Contos & Outras Histórias escrita por Yasmin


Capítulo 2
2. Confusão de Última Noite


Notas iniciais do capítulo

Res: Em uma noite qualquer, uma menina decide que deve escrever sua última história - sabe que se não o fizesse naquele momento, jamais poderia fazê-lo. Mesmo correndo o risco de acordar suas colegas de quarto, ela se cobre até a cabeça e, com um caderno em mãos, anota... Escreve sobre alguém que admira: nessa história o protagonista escuta passos e ouve a porta de seu quarto abrir. Era um espectro inexpressivo que senta na borda de sua cama e toca-lhe os cabelos. Era um espectro que, sorrindo, lhe entregava um papel para que escrevesse. Então enquanto escrevia, escrevia sobre alguém que tinha amado o quanto foi pleno esse sentimento (mesmo que, talvez, não tivesse sido recíproco) e sobre como fora senti-lo pela primeira vez desde que se lembrava... Nessa história, o espectro que adentrou o quarto e lhe entregou o papel, apenas lhe abraçou. E quem quer que escrevesse a história sobre o espectro e quem escrevia, jamais teria sua própria história sabida.



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Já estava escuro, era noite. Mas se eu não escrevesse nesse momento, não poderia escrever em nenhum outro. As minhas marcas estavam abertas e ardiam, e queimavam... Com a luz acessa tão somente sob as cobertas, ouvi os grunhidos de minhas colegas de quarto.

O lápis desenhava no papel os mesmos caminhos que as lâminas abriram em meus braços e, assim, a primeira folha se lotou com riscos e riscos. A segunda, por sua vez, se cobriu com as seguintes palavras sobre alguém que poderia ser melhor inspiração que eu:

"Eu tocava as marcas em meus braços enquanto ouvia, além dos pingos da chuva que batiam na vidraça de meu quarto, passos ritmados ecoarem no corredor e pararem à porta. Eu apertei as marcas quando a maçaneta girou e a porta se abriu, revelando meu espectro. Se dançava ou flutuava, eu não cheguei a saber, tão logo sentou-se na borda de meu colchão. Tocou o topo de minha cabeça enquanto esboçava um sorriso inexpressivo. Então seus dedos frios escorregaram lentamente até as maçãs de meu rosto.

'Ao se afastar, o espectro estendeu-me lápis e papel para que escrevesse. Então escrevi um bilhete à primeira pessoa que amei - a que me ensinou a graça desse sentimento. E nele eu dizia:

Eu, por mais que tivesse tentado, nunca pude entendê-lo. Sua confusão me deixava acordada durante a noite. E bem sei que, enquanto cada ponto leva minha mente até a sua, você permanece acordado em outros sonhos. Cada ponto, eu disse... 

Quando a claridade dos seus olhos iluminou a escuridão dos meus e sua voz preencheu meus ouvidos naquele dia, lembro-me do quão aprazível o fora e do quão insanamente dependente me houvera deixado. Quando, ao dizer meu nome, a euforia tomou conta de minha alma e eu soube que, afinal, você ainda se lembraria...

O primeiro toque e o primeiro abraço que fizeram estampar um sorriso em meu rosto. A primeira conversa mostrou-me o brilho de meus olhos e o brilho dos seus. E, no dia seguinte, eu sorriria ao ver o seu sorriso. Como não sorrir vendo-lhe sorrir? Foi quando eu caí e foi quando você caiu. Suas mãos eram tênues em meus pés e seus lábios eram ternos nos meus. Tão real quanto o seu toque em minha memória.

Em outros dias, seus olhos procuraram os meus, mesmo quando a sala estava atulhada. Em outros dias, meus olhos procuraram os seus, mesmo quando a sala estava atulhada...

Mas nós temos um problema. Um grande problema sonhador. E mesmo assim você traz à tona cada uma de nossas lembranças e, juntos, as marcamos nas paredes de nossas vidas.

'O espectro, que esperava à minha frente, sorriu ao notar que havia terminado e, insensível, estendeu-me suas mãos, tomando-me em um abraço."

Admirei, por fim, o lápis sobre o papel manchado...


* * *

 

Na manhã seguinte, uma das meninas acordou e notou manchas de sangue sob os cobertores de sua colega. Seu braço cortado, ela gritava, ainda estava marcado com o sangue que formara uma poça ao lado da cama.

Quanto ao bilhete, nunca foi lido.


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