Survivor escrita por mybdns


Capítulo 2
Capítulo 1




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Eu era apenas uma garota do interior vivendo em um mundo solitário (sim, este é o inicio de uma de minhas músicas preferidas, Don’t Stop Believin’, do grupo Journey). Talvez não tão solitário assim. Eu morava em Nova York, fazia faculdade de Jornalismo, trabalhava como estagiária numa revista adolescente e estava prestes a publicar meu primeiro livro quando o mundo virou de cabeça pra baixo. Eu não faço ideia de como aconteceu, quem foi o primeiro infectado, de onde veio. A televisão noticiava uma terrível epidemia que se alastrava em ritmo acelerado pelo planeta todo. Religiosos diziam ser o fim e que depois disso, a raça humana se extinguiria para sempre. Será que Deus realmente estava se vingando de nós? Todos estávamos amedrontados. Fiz um estoque de suprimentos na quitinete em que eu morava no Bronx e não sai mais de casa... Mas eu precisava ir embora dali, como todos estavam fazendo. Eu precisava encontrar minha família em Montgomery. Precisávamos ir para um lugar seguro. Os meios de comunicação não funcionavam mais. Fiz minhas malas, peguei meus suprimentos, uma arma, um pouco de gasolina e parti rumo à Atlanta, onde meus pais estariam.

Os mortos estavam andando. Era assustador.

Eu gostaria de dizer que tudo era fruto da minha fértil imaginação de escritora ou que era apenas uma história de filme de terror, daqueles bem ruins, mas não era.

O apocalipse estava acontecendo bem debaixo de nossos narizes.

Antes de ir para Atlanta, porém, passei em Montgomery. Eu precisava de suprimentos, de gasolina e de um lugar para passar a noite, visto que os walkers apareciam mais este horário. Era perigoso demais andar por ai sozinha. Parei minha caminhonete, peguei minhas coisas e comecei a revirar as casas. Encontrei poucas coisas, mas dava. Me direcionei para minha antiga casa e escutei alguém se aproximar. Não era um errante.

— Jake?

— Anne! – ele sorriu e me abraçou.

Jake era meu ex noivo. Ele estava barbudo, os cabelos haviam crescido. Estava um pouco debilitado, mas continuava forte. Seus olhos pretos ainda brilhavam.

— Você está sozinha?

— Estou.

— Venha, estamos na sua casa. A nossa está praticamente destruída.

— Estamos? A Kate está junto?

Jake suspirou.

— A Kate se foi, Anne. Somos só eu e a Julia agora.

— Eu sinto.

— Venha comigo. – suspirei e o acompanhei até a minha casa.

— Anne? – Julia sorriu e foi correndo me abraçar.

— Oi minha linda. Você está bem?

— Estou sim.

— Isso é bom.

— Senti sua falta.

— Também senti a sua.

Descansei um pouco e Jake preparou o jantar. Julia foi para a cama e nós ficamos ali, num silencio ensurdecedor.

— Olha, Anne... Eu sinto muito mesmo por tudo o que houve entre a gente.

— Você me machucou muito, Jake. Eu te amava. Eu ia me casar com você.

— Eu não merecia o seu amor, Anne. Só depois eu vi a merda que eu tinha feito. Eu não queria morrer sem me desculpar com você.

— Não vamos morrer. – eu disse.

— Me perdoa, Anne?

— Eu te perdoo, Jake. – sorri e lhe dei um beijo na testa. – boa noite.

No dia seguinte, peguei algumas roupas e me preparei para partir rumo à Atlanta.

— Você não quer ficar com a gente?

— Não, Jake. Preciso encontrar minha família em Atlanta.

— Preciso de mais alguns dias. Te encontrarei lá.

— Tudo bem. Se cuidem vocês.

— Você também, baixinha.

...

Atlanta fora tomada por mortos vivos, não havia nenhum jeito de adentrar a cidade. Dei ré e voltei pela estrada. Achei um atalho a direita e entrei ali mesmo. Logo, o asfalto deu lugar a uma estrada de terra. Dirigi mais uns oito quilômetros sentido leste, até meu corpo dar sinais de cansaço. Parei o carro e comi uma maçã.

Bebi um pouco d’água, dei partida e segui viagem. Provavelmente, eu não encontraria mais meus pais e minha avó.

Eu não fazia ideia para onde estava indo, mas continuei dirigindo. Vi cinco mortos vivos se aproximando e meu corpo congelou.

Aquele definitivamente era o meu fim.

Os walkers estavam sedentos. Aquilo era horripilante. Segurei firme o revólver, e puxei o gatilho. Um deles caiu no chão, mas tinha que me livrar dos outros ainda. Minhas mãos tremiam, eu estava morrendo de medo. Foi então que um homem negro surgiu de dentro da mata, com uma espingarda. E ele tratou de acabar com os outros mortos vivos.

— Obrigada. – eu disse, descendo do carro.

— Não precisa agradecer. –ele disse. – o que está fazendo sozinha por aí?

— Eu estava indo pra Atlanta, mas a cidade está toda tomada por essas coisas.

— Venha comigo. Temos um acampamento. – ele falou. – você está pálida, precisa descansar e comer alguma coisa, eu dirijo o seu carro.

— Obrigada. –eu realmente estava em choque. - Como você se chama? – perguntei quando já estávamos na caminhonete.

— Sou T-Dog. E você?

— Sou Annelies. Mas pode me chamar de Anne.

— De onde você veio, Anne?

— Montgomery, no Alabama.  

— Onde está sua família? – perguntou.

 - Não sei. Espero que eles estejam bem. Tem muitos sobreviventes nesse acampamento?

—Sim, você não está mais sozinha.   –disse, com uma voz confortadora.

Depois de andarmos um quilômetro, chegamos ao tal acampamento. Desci do carro e várias pessoas me olharam.

— Quem é ela? – um senhor de idade perguntou.

— Anne. – eu disse.

— Ela estava sozinha na estrada, com walkers prestes a devorá-la.  – T-Dog explicou.

— E você a trouxe pra cá? – um rapaz com uma besta falou. – você nem sabe quem é ela.

— O Daryl tem razão. – um homem alto concordou.

— Pelo amor de Deus, ela é só uma menina! – o senhor de idade argumentou. – olhem para a cara dela! Vocês acham que ela ofereceria algum risco pra gente?

— Temos bocas demais pra alimentar aqui. – o da besta disse.

— O Dale tem razão. – uma moça morena falou. – e ela parece estar muito fraca.

— Eu sei atirar, eu tenho armas. – eu disse. – eu estou sozinha, não sei onde meus pais estão, deixei duas pessoas conhecidas em Montgomery.

Logo, um outro homem com roupa de policial apareceu.

— O que está acontecendo?

— Estou tentando fazer com que Daryl e Shane deixem esta pobre moça ficar aqui. – Dale disse.

— E qual o problema disso?

— Nós temos bocas demais pra alimentar. – Daryl disse novamente. – e ela é só uma garota, não deve nem saber segurar uma arma.

— Você está sozinha? – o policial perguntou.

— Estou. Vim de Nova York, parei em Montgomery para descansar e segui para encontrar com meus pais em Atlanta, mas encontrei a cidade toda tomada por aquelas coisas.

— O que você fazia antes disso tudo?

— Eu era estagiária numa revista adolescente em Nova York, tinha acabado de me formar.

— Você usava drogas? – Shane perguntou.

— Não. Eu mal saia de casa.

— Não vamos deixar essa garota sozinha por ai, caras. – T-Dog falou. – ela está fraca, precisa de cuidados.

Os cinco homens conversaram e depois de alguns minutos, o policial disse:

— Você pode ficar. Como se chama?

— Annelies.

— Annelies do quê? – Shane se aproximou.

— Annelies Marie Hudson. Sou de Montgomery, tenho vinte e três anos, Jornalista e escritora. Quer o meu tipo sanguíneo também? É A+. - disse sarcasticamente. 

— Sou Rick. Seja bem vinda.

— Bem vinda. – Daryl debochou. – ela vai ser mais uma pedra no nosso caminho isso sim.

— Daryl! – Dale repreendeu e ele deu de ombros.

A moça morena sorriu e veio em minha direção.

— Sou Lori, vou cuidar de você.

— Obrigada. Eu tenho alguns alimentos dentro da caminhonete.

— Os rapazes vão pegar não se preocupe.

— Meu nível de açúcar no sangue está baixíssimo. – observei.

— Sente- se. Vou buscar água e comida pra você.  Lori sorriu e entrou num trailer. Saiu de lá com uma garrafa com água e cenouras. – coma meu bem.

— Obrigada. – sorri.

— Você quer descansar um pouco? – Lori perguntou.

— Se não houver problemas, eu gostaria sim.

— Pode ficar em nossa barraca. – Lori sugeriu.  

— Posso usar o banheiro desse trailer? – virei- me para Dale

— Claro que pode. Fique à vontade, querida

— Obrigada. – sorri e fui ao banheiro. Estava com muita vontade de fazer xixi. Terminei e me olhei no espelho. Eu estava acabada. Meus olhos verdes estavam inchados, com profundas olheiras. Minha pele estava mais oleosa do que o normal e meus cabelos castanhos estavam sujos e embaraçados. Molhei meu rosto pra ver se melhorava um pouco, mas não surtiu muito efeito. Eu precisava dormir.

— Está tudo pronto lá na barraca. Pode descansar o quanto quiser. – Lori disse.

— Muito obrigada mesmo, Lori. – sorri e entrei na barraca.

Acordei apenas no outro dia, com Daryl do meu lado 

— Bom dia miss Alabama. – ele disse.

— Faz muito tempo que você está aí?

— Não, a Lori me mandou ver se você estava viva. Faz um tempão que você tá dormindo.

— Eu estava cansada.

— Dava pra perceber.

Sorri e me levantei. Fui para fora e vi umas pessoas diferentes.

— Bom dia Anne. Dormiu bem? – Dale perguntou 

— Bom dia Dale. Dormi sim.

— Que bom.

— Oi Anne. Você está se sentindo melhor? – Lori perguntou.

— Estou sim, Lori. Muito obrigada e desculpa ter pegado sua barraca.

— Não se preocupe, querida. Nós pegamos a sua.

— Acho justo. – sorri.

— Venha conhecer os outros. – ela colocou a mão no meu ombro e me levou até os outros sobreviventes – pessoal essa é a Anne.

— A garota da caminhonete azul? – um rapaz asiático perguntou.

— Ela mesma. Anne, esses são Glenn, Jim, Carol, Ed, Sophia, Amy, Andrea, Carl e Jacqui.

— É um prazer. – eu disse educadamente.

Depois, fui tirar o restante das minhas coisas da caminhonete. Peguei os mantimentos e água que eu tinha e entreguei para Carol.

— É pouco, mas acho que dá pra passar alguns dias. – eu expliquei.

— Muito obrigada. Vou colocar no trailer. – ela deu um largo sorriso e entrou no trailer de Dale.

Terminei de colocar minhas bolsas na barraca e desci para o riacho, onde Andrea e Amy estavam pescando. Sentei-me em uma pedra e fiquei observando as duas. Logo, Carl e Sophia se aproximaram.

— Você está bem? – a menina perguntou.

— Estou sim.

— Você parece estar preocupada.  – observou Carl

— Talvez um pouco.

— Tudo vai dar certo. – Sophia disse.

— Espero que você tenha razão.

— Você tem família?

— Tenho. Pai, mãe e uma avó.

— E onde eles estão?

— Não faço a mínima idéia, querido.

— Nós somos sua família agora, Anne.

— Vocês são crianças muito gentis.  Agora vamos lá para cima. Preciso ver se as mães de vocês precisam de ajuda com algo.

Sorri e nós três subimos. Carol e Lori estavam preparando o almoço e os homens haviam ido caçar.

— Oi, vocês precisam de ajuda? – perguntei.

— Não precisa se incomodar. – Carol disse.

— Eu não vou ficar aqui sem fazer nada. Já foi difícil para aqueles caras intimidadores me aceitarem, se eu ficar o dia inteiro sentada eles vão me expulsar a pontapés.

As duas riram.

— Bom, se você quiser cortar aquela carne pra mim... – a carne estava pendurada numa espécie de varal.

— Posso fazer isso. A propósito, é carne do que?

 - Cervo. –Lori disse. – é a única que temos.

— Não precisa se explicar. Eu entendo. Os tempos são outros agora.

Sorri e fui cortar a carne de cervo.

— O que você fazia antes de tudo isso acontecer? – perguntou Jacqui.

— Eu jornalista. Tinha acabado de me formar. E também estava prestes a publicar meu primeiro livro.

— Eu sinto.

— Tudo bem. Todos nós perdemos algo, não é mesmo?

 - Sim.

— Se você quiser, poderia ensinar algumas coisas para as crianças. Elas precisam de alguma instrução. Carol  e eu nos viramos como podemos, mas somos apenas donas de casa. – Lori disse.

— Acho uma excelente ideia. Tenho alguns conhecimentos sobre história, literatura e artes também. Será um prazer ajudá-los.

— Muito obrigada.

— Posso começar hoje se quiserem.

— Ótimo. Muito obrigada, Anne. – Lori sorriu e me abraçou.

— Não precisa agradecer.

Terminei de ajudá-las com o almoço e nós comemos. Mais tarde, sentei-me com as crianças para estudar um pouco.

— Você é professora? – Carl perguntou.

— Não, mas eu sou escritora.

— Eu gosto de ler. – Sophia comentou.

— É um ótimo começo, mas hoje estudaremos um pouco de história, tudo bem?

Eles afirmaram com a cabeça.

— Então sobre o que da história vocês querem estudar?

— Nós podemos escolher?

— Claro, Carl. Essa é uma escola diferente. Vocês decidem o que vão estudar.

— Maneiro. A gente poderia falar sobre alguma guerra, o que você acha Sophia?

— Eu gostei.

— Então vamos falar sobre a Primeira Grande Guerra. Pra começar, vocês sabem o que motivou a Primeira Guerra Mundial?

— Não. – Carl disse.

— Teve a ver com colônias? – Sophia perguntou.

— Exatamente, Sophia. No inicio do século XX, os países europeus possuíam muitas colônias na Ásia e na África e essas colônias eram as responsáveis por aumentar as fortunas das grandes potências européias, com matérias primas e mercado consumidor. E havia uma grande concorrência econômica entre esses países, principalmente por conta desses mercados consumidores. Tem algum mapa mundi nesses livros? – perguntei. Sophia abriu o livro e me entregou.

— Aqui.

— Obrigada Sophia. Esses países Europeus, como a França, Inglaterra, Holanda, Espanha e Portugal partilharam entre si esses territórios aqui – disse apontando para a África e para a Ásia. – e cada um deles tirava as riquezas destes territórios como bem entendiam.

— E a Alemanha? Não era uma grande potência européia? – Carl perguntou e eu sorri.

— Excelente pergunta, garoto. Essa partilha do continente africano e asiático deixou alguns países descontentes e insatisfeitos. Principalmente a Alemanha e a Itália.

— Mais porque eles não participaram dessa partilha, Anne? – Sophia perguntou.

— Bom, voltando um pouco lá atrás, vocês sabem que na época medieval, a Europa não era do jeito que conhecemos hoje. Todos aqueles países eram divididos em pequenos reinos, que se juntaram posteriormente, formando o que conhecemos por Inglaterra, Espanha, França e todos os outros. Isso aconteceu nos séculos 17 e 18. Só que a Itália e a Alemanha demoraram um pouco mais para se unificarem.

— Isso aconteceu bem depois da unificação dos outros países? – Carl perguntou.

— Exatamente, Itália e Alemanha unificaram seus territórios apenas no século 19, em 1851 e 1871. Como eles ainda eram feudos, ficaram de fora desse neocolonialismo.

— Ai eles ficaram com raiva. – Sophia completou.

— Basicamente isso. Porque eles queriam ser potências também. Esse é um dos motivos mais claros para o inicio da Guerra.

— E como tudo começou?

— Bem, Carl. O grande estopim, a gota d’água, foi o assassinato de Francisco Ferdinando, príncipe do império austro-húngaro, durante sua visita a Saravejo, na Bósnia-Herzegovina. – disse apontando no mapa. - O império austro húngaro não concordou com as medidas tomadas pelo império sérvio a respeito desse assassinato e declarou guerra à Sérvia, em 1914. Dessa forma, os países europeus começaram a fazer alianças políticas e militares e de um lado tínhamos a Tríplice Aliança que era formada por Itália, Império Austro-Húngaro e Alemanha. Do outro lado tínhamos a Tríplice Entente, com a participação de França, Rússia e Reino Unido.

— Que maneiro.

— E ai? – Sophia perguntou, animada.

— Em 1915, a Itália passou para o lado da Entente. As batalhas dessa guerra aconteciam em trincheiras. Os soldados ficavam centenas de dias lá, lutando pela conquista de pequenos territórios. – me virei para o lado e vi Daryl, prestando atenção. – quer vir mais perto?

— Eu só quero saber como essa história vai terminar. Quem vai se ferrar? – ele perguntou.

— Senta ai. – ele deu um sorriso e se sentou perto de Carl.

— Onde eu estava?

— Nas trincheiras. – Sophia disse com convicção.

— Além de ter que lutar contra os inimigos, os soldados tinham que lutar contra doenças e contra a fome. Pensem em como seria ficar meses dentro de um buraco na terra. Imaginem que coisa horrível.

— E as mulheres, Anne? – Sophia perguntou. – elas não participaram da guerra?

— Guerra é coisa de homem, Sophia. – Carl disse desdenhando.

— Nada disso. Essa guerra trouxe várias tecnologias, como tanques de guerra e aviões e enquanto os homens lutavam nas trincheiras, as mulheres trabalhavam como empregadas na indústria de armamentos.

— As mulheres não podiam lutar?

— Elas tinham que trabalhar no lugar dos homens que iam para a guerra. Não vou dizer que nenhuma mulher participou das lutas armadas na Guerra, mas não sei.

— E depois?

— Em 1917, os Estados Unidos entraram na guerra, do lado da França e da Inglaterra, por conta dos acordos comerciais que tinham que defender. Isso marcou a vitória da Entente na Guerra, e forçou os Aliados a se renderem.

— Bando de cuzões. – Daryl disse. – todo mundo abaixa a cabeça para os Estados Unidos da América, que palhaçada.

— Os derrotados tiveram ainda que assinar o Tratado de Versalhes que impunha a estes países fortes restrições e punições. A Alemanha teve seu exército reduzido, sua indústria bélica controlada, perdeu a região do corredor polonês, teve que devolver à França a região da Alsácia Lorena, além de ter que pagar os prejuízos da guerra dos países vencedores. O Tratado de Versalhes teve repercussões na Alemanha, influenciando ainda o início da Segunda Guerra Mundial.

— Fala da Segunda, Anne! Por favor! – Carl pediu.

— Não podemos gastar nosso repertório todo num dia só. Temos que ir aos poucos. Agora descansem, eu estou quase sem voz já. – os dois sorriram e foram brincar.

— Você sabe mesmo desse negocio de história né?

— Um pouco, Daryl.

— Pelo menos mantém essas crianças ocupadas. – ele se levantou e foi para dentro da mata.

...

Já fazia quase cinco meses que o grupo de Shane havia me acolhido e não demorei em me habituar a minha nova família. Me dava bem com todos, menos com Ed. Ele era um sujeito grosso, mal educado e folgado, que ficava o dia inteiro sentado. Além disso, ele olhava para sua filha de uma maneira esquisita e gritava constantemente com Carol, o que me irritava muito. Daryl era outro que eu não conseguia entender. Ele era um sujeito ranzinza, de poucas palavras, uma pessoa difícil de lidar. Mas não oferecia risco a ninguém. Aos poucos, ia me apegando ao pessoal e os ajudando quando um ou outro walker aparecia.

Resolvi descer no riacho para lavar roupa. Não tinha um dia sequer que eu não pensava em meus pais e minha avó. Será que eles ainda estavam vivos? Suspirei e me lembrei de uma canção que vovó cantava para mim quando eu era criança. Sorri e comecei a cantarolar.

“I can still recall our last summer

I still see it all

Walks along the Seine, laughing in the rain

Our last summer

Memories that remain”

Ouvi um barulho atrás de mim e dei um pulo. Olhei para trás e era Carol.

— Não queria te assustar.

— Tudo bem.

— Você estava cantando tão bonito!

— Ah, é só um passatempo. Eu canto muito mal.

— Posso me juntar a você? O Ed quer que eu lave algumas roupas dele.

— Claro. – Carol se sentou e começou a lavar as roupas do marido. – porque você faz tudo o que ele manda?

— Ele é meu marido, Anne.

— Ele não tem o direito de te tratar como escrava. Eu vi o jeito que ele fala com você e com a Sophia. Esse cara não presta Carol.

— Até que a morte nos separe.

— Carol... Eu não suporto ver você ser humilhada dessa maneira.

— Foi a vida que eu escolhi.

— Ninguém escolhe ser infeliz ao lado de um homem que mais parece um rato.

— Anne, por favor...

— Sabe, meu bisavó era igualzinho ao Ed. Autoritário, machista, misógino... Ele tinha um caso com a secretária dele. Um dia, minha avó estava indo para a escola e o viu dentro do carro com ela. Ele batia em minha bisavó e obrigou a minha avó a se casar com o filho de um dos sócios dele.

— E o que aconteceu depois?

— Minha avó era apaixonada por um jornaleiro. Ele foi convocado para a Guerra do Vietnã, só que minha avó estava grávida da minha mãe. Para não ser a vergonha da família, minha avó aceitou se casar com o filho do sócio, só que ela o deixou no altar e fugiu com um bando de hippies.

— Ela encontrou uma solução.

— Ela nunca mais voltou pra casa, nem quando meus bisavós morreram. Minha avó é a mulher mais forte que eu conheço. Ela passou fome, frio. Apanhou da policia, foi presa. Criou minha mãe praticamente sozinha.

— E o seu avô?

— Morreu há oito anos. Eles conseguiram ser felizes juntos. Formar uma família.

— É uma bela história.

— Você pode mudar sua realidade, Carol. Você não precisa do Ed. Você tem a todos nós. Nunca estará sozinha.

— Carol, venha até aqui. – Ed gritou e Carol saiu correndo com as roupas nas mãos.

Terminei de lavar as minhas roupas e fui estendê-las. Ed se aproximou de mim e cruzou os braços.

— O que você estava falando pra minha mulher?

— Não te interessa.

— Olha aqui pirralha. Não é pra você colocar coisas na cabeça da Carol. Da minha família cuido eu, entendeu? Não se meta na minha vida.

— Estou vendo como você cuida bem da sua família, Ed. – debochei.

— Escuta aqui sua cadela. A próxima vez que você levantar a voz pra mim, eu vou...

— Você vai fazer o que, Ed? – Shane disse, aparecendo por trás.

— Deixa pra lá. – ele saiu bufando.

— Ele colocou a mão em você?

— Não.

— O Ed é...

— Um nojento, pedófilo, misógino e machista?

— Tudo isso. Tome cuidado.

— Sei lidar com homens deste tipo.

— Só tome cuidado. Ele não é de brincadeira.

— Obrigada, Shane.

— Vou caçar alguma coisa pra gente comer hoje. – Daryl disse, colocando sua besta nas costas.

— Espera, eu vou com você. – eu disse. 

— E você sabe caçar? – ele disse, debochando.

— Meu pai era do exército. Ele me ensinou muitas coisas sobre sobrevivência.

— Que seja. – ele deu de ombros e começou a andar. Eu o acompanhei, um tanto irritada por conta do pouco caso que ele fez de mim.

— Você é sempre ranzinza desse jeito? – eu perguntei.

— Eu só acho você delicada demais para uma tarefa dessas. Poderia ficar lá no acampamento, ajudando a Carol fazer o almoço.

— Nós estamos no fim do mundo, Daryl. Que se dane minha delicadeza.

— Que seja.

— Você só sabe falar isso?

— E você fala demais! Está tirando toda a minha concentração.

Eu revirei os olhos e me calei. Andamos mais uns metros e avistei um pé carregado de tomates.

— Vocês nunca viram este pé de tomates aqui? Olha como eles estão bonitos!

— Que sorte. – ele esboçou um sorriso.

Comecei a desabotoar minha camisa e Daryl me olhou, um tanto constrangido.

— O que você está fazendo?

— Uma sacola improvisada. E outra: você nunca viu uma mulher só de sutiã?

— Você não vai chegar ao acampamento desse jeito. Você não sabe como o Ed é?

— Eu sei, mas você tem uma idéia melhor?

Ele balançou a cabeça negativamente, colocou a besta no chão, tirou a camisa e jogou em mim.

— Se cubra. A propósito, legal sua tatuagem. – ele falou, apontando para as quatro andorinhas que eu tinha desenhado na costela.

— Obrigada. As suas também são legais. – sorri com o canto da boca e vesti a camiseta de Daryl. - o que você está caçando exatamente?

— Qualquer tipo de carne.

— Entendi. Espera, estou ouvindo um barulho. Parece estar vindo da esquerda. – Daryl parou e posicionou sua besta. Logo, um grande cervo apareceu assustado na nossa frente. – é um pobre cervo! Olha só que bonitinho você não vai matá-lo não é?

— Dá um tempo. Você não quer comer?

— Quero.     

— Então faça silêncio. – ele posicionou sua besta novamente e soltou a flecha, bem no meio da testa do animal. – teremos carne boa para o jantar hoje. – ele sorriu, satisfeito.

Eu fiquei um tanto traumatizada por ver aquele pequeno cervo ser morto daquele jeito, mas os tempos eram outros agora. Tínhamos que caçar para sobrevier.

Voltamos para o acampamento e os rapazes trataram de limpar e tirar a pele do animal. Levei os tomates que colhi para o trailer do Dale e ajudei Carol e Lori a prepará-los.

— Como foi a caça? – Carol perguntou.

— Traumatizante, mas boa.

— Porque está com a camisa do Daryl?

— Eu tive que fazer uma sacola improvisada com a minha, então...

— Entendi.

— Carol, posso falar com você um minuto?

— Claro. Nós fomos para fora.

— Eu sinto muito por me intrometer na sua vida. Você sabe o que é certo para você.

— Tudo bem. Não estou brava. Você só estava preocupada.

— Eu ainda estou preocupada.

— Eu ficarei bem.

— Tudo bem. – sorri.

Caminhei em direção a cabana de Daryl e o chamei:

— Daryl, posso entrar?

— Pode. – ele disse irritado.

— Toma sua camisa. Obrigada.

— De nada. Fique longe do Ed. Aquele babaca adora garotinhas novas como você.

— Eu não sou uma garotinha.

— Que seja. Fique longe dele.

— Obrigada. – sai da barraca e me sentei.

Almoçamos normalmente e à tarde os rapazes foram buscar suprimentos na cidade. Voltaram quase dez horas da noite, mas salvos. Comemos a carne do cervo que Daryl caçou junto com tomates. Conversamos e demos risadas, parecia que tudo estava bem. Parecia que o mundo estava do jeito que era antes. Eram quase onze horas quando fomos nos deitar.

Na manhã seguinte, todos nós acordamos cedo. Ajudei as meninas a lavar roupa e a estendê-las. Por volta do meio dia, vimos uma grande caminhonete se aproximar. O motorista estacionou e veio em nossa direção. Eram Jake e Julia.

Eu sorri e fui até eles

— Jake! Julia!

Julia estava atrás de Jake. Seus belos cabelos ruivos estavam presos num rabo de cavalo e seus grandes olhos azuis estavam cansados. Ela olhou pra mim e veio correndo em minha direção.

— Anne! – ela me abraçou forte.

— Oi minha linda! Como você está?

— Estou bem. Eu senti tanto a sua falta, Anne!

— Também senti a sua.

— Eu pensei que...

— Não, estou bem.

— Oi Anne. – Jake disse me abraçando.

— Oi Jake. Fico feliz em saber que estão bem.

— Digo o mesmo.

— De onde vocês se conhecem? – Shane perguntou desconfiado.

Jake e eu nos olhamos e um silêncio pairou sob o local. Por fim, Julia respondeu por nós

— Eles eram noivos.

— Quem são vocês? – Daryl perguntou.

— Sou Jake, essa é minha irmã, Julia.

Ele balançou a cabeça e colocou o cervo no chão.

— Eu era detetive em Montgomery. Minha irmã precisa de um lugar seguro pra ficar. Podemos ficar aqui com vocês? Nós estamos sozinhos.

 Shane olhou para mim e depois para Rick.

— Anne podemos conversar a sós? – ele falou, por fim.

— Claro Shane. – nos afastamos um pouco do acampamento.

— São de confiança?

— O Jake é um bom atirador, ele era detetive da polícia. Eles precisam de um local seguro para ficar. E nós precisamos de mais segurança.

— Tudo bem. Vou confiar em você.

Nós voltamos para perto dos outros e Shane suspirou.

— Vocês podem ficar.

— Obrigado, Shane. – Jake agradeceu.

— Agradeçam a Anne. Não a mim.

Ajudei Carol com o almoço, nós cortamos tomates e cozinhamos peixe. Carol percebeu o clima estranho entre Jake e eu.

— O que aconteceu? Você parece estar bem irritada. – ela observou.

— Não estou Carol, é impressão sua.

— O que houve com vocês dois?

— Fui chifrada. – falei e sorri.

— Isso é uma droga.

— É sim.

Mais tarde, fui colher mais tomates com Daryl.

— Quer dizer então que você e o senhor bombadão eram noivos? – ele disse, debochando.

— Sim, Daryl.

— Você tem um puta mau gosto. Ele se parece com aqueles atores de Hollywood que estampam a capa da Teen Vogue.

Eu ri do comentário. Jake era alto, forte, moreno dos olhos pretos. Tinha a barba por fazer e cara de cachorro abandonado. Realmente, ele parecia-se com um ídolo teen.

— Você tem razão.

Colhemos o restante dos tomates que haviam no pé e voltamos para o acampamento.

— Anne! – Julia me chamou, animada.

— O que foi Julia?

— Eu trouxe uma coisa pra você.

— Pra mim?

— É. – ela entrou no trailer e saiu de lá carregando um livro. – toma.

— Esse é meu livro?

— Sim, o Jake tinha uma cópia em casa, eu peguei pra ler.

— Você tinha esperanças de me encontrar?

— Claro.

— Como você está crescida. Está quase uma mocinha já. – Julia tinha onze anos.

— Eu já estou usando sutiã. – ela confessou.

— Eu percebi.

Três noites depois, fomos atacados por walkers.

Não sabíamos de que lado eles vieram, nem o que pôde ter chamado a atenção deles, só sabemos que foi horrível. Amy, Ed e Jim foram atacados. Todos ficaram em estado de choque e muito assustados. Jim estava muito mal.

— Pessoal, temos uma esperança para poder salvar o Jim. – Rick disse.

— Lá vem você com essa historia de CDC de novo não é mesmo? – Daryl reclamou.

— Não custa tentarmos, Daryl. Não podemos mais ficar aqui.

— A gente nem sabe se esse lugar existe mesmo.

— Nós vamos nos arriscar muito, Rick. – Shane disse.

— O Jim está muito mal. – Carol disse. – precisamos fazer alguma coisa.

Depois de muita discussão, arrumamos nossas coisas e seguimos para o CDC. Julia foi comigo em minha caminhonete.

— Eu gostei dessas pessoas. – ela comentou.

— Eu também gosto deles.

No caminho, Jim desejou ficar e nós acatamos o seu desejo. Seguimos para o tal CDC e as ruas em volta do lugar estavam repletas de walkers. Tivemos que atirar em todos para chegar à porta do imponente prédio, mas parecia que não havia ninguém lá dentro.

— Nós precisamos de ajuda. Temos três crianças e mulheres aqui. – Rick disse, olhando para a câmera de segurança. – o lugar está cheio de walkers, não nos deixe aqui fora, por favor.

Uma imensa porta se abriu.

— Peguem todas as suas coisas. Depois de fechada, essa porta não se abrirá mais. – um homem lá dentro falou e nós corremos para tirar nossas coisas dos carros.

Nós entramos e as portas se fecharam.

— Quem são vocês? O que querem de mim?

— Respostas. – Rick disse.

O homem sorriu e nos fez acompanhá-lo.

— Só restou a mim aqui. Todos os outros cientistas foram embora.

— Você vive sozinho aqui?

— Sim. Me chamo Edwin Jenner. Vocês devem estar com fome. Vou preparar alguma comida enquanto isso tem banheiros no segundo corredor à direita, se quiserem tomar banho... – nós sorrimos e fomos para os banheiros.

Há dias que não tomávamos um banho descente e eu sinceramente nunca pensei que sentir a água do chuveiro cair sob meus ombros me traria tanta alegria e paz. Coloquei uma roupa limpa e fui com Julia para a cozinha.

A mesa estava posta com espaguete e vinho. Todos nos sentamos e comemos à vontade. Finalmente estávamos nos alimentando dignamente.

— Vocês podem ficar à vontade. Na sala de estar temos livros e jogos. – Jenner disse, quando terminamos a refeição. Me dirigi a sala de estar e peguei um livro para ler. Logo, Daryl apareceu na porta, segurando uma garrafa de vinho.

— Você gosta mesmo de livros, não é?

— Sou escritora. Ou pelo menos eu era.

— Tem figuras nesse livro ai? – ele perguntou se sentando.

— Em Os Miseráveis? Acho que não.

— Já fizeram um livro sobre o apocalipse e sobre nossa atual situação? Os caras não perdem tempo mesmo. – ele debochou.

— Na verdade, ele se passa na França do século 19.

— E o que acontecia na França do século 19?

— Você fugiu das aulas de história, Daryl?

— Na verdade, sim. Não entendo até hoje o porquê de ficar estudando um monte de baboseira que já aconteceu.

— Talvez porque esse monte de baboseira que já aconteceu tenha influência direta no presente? – argumentei.

— Você tem uma resposta pra tudo.

Sorri e tomei a garrafa da mão dele e bebi um gole de vinho.

— Anne? – Julia me chamou. Ela parecia assustada.

— O que foi Julia?

— Eu estou morrendo.

— Que besteira é essa, meu amor?

— Não é besteira, eu estou morrendo.

— O que houve então?

— Estou sangrando, Anne.

— Você se cortou? Onde? – eu me aproximei e a virei de costas. Olhei para sua calça e ela estava realmente manchada. – você não está morrendo, meu amor. Venha comigo que eu te explico.

Levei Julia ao banheiro e me sentei.

— Bom, acho que não deu tempo da Giselle conversar com você sobre esse assunto, não é mesmo? – a mãe de Jake e Julia havia morrido em um acidente de carro, junto com Don, seu pai, quando a menina tinha apenas sete anos. – você não está morrendo. Isso se chama menstruação e todas as mulheres têm.

— Você também sangra?

— Sim. Nós sangramos todos os meses. Isso significa que você está ficando uma mocinha e que seu corpo está te preparando para ter um bebê futuramente. Tire essa roupa, e se lave. Vou buscar umas coisas pra você.

Me levantei e sai. Daryl estava do lado de fora.

— O que ela tem? – ele parecia preocupado.

— Nada. Ela só menstruou. – ele riu.

Fui para o quarto e peguei uma calça, uma calcinha e um absorvente e voltei para o banheiro. Julia estava sentada. A ensinei como usar o absorvente e ela se trocou.

— Não conta pra ninguém, por favor. – ela me pediu.

— Tudo bem. – sorri. Voltei para a sala e Daryl estava lendo Os Miseráveis.

— Não entendi merda nenhuma desse livro.

— Quantas páginas você leu?

— Duas.

Balancei a cabeça e me sentei ao seu lado.

— A garotinha já se acostumou com a idéia de sangrar todos os meses e não morrer? – ele riu.

— Para de rir. Esse é um momento traumático na vida de qualquer mulher.

— Vocês reclamam demais. Nem deve ser tão ruim assim.

— Cala a boca. – disse jogando uma almofada nele. – vou me deitar, boa noite.

— Boa noite.

...

No dia seguinte, tomamos café e Jenner nos explicou o que se passava na cabeça de uma pessoa infectada e que não havia cura para a epidemia.

— Não tem como fazer mais nada. Eu fiz tudo o que estava ao meu alcance. Esse lugar explodirá em uma hora.

Nós entramos em pânico.

— Você não pode fazer isso. – Jake esbravejou.

— Eu disse. Uma vez fechada, essa porta não se abrirá.

— Se você quiser morrer, morra sozinho. Não nos leve com você. – Julia disse.

— Vocês preferem viver nesse mundo ai fora?

— Abra essa porta, seu filho da mãe. – Daryl gritou.

Depois de muitas tentativas, ele abriu a porta da sala de comando. Pagamos nossas coisas e fomos para o saguão principal. Jacqui resolveu ficar. As janelas eram blindadas, não conseguimos quebrá-las.

— Eu tenho uma coisa que pode servir. – Carol disse e tirou uma granada da bolsa. – eu peguei quando você chegou, Rick.

Rick pegou a granada, armou perto da janela e ela explodiu. Nós saímos de lá o mais rápido que pudemos e o local explodiu em questão de segundos.

O prédio do CDC não existia mais.


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