Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 70
Capítulo 70




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 Eu desviei os olhos e me sentei na cama cruzando as pernas. Eu não queria falar disso, não queria pensar em Gustavo.


— Então o Dan te contou?
— Contou. E eu confesso que fiquei surpreso, achei que você ia me contar.
— Não consegui.
— Não conseguiu? – eu assenti e fiquei calada – Ana olha pra mim. – meus olhos estavam marejados e eu não queria que ele os visse assim, mas ele colocou a mão no meu queixo e ergueu meu olhar. – Por que você tá chorando?
— Não estou chorando. Eu só não sabia como te contar. Ainda não consegui digerir o que aconteceu.
— Você podia ter me ligado, eu podia ter ido à delegacia com você.
— Você estava com seu pai. Não queria que se preocupasse a toa. Você já tem coisas demais pra resolver. – dessa vez foi ele quem desviou os olhos e bufou.
— Meu pai tá bem. Eu podia ter ido lá, podia ter ficado com você.
— Lembra de quando conversamos no hospital e você queria terminar comigo pois achou que eu estava em perigo?
— Eu não disse que queria terminar com você, eu disse que se fosse necessário eu terminaria. - ele esclareceu -  Mas sim, lembro. O que é que tem?
— Você errou. Não era eu quem estava em perigo. Era você. Por minha causa – ele ergueu os olhos e olhou pra mim – você podia ter morrido, e a culpa ia ser toda minha.
— Não. Você não teve nada com isso. O Gustavo...
— O Gustavo é o meu ex-namorado louco. Eu nunca o conheci de verdade. Não sei por que ele fez o que fez, mas sei que ele só fez por minha causa. Se nós não estivéssemos juntos, você não ia ter passado por aquilo.
— Ana... – ele tentou falar alguma coisa mas eu não deixei
— Você não ia ter perdido seu apêndice, você não ia ter tido 3 paradas cardíacas, você não ia ter ficado entre a vida e a morte, você não ia ter levado um tiro – eu solucei, e Rafael levou a mão esquerda ao meu rosto limpando as lágrimas que rolavam por ele.
— Ana, pare de se culpar. Nada disso é culpa sua. A culpa é toda dele. – eu tirei sua mão do meu rosto e levantei.
— Mas foi assim que você reagiu também não foi? Com a Sabrina?
— O que que a Sabrina tem haver com isso? – disse se virando para me olhar ainda sentado na minha cama.
— Você se culpa pela morte dela.
— Uma coisa não tem nada haver com a outra Ana. A Sabrina morreu por minha causa, mas eu não morri. Você não teve nada culpa de nada. – ele se levantou e veio até mim – eu estou aqui.
— Mas podia não estar. E não é diferente. É a mesma coisa. Você se culpa por que foi você quem colocou o tal do André na cadeia. Ele quis se vingar de você, e na sua cabeça, ele matou a sua mulher por sua causa. – eu vi o quanto minhas palavras o afetaram, mas eu não podia parar, eu queria que ele entendesse como eu me sentia – É assim que eu me sinto. Eu namorei o Gustavo, ele me bateu porque achou que eu tinha seguido em frente sendo que naquela época nós nem estávamos namorando. Ele ficou com raiva por eu ter superado. E ele quis se vingar. Ele quase matou você por minha causa. – Rafael pressionou os lábios e ficou pensativo como se de fato quisesse entender o que eu disse. – A diferença entre as duas situações é que você teve mais sorte que a Sabrina e sobreviveu. Graças a Deus, pois eu não sei o que eu faria se perdesse você.

Rafael ficou calado, só me olhando. Eu não conseguia decifrar o seu olhar e estava incomodada. Eu queria que ele falasse alguma coisa, que gritasse, que me culpasse, que fizesse qualquer coisa. Mas não. Ele não fez nada, ficou ali só existindo enquanto absorvia cada palavra que eu disse. Eu achei que estivesse pensando em Sabrina e imediatamente me senti culpada por ter dito tudo aquilo. Mais culpada do que eu já me sentia. Que ótimo. Eu não conseguia mais olhar pra ele.

— Eu vou tomar um banho e me arrumar pra ir trabalhar. Não demoro. – ele assentiu e saiu do quarto.

Ele não foi embora, me esperou. Ouvi sua voz na sala enquanto ele conversava com Alice, que insistia para que ele tomasse um pouco de café. Entrei no banheiro correndo, e comecei a chorar. Enquanto a água que saia do chuveiro lavava o meu corpo, as lágrimas que saiam dos meus olhos lavavam minha alma dilacerada.

Me arrumei em pouquíssimo tempo e fui pra Duarte com Rafael e Alice sem nem tomar café. Não queria nos atrasar mais do que já estávamos atrasados, eu sabia que Rafael odiava atrasos. Não trocamos uma única palavra durante todo o caminho. Quando chegamos na Duarte, nossa posição estava bem definida. Ele era o chefe, eu a funcionária. O que não era exatamente um problema, mas o clima estava pesado.  

E eu só conseguia pensar que aquela era a nossa primeira briga.


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