Soundtrack escrita por Mia Lehoi


Capítulo 11
Track 11: Oceans


Notas iniciais do capítulo

Aviso: Por alguma razão o Nyah está derrubando o capítulo 10 toda vez que eu posto. Já upei três vezes (quatro, contando com essa) e isso continua acontecendo. Se ele não estiver aparecendo para você, ele pode ser lido aqui: https://www.spiritfanfiction.com/historia/soundtrack-9738741/capitulo10


Oceans é uma canção da dupla Seafret (https://www.youtube.com/watch?v=RpdXBjwXbMg)



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It feels like there's oceans
(Parece que existem oceanos)
Between me and you once again
(Entre eu e você outra vez)
We hide our emotions
(Nós escondemos nossas emoções)
Under the surface and tryin' to pretend
(Embaixo da superfície e tentamos fingir)

Carmem encarou o teto do quarto. Já era madrugada, muitas horas haviam se passado desde o incidente do elevador, mais ainda desde o jogo daquela tarde. Horas… Quanto tempo ela ia precisar para se recuperar daquela vez? Dias? Semanas? Podia parecer besteira, mas aquele dia havia sido como uma avalanche de sentimentos confusos e problemas que ela gostaria de esquecer.

Mas não era assim que as coisas funcionavam. O beijo de Mônica e Cebola era só um dos muitos que eles já haviam trocado na frente da turma toda, mas pareceu mais impactante dessa vez. Antes, ainda que ela soubesse que a chance de ser correspondida era mínima, sempre havia lá no fundo um pedacinho dela que a permitia sonhar, imaginar os dois trocando conversas e carinhos, vivendo momentos. Naquele dia, esse sentimento não estava mais lá. Parecia que qualquer chance que ela pudesse ter havia desaparecido completamente.

Ao mesmo tempo, por mais triste que estivesse, a loira se sentia menos mal ao se lembrar que não estava sozinha. Podia soar um pouco egoísta, e talvez até fosse mesmo, mas era bom saber que em algum lugar do Limoeiro outra pessoa também devia estar repassando aquela cena dezenas de vezes, tentando entender como poderia mudar aquele cenário.

Ela não havia imaginado que Do Contra iria atrás dela. Talvez ele até fosse, só para se desvencilhar da turma, encontrasse o estacionamento vazio e deixasse aquilo pra lá, como todo mundo fazia. Ninguém iria mais longe que isso por ela.

Quando ela o viu na frente do elevador, sua primeira reação foi ficar irritada. Já tinha estourado a cota de momentos vulneráveis na frente dele e não estava afim de acrescentar mais um desastre àquela lista. No entanto, a insistência dele em ficar ali, em continuar o plano, a pegou de surpresa. E para piorar, no instante seguinte foi ele mesmo que ficou exposto. As mãos machucadas, o constrangimento no rosto, era diferente de qualquer situação que já tivesse passado com ele. Apesar de toda aquela pose agressiva, ele era um poço de calma, pelo menos na frente dos outros. Era estranho vê-lo perder as estribeiras.

Tudo o que aconteceu a seguir só serviu para deixar a garota ainda mais confusa. Em um instante eles estavam trocando ofensas, no outro ele parecia frágil, amedrontado, quase um garotinho. Muito diferente de quem ela conhecia.

Carmem não gostava daquela versão dele. Era verdadeira, próxima. Agora ela se sentia como se fosse a única pessoa no bairro inteiro a saber aquele segredo sobre ele e não sabia muito bem como lidar com isso. Tudo naquele momento tinha sido absolutamente ilógico, apesar de real e palpável. O jeito com que ele havia fechado os olhos, respirando devagar, a música, a escuridão, as poucas frases trocadas no calor do momento, a sinceridade.

“Se você fosse com ele como é comigo, o imbecil já teria se apaixonado há muito tempo.” Foi o que ele disse, com todas as letras. Ela sabia que ele não queria dizer nada com aquilo, que era só um consolo, uma forma de fazê-la continuar com o plano para que ele mesmo pudesse conquistar a garota que queria.

Mas por que aquela frase não parava de martelar em sua cabeça?

Ah não.

Não outra vez.

Ela se levantou da cama, subitamente se sentindo enérgica e inquieta. De repente, como se fosse um meteoro caindo do céu, lhe veio um sentimento que nunca tinha sentido antes, algo diferente de todas as outras paixonites. Não estava apaixonada por ele, claro que não. Mas naquele instante lhe veio uma certeza de que se continuasse conhecendo-o e pensando naquelas coisas, ela se apaixonaria.

E perder um cara para Mônica já era suficiente.

A garota suspirou pesadamente e depois de dar algumas voltas pelo quarto encarou o CD que ele havia lhe dado em cima da mesa. Pegou o celular na mesinha de cabeceira, abriu o Instagram e buscou o perfil de Cebola. Qualquer sorriso dele, mesmo nas fotos mais desajeitadas, era suficiente para lembrá-la de qual era seu real objetivo. Do Contra era só uma etapa de seu plano, assim como ela era só isso para ele. Logo tudo aquilo acabaria e eles nem se falariam mais.

Buscou o nome do roqueiro na agenda e ligou. Poderia mandar mensagens, mas queria falar diretamente com ele. O garoto atendeu no terceiro toque, com uma voz obviamente mau humorada.

— O que você quer Carmem? Nunca ouviu falar que de madrugada as pessoas dormem? - ironizou.

— Você estava dormindo?

 Não, mas mesmo assim. Sua mãe não te deu educação não? - bufou.

— Estou guardando minha educação para pessoas mais importantes. - deu uma risadinha baixa -Escuta, só to ligando pra te dizer que é pra você esquecer o que eu disse hoje. Eu quero continuar com o plano.

Do Contra pensou por alguns segundos antes de responder. Era isso que ele queria, não era? Continuar o plano, ter um futuro com Mônica. Era isso que tinha levado-o ao último andar daquele hotel.

— Ok. - respondeu simplesmente - Eu achei que você ia desistir de verdade. - continuou.

 Eu fui idiota. Não quero desistir. - ela suspirou — Eu quero o Cebola. — continuou, embora sua voz não parecesse tão determinada quanto aquelas palavras sugeriam que ela estava.

— Isso eu já sei. - ele rebateu, sentindo uma sensação esquisita na boca do estômago. - O que a gente vai fazer agora?

— Não sei. Mas temos que ser mais agressivos. E agir antes que eles estejam oficialmente juntos. - continuou, como se falasse sobre algo trivial como uma lista de supermercado.

Ele parou para pensar no que dizer por alguns segundos. Sabia que havia deixado um silêncio constrangedor no meio da ligação, mas realmente não sabia como responder àquilo. Engoliu a vontade de falar que queria esquecer o maldito plano, o maldito Cebola. Era mais fácil só aceitar que ele não era, e nunca seria, correspondido por Mônica e ficar em paz, não era?

— O que você quis dizer com aquilo? - Carmem perguntou de repente, a voz mais baixa do que antes. — Você sabe, aquilo sobre como eu sou com você. - explicou, antes que ele tivesse a chance de perguntar.

— Eu… - ele começou, constrangido. Por que tinha dito aquilo mesmo? Não era algo que ele diria se estivesse em sã consciência. Na verdade não era nem algo que ele sabia que pensava até estar naquela situação de pânico.

Mas pensando agora, ele chegou à conclusão de que era verdade. Ela era muito mais interessante quando estavam a sós. Quando não se importava com a opinião dele e falava um monte de besteiras, quando fazia aquelas playlists tristes que ninguém além dela iria ouvir, quando discutia, demonstrava a própria opinião, perdia a compostura. Mas como ele poderia dizer isso tudo?

— O Cebola é um idiota. Ele gosta de menina que pisa nele e não tá nem aí. - Do Contra respondeu, escolhendo a alternativa que menos lhe comprometeria. O que ele mesmo pensava sobre ela não tinha importância. Era tudo sobre Cebola. - Não que você dê em cima dele descaradamente ou alguma coisa assim, mas só de ele saber que tu dá algum valor nele já era.

— Ah. - ela murmurou, com um tom que ele podia jurar que soava como decepção. - Entendi. Eu não tô nem aí pra você mesmo. - completou, embora não houvesse necessidade.

— É. - murmurou. - Era só isso?

 Era. - ela deu uma pausa.

— Tá. Continuamos o plano, então. - suspirou pesadamente - Tchau, Carmem. - e desligou, sem esperar resposta.

Quando a tela do celular se apagou e o quarto voltou a ficar escuro, o garoto se sentiu ainda pior do que estava antes da ligação. Aquele havia sido um dia difícil, porém no fim das contas ele tinha chegado em casa com o sentimento de que não estava sozinho.

Mas ele estava. E ela também.

Eles não eram amigos. Nem inimigos. Nem nada.


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Notas finais do capítulo

Primeiramente um milhão de desculpas pela demora enorme no capítulo. Aconteceram muitas coisas nesses dois meses. Muita correria na faculdade, fim de semestre, arrumei um estágio, curti umas bands monstruosas... Enfim. Acabei ficando muito cheia de coisas pra fazer, sem tempo/energia pra dedicar à fic. Todo fim de semana abria meu docs e pensava "ok, hoje eu atualizo a Soundtrack" e nada. Mas finalmente o capítulo saiu!

E segundamente peço desculpas pela bad vibe que tá esse capítulo. Eu juro que originalmente ele não era pra ser TÃO triste! hahaha Mas acabou acontecendo. E é curioso que a música que eu tinha planejado pra ele também era bem mais feliz, mas quando estava escrevendo Oceans tocou no meu spotify e só consegui pensar "gente, mas é o track perfeito!" e aqui estamos. Pensando bem, é inevitável registrar a tristeza que esses dois estão passando. Eles realmente gostam da Mônica e do Cebola e apesar de estarem nessa juntos, eles não sabem muito bem até que ponto essa amizade é só uma conveniência e até que ponto é real.

Será que Carmem e DC vão perder todo o progresso que fizeram um com o outro? Vamos esperar pra ver!

Por enquanto o ritmo da fic ainda vai continuar um pouco devagar, mas dia 15 eu entro de férias do estágio e vou ter bem mais tempo pra dedicar.

Enquanto isso só posso agradecer a quem continuou aqui comigo! ♥

Beijão,
Mia.



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