Wonderland escrita por Ani


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Continuando...



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Draco acordou no domingo sentindo uma terrível dor de cabeça. Alcançou a cômoda para pegar a varinha, mas se lembrou que não a tinha mais.

Merda.

Algumas imagens se formavam em sua mente, mas ele não sabia separar o que era sonho do que era realidade. Haviam pedras atiradas e janelas quebradas, um escritório e... Granger. Granger sexy numa fantasia.

Pelo menos isso ele tinha certeza que era realidade porque ele nunca sonharia com Granger, por sua honra como um Malfoy. E claro que a parte sexy podia ser explicada pelo álcool.

Sem nenhuma experiência em lidar com ressaca da maneira trouxa, o sonserino foi pedir auxílio a Hunter, que preparou uma vitamina que Draco podia jurar ter o mesmo gosto de poção Polissuco.

Na segunda-feira uma das secretárias do lugar veio lhe trazer um bilhete com um endereço, e foi só aí que o bruxo entendeu o que realmente aconteceu na noite da festa.

Era por volta das 17h30 quando Draco caminhava em direção ao asilo. A maldita Granger caminhava alguns metros atrás dele. Ou pelo menos foi o que o bruxo presumiu, pois não se atreveu a virar para olhar.

Sua vida ainda parecia surreal, ele queria acreditar que não, ele não estava sem magia, sem seus bens e forçado a cumprir serviço comunitário com Hermione Granger. Por Salazar! A que ponto ele chegou?

Quando alcançou seu destino, Draco suspirou derrotado. A casa era bonita e grande, mas era deprimente. Era bonita de um jeito triste. Triste que alguém fosse abandonado ali, como se não tivesse mais lugar entre os seus. Como se não servisse para mais nada. Draco conseguia se identificar com isso. Talvez ele se encaixasse ali no final das contas.

— Oi – Draco ouviu Hermione dizer timidamente atrás de si.

— Oi – ele respondeu mais rude que o necessário.

A garota se adiantou e apertou a campainha e uma mulher grande por volta de uns cinquenta anos abriu a porta para eles segundos depois.

— Ah, vocês chegaram. São os meninos que Albert enviou, certo? Entrem, entrem – ela já os puxou pra dentro sem esperar uma resposta. – Esse corredor vai dar na sala, do outro lado é a cozinha, e nos fundos ficam os quartos. Nós usamos o andar de cima para gerencia e estoque, já que a maioria deles não se dá com escadas, Deus os abençoe. Mas que cabeça a minha! Nem me apresentei, meu nome é Margareth Benton, mas podem me chamar de Margie. – Draco se perguntava se ela ia parar de falar algum dia. – Hoje nós tivemos um pequeno contratempo, nossa cozinheira ficou doente, vou precisar que façam o jantar. Vocês conseguem, não é mesmo? Podem ir, eu preciso dar alguns remédios agora, mas já vou lá falar com vocês – e virando as costas a mulher desapareceu pelos corredores.

Doida, o bruxo pensou e logo viu que Hermione tivera uma opinião diferente, já ela contraia os lábios como se tentasse segurar um sorriso. Ela abriu a boca para fazer algum comentário, mas pareceu se lembrar que era Draco quem estava ali com ela e desistiu.

— É melhor a gente ir – ela disse depois de uma pausa, e seguiu pelo corredor que Margie indicara.

— Você sabe cozinhar? – Draco perguntou quando estavam lá dentro.

— Um pouco. E você?

— Não sem magia.

Hermione foi abrindo a geladeira e se ambientando com o lugar enquanto o sonserino ficava sentado de braços cruzados, apoiado na mesa.

— A gente pode fazer pão e uma sopa. Será que é bom o suficiente?

Draco deu de ombros e um silencio desconfortável logo se instaurou entre eles, mas não durou muito, com Margie entrando pela porta.

— Oh, desculpe ter abandonado vocês assim. É que estou sozinha aqui hoje, e tenho que fazer tudo. Vocês chegaram na hora certa. Você deve ser Hermione, não é querida? – Margie passou as duas mãos pelo rosto da bruxa. – Tão linda. Albert disse que é excelente aluna também. Vai se tornar médica, não é?

— Sim, senhora – Hermione respondeu.

— Oh não, “senhora” não. Apenas Margie – ela pediu e a grifinória abriu um sorriso. – E esse rapaz elegante só pode ser Draco. Que olhos lindos você tem! São cinza, olhos de tempestade. Devem combinar com sua personalidade, não?

— Você não tem ideia – as palavras saíram da boca de Hermione mais rápido do que ela conseguiu controlar.

Margie riu e sua risada era tão contagiante que Hermione e Draco acompanharam mesmo sem querer. A sugestão do menu de Hermione foi aceita com entusiasmo pela enfermeira que, depois de responder algumas perguntas da bruxa, voltou para cuidar de seus pacientes.

Sozinhos novamente, os bruxos se encararam enquanto Draco assimilava a triste realidade. Ele não sabia cozinhar do jeito trouxa e Granger sim, portanto ele teria que receber ordens da sabe-tudo a noite toda. Maldito inferno!

— Hmm... – Hermione começou cautelosa. – Você pode, por favor, pegar alguns tomates na horta lá fora?

Soltando uma série de palavrões em voz baixa, Draco saiu pela porta.

Um começo até que fácil, mas a noite só estava começando.

***

— Não, agora você tem que mexer com as mãos! – Hermione orientava Draco.

— Eu não vou colocar as mãos aí. Posso muito bem mexer com a colher – ele respondeu.

— A colher não é forte o bastante, tem que ser com as mãos. Tem que sovar a massa.

— Mas é nojento – Draco insistiu.

— Não é nojento, é comida! – a bruxa rebateu.

— Se você não fosse não teimosa, isso podia ser resolvido com...

— Não comece! – Hermione interrompeu - Não vou usar magia para facilitar sua vida, ficou louco?

— Facilitaria a sua também. Tudo ficaria pronto em minutos e a gente não precisaria fazer nada.

A bruxa soltou um longo suspiro irritado antes de responder.

— Vamos pensar por um momento, ok? – ela se virou para Draco e usou um tom de quem explica algo a uma criança particularmente burra. - Eu uso magia e faço o jantar. E depois? Teríamos que ficar aqui por mais 40 minutos para fingir o tempo do preparo. A gente ia fazer o que? Bater um papo? Trocar confidencias? Não, se eu tenho que ficar presa com você, eu prefiro trabalhar, que o tempo passa mais rápido – terminou voltando a mexer a sopa, sentindo o olhar de Draco fuzilando-a pelas costas.

— A questão do tempo poderia ser facilmente resolvida com um Confundus.

— Não vou sair por aí enfeitiçando as pessoas à toa, não é certo. Além do mais, você não vai me ter pra sempre do seu lado pra resolver seus problemas com magia. Você está preso no mundo trouxa por enquanto, e devia aprender a se virar sozinho.

— Não se atreva a me dizer como eu tenho que viver minha vida, Granger! – a resposta de Draco saiu raivosa. – E a última coisa que eu quero é ter você sempre do meu lado.

Hermione revirou os olhos.

— Mexe a droga da massa, Malfoy.

— E se eu não quiser? – ele a enfrentou.

A bruxa apontou a varinha para ele. A ira nos olhos de Draco era palpável e quando ele voltou a falar, sua voz estava fria e perigosa.

— Um dia, Granger, eu vou pegar minha varinha de volta e...

— Sim, sim, e você vai se vingar de mim, claro. Mas hoje você vai sovar a massa. Com as mãos!

Derrotado, o sonserino enfiou as mãos com ódio na viscosa mistura na vasilha, e Hermione tinha certeza que ele a estava xingando mentalmente com todos os palavrões que conhecia.

         ***

 

Havia um salão com várias mesas onde jantar era servido. Draco viu um senhor sentado distante dos outros. Hermione comia do outro lado da sala e o bruxo decidiu que a mesa daquele senhor era longe o suficiente e se aproximou.

— Eu trouxe pão – Draco ofereceu colocando a bandeja sobre a mesa enquanto se sentava com seu próprio prato.

— Outro voluntario – o velho falou com um sorriso. Draco não o corrigiu, ele não tinha exatamente se voluntariado para estar ali. – Qual seu nome?

— Malfoy. Draco Malfoy.

— Meu nome é Oliver Gordon.

Eles apertaram as mãos e começaram a comer em silêncio. Oliver o olhava com curiosidade e Draco fingia não perceber.

Por que o mundo tinha que ser tão irritante?!

— Você não é realmente um voluntario, é? Eles geralmente falam mais e são mais bem-humorados – Oliver começou com um sorriso.

— Fico feliz em saber que existe vida inteligente depois dos sessenta – o idoso riu.

— Sarcasmo e raiva. Interessante. O que fez para estar aqui? – Draco não respondeu. – Ok, ok, entendi. Sabe, eu também tenho fama de mau. Não pegaria bem pra nossa reputação se ficássemos conversando e rindo, não é? – o bruxo lhe lançou um olhar irritado, mas continuou calado enquanto Oliver sorria consigo mesmo balançando a cabeça.

O idoso não tentou puxar papo com ele novamente e Draco foi grato por isso. Ele tinha evitando pensar no assunto, mas o comentário de Granger na cozinha estava forçando a questão de volta à sua mente.

“Você está preso no mundo trouxa por enquanto e devia aprender a se virar sozinho.”

Draco sabia se virar sozinho, sempre soube. Mas não no mundo trouxa. Ele achou que seria temporário, que o mandariam para cá para lhe ensinar uma lição de moral qualquer, mas a carta dizia que ele teria que ficar ali por no mínimo um ano. A porra de um ano inteiro para poder ter o direito de pedir por uma nova audiência e tentar recuperar sua varinha e sua fortuna congelada. Mas duvidada que fossem lhe devolver tudo se não entrasse de cabeça.

 Ele já tinha ficado sem magia durante o ano anterior, mas no mundo bruxo onde tinha amigos da família cuidando de sua mãe, e dele por tabela. Então o enviaram para o lado de cá. O forçando a passar por esse experimento patético.

Ele não sabia nem se alimentar sem a droga da varinha, e a sopa de Granger estava deliciosa. Ou talvez só parecesse deliciosa porque ele e Hunter não tinham a menor habilidade na cozinha e viviam à base de industrializados e fastfood. De qualquer forma, Hermione sabia cozinhar e se virar no mundo trouxa. Seria lógico pedir a ajuda dela, mas por Salazar, ele não faria isso. Ainda não estava tão desesperado.

Draco não era burro, ele sabia, há alguns anos agora, que essa história de status de sangue que seu pai tentou enfiar em sua cabeça era tudo besteira. Não era o sangue de Hermione que o irritava. Era sua arrogância, ela achava que era melhor que ele.

***

— Até amanhã – Margie se despediu com um sorriso antes de fechar a porta.

Draco não disse uma palavra ao descer as escadas correndo e manter uma distância segura entre ele e Granger.

Era uma noite agradável e Hermione recebeu a leve brisa com satisfação. A parte da louça foi mais um calvário. Eles sempre começavam a trabalhar em silêncio, mas no momento em que um deles resolvia abrir a boca, uma briga era iminente. Como iriam trabalhar juntos, Hermione não tinha a menor ideia, mas estava feliz de estar livre de Malfoy por hora.

Tirou o celular do bolso e ligou para mãe, que atendeu no segundo toque.

­— Oi filha.

— Oi mãe, tudo bem? – como era bom ouvir sua voz confortadora.

— Tudo, meu bem, e você? Como anda a universidade?

— Tudo bem. Acabei de sair do asilo.

— E como foi? Aquele rapaz te tratou bem? – a sra. Granger perguntou e Hermione se calou por uns segundos, não queria deixar a mãe preocupada.

— Foi tão bem quanto poderia ser – mas a senhora Granger ouviu a angustia na voz da filha.

— Minha querida, quero que se lembre de uma coisa, está bem? As pessoas dão aquilo que tem dentro de si. Elas se tornam aquilo que recebem, e pelo que me contou a família desse rapaz não era muito ajustada, não é? Tenha paciência e tente não ligar para o que ele diz, ok?

— Vou fazer o meu melhor – Hermione respondeu sorrindo. Apenas sua mãe era capaz de tirar esse peso de seu peito.

— Isso é o suficiente – ela respondeu - Querida, eu fiz uma faxina no sótão e não encontrei aquela caixa com seus brinquedos antigos. Você lembra onde está?

Um frio percorreu a espinha de Granger.

— Mãe, nós doamos aquela caixa para um orfanato há cinco anos – ela disse da maneira mais doce que conseguiu.

— É mesmo? - houve um silêncio desconfortável.

— Oh, mãe! Eu sinto muito. – Hermione sentiu os olhos encherem d’agua.

— Filha, está tudo bem. Você fez o que precisava fazer. Não quero que se culpe. Essa memória é uma coisa sem importância.

— Não, não é! Eu odeio ter tirado isso de vocês. Era para as memórias terem voltado intactas, não com buracos! Mas eu vou consertar isso, mãe. Juro que vou.

— Eu sei que vai, meu amor. Agora não se preocupe – mas a sra. Granger ainda podia ouvir a filha chorando do outro lado da linha.


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Notas finais do capítulo

Só avisando que pretendo postar 2 capítulos por dia. A história tem 17 capítulos (16 capítulos e o epilogo) e já está toda escrita. Me diz o que você achou. ;)



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