Brothers escrita por Ana Clara


Capítulo 1
O dia do teste




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Noah Moore
14 de Setembro

Olho para a minha mesa de estudos, cheia de livros de matemática, física, programação, cadernos usados e cheios de folhas avulso cobertas por contas grotescas e anotações. Respiro fundo uma vez, duas, três vezes. Desço as escadas para a cozinha e me sento a mesa.

Os olhos de meu pai inundados por lágrimas e o rosto corado de minha mãe me fazem querer ficar, mas eu sei que não posso. Hoje é o dia mais importante da minha vida, esperei por esse momento desde que Gabriel saiu de casa. Dói em todas as partes do meu corpo e alma saber que nunca mais verei meus pais, mas todos passam por isso. Meu avós, meus pais, meu irmão e agora é a minha vez.

— Pode se servir - minha mãe quebra o silêncio e coloca um prato com ovos cozidos e bacon na mesa - coma bem, você vai ter um longo dia.

Eu pego dois ovos e algumas fatias de bacon. Meu pai continua me olhando do jeito que todos os pais fazem quando é o primeiro dia de aula, primeira viagem que os filhos fazem sozinhos, primeiro acampamento. Aquele olhar de coração partido e que deixa todos os pensamentos e emoções transparentes.

O silêncio constrangedor volta até minha mãe começar a chorar e sair da cozinha aos prantos.

— Mãe! Mãe! - Começo a chamá-la, mas sei que ela não vai vir até mim.

Meu pai continua sentando na mesa, imóvel.

Não posso culpá-los por isso. Bem, enquanto alguns pais estariam comemorando o dia mais importante da vida de seus filhos, os meus estão desmoronando. Não é culpa deles pensar no pior e não querer que eu vá, afinal quando Gabriel fez o teste foi muito bem, um resultado excepcional e imediatamente vimos pela TV um dos generais do exército se aproximando dele e o parabenizando pelo desempenho.

Depois de um ano recebemos uma carta do meu irmão dizendo que estava muito bem, realizando seu sonho e que tinha acabado de ser promovido a Capitão. Meus pais ficariam muito felizes, como poderiam não ficar? O filho deles acabara de mandar uma carta mostrando como era um prodígio e como estava contente com sua vida nova.
Contudo, a felicidade não durou muito. Em uma semana chegou outra carta, porém dessa vez não de meu irmão e sim de seu superior. Dizia algo assim:

"...Sentimos muito, Capitão Gabriel sabia que era uma missão de risco. Não há o que fazer. Sabíamos que a oposição estava muito forte e bem armada, mas jamais pensamos que tinham tecnologia tão avançada para entrarem na segurança do exército e descobrirem nossas estratégias.
O Capitão será sempre lembrado como um homem de honra e coragem. Meus sentimento à família,
Coronel Alvez."

Não nos deram mais nenhuma informação e recusaram todas as tentativas que meus pais tiveram de ligar para o exército, ver os pertences do meu irmão, qualquer coisa. Eles ainda tem esperança que Gabriel esteja vivo em alguma base da oposição, trancafiado, tentando escapar. Pessoalmente, não acho que isso seja muito provável. Sempre vemos os horrores que a oposição causa na TV e as tentativas falhas do Governador ao tentar controlá-los, chegar a um acordo ou trégua.

Vejo meu relógio, já está na hora de ir para a Área 2. Antes de sair de casa, dou uma abraço apertado nos meus pais.

— Isto é para você, filho - diz meu pai enquanto coloca um colar de prata e com um pingente no formato de uma moeda no meu pescoço.

— Obrigado, pai - nos abraçamos - eu te amo.

— Eu também te amo, filho - ele me solta e acaricia meu rosto - vou estar vendo tudo pela TV, sei que você vai se sair muito bem.

Respondo com um leve sorriso e desço pelo elevador até a rua. Dezenas de garotas e garotos da minha idade estão entrando nos ônibus e indo fazer o teste também.


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