Um Anjo Protegido escrita por Moolinha


Capítulo 22
Capítulo Vinte e dois




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O barulho que vinha da cozinha era indecifrável. Baixo e  assustador. Apenas isso. Desci os degraus da escada tão devagar que, mesmo enfrentando tudo aquilo, eu sentia um tremendo medo e ao mesmo tempo, queria mostrar para ele que eu não tinha medo. Queria chegar naquela cozinha triunfante, e fazer questão de vê-lo no lugar onde minha mãe se matou.

Terminei de descer os degraus, mas instantaneamente Jim me puxou bruscamente para a porta da saída da casa. Olhei com reprovação para ele e ia brigar com ele, mesmo que um pouco baixo, quando soou uma voz.

— Guardo essa corda desde aquela vez que estive aqui. Andei pensando que, sua mãe não precisava ter ido. — Ele se virou, erguendo a corda com um dos braços. — Você é que tem que ir.

Não respondi

Ele se virou e entrou novamente para a cozinha, segui-o instintivamente e fiquei mais ou menos dois metros de distância dele. Ele se virou novamente para mim e se aproximou, puxou uma mecha do meu cabelo de forma agressiva, tomando controle total da minha cabeça. Dei um gemido baixinho.

— Você pode resolver isso sem rodeios? — Pedi. — Seja lá o que for fazer comigo, faça logo.

Xavier poderia me maltratar logo, e Jimmy poderia me salvar mais rápido. Eu precisava logo acabar com aquilo tudo!

— Então você quer morrer logo, não é? Gosto de matar pessoas num piscar de olhos, ser fazer hora. Odeio ser lerdo. — Puxou meu cabelo mais forte e me empurrou, fazendo minhas costas baterem no chão sujo da cozinha.

— Então faça o que tem que fazer. — Gemi de dor, procurando Jimmy pela cozinha. Não é de se surpreender, afinal, ele não estava lá.

Olhei de soslaio para Xavier e vi ele se aproximar de mim, com a corda ainda na mão. Então, ele colocou a corda ao redor do meu pescoço e apertou ligeiramente, rindo da minha expressão desesperada.

Prendi minha respiração e senti a corda espremer meu pescoço.

— Pare! — Um grito angustiante escapuliu dos meus lábios, exaltando toda minha dor.

— Não quer morrer logo? Aguente! Irá morrer sufocada assim como sua mãe!

— Jimmy! — Gritei, assim que Xavier me deu um murro no rosto.

— Pare de falar sozinha, sua maluca!

— Jimmy! — Repeti,depois de outro murro.

Xavier afrouxou a corda e a jogou no outro canto da cozinha, e após dar uma risada maléfica, continuou a me espancar, como se eu fosse um saco de pancadas.

Gritei o nome de Jimmy repetidas vezes até me cansar e me dar conta de que estava arriscando minha vida a troco de nada,porque ele não estava perto de mim.

O que ele queria afinal? Permanecer morto e intacto para sempre? Permanecer nesse relacionamento nosso entre humana e morto? Não. Pra mim não dá mais.

Estava quase morta por causa dele e ele nem estava exercendo a função dele, que é me salvar.

Finalmente, Xavier me largou ali no chão sangrando e se afastou, ficando em frente a janela outra vez.

— Eu amei muito sua mãe, Belatriz! Ela não podia ter feito isso comigo, não podia! — Seu cabelo estava desgrenhado quando suas mãos massagearam seu couro cabeludo e seus olhos esbugalhados, como se estivesse mais assustado que eu.

Suas mãos se repousaram em sua cintura e algo em seu paletó fez com que ele enfiasse a mão no bolso para pegar o que quer que fosse. Rastejei para mais perto da minha bolsa sem que ele percebesse e senti que era a verdadeira hora para usar o objeto que estava dentro dela.

— Bells...

— Não adianta se desculpar, Jim. Não agora. É melhor agir. — Eu disse, quando eu o vi parado diante de mim, com uma de suas mãos fazendo um carinho gostoso no meu cabelo.

Xavier continuou a fitar a janela, sem perceber que eu estava me movimentando e sussurrando com Jim.

— Deixa que eu resolvo o resto, certo? — Sussurrei novamente. — Caso aconteça algo pior, me ajude. Agora vou terminar o que comecei.

— Bells... — Seus olhos, pela primeira vez, adquiriram um verde sombrio e fantasmagórico, que me deu um tremendo medo. Afinal, eu não tinha uma bola de cristal. Não sabia o que estava por vir.

Xavier tirou a mão do bolso do paletó e se virou para mim, apontando um revólver na minha direção.

“Hora de agir” — Pensei. Meu coração saltitava dentro do meu peito, me deixando com uma falta de ar.

— Chegou a hora. — Anunciou, com um sorriso nos lábios.

— Eu sei. — Respondi.

Num impulso, retirei um outro revólver de dentro da minha bolsa, ignorei minha dor e me levantei, fazendo o mesmo gesto que ele: apontando o revolver em sua direção.

— Então você tem uma arma secreta, não é? — Suas sobrancelhas se uniram, enquanto deu um passo a frente, com a arma ainda apontada para mim.

— É que eu não quero terminar como minha mãe. — Respondi, sem me mexer. — Quero que o final de toda essa história seja diferente. — Senti o sangue arder no meu rosto. — Quero que seja um final feliz para mim, não para você.

— Veremos. — Gargalhou, cerrando os olhos.

Um misto de sensações pairava dentro de mim. Como se meu medo, minha angústia, minha tristeza e minha ansiedade tivessem sido colocados dentro de um liquidificador e tivessem centrifugados, fornecendo uma indescritível energia dentro do meu corpo. O sangue que pulsava nas minhas veias não estava normal. Era sagaz, incandescente, efervescente, parecia correr mais rápido, forçando-me a atirar logo em Xavier. Com tanta adrenalina, comecei a me preparar fisicamente e psicologicamente para apertar o gatilho.

E se Xavier também apertasse o gatilho? E pior. E se Xavier apertasse o gatilho antes de mim? E se não tivesse como correr?

— Jimmy... — Sussurrei para ele, de olhos fechados. — Droga, eu te amo. Essa é a chance para a nossa felicidade. Me ajude, essa é a última chance de trazer você de volta. Me ajude. — Pedi, de olhos fechados, não me importando em onde ele estava, mas sim se ele estava me escutando.

— Pare de falar sozinha! É melhor eu te matar antes que você fique louca de uma vez! — Xavier gritou, psicótico, dando alguns passos para frente, diminuindo a distância entre nós.

Ignorei-o.

Aquele misto de sentimentos, junto com a pulsação do meu sangue, me espremiam e pareciam dizer “vamos, Belatriz. Termine logo com isso, aperte o gatilho!”

Eu estava quase pronta... quase pronta.

Respire, Belatriz.

Apertei meus lábios e cerrei meus olhos, apontando a arma bem no peitoral de Xavier. Ele parecia fazer o mesmo, mas tinha muitas habilidades que eu. Claro, ele matava pessoas por dinheiro e eu nem sei segurar uma arma direito.

Estava na hora.

Confiei totalmente em Jim e relaxei os ombros, esperando que ele me salvasse na hora certa. Firmei minhas mãos e automaticamente apertei o gatilho.

Um disparo. Um barulho tenso.

Desespero. Esperança. Medo. Ansiedade. Sangue.

O que posso dizer é que no mesmo instante que apertei o gatilho, Xavier fez o mesmo. Seríamos atingidos no mesmo instante, no mesmo milésimo, porém em lugares diferentes, já que ele mirou bem na minha testa.

Surpreendentemente, tudo aconteceu tão rápido que é até difícil de explicar, porque antes que a bala que Xavier disparou pudesse me atingir, Jimmy já tinha me tirando da mira. Mal percebi o que ele fez. Não sabia se ele tinha me empurrado, me segurado, ou feito sei lá o quê, mas foi muito, muito, muito rápido. Acredito que se não fosse sua sagaz rapidez, eu estaria sangrando no chão, morta, com um tiro bem no meio da testa. Eu não teria tanta rapidez para me esquivar da bala e me salvar.

Com um milagre, acertei o lado esquerdo do peito de Xavier. O lugar que eu queria. Acertei seu coração frio, sem piedade e perdão. Não contive meu sorriso quando assisti com imenso orgulho quando ele caiu no chão, sangrando, implorando por ajuda.

Ele me implorou por ajuda. Xavier, o homem que arruinou com a vida da minha mãe me pediu ajuda. Desviei minha atenção de Xavier e fixei meu olhar em Jimmy.

Radiante, com um pequeno sorriso de agradecimento nos lábios, ele me olhava assustadoramente, como um legítimo fantasma. Olhava para mim, divertido, tentando me fazer medo, como na primeira vez em que eu o vi. Sua pele branca estava mais branca ainda. Ele não brilhava, mas se tornava meio invisível, como se estivesse desaparecendo.

— Obrigado, Bells. — Disse ele, com a voz aveludada calma e pacífica. — Você me salvou. Lembre-se, vivo ou morto, continuarei te amando.


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