Hoje acordei inspirada e resolvi começar a agir. Se ontem saí com o mauricinho, hoje sairei com o playboy. Após o café da manhã, fui falar com Tony e combinamos que eu iria assisti-lo treinar. Até fiquei surpresa de ele aceitar, mas resolvi não questionar para evitar responder perguntas.
 Estou sentada na arquibancada assistindo o time do Tony treinar, mas tem um garoto que não para de olhar pra mim, quem seria ele?  Poderia ser o tal Rod que tirou a foto da Liz no avião, porque ele aparenta ter intimidade com o Tony. Após o treino fui conversar com eles, que estavam bebendo água em um banco.
—Vocês estão bem, acho que podem ganhar essa temporada.
—Olá, Lizzie e obrigado, também acho que ganharemos essa temporada. Eu fiquei surpreso de você vir assistir o treino, não aguenta ficar 5 minutos no mesmo ambiente que o Tony. — Não deve ser o tal Rod, porque se ele fotografou a Liz no avião, já deveria saber que eu não sou a verdadeira.
—É, eu resolvi ver como vocês estavam, pra ter a certeza que Tony ganhará a bolsa pra estudar fora.
—Sabe Rod, Lizzie estava comentando comigo que encontrou você anteontem em um avião, o que estava indo fazer em Paris? — Tony frisou a palavra “Rod”, deve estar querendo me ajudar, mas por quê? Pelo jeito ele também não contou que eu sou uma sósia, ou só está jogando comigo.
—Talvez eu vá estudar pra lá, e você, Lizzie, o que estava indo fazer em Paris?
—Fui pra resolver assuntos escolares. — Espero que eu tenha sido convincente.
—Legal. Sabe, eu estava pensando se você não gostaria de me acompanhar em uma festa hoje à noite.— Tony soltou uma pequena risada, ele está estranho.
—Seria legal, Rod.
—Então já que vocês vão juntos, vamos todos no mesmo carro. — Tony sugeriu.
—Pode ser, cara, eu pego vocês às 8h da noite então, pode ser?
—Por mim tudo bem. — Respondi.
—Tranquilo.

 Após o treino, Tony e eu resolvemos parar em uma lanchonete.
—O que está planejando? — Eu perguntei de uma forma que soasse inexpressivo.
—Eu nada, mas você claramente está planejando alguma coisa, falsa Liz.
—Sério? Então por que está me ajudando?
—Rod sempre foi a fim da Lizzie, mas ela nunca gostou dele. Achei que se você conversasse com ele, certamente daria uma chance.
—E que interesse você tem dos dois ficarem juntos?
—Me interessa que Rod é filho técnico do time, se ele estiver com minha irmã, quem sabe assim eu não leve alguma vantagem.
—Então você pensou que se eu desse a ele uma chance me passando pela Liz, ele falaria com o pai dele e você levaria vantagem, legal. Mas você não está pensando que eu sairei com seu amigo sem exigir nada em troca, não é?
—Também pensei nisso, por isso te convidei pra conversar aqui. O que você vai querer em troca?
—Por enquanto ainda não preciso de você, mas quero que você me dê algumas informações.
—Que seriam?
—Sobre o passado, quero saber de tudo sobre todos. Tente resumir, mas sem esconder detalhes.
—Certo, pode ser isso então. Sobre quem você quer saber?
—Podemos começar por você. Conte-me tudo sobre sua relação com a Liz desde a infância.
Hesitando um pouco, Tony começou a falar:
—Como percebeu, sou um ano mais velho que ela. Crescemos em uma casa no interior e recebemos aulas de música – ou seja, você pode ter que tocar piano em algum momento – sempre fomos próximos, mas quando ela se recusou a passar cola em uma prova pra Paty, minha ex-namorada, tivemos uma discussão e eu tive que escolher entre as duas. Eu escolhi a Paty e Lizzie ficou chateada, mas voltou a falar comigo alguns dias depois que terminei o namoro. Quando estava no colegial, entrei no time de futebol e fiquei popular, então quando Lizzie chegou à escola, preferi não andar com ela, pra não manchar minha reputação e ela ficou magoada. Depois, quando descobriu que estava a “vendendo” pro Rod, ela ficou brava e parou de falar comigo.
—É, parece que você é um irmão de ouro. Conte-me sobre essa Paty agora.
—Paty é minha ex-namorada, tem a idade da Lizzie e passou a odiá-la assim que ela se recusou a passar cola em uma prova. Paty passou a perseguir a Lizzie a partir daí e depois que terminamos, começou a namorar o filho do prefeito e ficou popular assim.
—E eu preciso conhecê-la? Para o caso de nos encontrarmos na festa.
—Provavelmente não, mas se vier ao caso, ela é loira, burra e gostosa. Vai saber quem é assim que vê-la.
—Sobre o Bruno?
—Aquele cara? Lizzie sempre gostou dele e ficou magoada quando ele foi embora jogar tênis. Eles eram amigos de infância e ele sempre a esnobou, não sei o que ela viu nele.
—Concordo. Por último, me fale sobre seus pais.
—Meu pai sempre esteve preocupado em nos mimar para compensar o fato de trabalhar de mais e minha mãe sempre se preocupou em parecermos uma família perfeita, então, ela exige que Lizzie sempre seja a mais inteligente, a mais educada, a mais linda e esse tipo de coisa. A propósito, ela odeia esse cabelo emo, diz que é coisa de marginal.
—Também odeio essa peruca emo, mas eu tinha que ficar idêntica à Lizzie.
—Agora, por que você não fala sobre você? Eu nem sei seu nome.
—Pode me chamar de Isadora. Tenho 17 anos, toco guitarra e sou boa em esportes. Também sou quase idêntica à sua irmã, exceto que o meu cabelo seja mais curto, meus olhos não são azuis, são castanhos avermelhados e minha personalidade é oposta a dela.
—Sua voz também é mais grave. Até minha mãe percebeu.
—Isso é algo que não dá pra mudar, então a menos que você conte, esse seria o único motivo de desconfiança para nós duas. Bom, deveríamos voltar.
—É, está tarde. Vou pagar a conta e podemos ir embora.
—Certo. Vou aproveitar e falar com a Lizzie nesse meio tempo até a festa e evitar falar sobre o que aconteceu hoje, só vou dizer sobre o rei do camarote.
—Rei do camarote?
—É, o mauricinho jogador de tênis.
—Nunca tinha pensado nisso, de agora em diante só o chamarei assim. — Tony disse sorrindo. Nunca reparei como ele ficava lindo assim.