Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 69
Capítulo 69




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— Contenha-se senhor advogado – disse o investigador.
— Eu sinto muito – disse Daniel.
— O que sabem sobre esse Júlio Lima?

Daniel contou os últimos acontecimentos para o investigador. Enquanto ele falava, a minha cabeça rodava. Como aquele homem me conhecia? No dia da invasão à casa de Rafael, ele não deu nenhum sinal de que me conhecia. Vasculhei a minha mente, revivendo aquele maldito dia atrás de alguma pista, qualquer coisa que pudesse me ligar aquele homem, mas não em lembrei de nada. Quando ele entrou na casa de Rafael, ele foi bem enfático ao afirmar que as balas eram para Rafael e não para mim. Não consegui imaginar o porquê dele ter entrado na minha casa.

— Por que ele entrou na minha casa? Eu nunca vi esse homem na vida.
— Provavelmente ele estava atrás de alguma pista sobre o paradeiro de Rafael – disse Daniel – vocês viajaram, e como assistente do Rafa, você sabia de cada passo dele. O caminho mais rápido para chegar até ele era através de você.
— É uma boa hipótese – disse o investigador enquanto o vídeo ainda rodava, mas eu não prestava atenção em mais nada – mas de qualquer forma, entrarei em contato com a delegacia na qual Júlio está preso e vou pedir uma transferência para colher o depoimento dele.
— Para – disse Alice, do nada, ainda olhando os vídeos e chamando a nossa atenção.
— Reconheceu mais alguém senhora? – perguntou o investigador
— Não sei. Tem como voltar o vídeo um pouquinho? – o investigador voltou o vídeo. – Ana, olha esse casal. – eu olhei. Era uma mulher com óculos escuros e um cabelo preto enorme de franja acompanhada de um homem que também usava óculos escuros, não dava pra ver muito do rosto dele, mas dava pra ver que ele era alto e magro.
— Não faço ideia de quem sejam – eu disse
— Olha a tatuagem na perna do homem. – então eu olhei e congelei. Era um símbolo que eu conhecia bem. Um dragão de um desenho animado infantil.
— Não. Não pode ser.
— Quem é? – perguntou Daniel
— Gustavo, o ex da Ana.
— Mas isso não significa nada não é. Ele saiu com essa mulher morena. Ele podia estar em um encontro com ela. O Júlio saiu antes. – então o investigador soltou a imagem de novo.

Na imagem mostrava a mulher entrando em um carro preto, o Júlio entrando em carro branco. Gustavo estava perto do carro que levou os assaltantes à minha casa. Ele se abaixou na frente do carro e fez alguma coisa que não deu pra ver. Segundos depois ele deu a volta no carro e foi para a traseira, onde deu pra ver claramente ele se abaixando novamente e tirando uma espécie de adesivo da placa do carro. De HIP – 9088 ela mudou para HIP – 8096. Ele foi para o lado do motorista e entrou dando partida no carro.

— Foi o Gustavo! Ele tentou matar o Rafael... ele tentou matar...
— Calma Ana – disse Alice pegando minha mão. – Tem uma água pra eu dar pra ela? – perguntou a alguém, mas eu não queria água. Eu queria saber porquê Gustavo fez isso. Eu queria confrontá-lo.
— Gustavo responde a um processo de violência contra mulher e foi condenado. – disse Daniel para o investigador – Hoje ele cumpre pena através de serviços sociais por ter batido em Ana. Como está envolvido em mais dois crimes, creio que um pedido de prisão preventiva seja o mais indicado nesse momento.
— É claro. – disse o investigador.

Fomos embora e eu só conseguia chorar. Quem era aquele Gustavo? Onde estava o homem que eu me envolvi por quase dois anos? Foi tudo fruto da imaginação? Tudo foi uma mentira? Eu vivi uma mentira? Aquele Gustavo era uma mentira? A cada momento meu coração batia mais rápido e eu chorava mais. Quando chegamos em casa, eu deitei no colo de Alice no sofá. Ela fazia carinho em meu cabelo e me dava total liberdade para chorar, mas vi que Daniel estava desconfortável com isso. Ele parecia ser um daqueles caras que não sabia o que fazer quando estava diante de uma mulher que chorava. Coitado dele quando Alice estivesse na TPM.

Meu celular tocou. Era Rafael. Eu não queria falar com ele. Não queria admitir para mim mesma que ele podia ter morrido por minha causa. Isso era demais. E ter que falar com ele, significaria ter que aceitar isso, e eu não queria isso.

— Não posso falar com ele agora – Alice pegou meu celular e atendeu no sexto toque.
— Oi chefinho – pausa – tá bom. Oi Rafael, melhor assim? – pausa e ela riu – Ana dormiu. Nós arrumamos a casa e tinha muita coisa pra fazer, ela ficou muito cansada e dormiu no sofá – ela mentiu, eu odiava mentira, mas aquela era necessária. Pelo menos por enquanto. – Amanhã vocês conversam. Não é possível que já esteja com saudades dela em tão pouco tempo – pausa – pois fique sabendo que ela não sentiu sua falta – ela disse rindo e se despediu dele, desligando a ligação.
— Obrigada – eu disse
— Pode deixar que eu explico tudo pra ele Ana – disse Daniel e eu assenti.           

Eu não sei em que parte da noite eu dormi, mas sei que uma hora eu estava deitada no colo de Alice no sofá e quando acordei estava na minha nova cama. Eu acordei sentindo um carinho gostoso em meu rosto. Abri os olhos e lá estava ele. Rafael, no seu bom e velho terno, me tirando o folego logo pela manhã.

— É um bom jeito de acordar – eu disse sorrindo.
— Desculpa, eu devia ter esperado você acordar e me ligar, mas precisava saber como você estava.
— Eu estou bem – pois eu estava mesmo, tudo ficaria bem se Rafael estivesse comigo. – e você? Sentiu alguma dor durante a noite? Tomou os remédios?
— Tomei, eu estou bem também.
— E seu pai?
— Vai ter alta amanhã. – disse abrindo um sorriso – ele ainda tá se acostumando com a prótese, mas vai ficar bem. Meus pais souberam o que aconteceu na Holanda e apesar de eu garantir que estou bem, minha mãe resolveu bancar a enfermeira.
— Ela é mãe. Tá preocupada com você. Dá um desconto. – eu me sentei na cama e olhei pra ele de novo – Por que você tá de terno? Você não vai pra Duarte né?!
— Vou, tenho que voltar para o escritório. Não posso deixar tudo nas costas do Dan.
— Você precisa de repouso, lembre-se do que o médico falou. Tem que ficar em casa.
— Você sabe que eu não vou conseguir ficar em casa, muito menos fazer repouso.
— Tá.  - bufei contrariada - Vou tomar um banho e fico pronta em dois tempos. Podemos ir juntos. – eu fiz menção de levantar, mas ele não deixou.
— Ana... Por que não me contou sobre o Gustavo?


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