Por quem vale a pena se sacrificar escrita por Alice Alamo


Capítulo 2
Capítulo II




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Shikamaru o encarava, com a mesma expressão preguiçosa de sempre. Contudo, Sasuke também notava o discreto vinco na testa dele, sinal de preocupação.

Ignorou.

Já havia dado ouvidos para muitas pessoas e não duvidava que Shikamaru também fosse apoiar Naruto. Ouviu uma voz alterada na sala de Naruto e estranhou. Shikamaru suspirou e soltou seu típico:

— Problemáticas…

— Quem está com Naruto? — Sasuke não conteve a curiosidade, afinal, só ele e Sakura tratavam Naruto informalmente e podiam gritar com ele enquanto ele estivesse ali, como Hokage.

— Temari e Ino. — Shikamaru acendeu um cigarro e tragou profundamente.

— Por quê?

— Ino precisa da autorização de Naruto para se mudar definitivamente para Suna, não dá para ela ficar viajando entre as duas vilas toda hora.

Sasuke assentiu, embora não entendesse do que se tratava aquele assunto. Shikamaru, vendo que Sasuke não lhe perguntaria mais nada, adiantou-se:

— Ela está num relacionamento com Gaara desde o fim da guerra, mas só há alguns meses eles decidiram se casar. Ela não queria deixar Sakura sozinha no hospital que elas abriram e estava preocupada com a floricultura dos pais, mas Gaara disse que Matsuri viria a Konoha para aprender e ajudar Sakura e, quanto a floricultura, a mãe dela contratou uma ajudante. Então, agora é só Naruto dar a autorização.

Sasuke piscou, aturdido. Estava tão distante de algumas pessoas da vila, como Ino, que nem ao menos sabia que ela estava com Gaara há o que? Quinze anos? Sentia-se tolo e disfarçou ao desviar o rosto. Ouviu novamente a voz que agora sabia pertencer a Temari.

Se era só Naruto autorizar, por que estava demorando tanto? A menos que Naruto não quisesse autorizar. Mas por que não iria querer? Que interesse ele tinha em não permitir que Ino se casasse? Ou seria Gaara a questão?

Não. Sacudiu a cabeça enquanto a levantava e se dirigia à porta. Shikamaru não o impediu, apenas suspirou cansado quando ele entrou no gabinete sem ser convidado ou anunciado.

Ino estava com os braços cruzados, irritada, com a postura altiva e até feroz. Temari estava inclinada na direção de Naruto, com o punho na mesa e um sorriso ameaçador na face. Enquanto isso, Naruto tinha um rastro de sorriso, algo leve e fraco escondido pela tristeza.

Quando Sasuke entrou, os três o olharam, e Ino até mesmo sorriu antes de saudá-lo:

— Graças a Kami! Sasuke, só você para me ajudar nisso. Pode por favor convencer Naruto de que não ir ao meu casamento é, não só uma afronta a mim e a Gaara, como também é uma decisão estúpida e egoísta? — Ela colocou a mão na cintura e jogou os cabelos loiros, compridos e soltos, para trás com um movimento brusco.

— Quando será o casamento? — perguntou, muito mais aliviado do que gostaria de admitir.

— Na primavera. — Ela lhe sorriu, sonhadora. — Criei estufas em Suna e quero me casar com diversas flores desabrochando. Vai ser lindo! Até a Tema concordou que foi uma ideia brilhante.

— Ele vai — Sasuke respondeu, e Temari se endireitou, olhando de Sasuke para Naruto.

— Sasuke! — Naruto ralhou.

— É por isso que gosto de você — Ino riu enquanto se aproximava de Sasuke como uma criança feliz e o abraçava sem ele saber de onde ela havia tirado intimidade para tal ato. — Obrigada. Vamos, Tema, preciso de Shikamaru para me ajudar a terminar de organizar a mudança.

— Ino, eu não disse que vou. — Naruto se levantou, tentando argumentar.

— Mas o Sasuke disse que vai, e nós sabemos como esse relacionamento de vocês funciona, né? — Ela piscou para ele. — Além disso, Sasuke, Sarada vai ser minha dama de honra, então eu sei que você não vai perder a chance de vê-la toda maravilhosa no casamento da madrinha dela.

Sasuke concordou, mais por pressa para ver Ino e Temari fora daquele gabinete que por aceitar que de fato tinha um motivo para ir ao casamento.

Quando a porta se fechou, Naruto respirou fundo, inconformado, e largou-se novamente na cadeira. Aquela sala era uma bagunça. Pilhas e pilhas de documentos se depositavam onde havia espaço, sobre a mesa de Naruto havia três delas, esperando para pronta aprovação de um Hokage que não parecia ter ânimo nenhum para aquele trabalho.

Irônico... Como a vida tinha se tornado irônica... Ser Hokage era o sonho de Naruto e, agora, quando ele tinha alcançado o que tanto queria, ali estava ele... querendo fugir de tudo, de todas as responsabilidades que assumira.

— Por que fez isso? — Naruto perguntou, cansado.

­— É o casamento do seu querido amigo — debochou. — Por que deixaria de comparecer? Além disso, Gaara é Kazekage, seria um desrespeito você, como Hokage, não comparecer tendo sido convidado.

— Acredita em mim agora? Sobre Gaara?

Sasuke revirou os olhos e caminhou até a mesa, sentando-se em uma das cadeiras vagas de frente a Naruto.

— Nunca foi ele o problema, sabe disso. Enfim, aqui está o relatório da missão. — Depositou o pergaminho sobre a mesa. — Não achei nada além de laboratórios vazios de pesquisa. Ao que parece, realmente conseguiu acabar com todas as pesquisas clandestinas de Konoha.

Naruto abriu o pergaminho e leu o relatório em silêncio e com desinteresse. Apoiou o rosto na mão e o cotovelo na mesa, os olhos azuis moviam-se lentamente de um lado para o outro, e Sasuke quase achou que ele dormiria ali mesmo.

— Desde que horas está aqui? — indagou com falso desinteresse.

— Boruto dormiu no meu apartamento. Dormimos tarde e tive que vir cedo para cá. — Naruto bocejou.

— Comeu algo decente pelo menos? — perguntou ao notar no canto da sala o lixo repleto de embalagens vazias de lanches rápidos.

— Ainda não. Mas vou almoçar ao meio dia.

Sasuke apertou a parte superior do nariz, pedindo paciência aos céus enquanto calculava o quanto daquela situação era sua culpa. Naruto se levantou com seu pergaminho em mãos, e Sasuke ouviu ele falar na porta com Shikamaru. Bateu os dedos contra a mesa de madeira e estreitou os olhos quando notou uma caixa de um medicamento sobre um papel com a letra de Sakura. Mesmo sem a autorização de Naruto, pegou-o e não se surpreendeu ao identificar a prescrição médica para os antidepressivos, mas, ainda assim, sentiu-se mal por aquilo.

A caixa do remédio estava fechada, e a receita datava de quase três semanas. Ouviu passos. A imagem de Naruto que caminhava até si novamente não era a que desejava ver e foi talvez isso que o fez ativar o sharingan e, quando percebeu, estava em um ambiente mais que familiar.

A luz escura e alaranjada tomou conta do lugar, Naruto estava em choque ao seu lado enquanto ele encarava Kurama, que o observava atentamente.

— O que pensa que está fazendo na minha cabeça, Teme? — Naruto gritou, mas Sasuke lhe deu às costas para caminhar em direção a Kurama.

— O que está fazendo, Uchiha? — Kurama questionou, desconfiado e pronto para atacar, embora não sentisse em Sasuke uma real ameaça.

— Ele está fraco e cansado, apague ele por um tempo — Sasuke disse, sem rodeios, ignorando tudo e qualquer coisa que Naruto falava.

Kurama tombou a cabeça para o lado, curioso, e com um único gesto criou uma barreira espessa entre Naruto e eles, dando-lhes privacidade.

— Por que eu faria isso, Uchiha?

— Ele não irá descansar se eu mandar e vai querer ter a mesma discussão de antes. Não vou discutir nada com ele nesse estado. Apague ele, deixe-o descansar.

— Aquele conselheiro irá caçá-lo para que ele cumpra suas obrigações.

— Eu garanto que ninguém irá perturbá-lo.

— Escute, Uchiha, eu não gosto de você. — Kurama se aproximou de modo que o focinho ficasse próximo a Sasuke. — Não confio em você. Não entendo o que o garoto vê em você ou por que sofre por você. Contudo, sei que você, de alguma forma, faz bem a ele e só por isso irei permitir que o leve. Mas lembre-se de que eu estarei aqui, e, a qualquer sinal de perigo, vou acordá-lo e matarei eu mesmo você.

Sasuke assentiu e começou a sentir o estranho frio na espinha que lhe acometia toda vez que deixava a mente de Naruto e era tragado para a realidade. De volta ao gabinete, só teve tempo de ouvir Naruto lhe xingar antes de correr para amparar o corpo adormecido.

Como sempre, Shikamaru e alguns anbus invadiram a sala na hora. Sasuke ajeitou Naruto em seus braços e se dirigiu à porta como se não houvesse ameaça alguma. Parou ao lado de Shikamaru e sussurrou:

— Eu garanti que sua mulher e sua amiga tivessem o que queriam, agora você vai me ajudar, não vai?

— Sasuke...

— Dê um jeito naquela papelada, chame Tsunade, Kakashi, quem for, mas Naruto está mais morto do que vivo sentado naquela cadeira mofada. Ele estará na minha casa e vai ficar lá até acordar. Pedirei a Sarada que avise os filhos dele. Se quiser, deixe alguns anbus, à distância — enfatizou. —, para nos seguir.

Shikamaru estalou a língua no céu da boca e coçou a nuca, dividido entre ajudar Sasuke ou cumprir com seu dever.

— Tsunade bebia e fugia de todos esses relatórios. Konoha não vai desabar por ele se ausentar algum tempo. Vai, leve-o daqui — decidiu enfim, erguendo o braço para impedir que a tropa seguisse Naruto. — Sasuke! — chamou-o, lembrando-se de algo importante. — Não o faça voltar pior do que ele está.

Sasuke não deu atenção às palavras e, ao entrar no elevador do prédio, tirou a capa e o chapéu de Naruto, deixando-os no chão. Arrumou-o melhor em seus braços e usou sua capa sobre os ombros e rosto dele para que Naruto não tão fosse reconhecido enquanto andavam.

Fingiu não ouvir os comentários suspeitos, não notar os olhares espantados ou o que quer que fosse. Ao entrar na sua casa, levou Naruto para o seu quarto e o colocou na cama. Aproveitou o tempo sozinho para refletir sobre suas ações e sobre o que faria dali em diante. Não conteve a vontade de acariciar o rosto abatido do outro, deslizando a ponta dos dedos por cada marca de expressão, lamentando as olheiras profundas e o rosto magro que deixava os ossos da face mais marcados.

— Dobe... — murmurou, quase como um lamento.

Fechou as cortinas do quarto e reparou no anbu em um telhado distante, claramente o vigiando. Exaustão, infelicidade, um casamento acabado, uma relação conturbada com os filhos, aquilo não era o que Naruto havia sonhado... duvidava que fosse! O posto de Hokage estava sendo uma gaiola que impedia Naruto de brilhar como deveria, cortava-lhe as asas... não parecia certo.

Se um dia, quando criança, alguém lhe contasse que Naruto deixaria de sorrir, riria, apostaria sua vida que fosse mentira. E, ainda assim, ali estavam eles.

— E não é que é verdade?

Sasuke se sobressaltou ao ouvir a voz de Sakura na porta do quarto.

— Achei que fossem rumores, mas me lembrei de que você ia levar o relatório da missão hoje. ­— Ela sorriu ao sentar-se na cama, próxima a Naruto, deixando Sasuke do outro lado do amigo. — O que houve com ele?

— Convenci Kurama a fazê-lo descansar

Sakura arregalou os olhos por alguns instantes, mas, depois, ao observar a expressão adormecida de Naruto, concordou, séria. Passou a mão pelo cabelo loiro dele e suspirou com pesar.

— Você é feliz? — Sasuke perguntou de repente.

— Como? — ela estranhou a questão.

— Você atingiu os seus sonhos? É feliz? — Sasuke repetiu, e ela percebeu a intensidade dos olhos escuros sobre si, como se exigissem a resposta, como se precisassem dela.

— Sou feliz, Sasuke. Meus sonhos... não posso dizer que os alcancei. Almejo todo dia algo diferente, a maioria eu consegui...

— Uma vez, Kakashi nos perguntou nossos objetivos, nossos sonhos...

Sakura corou e desviou o olhar.

— Admito que minha resposta deveria ter sido melhor naquela época. — Ela riu de leve. — Eu ainda era muito boba. Mas por que está falando disso?

— Eu quis me vingar e reconstruir meu clã... era minha meta, eu deveria ficar feliz quando a atingisse, contudo, matei um inocente, tenho Sarada, e ainda me sinto infeliz, como se ainda cultivasse o mesmo vazio de antes. Naruto quis ser respeitado e admirado, quis ser um ninja forte e ser Hokage, e aqui está ele... com tudo isso... Acha que ele é feliz, Sakura?

Sakura colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha e cobriu melhor Naruto.

— Não, nós sabemos que ele não é. Como eu disse, eu era muito boba naquela época, e vocês também. Você achava que o mundo se resumia a ter poder para se vingar enquanto Naruto queria ter poder para ser reconhecido, eleito para o posto de mais respeito e responsabilidade. Mas ninguém nos contou a verdade, ninguém nos disse o que estávamos mesmo desejando para cada um de nós. Eu desejei um amor que não seria nunca correspondido, você desejou se vingar contra aquele que sempre o protegeu, e Naruto... ele achava que ser Hokage era mudar o mundo, fazer as pessoas felizes, um cargo fácil para o qual bastava ter força, um bom coração e ser um bom ninja para o ocupar. Sonhos de criança, Sasuke, sonhos de criança...

Permaneceram em silêncio por um tempo até que Sakura se levantou e sugeriu que deixassem Naruto dormir tranquilo, sem o risco da conversa acordá-lo. Enquanto Sasuke esquentava água para o chá na cozinha, Sakura separou as xícaras e sentou-se, paciente, esperando Sasuke falar o que tanto o fazia mudar o peso de uma perna para a outra, como se buscasse um jeito de introduzir o assunto.

— Eu nunca me desculpei por aquele dia... — ele falou sem a olhar.

— Que dia? — Ela franziu o cenho.

— No fim da guerra, depois que eu parti, quando foi atrás de mim.

Sakura arregalou os olhos e abaixou a cabeça enquanto Sasuke se aproximava com o bule quente para servi-la.

— Fui um canalha, me desculpe.

— A culpa não foi só sua, afinal, eu aceitei. — Ela encarou o chá quente. — Você foi direto, como sempre, não me pediu em casamento ou me fez promessas, você me pediu um filho, e eu... — Ela mordeu o lábio. — Eu quis que aquilo fosse um sinal de que estava me dando uma chance para aproximar de você. Meu deus, eu era tão boba. — Ela riu, nervosa e constrangida.

— Eu estava me sentindo vazio naquele dia, e você apareceu... — ele confessou ao se sentar e encarar o teto. — Foi então que me lembrei daquele dia com Kakashi e achei que o que me faltava era justamente a não realização dos meus sonhos, reconstruir o clã. Não me arrependo de Sarada — ele pontuou, firme. — Mas eu sinto muito por ter te pedido isso mesmo sabendo o que você sentia... foi covardia, foi... cruel.

Sakura segurou a mão de Sasuke no outro lado da mesa e sorriu, carinhosa.

— Foi, foi cruel, foi um erro, só que você tem que parar de ser egocêntrico, Sasuke, o erro foi nosso. Você foi um filho da puta ao me propor aquilo, mas eu era maior de idade e dona das minhas escolhas. Eu escolhi aceitar, eu quis ter Sarada. Nós dois fizemos escolhas estúpidas, e eu te perdoo pelas suas, não porque te amo ou porque é pai da minha filha, mas porque eu entendo o que guiou os seus atos e sei que mudou.

Sasuke apertou a mão dela e sorriu, como raramente fazia. Encarou os olhos verdes que o miravam de forma tão madura e lamentou sincero:

— Eu queria ter tido a chance de te amar. Você merece ser amada, de verdade.

— Todos merecemos amar e ser amados, Sasuke, até você. O que pretende fala a Naruto?

— Ainda não sei. Queria fazer algo por ele, ajudá-lo de alguma forma...

— Você pode raptá-lo daqui, tipo umas férias, ele merece afinal de contas — ela brincou.

Sasuke revirou os olhos e bebericou o chá. Com sorte, Naruto ainda dormiria um dia inteiro, e isso lhe dava tempo para pensar um pouco mais, embora a resposta estivesse ali, na expressão contente de Sakura, nos olhos verdes brilhando, no sorriso radiante enquanto começava a falar, atropelando as palavras, a ideia para consertar tudo aquilo.

* * *

Não foi bem um pouco fácil convencer as pessoas necessárias, muitas delas acharam que Sasuke estava louco e que aquilo era um absurdo sem tamanho. Contudo, Kakashi, após uma longa conversa de mais de três horas a sós com Sasuke e Sakura, não conseguiu negar ao pedido dos pupilos.

Alguns diriam que aquilo era uma conspiração, o que não era muito mentira, mas Kakashi sabia que os interesses dos antigos alunos não eram se não para o bem de Naruto. Óbvio que não puderam contar a mais ninguém, somente ele é uns poucos selecionados haviam sido informados do plano. E, ainda assim, Sasuke não parecia confiante de que aquilo faria certo

Quando anoiteceu, ele voltou para casa com Sarada. A filha tinha se acertado com Boruto e avisava que teria uma missão no dia seguinte com duração de uma semana numa vila vizinha. Era estranho… como havia crescido órfão, não dava satisfações sobre suas missões, então ainda lhe era estranho ter que lidar com o sentimento de preocupação toda vez que Sarada saía em missão, ele ainda se lembrava de como quase tinha morrido na luta contra Haku e pensar que Sarada também podia correr esse risco causava uma sensação horrível no peito.

— Eu tenho um presente para você — ele falou ao abrir a porta de casa e dar passagem à filha.

— Presente? — Ela sorriu.

— Espere aqui, aquele Usuratonkachi está dormindo lá em cima.

— Já conversaram?

— Ainda não.

— Mas o senhor já se decidiu — ela afirmou, convicta.

Sasuke não respondeu, subiu as escadas e entrou em seu quarto. Naruto ainda dormia debaixo das grossas cobertas, sem qualquer sinal de que despertaria logo. Abriu o armário e retirou o embrulho grande que estava escondido. Desceu as escadas após acenar com a cabeça para o anbu que continuava a vigiar Naruto e sorriu para a ansiedade e a animação nos olhos da filha quando chegou à sala.

— Eu mandei fazer antes da última missão.

Sarada cruzou as pernas sobre o sofá e rasgou o embrulho com curiosidade, ainda que o formato dele denunciasse o que havia ali. Era uma katana. A base do punho tinha o emblema Uchiha gravado, e o punho em si era na cor vermelha sem muitos detalhes. A lâmina era o que chamava atenção. Ela possuía duas camadas, sendo a mais externa decorada com flores de cerejeira por todo o comprimento e a mais interna, a do corte, com algumas pétalas soltas. A bainha era um pouco mais simples, leve e fina, na cor preta com detalhes em vermelho. Era a arma mais bonita que Sarada já havia visto de fato.

— Eu amei… — Ela sorriu, abertamente, colocando o presente no sofá para abraçar Sasuke.

— Posso começar a te ensinar a usá-la depois que voltar da sua missão. — Ele acariciou as mechas do cabelo dela. — Sakura me disse que ficará umas três semanas fora em missão, então ficarei sem sair da vila nesse tempo.

— Seria incrível, otou-san!

— Precisa de ajuda para arrumar as coisas para a missão? — indagou quando ela se afastou.

— Não precisa, eu tenho sempre uma bolsa em casa pronta já para missões. Falta só adicionar os itens pessoais e pronto. — Ela se espreguiçou. — O senhor faz o jantar hoje ou eu?

— Eu faço, pode ir na frente tomando seu banho.

Sarada concordou e se levantou em um pulo, pegou a katana e subiu as escadas rapidamente para seu quarto. Sasuke franziu o cenho de repente e caminhou até a porta de casa, abriu-a e olhou atentamente ao redor. Sentira um chackra familiar, familiar demais próximo enquanto conversava com Sarada. Massageou a nuca e voltou para dentro de casa, indo direto para o quarto da filha.

Sarada já estava no banho, com a porta do banheiro trancada, e Sasuke cruzou os braços ao se colocar apoiado na parede, ao lado da janela aberta. No exato momento em que o vulto passou pela abertura, balançando as cortinas claras, Sasuke o agarrou e não mediu propositalmente a força ao arremessar Boruto contra o outro lado do quarto.

— Otou-san? — Ouviu Sarada gritar ainda de dentro do banheiro.

— Termine o banho, eu vou ter uma conversa com o seu namorado — Sasuke respondeu, irritado.

Boruto praguejava baixo enquanto apertava o braço dolorido. Sasuke segurou-o pela gola da blusa e o arrastou para fora do quarto, fazendo questão de bater a porta com força.

— Pra baixo. — Empurrou-o na direção da escada.

Boruto engoliu em seco e obedeceu, olhando, curioso, para a casa onde nunca havia entrado.

— Sente-se — Sasuke ordenou quando chegaram à cozinha e, indiferente, começou a retirar da geladeira o que precisaria para o jantar. — Minha casa tem uma porta caso você não tenha sido apresentado a ela. O que veio fazer aqui?

— Sarada me disse que meu pai está aqui — Boruto resmungou. — Queria que ela me deixasse vê-lo.

— Ele está dormindo. E você ainda podia ter entrado pela porta da frente — Sasuke rebateu enquanto cortava os legumes rapidamente.

— Então é verdade? Ele está aqui? — perguntou, eufórico.

— Segunda porta à direita. Não o acorde.

— Não, eu... como conseguiu que ele descansasse? Okaa-san e tia Sakura já tinham pedido que ele fizesse isso, mas ele as ignorou.

— Não dei muita opção a ele, acredite. — Sasuke sorriu, irônico. — Vai ficar para jantar ou não?

— Não, vou para casa... Okaa-san e tia Hanabi estão comemorando alguma coisa e inventaram mais um jantar de família. Além disso, como temos missão amanhã, ela disse que não posso não comparecer. — Fez pouco caso.

Sasuke não respondeu e percebeu Boruto olhar para as escadas.

— Precisava falar com ele antes da missão? — preocupou-se.

— Não exatamente... é que ele me disse que me daria uma resposta hoje, e eu queria saber antes de partir. Mas, se ele está aqui então isso quer dizer que vocês dois estão... juntos?

Sasuke largou a faca e se virou para encarar Boruto. Ele estava com os braços cruzados sobre a mesa, o cabelo era parecido com o de Naruto na adolescência e até o azul dos olhos eram iguais. Ele parecia preocupado, a feição confusa como se não soubesse o que pensar sobre o que tinha acabado de dizer.

— Eu não pude conversar com ele ainda.

— Mas já tem uma resposta?

— Por que precisa saber disso agora? Naruto te dirá quando conversarmos. Não é melhor saber o que quer que seja por ele? — Sasuke revirou os olhos, incomodado com aquela conversa. Afinal, quem era ele para falar qualquer coisa para Boruto? Naruto que precisa ter essa conversa! Ele saberia como lidar com o próprio filho.

— Não quero sair da vila e voltar sabendo que minha família mudou de novo. — Boruto o encarou seriamente ao dizer isso. — Prefiro saber agora, antes de ir, porque terei uma semana inteira sozinho para digerir tudo e aceitar o que tiver que aceitar. Não quero ser o último a saber sobre algo que envolve minha família de novo. Quando ele se separou de okaa-san, todos aceitaram tão fácil, como se soubessem de algo que eu não sabia, como se fosse óbvio o tempo todo e só eu estivesse me enganando por todo esse tempo. Então, dessa vez, eu quero saber antes, preciso saber antes.

Sasuke suspirou e deu as costas ao garoto enquanto voltava a preparar o peixe para a refeição. Boruto não era maduro como Sarada, estava longe de ser, e, pelo pouco que o conhecia devido aos treinos, sabia que ele nutria uma admiração muito grande por Naruto, apesar do ressentimento pela ausência do pai. Assim, não sabia o que ele queria ouvir ou o que poderia dizer naquele momento.

Maldito fosse aquele Dobe!  

— Vá para casa, Boruto — decidiu-se.

— Como?

— Vocês partem pela manhã, certo? — Sasuke o olhou por cima do ombro. — Naruto com certeza vai se despedir de você antes de deixá-lo ir, então, você poderá perguntar a ele.

— É tão difícil assim me dizer logo? — Boruto se levantou irritado. — É sim ou não! Só isso! — Sasuke o ignorou. — Me responde!

— Eu vou precisar quebrar o seu outro braço? — Eles ouviram a voz de Sarada soar nervosa. — Você não está na sua casa, Boruto, então pare de gritar! Vai acordar seu pai, seu idiota.

Boruto estreitou o olhar e esperou que Sasuke se manifestasse, em vão. Bufou, balançando a cabeça, inconformado, antes de se aproximar de Sarada, beijá-la de leve no lábios e sair da casa pisando duro.

— O que foi isso? — Sarada arqueou a sobrancelha e se dirigiu aos armários para arrumar a mesa para o jantar.

— Nada.

— Mesmo?

— Mesmo.

— Otou-san.

— Sim?

— Acho que Nanadaime não irá acordar até amanhã de manhã...

— Sua mãe me pediu que o acordasse para comer algo decente daqui a pouco. Ele dará um jeito de falar com Boruto se for importante.

— Certo. Agora, como sabia que ele estava aqui?

— Chackra.

— Não tinha sentido nada.

— Com treino, você melhora nisso, mas não quero ele entrando pela janela ou então teremos uma briga com os Hyugas por eu ter feito mais do que somente arremessa-lo contra uma parede.

Sarada riu, baixo, da cara de desagrado do pai e concordou. Se ele soubesse do soco que sua mãe tinha dado em Boruto no dia que o tinha pego fazendo a mesma coisa...

* * *

Era quase meia noite quando Sasuke decidiu acordar Naruto para comer alguma coisa. Segundo Sakura, como ele não estava se alimentando direito há dias, não seria ideal deixá-lo dormir sem uma refeição decente para repor os nutrientes. Sarada já havia ido dormir há umas duas horas, depois de tê-lo ajudado a preparar alguns lanches para a missão dela e o prato de Naruto. Organizou a refeição em uma bandeja, não querendo que a provável discussão com Naruto fosse na cozinha para não acordar sua filha.

Entrou no quarto e depositou a bandeja no criado mudo próximo à cama. Fechou as cortinas e deixou a janela um pouco aberta para que a brisa refrescasse o quarto de vez em quando. Sentou-se ao lado de Naruto, na borda da cama e se perguntou se apenas tentar acordá-lo normalmente funcionaria; talvez, tivesse que pedir a Kurama novamente. Perdeu um pouco a noção de quanto tempo ficou observando a respiração calma de Naruto e deixou-se passar a mão pelos cabelos dele, rosto, lábios, os riscos de cada lado da face.

Afastou o cobertor dele e assistiu à pele se arrepiar. Levantou a blusa laranja até a altura um pouco abaixo do peito e pressionou os dedos contra o selo no abdômen de Naruto.

— Sua mão está gelada, Teme — Naruto riu, sonolento, e Sasuke o encarou surpreso enquanto afastava a mão. — Kurama me acordou há alguns minutos. Ao que parece, preciso comer.

— Te trouxe o jantar.

Naruto olhou para o lado, e seu estômago roncou alto ao ver a bandeja à sua disposição. Sentou-se na cama, um pouco zonzo. Enquanto Sasuke estava ali, tinha fingido ainda dormir e só naquele tempo Kurama tinha lhe dado um sermão tão grande que ele nem se lembrava da metade! Tinha sido advertido sobre o trabalho, sobre sua família, sobre sua alimentação, sobre Sasuke, sobre sua vida e o que desejava fazer com ela! Como se ele não soubesse que tudo estava do avesso...

Sasuke estendeu os braços para pegar a bandeja e lhe entregou assim que encostou as costas à cabeceira.

— Podia ter feito lamen — provocou por saber que Sasuke sabia cozinhar tudo e, por isso, recusava-se a fazer uma refeição tão simples quanto lamen.

— Não enche e come logo.

Naruto não questionou. A comida estava com um cheiro ótimo, arrumada em vasilhames coloridos e bem distribuídos na bandeja. Agradeceu pela refeição e não se fez de educado. Em poucos minutos, tinha comido tudo e atrevia-se a dizer que ainda tinha fome. Sasuke pareceu ler seus pensamentos ao falar:

— Sakura disse que não deveria comer tanto antes de dormir. Então terá que esperar amanhã de manhã para comer mais, Usuratonkachi. Isso é para você aprender que precisa se alimentar direito. — Retirou a bandeja do colo dele e a colocou novamente no criado mudo. — Seu filho esteve aqui hoje.

— Sarada quebrou o outro braço dele? — ele perguntou em um misto de preocupação e lamento.

— Não, Naruto, ela não quebrou o braço dele. — Sasuke revirou os olhos. — Mas você precisa falar com ele antes de ele sair em missão amanhã.

— Ah... — Naruto deixou escapar. — Eu prometi que hoje teria uma resposta para ele.

— É, ele comentou. Avisei que você conversaria com ele amanhã, antes de ele ir para a missão.

— Obrigado.

— Hum..

— Ele te disse alguma coisa, Sasuke? — Naruto indagou olhando as próprias mãos sobre o solo.

— Não, não se preocupe com isso.

— Boruto é... explosivo às vezes. Eu sou um péssimo pai. — Riu sem humor. — Lutamos tanto para consertar o mundo, para que pessoas não sofressem como nós sofremos, e errei justo com quem não devia, com quem deveria ser minha prioridade.

— Ele é seu filho e ainda te ama e se preocupa com você, ainda dá tempo de consertar as coisas, Naruto.

— Como? Acha que eu não tentei? Quando vi como você fez as pazes com Sarada, tive esperança, eu tentei mudar. Mas não dava, não era só o casamento com Hinata que estava horrível, era o tempo, as reuniões com os Kages, o desenvolvimento de novas armas, o estudo do uso de tecnologia com chackra, as alianças, tudo! Eu me sinto exausto, e hoje deve ter sido o sono mais longo que tive em meses!

— E por quê? — Sasuke perguntou.

— Como assim por que, Sasuke?

— Vencemos uma guerra, salvamos um mundo, e você me diz que não consegue tempo para criar seus próprios filhos? — Sasuke debochou. — Não fode, Dobe, nem eu sou tão covarde.

— O quê? — Naruto falou alto e franziu o cenho.

— Colocar a culpa no tempo ou na vila não vai aliviar os seus erros. Você se casou com alguém que não amava e tentou preencher um casamento vazio com filhos. Quando viu que não deu certo, teve medo de fracassar com seus filhos, de assumir mais aquela responsabilidade e está usando o trabalho como fuga.

— Cala a boca, Teme! O que você sabe? Você não estava aqui para saber de nada disso! Você... você falou com Sakura — Naruto deduziu, pasmo. — Ela...

— Ela está morrendo de medo de que você mergulhe em uma depressão tão profunda que nem eu consiga te tirar desse poço! — vociferou. — Ela está tão preocupada que simplesmente abriu o jogo, embora fosse contra a ética dela.

Naruto passou a mão pelo rosto, exasperado, sem acreditar que Sakura havia mesmo contado tudo aquilo que ele havia confessado quando seu mundo desabou e sua solidão ficou insuportável.

— Naruto...

— Estou cansado, Sasuke... de tudo. — Naruto mordeu o lábio com raiva. — Invejo Boruto por poder simplesmente sair da vila por um tempo em missão, ficando longe de tudo isso aqui.

— Renuncie — Sasuke falou ao segurar a mão dele.

— O quê? — Naruto ergueu a cabeça de prontidão, piscando confuso. — Renunciar? A que?

— Renuncie o cargo.

Naruto demorou um tempo para entender e, quando o fez, riu sem acreditar no que ouvira.

— Eu lutei para estar onde estou, Sasuke. Como quer que eu renuncie?

— Então esse era o seu sonho? Ficar atrás de uma mesa vinte e quatro horas por dia, analisando relatórios e discutindo com aqueles velhos do conselho? — Sasuke provocou, ácido. — Aquilo não é para você, sabe disso. Além disso, você já fez muito por Konoha, já salvou esta vila e a aprimorou de um jeito que eu nunca acreditaria ser possível. Por que continuar quando ser Hokage está te fazendo tão mal?

— Se eu renunciar, quem vai assumir? Não é assim tão fácil, Sasuke. — Ele abraçou os joelhos.

— Kakashi irá assumir. Eu já falei com ele. Todos sabem que ele é o mais indicado depois de você. Hokage é um cargo burocrático, não sente falta das missões? De poder treinar? De poder sair da vila e conhecer outros lugares junto de um time?

Naruto cobriu os olhos com a mão para que Sasuke não o encarasse. Não queria discutir seu trabalho! Queria falar sobre eles! Por que Sasuke não entendia que tudo mudaria se ele ficasse ali, ao seu lado? Por que ele não entendia que até mesmo ser Hokage ficaria mais fácil se soubesse que Sasuke estava consigo? Mas, ainda assim, não podia negar que os argumentos do amigo eram verdadeiros. Ser Hogake era seu sonho, mas, aos poucos, lentamente, virara um pesadelo, linhas de aço que o prendiam à uma realidade maçante e pesarosa.

— Eu não posso... não é assim tão fácil, Sasuke..

— É sim — Sasuke rebateu, e suas mãos foram mais rápidas ao segurar a cabeça de Naruto para forçá-lo a o encarar. — Eu já falei com Sakura, com Shikamaru e Kakashi. É só você renunciar. Vai ser um ninja como qualquer outro, fará missões como qualquer outro e fim da história, droga! Você vai ter mais tempo para seus filhos, vai poder se alimentar direito e não vai desmaiar de estresse!

— E você? — Naruto perguntou, mergulhando nas ônix que pareciam tão aflitas ao enumerar tudo aquilo. — Eu quero saber como ficamos, Sas, eu preciso de uma resposta sua.

— Minha decisão não vai mudar se você renunciar ou não, Naruto — Sasuke respondeu indignado.

— Então por que estamos falando disso?!

— Porque eu quero te ver feliz, porra! — Sasuke bradou. — É difícil entender isso?!

— É! É sim! — Naruto tirou as mãos de Sasuke do seu rosto com violência e puxou a gola da camisa que ele vestia. — É sim porque eu te disse ontem que precisava de você para isso e, mesmo assim, você me rejeitou! É difícil acreditar em você quando tudo o que te peço é para que fique comigo, e você simplesmente não me responde, mas me dá esperanças! Mas que merda, Sasuke! — Naruto o empurrou para longe. — Por que você não entende que só preciso de você para ser feliz...?

— Porque isso não é verdade. — Sasuke engoliu em seco ao sentir os olhos marejarem. — Sua vida é muito mais do que eu, Naruto. Você precisa se acertar com o seu filho ou isso nunca o deixará em paz; precisa começar a pensar mais em você e largar essa bosta de cargo ou cada dia vai ser mais enfadonho do que o anterior. — Ajoelhou-se na cama e foi até onde Naruto estava, descruzando os braços dele e esticando-lhe as pernas para que pudesse sentar no colo dele. — Eu não posso ser seu pilar, Naruto — sussurrou. — Sou instável e não quero essa responsabilidade. Então, se é para ficar com você, quero você bem, quero você como antes...

— Sasuke...

— Me pediu para ser altruísta, não é? — Sasuke colou a testa a dele. — Estou sendo, estou aqui por você, me preocupando mais com você do que com a forma fodida que vou ficar quando você perceber que cometeu um erro ao me escolher e me deixar...

Naruto prendeu a respiração e só a soltou quando o choro rompeu, livre, carregando todo o peso que ele tinha sobre os ombros e entupindo as artérias do coração. As mãos seguraram com força as costas de Sasuke em um abraço desesperado e os lábios buscaram os dele a fim da confirmação do que ouvira.

Molhado e salgado. O beijo, apenas o encostar dos lábios, foi molhado e temperado pelas lágrimas, mas Sasuke perdeu o foco disso quando Naruto se afastou e sorriu...

Naruto sorriu, abertamente, aliviado, de um jeito similar ao que fazia antes, e Sasuke o puxou para um abraço tão logo percebeu aquilo. Escondeu o rosto na curva do pescoço dele e orou para que não tivesse tomado a decisão errada.

— Se você é um erro, eu confesso que nunca fiquei tão feliz em errar e poder continuar errando. — Naruto riu e fechou os olhos ao beijar o topo da cabeça de Sasuke. — Porque eu te amo, e isso para mim é o que vale. Eu te amo e quero te amar a cada segundo, quero poder te beijar, te tocar, te ter comigo para tudo e para sempre. Caralho, Sasuke, você é o erro que faz o meu coração bater!

Sasuke se afastou para observá-lo. Seu coração batia rápido, de um jeito que ele talvez quase houvesse se esquecido de como era. Naruto lhe acariciou o rosto e retirou da frente do seu olho a franja que cobria o rinnegan. O toque dele era calmo, doce, como o olhar que o percorria. Aquela conversa não havia terminado, sabia disso, mas não conseguiu continuar com ela naquele momento quando Naruto lhe beijou a face com cuidado.

Suspirou, virando levemente o rosto para que pudesse ter o que o coração exigia, os lábios de Naruto. O toque era leve... estranho como eles tomavam tanto cuidado um com o outro quando no passado era tudo tão afoito. Ainda assim, não intensificou nada, não parecia o momento, não parecia o certo. Não era sexo, era entrega, e por isso deixou que a boca se abrisse quando o momento chegasse. As línguas se encontraram, hesitantes, como se demorassem a se reconhecer. As mãos de Naruto apertavam suas costas com firmeza, dando-lhe apoio. Aproveitou para explorar-lhe a nuca, subindo para o cabelo que já lhe permitia enroscar os dedos nas mechas.

Sorriram em meio ao beijo, e Sasuke não permitiu que Naruto levasse o beijo ainda mais adiante. Beijou-o de leve e afastou a face.

— Você precisa descansar — sussurrou, rouco.

— Estou bem — Naruto rebateu, impaciente, e Sasuke riu anasalado.

— Ah, claro que está. — Levantou-se do colo dele e se sentou no colchão ao lado de Naruto. — Não discuta, não hoje. Amanhã temos que acordar cedo, e eu não quero ter que avisar Boruto que você não conseguiu acordar porque ficamos transando de madrugada.

Naruto riu, baixo, e encostou a cabeça no ombro de Sasuke.

— Vai ficar aqui comigo? — perguntou, inseguro.

— Esse é o meu quarto, Dobe, por que eu não ficaria aqui?

Naruto fechou os olhos e sorriu ao concordar com um aceno de cabeça. Sasuke se levantou para apagar a luz, e Naruto voltou a se colocar debaixo das cobertas enquanto assistia ao outro voltar para o seu lado.

— Sas...

— O quê?

— Falou sério sobre eu renunciar?

Sasuke deitou-se e puxou, sem muito esforço, Naruto para o seu peito.

— Sim.

— Era o meu sonho, Teme...

— Sim, era, mas a questão é se ainda é, Dobe.

Naruto pareceu refletir e esfregou o rosto contra a roupa de Sasuke, deixando o cheiro dele entrar pelas narinas e acalmar seu corpo, coração e mente.

Sasuke olhou para ele depois de um tempo, estranhando a falta de resposta, e revirou os olhos quando o notou dormindo novamente. Fechou os olhos também, respirando fundo enquanto tentava se recusar a admitir como era bom e aconchegante ter Naruto em seus braços. Talvez, só talvez, aquele fosse de fato o lugar dele. É... quem sabe...


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Notas finais do capítulo

E esse não é o cap final!
Eu sei que disse que seria twoshot, MAS... bem, sabem como é, né? Teremos um terceiro e último cap.

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