A azulada o encarou, espantada, e ficou em silêncio durante alguns segundos, ainda absorvendo o que acabara de ouvir.
— Ladybug? Tipo… a Ladybug… Ladybug? — Disse ela.
— É… acho que só tem uma, não é? — O loiro sorriu e observou que a menina ainda estava atônita — Eu sei que parece loucura e paixonite, ela é meio famosa, todo mundo gosta dela, mas essa é a verdade. Bom, isso não importa, as coisas mudaram.
— E… você não a ama mais? — Ele suspirou.
— Você é o amor da minha vida, Marinette. — A azulada sorriu.
— Mas… por que você desistiu dela?
— Sabe, acho que, desde o início, eu coloquei na minha cabeça que era apaixonado pela Ladybug e isso me impediu de enxergar pessoas tão incríveis quanto ela, talvez até mais. — Os dois sorriram — Quando você se declarou, eu ainda pensava que era apaixonado por ela, por isso fiquei tão confuso. Eu acho que não respondi sua pergunta — Ela riu — Eu não sabia ao certo porque desisti dela, mas agora vejo que me apaixonei por outra pessoa: você. — A menina não conseguiu esconder o rubor em suas bochechas.
— Você está me deixando sem graça. Somos amigos, lembra?
— Sim, "amigos". — Eles riram — Além disso, eu percebi que não adiantava correr atrás de alguém que não me ama. A Ladybug nunca me amou e nunca vai me amar.
— Você não sabe o quanto está errado. — A menina falou baixo, pensando que ele não a ouviria, mas Adrien a encarou, confuso — Ela te ama, e muito. — Continuou, no mesmo tom, não percebendo que o menino tinha escutado.
— Como você… — Não terminou a frase, pensando naquela possibilidade ser real. Não, isso era loucura, não era a Marinette, ou era? — Ouviram um estrondo e, logo em seguida, pessoas gritando e correndo.
— Eu… preciso fazer uma ligação e meu celular está sem sinal, vou ver se encontro. — Rapidamente, inventou uma desculpa para encontrar um local seguro, onde poderia se transformar em Ladybug.
— Claro, eu… vou falar com meu motorista, ele está ali — Apontou para uma pessoa qualquer — Acho que ele esqueceu que a sessão de fotos de hoje foi cancelada, já volto. — O loiro viu a menina andar lentamente, olhando para o celular e procurou um lugar que não tivesse ninguém por perto.
Quando a azulada percebeu que o modelo não a observava, entrou em um beco, certificando se estava vazio, e abriu sua bolsa.
— O que eu faço, Tikki? Será que ele desconfiou de alguma coisa?
— Acho que não desconfiou de nada, mas por que você está tão preocupada? Ele não disse que é apaixonado por você? Por que não ficam juntos de uma vez? — Disse a kwami.
— É… — suspirou — muito complicado. — Ela estava tão distraída que não viu que alguém se aproximava.
— Eu não tenho queijo agora, Plagg, você vai ter que esperar até chegarmos em casa, e dá para se esconder? Pode ser que tenha alguém… — Adrien viu a azulada e um pequeno ser vermelho com bolinhas pretas que voava perto dela. — aqui. — Terminou sua frase em um sussurro e percebeu que a menina parecia tão espantada quanto ele.
— Tikki!
— Plagg! — Os dois kwamis se abraçaram. Adrien e Marinette continuavam encarando-se, ainda atônitos com o que acabara de acontecer.
— É você.
— É você. — Disseram juntos e, logo em seguida, ouviram um estrondo.
— Desculpa, sei que esperaram muito por isso, mas não temos tempo. — Disse Tikki, mas eles ainda estavam paralisados. Então, esse tempo todo, a resposta para seus sofrimentos estava tão próxima? — Marinette. — A kwami chamou e a menina iniciou a transformação. Logo em seguida, foi a vez de Adrien. Os dois permaneceram no local durante alguns segundos, ainda estavam absorvendo aquela informação, só despertaram de seu transe quando ouviram mais gritos.
Durante a batalha, eles não trocaram uma palavra, mas, às vezes, seus olhos se encontravam, proporcionando um momento perfeito para que o vilão atacasse. Apesar de tudo, os heróis conseguiram vencer o akumatizado e, no fim da luta, nem se cumprimentaram, a azulada só queria ir para casa e pensar um pouco, mas foi impedida pelo parceiro.
— Por favor, não vá. — Ela o encarou — Precisamos conversar. — A menina assentiu, os dois subiram nos prédios e, com auxílio do ioiô e bastão, foram até um telhado de difícil acesso, onde ninguém os veria. Ouviram o apito do miraculous do felino, seguido pelo barulho dos brincos da azulada. Restavam apenas um minuto para o gato e dois minutos para a menina. — É estranho.
— O quê? — Ela perguntou.
— Ouvir esse som e não precisar sair correndo. — Os dois ficaram em silêncio durante alguns segundos e a transformação de Chat Noir se desfez, logo depois Ladybug também voltou ao normal. Os kwamis, esgotados, dormiam sobre o telhado. — Vocês se dão bem? — Disse o loiro, apontando para Tikki com a cabeça.
— Sim, nos damos bem, e vocês? — Ela direcionou o olhar para Plagg.
— Mais ou menos. — Riram — Mas… apesar de ser muito preguiçoso, ele é mais do que um kwami para mim, é um amigo. — A menina sorriu — Ele que me deu o conselho de te dar uma chance.
— Sério? — O modelo assentiu.
— Tenho que agradecer, se não fosse ele, talvez não estaríamos aqui, em nossas formas normais, conversando em cima de um telhado. — Adrien encarou a menina, percebendo que esta observava a paisagem e parecia triste. — O que foi? Está decepcionada?
— O quê? Claro que não, por que estaria?
— Deve ser estranho saber que o garoto "perfeito", que segue todas as regras e estampa capas de revistas, é na verdade um garoto que faz piadas bobas sobre gatos.
— O quê? Eu sempre gostei de você, com ou sem a máscara.
— Então por que está assim? Por que não falou comigo durante a batalha?
— Porque eu não posso simplesmente fingir que você não mentiu, Adrien! Querendo ou não, você aceitou namorar comigo porque sentiu pena de mim.
— Marinette, não já conversamos sobre isso? Eu fiquei confuso porque gostava de outra pessoa, que era a Ladygug e a Ladybug é você, então eu sempre te amei. — Ela voltou a encarar a paisagem e o modelo suspirou. — Esse tempo todo, fiquei procurando respostas para minhas perguntas. "Por que a Ladybug não me ama?", "Por que eu não consigo me declarar?", "Por que me apaixonei justo por ela?", "O que devo fazer para que ela me ame?" Eu… sofri muito por não saber as respostas e quando eu comecei a te conhecer melhor, senti algo estranho, diferente do que sentia pela Ladybug, mas eu negava que estava apaixonado por você, Marinette. Quando realmente percebi que você é o amor da minha vida, tudo se esclareceu. Agora vejo que a declaração, os encontros, o namoro, o sofrimento, as noites mal dormidas… tudo isso foi necessário para abrir meus olhos e ver a pessoa maravilhosa que está por trás da máscara, se não fosse isso tudo, eu não saberia te amar por completo. — Ela continuou encarando a paisagem e os dois ficaram em silêncio. — Você me ama? — Perguntou o loiro.
— O quê? Por que você…
— Você me ama, Marinette? — Ela suspirou.
— Eu te amo… muito.
— Então por que não esquece o passado e vai ser feliz? Não sabemos o dia de amanhã, temos que aproveitar o presente enquanto há tempo. — A azulada desviou o olhar e ficou em silêncio, que parecia não ter fim para o modelo. Adrien pensou que ela se levantaria a qualquer minuto e iria embora.
— Tem razão. — Seus olhos se encontraram e ele a abraçou.
— Eu sei que não posso te prometer que nunca vamos correr perigo, até porque somos super-heróis, mas, sempre estaremos juntos, não importa o que aconteça. — Ela sorriu e o encarou. O silêncio voltou a permanecer no local, mas, de alguma forma, conseguia ser reconfortante. Ambos estavam perdidos em seus devaneios, olhando para a paisagem de Paris que, mesmo com o céu nublado, continuava linda. A azulada lembrava dos dias em que chorou por conta dele, pensando que não a amava, mas, na verdade, sempre foi apaixonado por ela. O loiro pensava nas suas tentativas fracassadas de se declarar para sua lady, nas noites mal dormidas por conta de Marinette e suas visões da menina. Adrien nunca imaginou que, ao aceitar os sentimentos de sua amiga, tudo mudaria. Ela sempre esteve tão perto, saber que o amava era incrível. Os dois sorriam ao perceber que seus sofrimentos acabaram.
— Gostei muito de saber quem é o garoto que faz piadas idiotas e trocadilhos de gatos. — A menina quebrou o silêncio.
— Ah, admita, você acha minhas piadas engraçadas, só não demonstra. — Ela sorriu. — Eu sabia!
— Ótimo, agora você vai fazer isso o tempo todo.
— Claro, saber que eu sou o motivo de seu sorriso é "miauravilhoso", my lady. — A azulada revirou os olhos e os dois riram.
— Marinette? — A chamou.
— Sim?
— Eu preciso te perguntar uma coisa. — A menina o encarou — Então… ainda somos "amigos"? — Ela riu e se aproximou dele, o loiro já imaginou a resposta.
— Sim, vamos continuar sendo só amigos. — A azulada se afastou e ele continuou encarando-a, surpreso.
— O que disse? — Gaguejou.
— Brincadeira, é claro que eu aceito voltar com você. — Ela selou seus lábios com beijo. — Mas vamos prometer uma coisa, não vamos mais esconder nada um do outro. — O modelo assentiu e a abraçou, sentindo algo bom, que confortava seu coração assim como a azulada.
Alguns dizem que "a verdade dói, mas a mentira destrói." Naquele dia, os dois entenderam o significado dessas palavras. Ambos sofreram por conta da mentira de Adrien, mas, felizmente, conseguiram construir o que ela destruiu. Nem sempre isso é possível, as consequências da mentira podem ser devastadoras, principalmente quando se descobre a verdade. A mentira podem causar sofrimentos, derramar lágrimas, destruir relacionamentos e trazer muita dor. Adrien e Marinette ainda se abraçavam, sentindo uma enorme felicidade por tudo ter se resolvido, pela verdade ter sido revelada e pelos segredos terem chegado ao fim. É claro que aquele momento acabaria rapidamente, afinal, "tudo o que é bom dura pouco". Mas ele queria aproveitar cada segundo que podia ficar com sua amada, tinha perdido tempo demais com todo aquele sofrimento por um amor não correspondido, que, no final, acabou correspondendo. A menina queria que aquele abraço não terminasse nunca, mas sabia que iria ficar tarde e os dois deveriam ir para suas casas, não queriam deixar seus pais preocupados. Ambos sabiam que, infelizmente, momentos como aquele não seriam tão frequentes, afinal Adrien ainda era modelo, tinha uma agenda para cumprir, os dois ainda tinham uma vida dupla, teriam que ir ao colégio e lutar contra os vilões de Hawk Moth, mas sabiam que enfrentariam todos os problemas juntos e que nada, nem ninguém os separaria novamente.