Underwater escrita por JuremaDoMar


Capítulo 3
Poderes


Notas iniciais do capítulo

Eu não avisei antes, mas posto essa fic , spirit e no wattpad, mas com capas diferentes



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Eu tinha pensado em usar a água da garrafa para olhar “aquilo” melhor, porém eu tive outra idéia.

 Esperei mamãe dormir para me tornar uma ninja, em meio a escuridão me arrastei pelo chão, como uma tremenda idiota, até a lavanderia onde uma grande bacia se encontrava.

  Talvez aquela fosse a idéia mais idiota que eu já tive, ou talvez a mais brilhante.Enquanto eu voltava para meu quarto acabei por esbarrar em alguém, eu e a bacia caímos juntas, causando um baita barulhão.

  O homem de cabelos longo amarrados em rabo de cavalo e barba mal feita estendeu a mão para mim que aceitei. Ele me puxou para um abraço apertado digno de pai coruja.

  -Papai! Você voltou- Exclamei baixinho.- Que cheiro é esse?- Perguntei com nojo. Seu cheiro habitual era colônia masculina e peixe, algo que me acostumei, porém o cheiro que ele emanava, era bom, tão bom que chegava a me dar nojo.

  Sua feição tornou-se puro desespero. Ele passou a mão pelos cabelos presos arrepiando alguns fios rebeldes.

 -Bem… E-eu troquei de… perfume. É isso troquei de perfume.- Porque ele disse isso tão nervoso? Trocar de colônia não é motivo para desespero.- Você gostou?

 -Não. Eu prefiro o antigo.

 Peguei a bacia do chão, e segui em direção ao meu quarto.

 -Boa noite pai.

 -Boa noite.

 Entrei em meu quarto e tranquei a porta, coloquei a bacia no chão e me repreendi mentalmente por não colocar água nela.

  Bufei e destranquei o quarto, desci até o andar de baixo passei direto pela sala, porém ao ouvir a voz de papai parei, me escondi atrás do sofá e fiquei em silêncio.

  -Eu sei. Não se preocupe com isso, eu adorei o presente. O cheiro é maravilhoso. Claro que sim, vou usar todos os dias. Para lembrar de você.- Engasguei com a minha própria saliva, levantei-me para me arrastar para mais perto, talvez eu pudesse ouvir quem estava falando, porém meu desastre se revelou, escorreguei e caí de cara no chão.

 Papai estava de costas para mim, quando cai desejei com todas as forças estar invisível, fechei a mão em punho e esperei pelo pior, papai virou-se alarmado olhando para todos os lados, menos para mim. Era como seu estivesse… Invisível!

   -Amor eu vou desligar.- Amor?!- Não ninguém desconfia de nada. Não eu te amo mais. Boa noite ursinha.- Ele disse melosamente, contorci o rosto em puro nojo. Com quem ele falava? E porque ele estava sendo tão meloso? Ele nunca foi assim, nem com sua própria esposa. Será que… Não impossível.

   Ele passou reto e foi para o quarto. Sem abrir as mão levantei-me e me olhei pelo espelho da sala. Digo era pra eu ter me visto lá, mas eu não vi nada nem ninguém. Tapei minha boca com as duas mão para sufocar um grito, nesse instante eu voltei a ser visível. Dei um pulo para trás caindo sobre o sofá, por conta do silêncio da noite meu tombo causou um barulho audível.

   Olhei para os lados desejando que ninguém viesse. E ninguém veio, suspirei agradecendo todos os deuses e deusas existentes.

   Eu fiquei dividida em guardar a bacia para tomar banho no dia seguinte e ver no que dava ou pegar logo um balde com água. Decidi que eu precisava e iria dormir. Joguei a bacia debaixo da minha cama e me encolhi em um amontoado de cobertores esperando acordar no dia seguinte e tudo não ter passado de um sonho estranho.

  No dia seguinte acordei com o calor de cobertores, junto do calor do verão me incomodando. Levantei entusiasmada e fui em direção ao banheiro, fechei a porta e liguei a torneira jogando uma grande quantidade de água no rosto, porém o inesperado esperado aconteceu. Eu caí para trás batendo com as costas na parede e deslizando até o chão. Tentei me levantar porém o que substituiu minhas pernas não deixou.  Aquela cauda dourada novamente, soltei um tipo de grito de ódio estranho que quebrou o espelho, o copo de escovas e a janela do banheiro. Assustei-me com o que meu grito tinha feito.

Então não foi um sonho. Foi tudo real, eu era um peixe, tinha mentido para minha mãe, mas meu pai estava fazendo pior. Eu não sei com quem ele estava falando mas uma simples amiga do trabalho não era. Só de pensar na possibilidade de papai estar traindo mamãe me fazia ferver de raiva, fechei lentamente minhas mãos em punho, enquanto eu fechava minha mão um calor percorreu a cauda e não era a minha raiva. Olhei para minha mão que estava fechada em punho e a abri, fechando-a novamente. O calor aumentou e começou a secar minha cauda, maravilhada e abismada passei minhas mãos por toda a cauda. Em menos de um minuto eu já estava seca e minhas pernas estavam de volta.

 Levantei-me e olhei para meu corpo onde tudo permanecia em seu devido lugar como se nada tivesse acontecido, como se uma cauda não estivesse acabado de aparecer e depois sumir do meu corpo.

 Sai do banheiro e trombei com papai.   

 -Mas hoje a senhorita está para trombar comigo não é possível.- Ele disse rindo.

Olhei-o com tamanha repulsa, que se eu não soubesse sobre seu segredo eu sentiria vergonha de tal ato, mas no momento ele me dava nojo e meu olhar representava o que cada canto da minha alma sentia.

 -Bom dia para você.- Eu disse ríspida.

 -Wow senhorita mau-humor. Para que esse olhar. Parece que você quer degolar alguém.- Ele disse levantando a mão na defensiva, como se a qualquer momento eu poderia avançar nele. Nele eu não avançaria, mas na mocreia que ele estava encontrando sim.

  -Degolar? Uma boa opção.- “Para matar a vadia que com quem você está traindo a mamãe”. Eu completei em minha mente.

   Dei a volta desviando dele. Mas meu braço foi puxado e eu fui obrigada a abraça-lo, o que antes eu amava fazer, afinal não existe nada melhor que o abraço de um pai certo?

 Me debati até sair do seu abraço.

 -O que foi Clara? Aconteceu algo?

 Segui em direção ao meu quarto ignorando-o. Porém  antes que eu fechasse a porta ele apoiou o braço na mesma e com uma cara não muito boa tentou começar um sermão.

 -Clara o que está acontecendo?-Fiquei em silêncio olhando para o nada. Respondê-lo não era uma boa opção “Kkk Eae pai, tô querendo matar a mocreia que tu tá dando uns pegas. Nada demais”. -Clara! Pare de se fazer de surda! Eu te perguntei uma coisa. Eu quero uma resposta.

 -Não devo satisfações a você.

 -Eu sou seu pai, exijo respeito.

 -Quer ser digno do respeito que um pai merece? Aja como tal!- Berrei jogando todo meu ódio através das palavras.

Papai baixou a guarda, usei esse pequeno detalhe para fechar a porta com força.

 Ele pareceu estar surpreso o suficiente para não me incomodar, eu agradeci por isso. Vesti um vestido verde com bolinhas e prendi o cabelo com um faixa da mesma cor. Olhei-me no espelho e soltei uma leve gargalhada, parecia que eu tinha voltado para a época dos anos sessenta.

   Peguei minha bolsinha branca, meu celular, que a propósito eu não via desde o ocorrido em Micaal.

   Desci as escadas até a cozinha. Abri o armário pegando uma lata de sardinha, peguei também um pão. Coloquei a sardinha no pão e mordi com o maior prazer.

  -Credo Clara.- Mamãe disse com cara de nojo.

  -Me deixa.- Dei outra mordida no pão.

   Papai estava na mesa, junto da mamãe e de Lucas também. Pouco me importei com a presença dele. Dei um beijo na bochecha de minha mãe,  baguncei os cabelos do Lucas e segui em direção a porta.

  -Onde a senhorita vai?- Mamãe perguntou.

  - Ajudar a dona Loise lembra?

  Ela assentiu mastigando.

  -Boa sorte.- Ela me desejou depois de engolir seu pão integral com manteiga.

   Acenei com a mão antes de sair de casa.

   Dovii estava  bem agitada para uma manhã de quarta pós festa, andei até o “Sereia” o maior e mais frequentado restaurante/lanchonete da cidade.

   Cheguei pela parte da frente onde uma grande fila se formava em frente ao caixa. Rebecca sobrinha de dona Loise parecia que a qualquer momento explodiria, ela estava vestida de fada, me pergunto o porquê. Dirigi-me até Dona Loise, que bebericava uma xícara  de café.

   -Bom dia senhora Loise.

    -Bom dia Clara. Vejo que sua mãe lhe avisou que deveria vir fantasiada.

    -É…-Ela não avisou nada! Pelo menos entendi o porque de Rebecca estar vestida daquele jeito.

    -Adorei sua fantasia.

    -Valeu.- Eu disse corada. Apesar de ser minha roupa habitual.

 Dona Loise me levou até parte de trás do estabelecimento. Me explicou tudo que eu tinha que fazer e me deu um crachá com meu nome.  Coloquei-o sobre meu peito e comecei meu castigo.

  Depois de cinco horas de trabalho. Tentando não ser pega por nada que envolvia água, finalmente eu poderia ir embora, depois de guardar todo o carregamento no freezer é claro.

  Carreguei cinco caixas só de frutas até o mesmo. Só faltavam duas caixas, uma de queijos e uma leites. Peguei as duas caixas,que estavam incrivelmente leves, ao mesmo tempo. Coloquei-as em seus devidos lugar e suspirei, eu precisava urgente de um banho de mar, infelizmente eu não o teria. Graças ao meu castigo.

  Eu estava prestes a sair do freezer quando a porta se fechou. Olhei assustada e tentei empurrar e puxar a porta repetidas vezes, já que esse era o truque para abri-lo, segundo dona Loise, porém ela permaneceu fechada, como se tivesse sido trancada.

  Minha única opção era gritar por ajuda. Bati na porta e gritei, gritei, gritei o mais alto que pude, porém ninguém me ouviu. Virei para trás assustada ao ouvir um barulho vindo de uma caixa, barulho de água. A tampa da caixa caiu e uma espécie de cobra de água se ergueu, olhei aquilo desacreditada. Porque as coisas mais estranhas só acontecem comigo?— Me perguntei.

  Ela se ergueu tanto que parecia não ter fim, olhei de relance para a caixa e a água  que ali estava parecia estar no mesmo volume, nem mais alto nem mais baixo.

  A cobra parou sobre minha cabeça. Então se desfez, antes que a água me  tocasse, estiquei minha mão sobre minha cabeça por instinto.

  Olhei para cima estranhando o fato da água não ter me molhado por completo e eu não ter virado peixe, a água tinha congelado sobre minha cabeça, tinha virado gelo puro. Quanto é a potência desse freezer?

    Sai de baixo da cobra de gelo recém congelada, pulei de susto e gritei quando a ela caiu se desfazendo em cacos de gelo.  

    -O que foi isso?- Rebecca perguntou do outro lado da porta.

    -Rebecca! Socorro. - Eu bati na porta desesperadamente.

   -Clara?- Ela indagou confusa.- Espera um minuto eu irei te tirar daí.

  Um minuto depois eu ouvi um barulho vindo de fora e a porta se abriu. Sai de lá correndo jurando que nunca mais entraria naquela merda de novo.

   -A porta fechou sozinha né?! Sempre acontece, não vai acontecer mais, eu prometo.- Ela disse.

  -Não vai acontecer mesmo, porque não vou entrar mais ali.- Eu apontei para o freezer, se dessa vez uma cobra me atacou, quem pode garantir que na próxima não vai ser um dragão.

   -Não seja tão dramática. Parece até que foi atacada lá.

  Ah. Mas eu fui querida.— Pensei bufando.

  - Eu to indo pra casa.- Me segurei para não berrar que eu tinha sido atacada por uma cobra de água  que foi congelada logo depois.

  Deixei minha plaquinha na cozinha, peguei minha bolsinha branca e me dirigi para fora do estabelecimento. Sem me despedir de dona Loise e o resto do povo que trabalhava lá.

   Ouvi meu celular tocando e procurei-o pela minha bolsa até acha-lo, toquei no verde e pus sobre a orelha.

    -Alo.

     —ONDE É QUE VOCÊ TÁ?— Mamãe gritou do outro lado da linha.

    -Saindo do castigo e indo para casa.- Respondi o óbvio, ela acha o que? Que eu tinha fugido do castigo para nadar? Eu ia estar duplamente ferrada, já que eu estaria quebrando dois castigos.

   —Se você estiver molhada tu apanha até o Apocalipse.

    Revirei os  olhos,sabia que ela não isso. Eu até poderia arriscar e nadar, mas minha vida está tão imprevisível, com certeza daria merda.

   -Uhum. Tá.

   —E VEM LOGO PRA CASA. ANDA.— Ela berrou desligando o celular.

 O que foi que eu fiz agora?


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