Amor, venha aqui e se sente, vamos conversar
Eu tenho muito para falar, então acho que vou começar
Falando que eu te amo
Mas você sabe, isso não está sendo
Nenhuma caminhada pelo parque para nós

—Meu amor, precisamos conversar.

—O que foi, Vinicius? Estou ocupada com a sujeira que essa criança que você me deu anda fazendo.

—Venha aqui e sente.

—Você ouviu o que acabei de dizer?

—Venha, por favor.

—Ah, tá bom. Se é tão importante, que é obrigatório eu largar meus cuidados com a casa para você falar, eu vou.

Ela se sentou no sofá, enquanto eu estava sentado na mesinha de centro. Estava de costas para TV, de modo que o reflexo provavelmente revelaria a tensão em minhas costas. Não ia ser fácil falar tudo o que eu devia... Mal sabia como começar.

—Eu tenho muito pra te falar.- Falei, num tom que beirava o inaudível. – Acho que... Vou começar dizendo que eu te amo.

—Eu também te amo.- Disse ela, me interrompendo, fazendo os músculos de minha face se enrijecerem.

—Mas você sabe que o nosso relacionamento não está sendo algo fácil.

O rosto dela tomou uma expressão devastada. Eu não queria ver aquilo, e, com certeza ela não queria que eu a visse daquele jeito. Ela respirou fundo, mexeu os pés e forçou-os para baixo, levantando-se.

Eu juro que isso só vai tomar um minuto
Você vai entender quando eu acabar, sim
E eu não quero ver você chorar,
Mas eu não quero ser aquele que te contou uma mentira, então

—Volta aqui, Natália.

—Eu não tenho tempo para discutir o relacionamento quando temos um pequeno demônio de quatro anos sujando a casa.

—Só vou tomar um minuto, Natália. Você vai entender quando eu terminar.

Ela simplesmente fechou os olhos, respirou fundo, e, com os olhos alagados, sentou-se novamente.

—Eu não quero ver você chorar. Mas também não quero e nem posso ser uma pessoa que mentiu para você... Então precisamos falar sobre isso.

Como você deixou isso acontecer? Quando você
Você agora não sabe? O que está acontecendo?
O outro lado da porta
Quando você está saindo? Fale sobre isso

—Como você deixou isso acontecer?- Ela perguntou, sem que eu dissesse nenhuma palavra.

—Deixei o que acontecer?

—Então, você agora não sabe? Eu sei que está com outra.

—Não estou, não é isso!

—Fale sobre isso! Eu não quero ser enganada.

Tudo que eu tentei lembrar para falar
Apenas saiu da minha cabeça
Então eu vou fazer o melhor que eu posso para fazer você entender

Todo o discurso que eu tinha em mente simplesmente sumiu de minha cabeça. Eu estava certo de que apenas não havia mais sentimento entre nós dois, que a única coisa que nos ligava era aquele pestinha. Mas ela não tinha essa certeza. Ela tinha convicção que relacionamentos só acabavam quando um estava sentindo algo por outra pessoa.

Não era isso.

E eu precisava fazer com que ela entendesse isso.

Não há uma hora certa para dizer adeus
Mas eu tenho que fazer o primeiro movimento
Porque se eu não o fizer você vai começar a me odiar
Porque eu realmente não sinto o que eu já senti por você
Garota não é você, sou eu
Eu tenho que pensar no que eu preciso

—Olhe, Natália, não é nada disso que você está pensando.-Eu disse, com os braços apoiados em minha pernas abertas. Eu olhava fixamente pro chão. Estava perdido, não sabia o que fazer.

—Então o que é?-Ela retrucou em um tom acima do que ela falava antes.

—Eu não sei se existe uma hora certa para dizer adeus, mas eu acho que esta hora é perfeita.

—Do que você está falando, Vinicius? Você ao menos sabe?

—Eu precisava me mover primeiro, por que se não você iria me odiar. Tudo o que eu quero dizer é que eu não me sinto do jeito que eu me sentia sobre você...

—O problema sou eu, então?-Seus olhos marejavam a medida que os músculos em minhas costas se enrijeciam ainda mais.

—Não, o problema sou eu... Eu tenho que pensar no que eu preciso!- Desabafei, enquanto as lágrimas dela não se continham e escorriam sobre seu rosto, borrando o sua máscara de cílios.

Não há uma hora certa para dizer adeus
Mas nós sabemos que temos que ir
Nossos caminhos separados
E eu sei que é difícil mas eu tenho que fazer isso,
E isso está me matando

Eu sabia que podia estar errado. Eu que talvez não fosse o momento certo, mas a verdade é que não há um momento certo.

—Tudo bem. Pense só em você- Sua voz irrompeu meus pensamentos.

—Nós sabemos que temos que continuar separados. Eu sei que é difícil, mas isso é algo que está me corroendo por dentro, me matando...

—Eu entendo.

Logo ouvimos um estrondo e Nathalia saiu correndo, ver o que raio Zion estava fazendo. Ela voltou com ele,o puxando pelo braço, ambos rindo. Quando Zion virou o rosto, ele estava coberto de espuma de barbear.

Mas agora o coração está partindo
E milhares de vezes eu
Me encontrei perguntando, "Por quê? Por quê?"
Por que eu estou tomando tanto tempo para dizer isto?
Mas confie em mim, garota eu nunca
Quis acabar com o seu mundo
E eu nunca
Pensei que veria o dia em que nós progrediríamos separados

Ela ria, mas eu podia ver em seus olhos seu coração partido. E nesses segundos entre ela trazer Zion, levá-lo e limpá-lo... Eu pensei milhares de vezes no por que. Por que eu estava enrolando tanto para dizer uma coisa simples... Eu sentia falta de meu amor de verão.

—Eu não sei por que demorei tanto para dizer isso. Mas eu te juro, menina, eu nunca quis te destruir ou algo do tipo.  Nem ao menos imaginei que um dia continuaríamos nossa vida um sem o outro.

—Eu estou agradecida de você ter me dito isso. A verdade é que eu queria ter tido essa coragem para admitir isso antes. Eu sinto falta do meu amor de verão.

—Amor de verão,Nathalia? Eu nem ao menos sabia que você tinha um.-Disse, rindo, e o tom da conversa mudou completamente nesse segundo.

—È, o nome dele é Nicholas.

—Que bom que me contou. Eu também sinto falta do meu amor de verão.

—Somos tão parecidos. Creio que confundimos os sentimentos.

—Sim, o que era para ser uma grande amizade...

—Se tornou um amor confuso.

—Viu, nós temos aquela tal de sinergia!- Eu disse, rindo.