A Garota da Janela escrita por Taynara Finaly


Capítulo 3
Paper Talk


Notas iniciais do capítulo

Gente, morram de amor pelo Gerad enquanto podem



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— Ainda aos doze anos (Começo de Fevereiro)

   Depois do meu almoço eu não dancei, deitei na minha cama e lembrei de cada pedaço do seu rosto, se eu não posso tê-lo aqui tenho sua imagem em minha mente, ou não só na minha mente... Dirigi-me ao meu guarda-roupa imensamente grande que você nem precisaria atravessá-lo para chegar em Nárnia, já caberia a cidade fictícia dentro e ainda sobraria espaço se duvidar. Abri a quinta porta, peguei minha tela branca que uso nas aulas de desenho, mas depois minha costureira e empregada particular que é um amorzinho lava para mim. Mas o desenho que eu faria, não queria que ela lavasse nunca, só quando o desenho passasse de abstrato para concreto, o que supostamente não ia acontecer. Meu tio só permite-me chegar perto de algum garoto aos vinte anos, quando eu tiver minha casa, ele disse que não simpatiza com criança e muito menos com adolescentes... Jura tio? Eu nem percebi isso quando você me jogou na jaula do meu quarto. Meus filhos, se eu tiver filhos, nunca conhecerão meu tio, vou tentar não morrer cedo porque só deus e eu sabe como eu sofri vendo o mundo passar lá fora sentada, vendo minha infância passar e eu não aproveitar nada, e, pelo visto, também vou assistir minha adolescência passar e só vou começar a viver quando estiver adulta, cheia de problema porque a melhor fase da vida eu não teria curtido. Que lindo esse futuro que me espera... Ai Clarissa, por que você tinha que ir justamente quando eu mais preciso... Aí de repente veio uma frase dela em minha cabeça, uma frase: se o destino não fez nada para que sua vida mude, faça algo à sua vida para seu destino mudar, sempre seu futuro estará em suas mãos, você é quem deve escrever a sua história. Eu não sei o porquê que essa frase veio agora na minha mente? Ela sempre vinha me dizendo isso como se fosse o segredo da felicidade, mas acontece que eu nunca entendi essa droga de frase, como vou mudar minha se eu funciono como um robôzinho e meu tio rabugento que tem o controle remoto. Não sei porque os adultos fazem as coisas e dizem que é para o nosso próprio bem, acontece que parece que eles nunca tiveram nossa idade, parece que não sabem que é vivendo que se aprende a viver, que é caindo algumas vezes que alcançamos o equilíbrio, que é tentando que conseguimos algo. Mas eles não entendem e ficam só nos protegendo  de tudo e todos e quando eles partem, eles nos partem e o que a gente sabe da vida? Nada, porque passamos nossa vida dentro de uma bolha. E foi exatamente o que aconteceu comigo.

  Afastei esses pensamentos que me enlouquecem e foquei na tela, pintaria o retrato do meu futuro marido, eu sei que to viajando, mas não custa nada sonhar, na verdade, sonhar custa a decepção que virá logo depois que seu sonho não se realizar. Na vida tudo tem  um preço, mas talvez nem tudo que tenha preço venha com uma etiqueta... Talvez você só saiba quando receber a nota fiscal de seus atos. Depois de pintar em minha tela a imagem do garoto, iria assinar... Mas algo me interrompeu, uma batida na janela, me virei e deparei com o garoto, congelei. Eu não sei do que sentia mais vergonha: do meu macacão e minha cara cheia de tinta ou do meu quadro. Cobri meu rosto com minhas mãos, mas do que adianta mesmo? Tirei-as do meu rosto e ele estava sorrindo para mim, acho que meu coração virou manteiga e o sorriso era fogo, coração derretido. Então eu apenas sorri. Ele se virou e tirou da mochila um caderno e uma caneta e começou a escrever algo. Ele levantou o caderno para eu ler:

Oi, sou Gerad Mason, e você vai se chamar de A Garota da Janela

 Eu peguei meu caderno e nós começamos uma conversa de papel 

Gostei de A Garota da Janela, muito prazer em conhecê-lo Gerad. 

Ui, que fina, okay princesa, também foi um prazer conhecê-la 

Eu sei esse negócio de educação é um saco, para mim também é, mas meu tio me obriga a fazer aulas de etiqueta. E desculpe-me pelo palavreado forte.

Forte? Quem são seus amigos?

Sim, forte. Meus amigos estão mortos.

Sinto muito. Bom, eu posso ser seu amigo, você é legal, apesar de muito tímida. Por que você não sai?

Adorei a ideia de ser sua amiga. Não posso sair porque meu tio não deixa, já tentei fugir, mas ele tem um sistema de segurança para ninguém botar defeito

    Fim da conversa de papel. Ele coloca a caneta em seu estojo preto transparente e guarda seu caderno também preto com seu nome colado nele na mochila azul e acena um tchau e me lança uma piscadela, eu aceno de volta e me viro fechando as cortinas. Oh meu Deus! Ele. Piscou. Para. Mim. To pirando aqui... Será que ele tem noção do estrago que faz? Suponho que não... Fecho as cortinas, tiro meu macacão e me dirijo ao banheiro, olho-me no espelho sob a pia, oh céus, tem tinta até no meu cabelo e minha cara está bastante engraçada, tipo parada gay... Melhor tomar banho. Eu não acredito que conversei com alguém, tinha quase me esquecido de como era bom... Eu queria conversar direto agora, conversar era algo perfeito principalmente com o Mason. O nome dele era Gerad, mas eu ainda não era íntima o suficiente dele para chamá-lo assim. "A Garota da Janela"... Amei, esse apelido era o melhor que já tinham me dado, Mely era legal, mas a A Garota da Janela é muito melhor, parece nome de livro, de série, de filme... Ai, agora meus pensamentos só pertencem a Mason, eu queria muito que os dele também fossem meus, mas não há como saber, não posso infiltrar-me em sua mente e ver tudo que ele pensa. Até que isso seria interessante, mas impossível. 
  Desci para a sala de estar, agora eu vou estudar Biologia, com minha professora simpática e interativa, Anastasia, melhor professora, ela também era minha psicóloga de vez em quando, ela era muito legal, senti falta dela nas férias. Ela era loira, olhos claros, corpo perfeito e loucamente apaixonada pelo rabugento do meu tio, mas meu tio anda amargo com suas tentativas falhas de arranjar um par. Já falei muito de Anastasia para ele, mas não adianta, ele é cabeça dura. Talvez ele conseguisse alguém se parasse de prestar atenção no que há no sutiã, para prestar atenção no que há no coração.


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Notas finais do capítulo

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