Wonderland escrita por Ani


Capítulo 2
Capítulo 2




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A música estava alta e a pista de dança lotada. Era abafado dentro do salão, e haviam muitos que preferiram ficar no gramado ao ar livre. Logo que chegaram, Hunter foi solicitado por um grupo de garotas que queriam dançar com ele.

Uma delas ficou para trás com Draco quando ele disse que não dançava. Ela se apresentou, mas o bruxo não prestou atenção. Era loira e parecia uma garota legal. Ela explicou que a maioria dos caras só dançavam quando estavam muito bêbados e que Hunter era uma exceção, ele realmente dançava muito bem. A garota tentava ser simpática e amigável, mas diante da total falta de empenho de Draco em continuar a conversa, ela pediu licença para ir ao banheiro e não voltou mais.

Draco sempre se considerou um cara festeiro, apesar de não se lembrar de nenhuma festa dos últimos cinco anos. Realmente não houveram muitas, com Voldemort e tudo mais. Mesmo depois de sua queda o bruxo ainda não teve motivos para comemorar.

Ele se lembrava do inquérito aberto contra o pai, e não demorou muito para que ele fosse sentenciado à Azkaban. Sua mãe teve a pena mais leve por ter ajudado Potter, e foi sentenciada a prisão domiciliar, sem direito a uma varinha. Draco era menor de idade quando fez a Marca Negra e seus papéis declaravam seu caso como “corrupção de menor” e foi decidido que ele concluiria os estudos em casa, mas quando se formou sua varinha também foi confiscada por ordem do Ministério, e ele ficou esperando um posicionamento.

Não que o sonserino não tivesse contatos para arrumar outra varinha, mas já estava enrolado o suficiente com a justiça e não queria dar mais motivos para eles ferrarem sua vida.

Draco notou que outra garota o encarava agora, essa era ruiva e sorria para ele do balcão de bebidas.

Inferno! Ele devia sorrir de volta, ir até lá e beija-la sem nenhuma explicação. E era isso o que ele devia ter feito com a loira também. Era uma festa, por Salazar! E ele não estava bebendo, conversando ou se divertindo. Estava como sempre pensando do quão incrivelmente fodida sua vida estava.

O herdeiro Malfoy decidiu que não conseguiria relaxar enquanto não soubesse o que dizia naquela maldita carta, então munido de toda coragem que conseguiu reunir, correu para o banheiro e se fechou em uma das cabines. Respirou fundo e abriu o envelope.

Caro sr. Malfoy

 

Devido às circunstancias atuais informamos que seu pedido pelo direito de portar uma varinha foi NEGADO. Uma nova audiência poderá ser solicitada no futuro, após sua estadia no mundo trouxa por, no mínimo, 1 (um) ano. Um de nossos fiscais o acompanhará ocasionalmente para verificar seu progresso. Informamos ainda que seus bens continuam confiscados até segunda ordem.

 

Espero que esteja bem,

Mafalda Hopkirk

Seção de Controle do Uso Indevido da Magia

Seu punho bateu com força no azulejo cinza da parede.

Merda.

***

O corpo de Hermione se mexia ao som da música. A bruxa fechou os olhos e, por um instante, estava sozinha na pista de dança. Ela invejava a mãe por ter feito balé. Ela sempre falava da dança com tanta paixão: “dançar é deixar a alma livre para que se faça poesia com o corpo”, ela dizia.

Hermione nunca teve tempo de fazer aula enquanto crescia, mas por um momento entendeu o que a mãe quis dizer. Ela abriu os olhos e enxergou Amanda sorrindo e cantando alto para acompanhar a música.

— Eu preciso ir ao banheiro – Hermione gritou no ouvido dela.

— Quer que eu vá com você? – Amanda ofereceu.

— Não precisa, a fila deve estar gigante. Só não saia daqui pra gente não se desencontrar, eu já volto.

— Ok, só vou pegar uma bebida pra gente então e volto pra cá. Tequila?

— Eu quero só água – Hermione respondeu.

— Tequila será! – Amanda devolveu, com um sorriso que dizia que tinha ouvido muito bem o que a amiga tinha dito.

Hermione a empurrou brincando e recebeu uma careta em retorno enquanto ambas iam para lados opostos.

A fila, como a bruxa supôs, estava grande e Hermione se apoiou na parede para esperar sua vez. Quando a morena que estava na sua frente entrou, a grifinória passou os olhos pela pista de dança e seu queixo caiu.

Draco estava pulando e gritando feito um louco, com uma garrafa de Jack Daniels quase vazia na mão.  Teve a impressão que a mão dele estava sangrando, mas decidiu que devia ser apenas a luz. Ele também estava fumando, mas aquilo não parecia um cigarro comum para Hermione.

Idiota.Será que ela devia ir atrás dele?

Meus Deus, de onde saiu isso?

O garoto já deixou claro diversas vezes que a desprezava. Ela realmente se preocupou com ele? Balançou a cabeça para afastar esse pensamento enquanto o banheiro ficava livre.

— Você vai entrar ou não? – perguntou a garota atrás dela.

Hermione olhou para Draco novamente e o viu esvaziar o que sobrara na garrafa e ir em direção ao bar em busca de mais.

Que se dane, Malfoy!

Hermione entrou no banheiro.

 

***

 

— Por que demorou tanto? - Amanda reclamou entregando a tequila e o limão para a amiga.

— Fila – a bruxa respondeu simplesmente e olhou em volta.

— Procurando alguém? Seja quem for, eu posso te apresentar.

— Tenho certeza de que pode – Hermione riu, mordendo o limão e tomando, em um gole só, o pequeno copo com sal nas bordas que a amiga lhe entregara. – E a água?

— Você é tão sem graça – Amanda lhe estendeu a garrafa.

Hermione já começava a dançar novamente. Estava na terceira musica quando sentiu uma boca em seu ouvido.

— Nada mal, sangue-ruim.

A grifinória se virou abruptamente e deu de cara com um Malfoy corado e claramente chapado.

— Malfoy!

— O primeiro e único! – ele abriu os braços e fez uma saudação. – Você sabe ser sexy quando quer, Granger. Eu já tinha percebido isso no Baile de Inverno do quarto ano – ele deu uma piscadinha pra ela.

Sim, definitivamente alto. Hermione não sabia o que devia responder, principalmente com ele a encarando com aquele sorriso cínico. Em uma mão ele segurava a cerveja (e ela estava certa, a mão dele estava machucada), e a outra estava firme dentro do bolso.

— Você tá... bem? – ela arriscou e Draco soltou uma gargalhada tão audível que todos em volta os encararam por um segundo.

— Claro! Tá tudo bem... bem fodido. Agora sou quase um sangue-ruim igual a você. Já atingi o fundo do poço. Por que não me rebaixar e falar com você?

— Se rebaixar?? Meu Deus, você é um idiota. Veio aqui só para me ofender? – ela brilhava de raiva.

— Eu já disse, agora sou igual a você – ele deu um passo pra trás e quase caiu.

— Do que você tá falando?

— Foda-se! – o bruxo virou as costas e foi em direção à saída sem maiores explicações.

Quando ele tirou a mão do bolso, Hermione viu um pedaço de papel cair no chão.

Será que tinha algum tipo de alucinógeno na bebida que ela tomou? Esse dialogo realmente aconteceu? A julgar pela expressão confusa no rosto de Amanda, tudo havia sido real.

Hermione se abaixou para pegar o papel caído, apenas para ter o que fazer, quando viu a insígnia do Ministério da Magia e, antes que a amiga pudesse perguntar, a bruxa murmurou um “volto logo” e saiu pela mesma porta que Malfoy. Se afastou das outras pessoas e se enfiou atrás de uma das árvores para ler a carta.

Oh, Malfoy.

Sentiu pena dele. “Agora sou igual a você”, ele tinha dito. Forçado a conviver com aqueles que considerava inferior. O surto e a presença dele em Oxford faziam sentido agora.

— Lendo correspondência alheia?

— Malfoy! – a garota pulou de susto. – Por que você tem que aparecer assim?!

— Eu te deixo nervosa, Granger? – ele provocou. – Dessa vez quem fez coisa errada foi você. Estava lendo minha co...

— Se não quer que outras pessoas leiam sua correspondência, você não devia joga-las no chão. Qualquer um podia ter pego e lido. Sorte a sua que fui eu.

Ele riu.

— Sim, sorte. Porque essa é a palavra que define minha vida no momento: “sorte” – ele desenhou as aspas com os dedos. – Eu perdi tudo.

— Não reclame pra mim, não fui eu quem estragou sua vida. Você devia discutir isso com o idiota do pai.

— Sua... – Draco deu um passo em sua direção, mas Hermione estava preparada, e rapidamente tirou a varinha do decote do vestido. O sonserino parou, mas não se intimidou a ponto de ficar calado. – Você não vai falar do meu pai! Você não...

— Eu estou cansada dos seus pitis! Foi você que veio atrás de mim pra começo de conversa, esqueceu? Você está com problemas? Coitadinho! Todo mundo tem problemas! Então vê se controla a criança mimada que você é e cresce— a garota baixou a varinha, mas não foi tola o suficiente para guardá-la.

O ódio com que ele a encarava de repente se transformou em um sorriso de lado, e aquela mudança assustou tanto Hermione que ela deu um passou para trás. Aquilo não era nada bom.

— Você até que fica sexy quando tá bravinha, Granger. E esse decote... hmm, não sabia que você tinha peitos.

A bruxa se recusou a entrar no jogo.

— É tão triste. Você está tão amargo que não consegue reconhecer quando uma pessoa boa se aproxima de você. Se continuar afastando todo mundo vai acabar ficando sozinho e patético.

­— Sozinho claramente não é uma opção, Granger, porque você insiste em me forçar a porcaria da sua companhia. Volta pra festa, senhorita perfeita, e me deixa em paz. - Draco deu meia volta e foi embora.

A bruxa decidiu que realmente era o suficiente daquela palhaçada por uma noite.

Incendio— disse apontando a varinha para carta de Draco que agora queimava na grama.

Ela se virou para voltar para festa quando ouviu um som de vidro se quebrando, e ao se virar viu Malfoy pronto para atirar uma segunda pedra à janela da biblioteca.

Accio pedra! – Hermione apontou a varinha em direção à terceira antes que atingisse o alvo.

— Ah, pelo amor de Deus, Granger! O que eu tenho que fazer pra você me deixar em paz? – Draco reclamou pegando outra pedra.

— Você perdeu a cabeça de vez? O que pensa que está fazendo? Você está fora de controle. Vai acabar expondo todo o mundo mágico desse jeito.

Eu?? Quem é que está fazendo feitiços a céu aberto?

Hermione arregalou os olhos e por um instante viu o olhar de triunfo nos olhos de Draco.

— É uma festa a fantasia, posso dizer que a varinha faz parte da minha.

— Não lembro da Rainha de Copas ter varinha.

— Não fuja do assunto! Você está depredando a biblioteca! – ela gritou.

— E o que você tem com isso? – ele devolveu. – Você não entende?! Não importa mais. Acabou.

— Quer saber de uma coisa? Eu devo ter tido um lapso mental quando resolvi perder meu tempo com você! Você quer desistir e se afundar? Vá em frente! Eu não poderia me importar menos.

— Finalmente ela entendeu! Fico feliz que tenha aceitado a realidade, e que estamos de acordo que, não importa se Voldemort se foi, nosso ódio mutuo será eterno.

— Morre Malfoy!

— Hoje não... – Hermione se virou para ir embora antes de ouvir Draco completar - ...sangue ruim!

Ele cuspiu as últimas palavras com desprezo e a bruxa ergueu a varinha mais uma vez, pronta para amaldiçoa-lo.

— Mas o que está acontecendo aqui? – o segurança musculoso e alto da universidade apareceu. Nenhum dos dois foi capaz de dar uma resposta. - Larguem essas pedras e venham comigo.

Hermione ficou chocada ao se dar conta que ainda segurava na mão esquerda a pedra que pegou de Draco. A largou no chão com repulsa e tentou argumentar que não tinha feito nada, mas o segurança não quis ouvir e ambos foram levados para sala do reitor.

***

Os homens conversavam em uma sala adjacente enquanto Draco e Hermione esperavam na antessala. Uma cadeira vazia separava os bruxos muito concentrados em se ignorar mutuamente.

Por fim, foi Draco quem quebrou o silencio.

— O que você tá esperando? Joga um Confundus neles e tira a gente daqui.

Hermione soltou uma bufada de descrença.

— Eu sei que seu pai costumava te livrar...

— Eu já avisei para não falar do meu pai! Não abre a boca para falar dele, porra.

— O seu pai te livrava de castigos e responsabilidades... - ela continuou ousada como se não tivesse sido interrompida - ...mas eu nunca vou te ajudar a se safar de nada. Você tem que aprender a assumir responsabilidade pelos seus atos.

— Sua estupida! Você quer ter ficha na polícia só para me ensinar uma lição? Tira logo a gente daqui! - Draco bufou.

— Você não disse que não queria minha ajuda para nada?

— E você não disse que não podia se importar menos com o que acontecia comigo? Por que quer me ensinar uma lição? – Hermione não foi capaz de dar uma resposta. - Estou começando a achar que tem uma quedinha por mim, Granger. Claro, eu não te culpo.

Uma resposta já cruzava os lábios de Hermione quando o reitor e o segurança reapareceram.

— Que decepção – ele começou. Era um homem robusto de pelo menos cinquenta anos e apesar do peso na voz, ela era suave. Como a de Dumbledore, os bruxos pensaram ao mesmo tempo.

— Senhor... – Hermione começou, mas parou quando o homem fez um gesto.

— Essa é uma das melhores universidades do mundo e eu espero um comportamento melhor dos meus alunos. Eu devia dar queixa na polícia pelo vandalismo de vocês, mas de que ia adiantar? Vocês seriam uma ficha no meio de milhares e eu prefiro dar eu mesmo a punição – ambos levantaram a cabeça para olhar para ele. – Vocês vão cumprir horas de serviço comunitário no Centro de Convivência para Idosos. Deus sabe como eles precisam de ajuda naquele lugar. E antes que vocês se sintam inclinados a não ir, nós temos câmeras de segurança e tenho certeza que, se buscarmos no sistema, terei imagens da infração de vocês. Posso ir até a polícia e entregar as gravações. Acho que a Casa de Repouso é uma solução melhor para todos, vocês não concordam? Não preferem que a polícia fique fora disso?

— Sim, senhor – Hermione e Draco responderam ao mesmo tempo.

— Ótimo, vocês começam na segunda.


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