, seus sonhos não realizados, seus desejos não cumpridos, sua vida que não lhe pertencia mais. Por deus, o que ela estava fazendo?

—Acho que falta apenas colocar o vestido. – Felicity disse, Carla caminhou até a porta pegando o lindo vestido branco, Caitlin ficou em pé.

—Posso fazer isso sozinha. – falou, sua mãe franziu a testa.

—É um momento especial para ela, tia Carla. – olhou para Felicity agradecida. – Vamos.

Todos saíram do quarto a deixando sozinha, alisou o vestido estirado sobre a cadeira, o impecável branco lhe doía nos olhos, não foi complicado coloca-lo em seu corpo, porém foi muito estranho, se sentia uma estranha em seu próprio corpo. Não parecia ser Caitlin Snow naquele vestido, estava mais para uma pessoa moldada pelos padrões impostos. A Caitlin perfeita, a Caitlin que nunca de erra, nunca engana, ou manipula, a Caitlin que tem seus sonhos reprimidos e seus desejos sabotados. Prensou os lábios respirando fundo, pegou o buquê e saiu.

Wally já a esperava, sorriu para ele, queria se sentar e começar uma conversa com ele, talvez saber mais sobre como era sua interação com Barry, mas sabia que aquilo seria apenas uma distração para o que vinha a sua frente. A marcha nupcial soou assim que ela pôs os pés no quintal, apertou o buque com força, todos os convidados ficaram de pé para sua passagem, pisou no tapete vermelho coberto de pétalas de rosas, institivamente lembrou-se de Iris, sorriu. Se perguntava se ela havia feito aquilo? Atender a um pedido que não estava na lista, procurou a organizadora com os olhos, então confirmou o que havia pensado, uma completa desconhecida havia feito-a feliz apenas com flores, enquanto seus amigos, as pessoas que amavam estavam lhe fazendo tão triste.

Parou no meio do caminho, apertando o buquê com força. O que ela estava fazendo? Estava pronta para passar o resto da vida com uma pessoa apenas por ele ter a aprovação de todas as pessoas a sua volta, sua vida seria chata e monótona, o casamento se desgastaria e muito provavelmente Ronnie a trairia antes dos cinco anos, então carregaria a família nas costas, se tivessem filhos iria ser pior, eles cresceriam em meio a uma família em constate colapso. Já podia prever seu futuro antes mesmo de pôr a aliança no dedo.

—Wally? – o chamou baixinho sentindo todos os olhares sobre si, abaixou a cabeça. – Wally, quando sai o voo do Barry?

—O que? – ele indagou confuso.

—Quando sai o voo do Barry?

—Em dez minutos. – Wally respondeu sem entender.

—Wally, pegue a minha bolsa, por favor.

Sentiu sou coração bater contra o peito, ela sabia exatamente o que fazer. Levantou a cabeça encarando o altar, Ronnie a encarava confuso, assim como todos a sua volta. Então subitamente virou-se de costas e correu, era tão simples aquilo, por que diabo não fez antes? Tinha que ficar com Barry, era a ele que ela pertencia.

Podia ouvir os gritos de sua mãe e o chamado de seus amigos, mas nada importava, deu a volta na casa até o estacionamento, o manobrista a encarou confuso quando ela pediu a chave de qualquer carro, quando já estava com a chave na mão foi que Wally apareceu.

—Quanto tempo daqui até o aeroporto?

—Acho que uns quinze minutos, mas se você for rápida ainda dá tempo de pegar o avião dele.

—Barry te contou, não foi? – indagou, Wally sorriu.

—Ele está completamente apaixonado por você.

Ela não pode deixar de sorri com aquilo.

—E eu por ele.

—Caitlin! – a sua mãe gritou correndo de maneira desajeitada em sua direção.

—Não tenho tempo para isso. – disse se afastando e abrindo a porta do carro que o manobrista havia trazido. – Tenho que pegar um voo.

—O que?!

—Sinto muito, mamãe, sinto por não ser a filha perfeita, por não ser o que você quer. Eu me perdi no meio do caminho, mas ele me trouxe de volta. Tenho que ir.

Carla a encarou abismada, Caitlin sabia exatamente o que sua mãe estava pesando, aquilo não era jeito de uma dama se comportar. Olhou para além dela e viu Ronnie correr em sua direção, sempre atrasado, mas então algo aconteceu, Iris apareceu e sem “querer” colocou o pé na frente dele fazendo-o cair, Caitlin riu, antes de entrar no carro. Não se importava com as batidas de sua mãe contra o vidro ou os gritos de Felicity, apenas não podia deixar Barry ir.

***

Estacionou o carro de qualquer jeito e correu para dentro do aeroporto arrastando o vestido, os olhares questionadores que antes lhe fariam se encolher de medo, agora lhe davam força para seguir até Barry. Por muito tempo se privou de ser ela mesma, mas inacreditavelmente Barry havia conseguido traze-la para a superfície, aquela que corria em meio a ao saguão do aeroporto segurando a saia de tule com medo de tropeçar, aquela que havia acabado de abandonar o noivo de mais de seis anos no altar, aquela que havia se apaixonado por um cara que havia conhecido há apenas três dias, aquela era a verdadeira Caitlin Snow.

—O voo para Madri já saiu? – Indagou a atendente que a encarava confusa.

—Há cinco minutos.

Caitlin suspirou frustrada. Havia perdido Barry. Colocou as mãos sobre o rosto contendo as lágrimas que ameaçavam escorrer. Não. Não. Não.

—Desculpa me intrometer, mas você por acaso perde sua lua de mel? – a atendente perguntou, Caitlin sorriu de lado e negou com a cabeça.

—Não, acabei de fugir do meu casamento para encontrar o cara por quem eu me apaixonei. – disse rindo, aquela era uma frase estranha de se falar e ouvir.

—Você abandonou seu noivo no altar?

—Sim, mas sabe de uma coisa, eu não me arrependo nem um pouco. Acho que o casamento não é para mim.

A atendente sorriu mesmo sem saber o que falar, Caitlin se afastou dela indo para uma das inúmeras cadeiras espalhadas pelo saguão. Colocou os cotovelos sobre os joelhos e se inclinou para frente, não podia voltar para o hotel ou o casarão, não queria enfrentar a ira de sua mãe e Ronnie, eram suas escolhas que a levaram até ali e seriam elas que ela seguiria para sempre. Um pé inquieto se mexeu ao seu lado.

—Longo dia? – indagou sem olhar para a pessoa ao seu lado.

—Acabei de perder meu voo para Madri.

—Por que?

—Cheguei atrasado, mas acho que foi a melhor coisa que me aconteceu. – Caitlin levantou a cabeça, Barry sorriu para ela. – Deus, você está linda.

Caitlin sorriu antes de se jogar nos braços dele, era como estar em casa, quente e familiar. Barry tinha cheiro de menta misturado com canela, sorriu ainda mais.

—Então a doutora Caitlin Snow fugiu do seu próprio casamento. Isso me surpreende.

—Certos erros merecem ser cometidos. -  sussurrou antes de beija-lo. – Eu quero ir como você, Barry, seja para Madri ou para qualquer lugar, quero apenas estar com você.

—Eu também, mas acho que nenhum de nós vai para Madri. – ele disse segurando seu rosto com as mãos.

—Não importa, eu vou com você para qualquer lugar.


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