Um Anjo Protegido escrita por Moolinha


Capítulo 21
Capítulo Vinte e um




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Pode até aparecer engraçado, mas toda vez que algo de ruim ia acontecer comigo, eu era levada para o meio de uma floresta mal habitada no meio da noite.

Eu sabia que estava longe da lanchonete, mas sabia que não estava longe da minha antiga casa, onde vivi antes de mamãe morrer. Xavier dirigia numa estrada de terra, com velocidade máxima, que fazia o carro todo sacolejar devido aos buracos e pedras, o que me causou uma dor de cabeça, logo depois que eu havia despertado e fingia apenas dormir, para que não levasse golpes piores.

 No meio do caminho, o homem que estava com Xavier na lanchonete estava parado e assim que senti que a velocidade do carro estava diminuindo, soube que Xavier não seria o único a me matar, me deixar paraplégica ou tetraplégica.

Xavier saiu do carro e conversou alguns minutos com o homem, que logo tratou de entregar um revolver para meu querido assassino de aluguel. Em seguida, fui puxada para fora do carro e resolvi dar sinal de vida, gemendo um pouco de dor.

— Calada. — Alguém disse para mim, agarrando minhas pernas e me arrastando para longe do carro.

— Não... — Agarrei uma tora de madeira — que por sinal era muito pesada — para me segurar. Acidentalmente, a tora se inclinou e bateu na cabeça do homem que me puxava. Ele cambaleou e caiu. Não sei que poder tive diante daquilo, mas foi muita, muita sorte mesmo.

Vi Xavier ao longe, dentro do carro fumando alguma coisa e segurei a tora com grande esforço, com a intenção de “meter o pau” nele, já que estava distraído.

— Tem certeza que quer fazer isso? — Jimmy perguntou, tentando retirar a tora de madeira dos meus braços.

Olhei para ele de modo determinado e segurei a tora com mais força.

—Tentei desvendar esta história por tanto tempo de vida e agora que tenho a grande oportunidade de acabar com o desgraçado que destruiu a vida da minha mãe, eu não vou desperdiçar. — Respirei, com desespero. — Eu vou me vingar, mas se o jogo virar, por favor, Jim, me ajude. — Sorri triunfante, dando um passo a frente.

Avancei na direção do carro sem que Xavier percebesse e quando me aproximei da porta do motorista, bati com a tora de madeira com toda força no vidro da janela, permitindo assim que a raiva dominasse meu corpo.

— Arght! — Gritou Xavier, colocando seus braços na frente do rosto para se proteger.

— Você sabe jogar sujo, Xavier. — Gritei para ele, dando uma pancada bem forte em suas costas, já que ele havia se curvado. — Mas eu também sei jogar.

Puxei seu braço com toda minha força e o tirei do carro, deixando-o no chão. Bati a tora de madeira em suas costelas, pernas e pescoço.

— Bells? — Jimmy me chamou.

— O que é? — Olhei para ele, jogando minha franja para trás da orelha.

— Te conheço muito bem, mas acho que estou com um pouco de medo, já que agora conheço esse seu lado agressivo.

— Pare de falar sozinha, sua maluca. — Xavier gritou, contorcendo-se no chão, tentando arrumar alguma maneira de se levantar.

Dei outro golpe nele, desta vez mais forte, para que ele calasse a boca e para que não tentasse levantar outra vez.

— Sabe, Xavier, acho que estou realizando meu sonho. —Sorri para ele, me sentindo a mulher mais poderosa do mundo. — Seu desgraçado, você acabou com a vida da minha mãe, e talvez depois de algumas porretadas eu possa acabar com a sua também.

— Bells, chega. Quer ser presa antes dos dezoito anos? Certo, eu já fui, e não é legal.

— Jimmy! — Exclamei. — Não tire minha felicidade justo agora, que posso me vingar desse babaca, certo?

— Pare de falar sozinha! — Xavier gritou, olhando-me de um jeito incrédulo.

Dei mais algumas porretadas nele, antes de ficar desacordado.
Eu não ia matar Xavier, só queria assustá-lo e fazê-lo sentir na alma o que é ter medo. Acho que ele ia ter cicatrizes e machucados para cuidar, alguns arranhões e talvez uma perna e braço quebrados.

Ele ficou estirado no chão, sangrando ao lado do outro cara e segui meu caminho, correndo pelas árvores na escuridão noturna. Senti a dor do meu olho direito, devido ao soco e percebi que teria que inventar uma mentira coerente para vovó, que provavelmente iria fazer um interrogatório se me visse daquele jeito.

— Ei, Bells, vem cá. — Jimmy se encostou em uma árvore minutos depois, quando encontramos o asfalto.

— Finalmente. — Suspirei, relaxando os ombros.

Jimmy me puxou pela cintura a encontro de seu corpo e estreitou os olhos, analisando meu ferimento.

— Lamento lhe dizer isso, mas acho que vai precisar de um pouco de maquiagem, se quiser que sua avó não saiba disso. Isso vai ficar bem roxo.

— Seus dedos percorreram o redor do meu olho delicadamente, fazendo um carinho gostoso. —Desculpe-me. Achei que você estando acompanhada nada iria acontecer de mal a você, mas...

— Oh não! Tudo bem. Já passei por uma situação bem pior, lembra? Já levei uma surra de Harry e você apareceu muito tempo depois. — Sorri para ele, passando meus dedos por seu cabelo preto plumoso.

— Claro. — Concordou, com um sorriso na lateral de seus lábios. — Você me pegou. Desculpe-me por isso também.

— Vou pens... — Antes de terminar minha frase, Jimmy já tinha colado seus lábios nos meus com tanta selvageria e ferocidade, que devia ter durado uns três minutos, pra mais, já que ele decidiu deixar as coisas mais quentes, quando começou a passear com suas mãos pelo meu corpo.

Jimmy tinha um jeito de me dominar. Bastava estar presa em seus braços, ou agarrada em seus lábios que eu me rendia totalmente.

—Está perdoado. — Me soltei dele, ofegante.

—Estou orgulhoso de você. — Sorriu para mim, selando seus lábios na minha testa. — Você precisa dormir.

— Eu sei. Preciso dormir, mas... — Pausei, com um sorriso bobo nos lábios. — Mas não sabia que eu tinha esse lado maquiavélico. Estou impressionada comigo mesma.

— Bati com o rosto na porta do meu quarto, que por sinal estava fechada. — Foi o que eu disse a vovó, quando ela me interrogou 2:00 AM, quando cheguei em casa.

Vovó acreditou em tudo que eu disse, diferente de Bridget e Louise, que acharam que eu tinha saído despistadamente para encontrar com alguém na floresta. Neguei, é claro, mas porque eu ia me encontrar escondido com alguém? Ainda mais numa floresta? Só se tivesse segundas intenções, mas não... Claro que não.

Dois dias depois da surra de Xavier, comecei a ter medo. Depois de eu ter feito aquilo tudo, a raiva que ele tinha sobre mim deveria ter triplicado, e claro, ele não ia deixar nada barato.

Ao entardecer de uma quarta-feira encontrei com a família que planejava comprar minha antiga casa. Não mencionei nada sobre a morte de mamãe e eles também não perguntaram porque estávamos vendendo uma casa tão bonita em uma propriedade tão boa.

— Essa é a melhor casa que encontramos até agora. — Dizia a mulher ruiva, que olhava para o jardim com os olhos brilhando. — Tenho planos para esse jardim, e talvez eu coloque um chafariz bem ali, ou até um lado artificial com alguns peixes e uns banquinhos por ali...

— Irá ficar ótimo. — Sorri para ela, sentindo certa nostalgia.

Certa nostalgia de tudo que ficava lá dentro. O piano, o sofá cor de mostarda que papai odiava, o cheiro de canela que a cozinha tinha toda manhã, as tardes de sábado que ficávamos na piscina. Não seria mais possível fazer isso depois da venda da casa. Eu teria de me despedir de todas as memórias e lembranças que passei ali.

— Preciso ver se tiraram tudo lá em cima. — Eu disse a Jim, quando vi a família se distanciar.

— Que coisas?

— Ah, pertences antigos que ficaram lá. Algumas coisas no quarto de papai, outras no de Ana, outras no meu. Vem, vamos lá! — Peguei sua mão, puxando-o lá para cima. Analisei cada cômodo do segundo andar e percebi que já haviam tirado exatamente tudo de lá. Tudo mesmo.

— O que está querendo fazer, Senhorita Keaton? — Jimmy me perguntou, enquanto saíamos do quarto de Ana.

Sorri para ele, e, como sempre, os seus olhos me hipnotizaram completamente, pena a “química” foi cortada por um enorme estrondo vindo da cozinha.

Olhei assustada para Jim.

Pode ter sido apenas um animal que entrou pela porta. Pode ter sido o vento.

Não. Eu sabia que não era nada disso. Eu sabia quem era, só me recusava a acreditar que aquilo estava acontecendo.

— Droga. — Murmurei, abrindo uma fresta da porta. — Acho que tem uma pessoa lá embaixo. — Olhei para Jim, esperando que ele respondesse algo.

— Você acha que?

— Acho. — Confirmei, sentindo o pulsar do meu coração baterem descompassadas em meu peito.

— Fique aqui. Não saia. — Ordenou, sumindo logo em seguida.

Fitei minha bolsa marrom com franjas atravessada pelo meu corpo e pensei em como usaria o objeto que se encontrava dentro dela.  Abri a porta e andei pelo corredor, fazendo com que minha bota fizesse menos barulho possível no assoalho de madeira.

— Vamos sair daqui, Bells. — Jimmy me puxou pelo braço, voltando para o quarto de Ana. — Ele está na cozinha, olhando o teto de madeira.

— Não. — Eu disse, soltando minha mão da dele. — Não posso ir embora. Não agora.

— O que você bebeu, Belatriz? Está louca? Anda se drogando?

Dei um leve sorriso para ele, ignorando sua ironia.

— Jim, você não quer se tornar humano? — Fiz minha voz parecer amável. — Pra isso acontecer eu tenho que correr perigo. Então! Eu estou aqui, Xavier também. Não posso fugir.

Jim se encostou no parapeito da janela, e balançou a cabeça em sinal de reprovação.

— Você não vai fazer isso. — Ele deu ênfase no “não”.

— Qual é, Jim? Vamos ficar assim até quando? Não quero mais esconder você de ninguém .Eu quero tocar em você de verdade, quero apresentar você para meu pai, para Jack, Bridget e John. — Pausei, olhando profundamente em seus olhos. — Quero sair com você num sábado á noite, quero comer pizza, ir ao cinema... Quero fazer tudo com você. Não podemos manter isso por muito tempo.

 Acha que isso é bom para mim? Não! Não quero ficar balançando numa cadeira de balanço daqui a setenta anos vendo você olhar para mim, em seu estado jovem. Não podemos viver nesse relacionamento entre viva e morto para sempre!

— Belatriz...

— Eu quero fazer isso por você. Quero fazer você ter essa nova chance. Você já fez tantas coisas por mim, já me salvou tantas vezes. Deixe eu te salvar. Agora é minha vez!

— Você não vai fazer isso. Você o conhece! Que diabos você tem na cabeça? E se alguma coisa acontecer com você? — Sua voz estava alterada, rígida.

— Não vai acontecer nada, Jim. Eu te garanto. Você vai me proteger, não é? Vai me proteger pela última vez!

— Eu já disse que você não vai fazer nada! Não quero ver ele te fazer mal outra vez. Vamos dar o fora daqui. Agora! — Ele puxou meu braço bruscamente, sendo um tanto grosso comigo.

— Eu já disse o que eu vou fazer, Jim. Eu quero você inteiro. Quero você vivo. Então não me impeça, se realmente me amar como diz que ama.

Jimmy não respondeu. Apenas fixou seus olhos verdes aos meus e me olhou. Porque no fundo, eu sabia que ele tinha medo de não conseguir me salvar. Porque no fundo, ele estava com mais medo que eu.

— Deixa eu fazer alguma coisa por você, Jim. Eu quero te salvar, quero também te proteger, por favor. — Minha voz saiu impotente, quando me afastava pouco a pouco dele.

— Quer. Parar. Com. Isso? — Suas palavras foram duras.

Esperei alguns segundos antes de responder.


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