Obsessão escrita por Lucy Devens


Capítulo 7
Medo




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Eu estava amarrada ao pé da cama de madeira, meus pulsos estavam doendo de tanto eu tentar me mexer para soltar as cordas que me mantinham presa à cama. Me sentia suja e com fome. Há quantos dias eu estava ali? Um, dois, talvez uma semana inteira? Eu não tinha como saber, a luz do dia não entrava na cabana fria e eu não tinha o menor controle de tempo. O homem que havia me sequestrado me deixou amarrada e saiu. Me perguntei se ele me deixaria ali para morrer. Eu não tinha como saber há quanto tempo eu estava ali, mas meu estômago e meu mal cheiro indicavam que eu estava ali há dias. Eu me sentia fraca e morria de fome, a única coisa que me mantinha acordada era a raiva que eu estava sentindo. Eu não tinha mais medo. Já havia sido sequestrada, já havia apanhado e algo me dizia que ele não se atreveria a encostar em mim de um jeito vulgar.

Ouvi um barulho, logo a porta do quarto que eu me encontrava se abriu e o homem entrou. Pude ter uma visão melhor dele. Ele era alto, tinha o cabelo e a barba ruiva, parecia um personagem irlandês. Ele entrou com uma bandeja de metal na mão.

—Trouxe comida para você - ele se sentou na minha frente e empurrou a bandeja para mim.

Eu peguei a comida com as mãos e comi com pressa. Me senti como um animal faminto. Me lembrei da minha mãe, ela ficaria horrorizada em me ver nesse estado. Afastei meus pensamentos dela e continuei a comer, raspei o purê de batata com as mãos sujas, em minutos eu havia comido tudo.

— Nem um "obrigada"? - ele disse.

Eu ri de deboche.

Ele olhou sério para mim e eu lancei um sorriso irônico e cheio de raiva.

—Obrigada por ter me sequestrado?  - Eu disse tão baixo que mais parecia um sussurro - Obrigada por me deixar fedendo, com frio e fome? - Chutei a bandeja de metal para ele.

O rosto dele foi ficando vermelho, parecia se camuflar na barba. Eu ri. Estava ficando realmente louca. Ele pegou a bandeja e bateu na minha cabeça com ela. Eu cai no chão e me encolhi. Ele me puxou pelo cabelo e colocou seu rosto perto do meu. Pude sentir seu hálito quente e cheiro de cigarro.

— Você é mimada demais, garota. Mas ainda tem sorte de eu ainda não querer acabar com você.

 

 

 

 

Quando abri meus olhos dei de cara com Ally sentada na minha cama me observando. Eu pulei de susto ao me levantar.

—Jesus, Ally!!!

—Me desculpe - Ela riu - Eu só fiquei muito curiosa para saber como foi o encontro ontem.

O encontro... ele havia sido divertido. Levei um tempo para sair do meu pesadelo lembrança e me lembrar de tudo para contar para a minha amiga. Ela me ouviu com muita atenção.

— Ele me ensinou a jogar sinuca, depois dançamos, ouvimos música boa, conversamos e ele me trouxe pra casa.

— E depois?

— Depois o que?

— Um beijo? Uma mão boba? De repente...

— Não, Ally - me levantei e fui em direção ao armário, não podia deixar minha amiga ver que eu estava corando- Ele não parece ser esse tipo de cara

— Ah, tá bom - ela gargalhou- Todo homem é esse tipo de cara, a diferença é que alguns respeitam seu espaço e outros são babacas.

Fiquei sem responder. Ela tinha um bom ponto, mas eu não iria discutir com ela. Pareceu que o silêncio foi ainda pior.

— Qual é, Chloe?!

Continuei sem responder. Troquei de roupa e fique quieta. Ally veio até mim e puxou meu braço de leve para que eu olhasse para ela.

— Não faça isso - ela fez a famosa casa de cachorrinho, um leve bico e os olhos arregalados - Você vai se distanciar dele à toa?

— Não é isso...

E era. Eu sabia que era. Se fosse meu eu de antigamente eu provavelmente estaria acordando na cama dele, com um sorriso de orelha a orelha, confiante e pronta para contar tudo para a minha melhor amiga. Mas agora eu estava diferente, era como se uma porta estivesse fechada dentro de mim. Como se eu não pudesse mais ser espontânea e cheia de energia como antes. 

Não quando eu podia me lembrar do homem ruivo com tanta clareza, quando tinha que sacodir minha cabeça toda vez que me lembrava daquele quarto frio e úmido na cabana.

— Olhe pra mim - Ally pegou no meu rosto e me fez olhar para ela - Eu prometo que nada de ruim vai acontecer, está bem? Eu te protejo.

Engoli seco para não deixar um nó se formar na minha garganta.

— E pare de mentir para si mesma - ela continuou - Eu vejo nos seus olhos que você gostou dele. Se joga, só mais uma vez.

Eu puxei minha amiga para um abraço. Era tão bom ter alguém que me conhecesse tão bem. Se não fosse por ela eu não sei o que seria de mim.


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