Os Três Mares: Águas da Aliança escrita por CaleidoscópioGold


Capítulo 5
Capítulo IV


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer a todos que estão acompanhando, saber que estão gostando da história me deixa muito feliz *-*

Aproveitem mais um capítulo!



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Capítulo IV - Uma tripulação para o Clipper

Quando Marco chegou à taverna, encontrou as irmãs Talbot no segundo andar, onde a situação estava menos caótica. Ambas já seguravam duas canecas de rum e bebiam enquanto assistiam as diversas brigas no andar inferior e pareciam verdadeiramente entretidas. O mais velho pensou em fazer um comentário sobre a cena, porém foi interrompido quando Tessa o viu e logo falou:

— Temos um problema — a seriedade em sua voz mostrava que aquele tal problema não seria apenas um inconveniente qualquer.

Depois de sentarem-se em uma mesa longe dos demais piratas, Scarlett contou a Marco sobre seu encontro com Hannibal e como ele a havia reconhecido.

A loira estava inquieta desde o ocorrido. De repente todo o seu plano estava ameaçado por um homem que simplesmente não pôde evitar de esbarrar nela. Se eles tivessem sorte, o capitão não se lembraria de nada pela manhã, se tivessem sorte ele ficaria com a boca fechada se lembrasse.

— O que faremos agora? Ele certamente vai entregar a Scar e a tripulação vai se voltar contra nós por ela ser uma mulher se passando por um homem — Tessa encarava Marco como se exigisse uma solução.

— O Capitão Hannibal é um dos piratas mais conhecidos dessa área, e é um grande amigo do Capitão Philip e de outras importantes figuras deste ramo. Admito que pode ser um problema ele tê-la reconhecido — Marco levou uma das mãos ao queixo, pensativo. — Mas você disse que ele estava embriagado quando a viu, talvez ele não se lembre.

Tessa fechou o punho e o bateu com força sobre a mesa de madeira.

— Não vou apostar meu dinheiro nisso, é a cabeça da minha irmã que está em jogo.

— Tess, se acalma — Scarlett segurou delicadamente o ombro da mais velha. — Marco tem razão, vamos esperar para ver se Hannibal se esquece que me reconheceu. Garanto que ele estava mais do que intoxicado, mal conseguia nem ficar de pé, então ainda temos uma chance.

— Esse não é o maior dos nossos problemas. Se ele a reconheceu bêbado, quais são as chances de que a reconheça sóbrio? — as palavras da irmã a fizeram pensar.

As chances de Hannibal a reconhecer se eles se encontrassem quando este estivesse lúcido eram grandes.

— Posso falar com ele, explicar o nosso plano, talvez nos ajude — Scar sorriu, otimista.

— Existem muitos “talvez” nesse plano — Tessa massageou sua têmpora direita com a ponta dos dedos.

— Já fui da tripulação de Philip, posso dizer que conheço bem o Capitão Hannibal Jäger, e digo que ele não é um delator — Marco afirmou com tanta certeza que Scarlett quase concordou com ele, mesmo nunca tendo tido uma conversa decente com o pirata para saber disso.

— De quantas tripulações você fez parte, exatamente? — a morena questionou.

— Quatro. Felizmente nunca tive problemas em nenhuma delas, mas garanto que existem capitães tão cruéis e deploráveis nesses mares que as fariam tremer só de ouvirem seus nomes — Marco esticou o braço sobre a mesa e pegou a caneca de rum de Tessa, puxando-a em sua direção para beber dela.

Pôde ouvir algo parecido com um rosnado sair por entre os lábios selados da mais velha, porém ela não fez nada para agredi-lo como queria quando Scar segurou sua mão que estava sobre a mesa para acalmá-la. A loira deu um sorriso nervoso para o pirata e fez um sinal com a cabeça para que ele continuasse, e ele quase deu uma risada ao perceber a raiva da morena ao lado da jovem.

— Esses piratas certamente iriam ridicularizá-la na frente de toda a tripulação e iria humilhá-la das piores formas apenas por ser uma mulher se passando por um capitão. Mas existem piratas que não querem ver a desgraça de seus companheiros e são muito leais àqueles que se mostram leais a eles. Hannibal Jäger, Philip Morgan, Ben Spirit, todos eles nunca deixariam um companheiro pirata na mão, independente do seu gênero. — Marco terminou sua bebida, que na verdade era de Tessa. — Mas vocês são forasteiras, ninguém sabe nada sobre vocês. Não tem amigos aqui, nem tem a confiança e o respeito da própria tripulação, que ainda irão montar… Eles não a ajudarão ainda, Scarlett,  não até que prove merecer.

— Então precisamos contratar logo essa tripulação e sair a procura de navios cargueiros, tesouros...! Vamos ganhar o respeito deles e formar alianças para sermos as melhores. Não é assim que funciona, Tess? — Scar ergueu sua caneca, animada com a própria ideia.

Tessa sabia que ela se referia às negociações que ela precisava fazer quando comandava a empresa da família Talbot. Havia ganho o respeito dos investidores com facilidade por ter mostrado a capacidade para dirigir os negócios até melhor que seu pai, muitos dos seus atos resultaram em parcerias que ajudaram sua empresa a crescer. A morena não conseguiu manter um leve sorriso fora de seu rosto ao perceber que a irmã queria seguir seu exemplo, mesmo que não da forma mais honesta e convencional.

— É exatamente assim, Scar.

— Então não podemos ficar parados! Marco, traga os homens que escolheu para a minha tripulação, vamos ver se eles aguentam a pressão de serem meus bucaneiros. Já vou avisando que sou muito exigente — Scarlett tentou fazer uma expressão ameaçadora, porém apenas pareceu uma criança fofa de mau-humor.

Marco riu enquanto se levantava para buscar os piratas que havia chamado até o andar de cima. Tessa revirou os olhos e fez uma nota mental de não deixar sua irmã fazer aquela expressão na frente dos outros, nunca teriam medo dela assim.

— Vou precisar de outra bebida se for passar isso — Tessa levantou-se e desceu para o bar, desviando do máximo de pessoas que conseguia até chegar lá.

A morena ainda estava um a alguns passos do balcão de madeira, mas quando o dono olhou em sua direção, ela ergueu um dedo para mostrar que iria querer mais uma caneca. Ele entendeu e já começou a despejar o rum de uma garrafa em uma caneca que ela duvidava estar propriamente lavada. Quando chegou ao balcão, um homem se colocou na sua frente, impedindo-a de passar, isso a fez olhar para cima com uma sobrancelha arqueada, questionando a ação dele.

Ele era alto e tinha uma barba longa, não usava um chapéu, então não era um capitão, um pirata qualquer ou, talvez, um vagabundo que estava em Tortuga para se divertir. Sua pele era branca e estava suja, assim como suas roupas, e ele tinha um sorriso amarelo nauseante na boca.

— Ora essa, não é todo dia que uma mulher atraente como você passa por aqui — o homem tentou tocar o rosto de Tessa e ela esquivou-se rapidamente.

— Saia do meu caminho — ela disse, fria e calmamente.

— Ah, qual é, gostosa? Posso fazer isso ser bom para você, mas se quiser fazer do jeito difícil… — ele foi cortado quando o joelho dela subiu com extrema força e acertou em cheio o local entre suas pernas.

O grito de dor que ele deveria soltar ficou preso em sua garganta e ele caiu de lado no chão. Seu membro certamente havia sido esmagado após aquela joelhada e ele não iria conseguir andar por um tempo. Tessa não se importou e apenas andou até o balcão, pegando sua bebida e se preparando para voltar para o segundo andar quando ouviu uma voz familiar ao seu lado.

— Estava vindo te dar uma mão com esse imbecil, mas parece que já controlou a situação sozinha — ela se virou e viu Bard debruçado sobre o bar, uma garrafa de rum em sua mão direita. — Acho que vou ter que achar outro jeito de agradecê-la por ter me alertado mais cedo, poderia estar com a cabeça aberta agora se não fosse por você.

Tessa sentiu suas bochechas queimarem levemente quando o viu sorrir para ela e culpou o álcool internamente, mesmo sabendo que não tinha nada a ver com a situação.

— Não precisa fazer nada, já agradeceu. E eu só o avisei porque me assustei, não fiz isso para receber algo em troca — a morena bebeu um gole de sua bebida sem desviar o olhar. Qualquer outra pessoa estaria encarando as cicatrizes em seu rosto, já ela estava mais interessada naqueles olhos claros como mel.

— Se você diz. Ainda assim, não fomos apresentados oficialmente — ele se aproximou mais de Tessa e estendeu a mão em sua direção. — Bard Keith, pirata da tripulação do Fúria de Poseidon e primeiro imediato do Capitão Philip Morgan.

— Tessa T… — ela pensou duas vezes antes de dizer o nome de sua família, sabendo que seu pai era bem conhecido por vários piratas e nem um pouco amado. — Tessa Treasure, pirata de um navio que ainda não tem nome.

— É uma pirata? Incrível, nunca tive a chance de conhecer uma. Vai começar em um navio agora ou já era de outra tripulação antes? — ele tomou um longo gole da garrafa e ela não pôde deixar de observar que ele tinha um pescoço bem definido e também marcado por cicatrizes.

— Estou começando. Sou a primeira imediata do Capitão Scar que ancorou no porto de Tortuga recentemente — a mentira saiu por seus lábios com tanta facilidade que ela quase acreditou em si mesma.

— Nunca ouvi sobre esse capitão antes.

— Ele costuma velejar nas águas do oriente, mas fez tantos inimigos lá que precisou vir para este lado dos mares.

— Entendo. Bom, acho que vou querer conhecê-lo, assim como o meu capitão. Ele adora se meter em problemas, com certeza vão ter uma amizade que vai nos levar à uma morte prematura — Bard riu e Tessa acabou fazendo o mesmo. Sentiu algo quente em seu peito enquanto conversava com o bucaneiro, algo que nunca sentira antes. — Preciso voltar ao navio para preparar tudo para nossa saída pela manhã. Foi um prazer conhecê-la, Tessa.

A falta de formalidade e a forma como ele dissera seu nome fizeram o calor em seu peito aumentar. Era uma sensação agradável e nova que ela não queria que a deixasse.

— Igualmente, Bard — ela sabia que eles se veriam novamente, era evidente nos olhos dele que algo havia acontecido naquela breve conversa e que ambos não pretendiam esquecer-se um do outro.

No andar de cima, Scar batia a ponta de seu indicador repetidamente sobre a mesa de madeira, ansiosa para conhecer os possíveis membros de sua tripulação. Sempre fora uma jovem popular entre os homens, conseguia conversar com eles por horas e nunca teve problemas em conseguir a atenção deles. Agora, porém, não era mais uma bela mulher solteira, e sim um capitão pirata com feições nada masculinas que precisaria ganhar o respeito de piratas sanguinários.

Aquilo tinha mesmo tudo para dar errado.

— Capitão! — ela se levantou bruscamente ao ouvir a voz de Marco e o observou aproximar-se da mesa. — Espero que os candidatos que encontrei sejam do seu agrado.

O mais velho piscou para a loira, que reprimiu um sorriso e voltou a se sentar. Viu vários homens subirem as escadas, um rosto mais estranho do que o outro, porém um deles ela reconheceu. Era Kyle, o homem em quem ela havia esbarrado mais cedo e que havia matado o amante de sua esposa impiedosamente. Seu desespero quase a fez dar um suspiro de surpresa, mas conseguiu conter-se e apenas encarou cada um dos homens com uma expressão que ela tentou ao máximo fazer parecer neutra.

— Senhores, esse é o Capitão Scar, de quem lhes falei — Marco sentou-se ao lado da Talbot e a encarou, como se dissesse para ela mesma se apresentar.

Scarlett limpou a garganta com um pigarro até pensar em um tom que deixasse sua voz mais grave do que realmente era, feminina e delicada. Antes que pudesse falar, no entanto, foi interrompida por um dos piratas a sua frente.

— Quantos anos você tem? — quem perguntou fora um homem de cabelos ruivos sujos e barba da mesma cor, olhava para ela com o cenho franzido. Sua dúvida parecia ser a mesma que a dos demais ali presentes.

— Ele parece ter treze anos com esse tamanho — alguém no fundo comentou e alguns marinheiros deram risadas discretas.

— Não que isso lhes diga respeito, vermes inúteis, mas tenho vinte e quatro anos, — a voz da loira saiu mais grave que o normal e Marco ficou feliz por ela ter pensado em mudá-la. E a forma firme e confiante como ela pronunciou aquelas palavras lhe deu um ar mais autoritário. — Agora, se já pararam de embromação, apresentem-se, não tenho a noite toda.

Scar direcionou seus penetrantes olhos verdes para o ruivo que havia feito a pergunta e ele deu uma risada nasal, parecendo achar a fala da jovem engraçada.

—  Sou Sean Lionheart, carpinteiro e cirurgião nas horas vagas.

— Por que quer entrar para a minha tripulação, senhor Lionheart? — Scar agora tateava um dedo de cada vez sobre a mesa, não parecendo impressionada.

— Não quero. Marco disse que estava desesperado — cinco deles riram e a Talbot conteve a vontade de lançar um olhar de ódio para seu mais novo amigo sentado ao seu lado. — Para ser mais claro, cinco de nós éramos bucaneiros no Serpente Lunar, que naufragou junto com seu capitão há um mês, portanto estamos sem um navio.

— E o seu é o primeiro a ficar disponível em meses — um homem mais jovem, talvez mais novo do que ela, se pronunciou. Ele tinha longos cabelos negros e enrolados e nenhum pelo na face, seus olhos eram inocentes e castanhos, como os de uma criança.

— E quem são os outros quatro que escaparam desse naufrágio com você? — ela indagou.

— O garoto, Nathan Newton, — Sean apontou para o jovem moreno que havia falado a pouco. — E seu irmão, Oliver Newton são ótimos riggers. — ele apontou para outro garoto da idade de Nathan, que tinha feições semelhantes às do irmão, de cabelos curtos.

Scar já havia ouvido falar sobre riggers nos livros que lia. Eram pessoas que cuidavam das velas e tinham um alto risco de morrerem se caíssem de cima delas em uma tempestade. Como dois garotos tão novos escolheram uma tarefa tão perigosa, ela nunca poderia imaginar. Também não questionaria, um navio com tantas velas quanto seu Clipper precisaria de muitos riggers.

— Gill Cavalera, mestre em navegações — Sean continuou e  olhou para um homem mais velho ao seu lado, que já tinha cabelos brancos se mesclando aos seus castanhos e rugas em sua face. — Jack Manson, um ótimo cozinheiro se você quer uma diarreia em alto mar.

— Vá se ferrar, Sean! — um homem alto e pardo exclamou, irritado com o comentário, isso fez o ruivo rir alto.

— E os outros? — Scar virou-se para um homem negro extremamente forte encostado em um pilar de madeira com seus braços cruzados. Seus músculos eram o resultado de muito trabalho braçal e suas mãos grandes poderiam facilmente segurar a cabeça de um indivíduo e esmagá-la. Sua careca foi o que chamou mais a atenção da jovem capitã, era muito lisa.

— Cassim Demir, — o sujeito negro respondeu ao perceber os olhos verdes sobre si. — Cuido do trabalho pesado no navio. O último navio que tripulei foi o Águas Tempestuosas.

— Por que deixou a tripulação? — ela precisava trabalhar em sua curiosidade, nem todos eram amigáveis com intrometidos, muito menos estranhos intrometidos.

— O capitão não estava conseguindo comandar a tripulação corretamente. Houve um motim e eu não quis ficar para ver o que fariam com ele — Cassim deu um leve sorriso para a loira. Ele não parecia ser tão ameaçador quanto sua aparência sugeria, na verdade era bem tranquilo e ameno.

Scarlett estava gostando da sua tripulação, pareciam ter saído de um dos livros com histórias de piratas que ela leu na biblioteca de seu pai. E nenhum deles havia notado que ela era uma mulher, aquilo só poderia ser um ótimo sinal, só precisava ficar calma continuar com a encenação por mais tempo que os convenceria de vez. Porém ainda tinha um pequeno problema...

Virou-se um pouco receosa para Kyle, com medo que ele a reconhecesse. Ele apenas deu um grunhido de irritação e continuou a girar uma faca entre seus dedos, bebendo um gole de rum da garrafa em sua outra mão.

— Aquele é o senhor Kyle Jones, especialista com facas e famoso “corno da ilha” — Marco zombou e a faca na mão do homem careca voou até parar na parede bem ao lado da cabeça do Potter. Scarlett não segurou um suspiro de surpresa que escapou de seus lábios, porém seu amigo nem se moveu, apenas deu uma risada calorosa.

— Tem sorte por eu estar te devendo uma, Marco, se não estaria com a cabeça perfurada há muito tempo! — Kyle brandou, socando a mesa a frente deles e assustando Scarlett.

— Calma, Capitão, cão que ladra não morde — Marco assegurou. — Ray Storm é o melhor administrador de finanças com quem já trabalhei, ele ficaria responsável pela distribuição dos lucros e das pilhagens.

Um homem novo e pálido usando roupas bem limpas e óculos, com uma armação fina e escura, se aproximou da mesa, saindo do caminho quando um Kyle extremamente irritado passou por ele.

— Saiba que meus serviços são muito valiosos, pois fui o contador de centenas de navios mercantes e já cataloguei mais de…

— Trezentos e vinte pilhagens ao longo de sua vida como pirata, sabemos! — um homem com a voz grave e impaciente falou. Ele estava sentado em uma cadeira ao lado da mesa em que Scarlett e Marco estavam, tinha as pernas levantadas de forma que suas botas ficassem apoiadas na mesa a sua frente e sua face, assim como a de Bard, era cheias de cicatrizes. — Ninguém quer saber sobre essa merda.

— E nosso amigo rabugento é o senhor Bartholomew, mestre em armamento — Marco esperou Scar parar de analisar o homem e assentir para continuar. — O baixinho loiro ao lado dele é o Sully. Ele não faz muito além de lutar bem e ser um ótimo músico. Ah, e ele é surdo.

— Ele é músico e surdo? — Scar questionou, arqueando uma sobrancelha quando Marco concordou com a cabeça. — E se ele começar a tocar mal?

— Jogamos algo na cabeça dele — o Potter deu de ombros e gesticulou com ambas as mãos para os homens a sua frente. — Bom, foi isso o que consegui arranjar em tão pouco tempo.

Scar levou uma mão ao queixo e encarou os piratas, tentando fazer parecer que estava pensando se era mesmo uma boa ideia. Na verdade ela havia adorado todos, cada um parecia mais intimidador do que o outro e todos tinham habilidades únicas que seriam de grande ajuda quando fossem pilhar um navio ou até mesmo entrar em batalhas.

— Acho que vão servir — Scar levantou-se, indiferença clara em sua voz. — Pagarei a vocês adiantado por concordarem em fazer parte da tripulação, amanhã venham para o Clipper ancorado no fim do porto leste para receberem seu pagamento e para começarmos os preparativos para navegar. Seguirão todas as minhas ordens e, em troca, serão muito bem recompensados. Alguma pergunta?

Todos permaneceram calados por vários segundos, tão sérios quanto poderiam ficar. Cassim descruzou os braços e deu um passo na direção de Scar.

— Parece justo — o homem negro falou, olhando para seus companheiros por cima de seu ombro largo e forte.

Aos poucos comentários de aceitação foram ouvidos e Scarlett precisou se conter para não abraçar Cassim ou Marco. Ela simplesmente ajeitou seu chapéu em sua cabeça e, por um momento, ficou sem saber o que fazer. Não era íntima de nenhum deles para fazer algum comentário que quebrasse o gelo e nem queria ser alvo de um soco caso dissesse algo errado, apenas se virou e desceu as escadas para poder encontrar sua irmã.

Assim que Scar saiu, Marco recebeu olhares de todos os piratas que haviam participado da conversa antes.

— Está de sacanagem, Potter? Onde arranjou esse idiota?! — Jack Manson apontou para onde Scar descia as escadas de forma diferente da que um homem deveria descer.

— Ele não tem mais do que treze anos, com certeza. Ouviram aquela voz? Não quero trabalhar para um pentelho que se acha adulto, não importa o quanto ele pague — Kyle pareceu ainda mais irritado quando Marco começou a rir. — Acha isso engraçado, maldito?!

— Perdão, só estava me lembrando que disse a mesma coisa quando o Capitão Philip Morgan chegou à baía, disse que era um pirralho mimado que seria morto logo que colocasse os pés em um navio. Agora ele é um dos piratas mais bem sucedidos do Caribe e da Europa e você continua no mesmo lugar.

— Não podemos negar que esse Scar é muito estranho, Marco, posso dizer até que é um pouco afeminado com aquele jeito de andar, feições e porte físico feminino — Sean comentou. — Se não fosse pela falta de seios e pela barba, diria que é uma mulher.

— Conheço o Capitão Scar de viagens passadas, ele é um ótimo pirata e é, certamente, um homem — a mentira saiu com facilidade pelos lábios de Marco.

— O que houve com a tripulação antiga dele se era tão bom pirata? — Ray, o contador, arrumou seus óculos.

— Todos morreram durante um ataque feito por inimigos do Capitão Scar, ele era bem odiado de onde veio. O navio afundou e ele comprou um novo aqui, um Clipper, o mais rápido desses mares.

— É, para comprar um Clipper esse cara deve ter saqueado muitos navios — Gill, o navegador, pegou uma garrafa de rum pela metade de um bêbado que havia acabado de cair de cara no chão e bebeu dela.

— Um bom capitão sempre afunda com seu navio.

— Um capitão burro afunda quando pode sobreviver. Esse dito já não é mais algo impactante há anos, Kyle, porque ninguém era idiota o suficiente para realmente afundar com o navio — Marco conseguiu arrancar uma risada de alguns piratas e um olhar ainda mais furioso do careca. — Não tenho tempo para bobagens e inseguranças, se vamos zarpar amanhã preciso garantir que teremos suprimentos para isso. Sejam homens e aceitem um trabalho bem pago quando lhes oferecem um.

O Potter colocou-se de pé e andou na direção da escada, parando ao ouvir um comentário em particular, dito por Bartholomew.

— Pense nisso, Kyle, com aquele fracote no comando, fazer um motim será bem mais fácil. Ganharemos um navio de graça sem muito esforço.

As comemorações que foram ouvidas não preocuparam Marco, ele sabia que isso aconteceria. Marinheiros comprados não estavam lá por lealdade, e esse era o pior tipo de marinheiro, serviam a quem pagasse mais. Scarlett precisaria conseguir tanto o respeito deles quanto sua lealdade, o que não seria fácil conhecendo a maioria dos bucaneiros que tripulariam o Clipper.


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Notas finais do capítulo

Recomendação: A Ilha do Tesouro é o melhor livro de piratas que já li até hoje, se estiverem interessados sugiro que leiam porque vão amar :3

Obrigada por lerem, até a próxima!