Novamente, Georgia não dormiu em casa, estou achando que ela se mudou para a casa de Charlie sem me avisar. Faz quase quatro dias que não falo com essa mulher. Sempre que ligo ela está com alguma nova amiga dela, aquelas amigas com risadas de hiena que me deixam com ódio mortal.

Acordei pela manhã pronta para mais um dia de trabalho árduo, coloquei uma saia longa azul e uma regata branca, arrumei meus cabelos quase ruivos deixando eles caírem até na minha cintura. To uma bela de uma hippie. Adorei.

Coloquei umas pulseirinhas coloridas para melhorar meu look e tirei do fundo do baú (realmente tirei do fundo de um velho baú que tenho no quarto) um óculos redondos com lente rosa. Nossa, agora eu realmente estava com meu visual de hippie.

Sai quarto e dei de cara com Georgia sentada no banquinho da cozinha com um xícara na mão.

—Bom dia, Georgia  -fui até ela - que saudades que estou de você - abracei ela e beijei sua bochecha.

—Bom dia - falou enquanto assoprava o líquido dentro da xícara. Georgia parecia longe, sua cabeça parecia estar em outro lugar.

—Está tudo bem, Geo? - ela confirmou - tenho tantas coisas para te contar, sobre Luke, sobre o coquetel que fomos, preciso te dizer tanto o que fizemos no apartamento dele, acredita que estamos nam....

—Poppy, não estou com paciência para ouvir suas histórias - ela colocou a xícara no balcão e saiu pisando firme em direção ao seu quarto. Engoli a vontade de chorar. Não podia chorar, sempre soube que Georgia era assim mais seca, eu era a amiga toda carinhosa e melosa. Mas ela nunca havia me tratado com grosseria.

Sabia que nossa amizade já era a mesma desde quando ela decidiu arrumar um apartamento com Charlie. Mas nada me afetará, estou muito feliz para ficar chorando pela cozinha. Decido mandar uma mensagem para Luke.

“Bom dia, Luke! Estou com saudades, tenha um bom dia”

Suspirei sem ânimo para mandar uma mensagem melhor. Respirei fundo e sorri para meu reflexo no espelho do microondas, coloquei meus óculos e sai de casa.

O dia passou devagar, não estava me sentindo muito bem. Acho que era o fato de estar sendo abandonada por minha melhor amiga. ou Ex- melhor amiga, ainda não consigo dizer. Falei que não me afetaria hoje, mas o tom grosseira que Georgia falou comigo hoje não saia da minha cabeça. Muitos clientes perceberam meu silêncio, mas ninguém falou nada, apenas David perguntou se estava bem, quando ele me deu uma bronca e nem retruquei.

Luke respondeu minha mensagem apenas no meio da tarde.

“Boa tarde, Poppy, você está bem?”

Até Luke que não me viu pessoalmente sabe que não estou nos meus melhores dias. Somos almas gêmea, com toda certeza.

“Sim, apenas me sentindo um pouco sozinha”

Atendi mais algumas mesas quando vi David saindo da cozinha com um pacote na mão e parou na minha frente.

—Entrega para Luke Brandon, ali no Edifício da frente - Luke? Luke nunca encomendou nada. Olhei surpresa para David, ele não me deixava mais fazer entregas, pois eu saia e não voltava mais. - você está me deixando triste, nunca te vi assim, Poppy, vai dar uma volta, se quiser pode ir para casa depois - sorri e peguei o pacote.

—Obrigado David.

—Realmente você não está bem, não fez nenhuma piada - ri baixinho e sai da cafeteria indo em direção ao grande prédio da empresa de Luke. Cumprimentei ao recepcionistas e segui para o elevador, onde encontrei Johnny o soldadinho de chumbo do paraguai.

—Oi Johnny - falei entrando no pequeno cubículo e me encostando na parede do fundo - último andar - ele olhou para mim e apertou o botão do andar de Luke.

—Mike - ele falou depois de um tempo, olhei curiosa para ele - meu nome é Mike, não Johnny - sorri.

—Prazer em conhecê-lo então, Mike - suspirei baixinho.

—A senhorita está bem? você sempre está sorridente e alegre - bufei, até o carinha do elevador sabe que não estou nos meus melhores dias, eles vivem me lembrando disso.

—Não, não estou bem - falei assim que a porta do último andar abriu. - obrigada,Mike -Mike sorriu gentilmente. Nunca tinha subido no andar de Luke, era tudo tão grande, claro e profissional. Tinha algumas mesas espalhadas onde pessoas falavam no telefone e outras digitavam freneticamente.

Fui até o final do corredor e parei em frente a uma secretária jovem com um coque bagunçado. Ela parecia atrapalhada.

—Oi, bom dia - falou sorrindo para mim, sorri de volta.

—Entrega para Luke Brandon - falei balançando o pacote, a secretária deu um sorriso estranho.

—Claro, pode entrar - antes de entrar na sala vi a piscada que ela me mandou. Ai, será que ela estava dando em cima de mim? uau, sou gatona demais pelo jeito. Deve ser minha vibe hippie, isso atrai olhares.

Luke estava sentado atrás de uma grande mesa abarrotada de papéis, ele levantou os olhos e sorriu ao me ver.

—Poppy - ele se levantou e veio até mim, beijou meus lábios e me abraçou. Circulei seu corpo com meu braços e fiquei um tempão abraçada a ele. Não tinha percebido, mas eu realmente precisava desse abraço. Engoli a vontade de chorar e me afastei de Luke.

—Trouxe sua torta de morango - estendi o pacote em sua direção, ele pegou e colocou em cima de uma pilha enorme de papéis, seus olhos voltaram em minha direção e mostravam preocupação.

—O que você tem, Poppy? - perguntei passando  a mão em meus cabelos. Suspirei. Luke era meu namorado, poderia desabafar com ele, certo?

—Acho que minha amizade com Georgia acabou - falei sentindo meus olhos inundarem com lágrimas, sentei no sofá do canto e chorei. Luke se sentou ao meu lado e acariciou meus braços. - Já venho notando que ela não é mais a mesma comigo, sempre tão seca e afastada. Hoje ela foi para a casa depois de quatro dias, fiquei toda feliz, queria contar sobre nós, mas ela disse que não queria ouvir nenhuma história minha. Não consegue manter nenhuma amizade, sou um desastre ambulante - sequei as lágrimas de meu rosto - devo ser uma péssima pessoa.

—Poppy, jamais fale isso novamente - Luke levantou meu queixo e olhou em meu olhos - você é a pessoa mas legal que conheço, a mais adorável, carinhosa, divertida, a pessoa com o maior coração que já vi. E olha que nós conhecemos a pouco tempo - ele passou a mão pelo meu rosto, limpando as lágrimas - você é uma mulher incrível e se Georgia não consegue ver isso, é porque ela não te merece.

—Você me merece? - ele riu.

—Não, você é boa demais para mim - encostou seus lábios gentilmente nos meus - mas não quer dizer que vou te abandonar - sorri tristonha e deitei minha cabeça em seu peito. - Melhor?

—Um pouquinho, talvez se você me beijasse mas eu fiquei boa - falei ainda deitada em seu peito, senti seu peito subindo e descendo ao dar uma risada.

—Faço esse sacrifício - e ele me beijou de novo e de novo e de novo