Underwater escrita por JuremaDoMar


Capítulo 4
Festa




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  Cheguei em casa e meu cu tinha chegado a um nível absurdo de tão trancado que estava. Abri a porta com o coração na mão.

   Berrei como uma cabrita ao ver que estava na minha frente.

    -Tereza!- Eu abracei-a

    -Clara.- ela também gritou.-       

    -Menina quer me matar do coração? Que história é essa de ir para Micaal e ser salva pelo sobrinho da Laura?

  Sobrinho? Viajar, sei lá o nome dele, era sobrinho daquela lagosta bronzeada?

   -Ai quer saber? Depois você me conta mas agora vamos para um festa!- Ela nem me deixou se pronunciar.

  -Festa Tereza? Sabe que entre festa e viver em cativeiro. Eu prefiro viver em cativeiro.- eu disse cruzando os braços.

  -Clara meu amor. Eu vou passar o mês aqui, vamos poder mofar aqui assistindo série ou comendo gordices mas hoje o boyzinho vai estar lá. E eu quero mostrar essa delícia.- Ela apontou para si mesma.- Para ele, e eu consegui convencer sua mãe a deixar você dar um mergulho.

   -Deixa eu raciocinar aqui. Você vai ficar aqui um mês?- ela assentiu.- E a minha mãe, por mandinga sua, deixou eu ir nadar enquanto tu dá uns pegas

no boy?

   -Mandinga não. Suborno.- Ela sorriu maliciosa.

   Ela sempre fazia isso, se tinha alguém que conseguia

subornar minha mãe era a Tereza. Principalmente com a torta de frango divina que só sua família sabia fazer e que era sua especialidade, e por coincidência a favorita da minha mãe.

  -Oi lindezas, será que poderiam ir para qualquer lugar menos no corredor. É que atrapalha a passagem sabe.- Mamãe disse com Lucas no colo.

  Sim. Estavamos conversando no meio do corredor. Mas qualquer lugar, era lugar para Tereza e eu colocarmos os babados em dia.

 Assentimos e subimos para meu quarto, me joguei de bruços na cama enquanto Tereza fechava a porta. Tereza  deitou na cama fazendo meu bumbum de almofada, segundo ela era fofinho.

  -Então, além de você ter dado um role la em Micaal, o que mais aconteceu enquanto eu estive fora?- Ela perguntou enquanto mexia no celular, aposto que estava babando no Adrian.

   -Bom… Eu… Não contei pra ninguém isso mas... -Dei uma pausa respirando fundo.

   -Mas…-Tereza me incentivou a continuar.

  -Marcos tentou me bei…- Eu murmurei baixinho.

   -Fala pra fora garota!- Ela praticamente gritou.

   -Marcostentoumebeijarmaseurecusei.- Eu falei em um só fôlego.

 Ouvi ela suspirar e levantar, ela me puxou para sentar na sua frente.

 -Fala pra fora, devagar e de um jeito que um ser humano normal possa compreender.- Ela disse calmamente passando as mãos pelo meu rosto.- Vai anda desembucha.

  Suspirei e com calma falei:

 -Marcos tentou me beijar, mas recusei.

  Sua boca se abriu em um perfeito “O” e seus olhos se arregalaram.

 -Men-ti-ra?- Ela perguntou descrente,neguei. -Isso vai dar o maior caos se alguém souber.

  Agora foi minha vez de arregalar os olhos.

   -Ninguém vai saber, ninguém ouviu?

   -Tá bom. - Ela revirou os olhos. - E depois?

   -Eu tentei me desvencilhar dele, porém escorreguei e caí em um barco batendo a cabeça e apagando logo depois.

  -Pera lá! - Ela exclamou. - Quer dizer que aquele papo de você ser descuidada era mentira? E foi ele quem fez você cair no barco e desmaiar?- Assenti.- Mas garota! Tu tem problemas mentais? Você mentiu pra uma autoridade! - Tereza tendo bom senso? Estou com medo.- Boa! Aprendeu comigo. - Esquece. -Mas tu sabe que eles instalaram câmeras lá  há duas semanas né?

  Neguei. Como assim instalaram câmeras? Cadê minha privacidade? Quero nadar em paz, principalmente por um mínimo detalhe que estava lascando minha vida. A cauda.

  -Amiga se virem nas câmeras, tu tá lascada.

  Me deitei na cama de novo, puxei meu travesseiro e coloquei sobre o rosto.

 -Eu sei.- Falei com a voz abafada pelo travesseiro.

 Ela se levantou e foi até a mala.

 -Vamos deixar de tristeza e vamos preparar umas roupas, que hoje é dia de maldade.- Ela disse tirando umas mil e uma peças de roupa de sua mala, que eu nem tinha percebido até o momento.

 Levantei contra a minha vontade e fui procurar algum bikini. Tereza me obrigou a passar maquiagem, o que para mim foi totalmente desnecessário, afinal eu iria entrar na água. Ela vestiu-se com uma jardineira e uma regata, ela prendeu o cabelo para o lado deixando seus cachos caírem sobre seu ombro, passou uma leve maquiagem em sua pele morena e colocou um colar de conchas, quem visse diria que a verdadeira sereia era ela não eu, ela estava extremamente linda.

  -Você vai assim?- Ela perguntou olhando para minha pessoa, que vestia uma blusa de moletom e um shorts.

  -Eu nem vou ficar na festa.- Eu a olhei e ela fez uma carranca,revirou os olhos e bufou.

  -Você é impossível.- Ela disse retocando sua maquiagem.

   Depois de termos terminado, na verdade, depois da Tereza ter terminado, descemos as escadas juntas, nos encontramos com mamãe na cozinha, ela estava preparando o jantar.

    -Ei tia Lucia!- Tereza a chamou.- Você não vai para a festa conosco?

     -Hoje não Zaza. Tenho que cuidar desses dois.- Ela apontou para a sala onde papai e Lucas brincavam.- Seu deixá-los sozinhos eles quebram a casa todinha.

      Ambas caíram na gargalhada enquanto eu forçava um riso, elas pareceram não perceber meu falso riso e fiquei feliz por isso, o que eu menos queria no momento era uma enxurrada de perguntas como: “ o que houve?”, “você tá bem?” e etc… Não iria ser fácil explicar que eu tinha virado um peixe, papai estava traindo mamãe e isso tudo estava me dando nos nervos já que eu estava de castigo do que me acalmava.

  -Ai amiga!- Tereza se virou para mim.- Me perdoa, eu esqueci do seu… probleminha.- Ela disse referindo a minha dor de cabeça.

 Depois de todas as reviravoltas que passei em menos de uma semana, tinha me esquecido de que ela tinha sumido completamente e tinha sido substituída pelas melodias harmoniosas. Eu nem mesma contei para minha mãe o ocorrido.

 -Bom… Eu deveria ter contado ante s.- Sorri sem graça. - A dor foi embora completamente.

  Ambas olharam-me com queixos caídos, como se estivessem acabado de ver o fantasma do natal antepassado.

  - O que?!- Ambas gritaram juntas

  -E você só conta agora?- Mamãe gritou.

  -É sério?- Tereza perguntou.- Sério? Sério mesmo? - Assenti.

  Ambas gritaram e me abraçaram dando pulinhos, confesso que participei também, afinal eu estava livre de uma dor que me acompanhava desde que me tenho por gente.

   -Hey! É ano novo aqui? - Papai surgiu diretamente do tártaro. Com o Lucas no colo. - Vocês tão quase soltando fogos aqui, posso saber o motivo para participar também?

  -Clara disse que a dor de cabeça dela sumiu. - Mamãe disse apertando sua bochecha contra a minha.

  -Sério filha?

  Assenti e puxei a mão de Tereza.

  -Tchau mãe.

  Saimos pela porta na velocidade da luz, não  deixei nem que minha mãe me respondesse e nem me dei o trabalho de me despedir do meu pai.

   Seguimos o caminho em silêncio, o que foi totalmente chato e anormal, já que quando estávamos juntas a conversa fluía sozinha.

     -Amiga.- Ela me chamou enquanto andávamos pelas ruas de Dovii. Olhei-a.- Você… Algo aconteceu entre vocês? Tipo entre você e seu pai?

    Suspirei e abracei meu corpo, eu sabia que podia confiar nela, mas ela acreditaria em mim?

     -Eu estava esperando sairmos de casa para conversarmos sobre isso. Eu ouvi uma ligação do meu pai para uma tal mulher, ele chamou ela de ursinha. Ursinha!

     -É meio estranho vindo do seu pai. Sabe ele parece amar sua mãe e vocês todos. Talvez seja um mal entendido. - Ela enroscou o braço dela no meu.

     -Ele trocou de perfume. Foi ela que deu, ele disse “ eu vou sempre usar pra me lembrar de você”. - Fiz uma careta me lembrando da cena.

    -Nossa… Eu… Não sei o que dizer.- Ela me apertou mais forte. Seu jeito de dizer “ não sei o que falar, mas estou aqui por você”. - Olha! Chegamos! - Ela apontou para uma parte da praia que tinha sido reservada. O tema de hoje era livre, haviam vários pisca-piscas espalhado como se fossem estrelas. As pessoas dançavam na areia ou bebiam.

 Tereza tirou de seu bolso duas pulseiras, uma colocou em seu pulso e a outra ela me entregou. Olhei-a com o famoso “ué” estampado em minha face. Tereza pareceu perceber minha dúvida.

   -Oh! Eu esqueci de te avisar, essa festa é open bar, por isso as pulseiras, só entra quem pagou. - Ela explicou.

  -Você pagou a toa.- Eu disse seguindo-a.

  -Talvez você mude de ideia.- Ela apertou minha bochecha.

  Dei de ombros, nem em mil anos eu mudaria de idéia. Mal chegamos e Tereza sumiu, ela simplesmente gritou um “Nois se vê  por aí” e se mergulhou em meio a aquele monte de pessoas se esfregando. Minha única vontade naquele momento era sumir dali, dei meia volta e fui para o calçadão, fui andando com as mãos no bolso do moletom. A praia estava completamente cheia, eu não conseguia achar um lugar onde não havia ninguém. Mas então um flash de memória veio, uma vez enquanto Tereza tagarelava sobre Adrian, ela mencionou uma praia no lado leste, uma praia secreta onde ele a tinha levado.

 Segui em direção a praia leste e como todas as outras praias, as do lado leste estavam superlotadas, me pergunto se essas pessoas  sabem que o sol só aparece de dia.

 Infelizmente ao chegar à praia secreta, vi que alguns casais tinham se apoderado da mesma, mesmo que a praia fosse escura eu me recusei a nadar ao som de estalos feito por beijos, ou coisa pior, certo que eles nem perceberiam minha presença, mas não é bom arriscar.

 Andei um pouco mais a frente com os pés na areia, para minha sorte encontrei uma mini mata que dava acesso ao velho píer abandonado, porque fora abandonado? Inúmeras lendas o rondavam, mas eu estava pouco me lixando, inúmeras lendas rondavam Dovii e nem por isso nós a abandonamos.

   Eu tinha completa certeza que nenhuma câmera estava naquele local, não era necessário afinal era abandonado. Depois de conferir tive total certeza que o local era seguro, ajoelhei-me no pier e tirei meu moletom, logo foi a vez do shorts.  Eu agora estava a trajar um biquíni lilás de lacinhos.

  Inclinei para frente e empinei a bunda para poder dar impulso para um salto de cabeça.

  -Se essa não é a visão do céu, eu não sei o que é. -Escorreguei no pier e cai de cara, no chão.

  - M-marcos?- Virei-me assustada. Sentei no pier como uma pessoa decente, até porque a posição que eu estava anteriormente não era a das melhores, principalmente porque eu estava com a bunda para cima e com a cara no chão.

  -Cá estamos nós, de novo, mas desta vez estou sóbrio.- Ele sorriu malicioso.

  -Me deixa em paz Marcos, eu não quero nada com você.- Eu disse andando para trás. A cena estava ocorrendo outra vez.

  -Qual é princesa, é um beijo e uns amassos. - Ele me agarrou pela cintura.

  -Me larga Marcos. - Eu ia dar um soco em seu rosto, mas ele segurou meu braço.

  -Hoje não.- Ele beijou meu pescoço e me jogou no chão ficando sobre mim, ele colocou minhas mãos sobre minha cabeça e com a mão livre ele começou a subir lentamente a partir da minha cintura.

  -Socorro! Sai Marcos. Alguém me ajuda! Para!- Gritei desesperada aos prantos e me debatendo.

 Um soco o atingiu tão forte que fez ele literalmente voar para a água, agradeci mentalmente a pessoa que o socou, já que seus beijos estavam quase chegando aos meus lábios e sua mão… Nem mesmo quero imaginar.

  Encolhi-me, pouco me importando em saber quem me salvou, deitada sobre o píer em posição fetal, deixei que lágrimas escorressem livremente pelo meu rosto, lágrimas de alívio e gratidão.

  -Ei! Você está bem?- Ele perguntou.- Quer dizer… Desculpa você…Essa foi uma pergunta estúpida.

   Levantei meu olhar para encarar o meu salvador, Viljagar, sei lá o nome dele, pela segunda vez me salvou e pela segunda vez estava sem camisa, eu perderia o ar, se eu não estivesse ocupada demais me desfazendo em lágrimas, ele se abaixou pegou minha blusa de moletom e me entregou vesti-a rapidamente puxei meu short e vesti também.

    -Obrigada.- Eu sussurrei ainda com o rosto dominado por lágrimas.- Pelas duas vezes.

    -A primeira foi só meu trabalho, e a segunda ele merecia pior.- Ele ajudou-a a levantar.

   Eu sorri tímida para ele, era meio estranho mostrar meu lado delicado para alguém que eu mal conhecia e que me salvou duas vezes, normalmente eu seria do tipo brincalhona ao conhecer alguém, isso em uma situação normal, mas não estávamos em uma situação normal, já que na primeira vez que nos vimos eu estava jogada na areia de uma ilha deserta e na segunda eu quase tinha sido estuprada. Ao lembrar do recente acontecimento desabei em lágrimas novamente.

    -Vem. -Ele começou a andar em direção a mini mata e a saída daquele inferno.

   Segui-o até que estivessemos perto da festa que Tereza me obrigou a vir, o caminho estava sendo silencioso e mesmo que eu tentasse puxar assunto a conversa não fluía, o que era estranho já que eu me familiarizava facilmente. Chegamos até uma Tereza vermelha de pura raiva e preocupação.

     -Onde é que você estava?- Ela perguntou cruzando os braços.- Eu falei que era um mergulho e não uma expedição para Atlântida. Eu prometi para sua mãe que cuidaria de você.- Ela tombou a cabeça pro lado analisando meu deplorável estado.

    -O que você fez? Porque ela ta com o rosto inchado? -Ela perguntou calmamente mas com olhos cravados no garoto ao meu lado.

   -Tereza ele me ajudou. -Eu disse segurando-a, já que ela estava partindo em direção à ele.

    -Te ajudou? O que aconteceu?

    -Ela quase foi violada.- Ele se pronunciou finalmente.

     Tereza pareceu viajar para um mundo paralelo e voltar em menos de dois segundos. Demorou um pouco para ela entender o termo violada.

    -Quem?- Ele perguntou mais vermelha ainda.

    Falei mas sem que o som saísse “Marcos”, ela pareceu conseguir ler meus lábios, ela serrou os punhos e começou a murmurar baixinho, creio eu que sejam ameaças, ela tinha mania de fazer isso quando estava brava.

    -Você! - Uma garota de cabelos encaracolados, pele morena e olhos verdes apontou para mim. -Sua puta, primeiro se oferece para meu namorado e depois joga ele na água. - Ela berrou atraindo a atenção de todos.

    -Como você ousa? Sua puta oferecida.- Miriam brota do chão. - Quer dizer que os boatos sobre você dar em cima do namorado da Kaila eram verdade?

     -Não! Não é verdade! Foi ele.- eu apontei para Marcos que apareceu atrás de Kaila.- Ele me agarrou diversas vezes, tentou me beijar a força e essa noite ele tentou fazer pior. - Eu tentei me justificar.

      - Eu nunca trairia minha namorada.- Ele disse abraçando Kaila.

      -Estão vendo!- Miriam gritou.- Não passa de uma puta carente. - Ela se aproximou e mim e pertinho de meu ouvido sussurrou. - Sua palavra nunca valerá contra a minha ou a de Marcos, somos como reis e você como uma mísera formiga, a qualquer momento posso te esmagar. - Então a ficha caiu, Miriam sabia, mas e Kaila? Ela seria tão... Sei lá, ao ponto de entregar o namorado nas mãos de outra, ou deixar que o namorado violasse outra pessoa.

   E como se a noite não pudesse ser pior, os céus se abrem e o destino diz : “se fode ai otária".


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