Regina deixou um suspiro longo sair de seus lábios assim que adentrou a Fazenda Mills. Se sentia irritada porque estava com fome, cansada e com saudade da família. Não gostava dos dias que não conseguia passar ao menos meio período com Olívia, mesmo que a ausência fosse por uma boa razão. 

Havia passado o dia todo cuidando de dois projetos que tinha em andamento na cidade vizinha, e isso tomou todo o seu tempo. Depois, quando chegou em Crowley Cornes, teve que passar na Crowley Arquitetura para fazer um relatório de seus projetos para a arquiteta que ficaria em seu lugar em duas semanas, quando ela e a família finalmente pegassem o avião para a viagem à Grécia. 

A única coisa que fazia seu coração se acalmar é que estava a poucos minutos de chegar em casa e poder se afundar nos braços do marido e também deitar com a filha um pouquinho antes da mesma dormir. Olívia era espoleta, mas em dias de semana, mesmo que demorasse a dormir, fazia isso cedo. E Regina temia que ela já estivesse dormindo quando chegasse.

A mulher ouviu a barriga roncar e levou a mão ao ventre, se perguntando se o bebê ali dentro compartilhava os mesmos sentimentos. Passara o dia longe da irmã e do pai, e ambos sempre estavam em cima da barriga de Regina interagindo com o bebê. Naquele dia havia sido apenas ela, e a morena tomara o cuidado de se alimentar nas horas certas, e mesmo de longe, Robin estava sempre mandando mensagens perguntando como estavam as coisas. 

A morena estacionou ao lado do carro do marido, pegando a bolsa que estava no banco do carona e saindo do veículo, os cabelos compridos se movimentando com o vento da noite. O céu estava nublado e não havia estrelas, e a mulher agradeceu por ter chegado em casa em segurança, sem ter que dirigir debaixo de chuva. 

Assim que entrou, foi recebida em silêncio, apenas a TV na sala podia ser ouvida. Não demorou um minuto para Lola aparecer em sua visão, cansada e preguiçosa, buscando o carinho de sua dona e eterna companheira. 

"Olá, garota!" Regina afinou a voz, colocando os cabelos atrás da orelha e levando as mãos ao pelo macio do animal, dando diversos beijos no topo da cabeça de Lola. "Como você está linda, senti sua falta também." beijou-a mais uma vez, antes de ouvir alguns passos em sua direção. 

Quando levantou os olhos, encontrou a figura da filha descendo apressada do colo do pai e seguindo até ela. Olívia estava vestida com um pijama estampado com muitos cavalos e a cara era de tanto sono que Regina teve pena. Ela pegou a menina no colo assim que Olívia se atirou em seus braços, descansando a cabeça contra o pescoço da mãe e agarrando a cintura dela com as perninhas. Regina fechou os olhos e cheirou os cabelos da filha, embalando o corpo de lá para cá. 

"Alguém está com sono." disse contra os fios castanhos claros, abrindo os olhos e encarando Robin.  

"Você demorou tanto, mamãe! O vovô até já foi dormir." a voz abafada de Olivia foi ouvida e Regina riu baixinho, a apertando mais em seus braços. 

"Hazel quis um relatório sobre as obras, fiquei presa numa reunião e não consegui vir antes." explicou a mulher, sobre o olhar atento de Robin. O homem sorriu, aproximando-se dela e beijando delicadamente seus lábios e depois sua testa, percebendo o cansaço de Regina. 

"Estávamos esperando você. Fizemos a noite da pizza." Robin disse, acariciando as costas de Olívia enquanto a outra mão afastava os fios rebeldes de Regina de seu rosto. Deuses, como ela estava linda com aquele cabelo, ele esperava que ela não decidisse cortar tão cedo. 

"Noite da pizza sem a mamãe?" reclamou, chamando a atenção de Olivia. A menininha pareceu se sentir culpada. 

"A gente pensou que você ia chegar muito antes, mamãe. Não foi por querer." Levou um dos dedinhos ao rosto de Regina, fazendo um carinho gostoso. Robin percebeu que Regina se escorou ainda mais nele, como se Olívia tivesse lhe tirando uma grande carga de cansaço só com o toque gentil. 

"Guardaram um pouco pra mim? Estamos famintos." ela deu um beijo esquimó em Olívia, que sorriu faceira. 

"Guardamos dois para você e um para o mano." falou com tranquilidade. Robin sorriu ainda mais. Olívia tinha a certeza que o bebê era um menino, embora eles ainda não tivessem conseguido descobrir o sexo. A garotinha já fazia o papel de irmã mais velha, o que aquecia o coração dos pais. Regina beijou a testa da filha em agradecimento pelos pedaços de pizza. 

"Por que você não sobe e toma um banho, enquanto eu e Olívia esquentamos a pizza pra você?" Robin sugeriu, a mão acariciando suavemente as costas da esposa. Regina olhou para ele grata, e com muita resistência passou Olívia para os braços dele. O homem beijou delicadamente os lábios dela antes de vê-la beijar mais uma vez os cabelos de Olívia e seguir escada acima, enquanto ele seguia com a filha deitada com a cabeça entre seu ombro e pescoço em direção a cozinha. 

Ele não sabia quem era mais preguiça naquela casa. 

***

Robin e Olívia chegaram no quarto muito tempo antes de Regina ficar pronta. No bidê ao lado da cama havia um prato com três pedaços de pizza e um copo de suco de laranja. Olívia estava deitada sobre o peito do homem, olhando atentamente o filme Zootopia, os olhinhos azuis lutando contra o sono. 

Quando Regina saiu do banheiro, vestia um conjunto de pijama e na cabeça havia uma toalha enrolada. Olívia levou os olhos a mãe na mesma hora e levantou-se, sentando na cama e esperando Regina vir na direção deles. 

"É muito tarde para lavar o cabelo, mamãe" repreendeu, e embora tivesse achado engraçado, Robin concordava com a filha. 

"A mamãe vai secar com o secador, Via. Não se preocupa." Regina olhou para Robin, e o loiro sabia: quem secaria os cabelos dela seria ele. 

"Posso pentear eles, mamãe?" A menina perguntou, já tirando a toalha que envolviam os cabelos de Regina. Robin entregou a escova a filha e também o prato com as pizzas a Regina. Ambas olharam agradecidas para ele, tão idênticas que ele teve que suspirar. "Estão enormeres." A menina começou a escovar os cabelos da mãe, com muito cuidado e delicadeza. Regina suspirou, se pela pizza ou pelo cuidado de Olivia, Robin não sabia. 

"Se diz enormes, filha. Acha que a mamãe deve cortar?" Regina perguntou, depois de dar uma mordida em sua pizza. 

"Eu e o papai não queremos que você corte." Olívia se manifestou e Robin sorriu. Essa era sua filha! 

"Ah, é? E vocês dois vão sempre cuidar do meu cabelo como estão fazendo hoje?" perguntou, encarando Robin com o tom desafiador. O loiro deu de ombros, se fazendo de difícil, e Olívia foi clara: 

"Preguicinha, mamãe. Cada um cuida do seu cabelo. Agora eu tava com saudade, por isso penteei. O papai vai secar." disse a última parte com certeza e Regina riu baixinho. Ela depositou o prato sobre a cama depois de ter terminado a primeira fatia e puxou Olívia para seu colo, pegando-a como se fosse um bebê. 

"Então quer dizer que ninguém vai cuidar do meu cabelo todos os dias, mas eu também não posso cortar?" Bateu o dedo no nariz de Olívia, os olhinhos azuis fechando em reflexo. 

"Isso." Riu baixinho a menina, se aninhando no peito da mãe. Robin deixou que Regina tivesse uns minutos com a filha, que estava cada vez mais sonolenta naquele colinho de mãe. 

"Quer que eu a coloque na cama?" Robin perguntou depois de um tempo e Regina negou. 

"Deixa ela dormir com a gente hoje?" Perguntou, aqueles olhos pidões que eram uma característica dela desde que namoravam. Robin lembrava da primeira vez que pensou a respeito daqueles olhos: sabia que sempre que Regina lhe pedisse algo o olhando daquele jeito, ele faria sem nem protestar. 

Como resposta, o homem arrumou um travesseiro no meio dos que eram do casal, e Regina colocou Olívia sobre ele, tampando a menina em seguida. Beijou o topo da cabeça dela e se aninhou aos braços de Robin, que seguiu com ela em um abraço até o banheiro, fechando a porta para abafar o barulho do secador. 

Regina fechou os olhos quando sentiu Robin acariciando seu couro cabeludo enquanto passava o aparelho em seus cabelos, secando com uma paciência sem igual. Era possível aquilo? Regina, às vezes, não conseguia acreditar que tinha um homem tão perfeito para si. Ela fechou os olhos e aproveitou a massagem que ele fazia mesmo sem perceber, e algumas vezes o homem tinha que se afastar dela, porque sem querer Regina se escorava em seu peito. 

Uns bons minutos depois, o aparelho fora desligado e agora Robin fazia o mesmo trabalho que Olívia fizera naquele dia. 

"Estou tão cansada, turrão." Regina resmungou, encontrando os azuis no reflexo do espelho. Robin largou a escova e a puxou para se escorar em seu peito, beijando delicadamente o ombro e bochecha dela. "Senti saudades." 

"Vamos descansar, minha caipira." Beijou a têmpora dela, e Regina se virou para ele. "Também senti sua falta. Não gosto de ver você viajando, ainda mais agora." Tocou o ventre dela e Regina suspirou. 

"Estamos bem, só cansados. O bebê também sentiu sua falta." beijou a ponta do nariz dele e Robin sorriu, a onda de preocupação se dissipando da expressão dele. 

"Então vamos fazer vocês dois dormirem, huh?" beijou os lábios dela e Regina concordou, mas não se moveu de onde estava. Levou uma das mãos a barba por fazer do loiro, acariciando com delicadeza e se deliciou quando ele se aproximou, beijando o canto dos lábios dela e depois a bochecha, fazendo um caminho até o queixo e terminando nos lábios entreabertos. A mão dele se enroscou em uma mecha do cabelo comprido e Regina se afastou, observando os olhos azuis. "Não quero que os corte." sussurrou. 

"Vamos para Grécia em duas semanas, andei me informando e sei que lá faz bastante calor. Não acha que eu deva cortá-lo um pouco?" perguntou, tombando a cabeça. Viu quando ele fez uma careta, e percebeu que ele realmente ponderava a melhor resposta. 

"Não acho." respondeu por fim e Regina riu. Levou as mãos aos fios de cabelo dele, observando aqueles grisalhos que faziam ela se apaixonar ainda mais. 

"É fácil quando você tem cabelo curto." 

"Quer que eu deixe crescer?" brincou, fazendo-a revirar os olhos. 

"Seu bobo." bicou-lhe os lábios. 

"Posso lavar e secar seus cabelos todos os dias a noite, ou pela manhã, como preferir. Você não tem a noção do quanto eu a amo e o quanto me sinto bem cuidando de você." beijou a mão dela que havia ido parar novamente em sua barba. Regina sentiu os olhos se encherem de lágrimas. 

"Eu sou voto vencido entre vocês dois. Só espero que quando nosso bebê nascer, ele escolha ficar do meu lado." ela sussurrou, depois de ter beijado todo o rosto dele. Robin riu baixinho, se afastando dela e abrindo a porta do banheiro. Os dois seguiram até a cama, deitando-se um de cada lado de Olivia. 

Regina finalmente suspirou de contentamento enquanto sentia Olívia se aconchegar a ela e a mão de Robin acariciar sua cintura por cima da blusa. 

"Robin?" chamou baixinho, sentindo ele levantar-se para buscar os olhos castanhos. 

"Sim, meu amor?" levou a mão a bochecha dela, observando quando Olívia se apertou mais a mãe. Sorriram. 

"Eu tenho noção." buscou os olhos azuis. "Porque eu te amo muito mais." sentiu ele beijar sua mão, ouvindo-o sussurrar que aquilo era impossível. 

Sorriu. 

Finalmente estava em casa.