Corações em Choque escrita por Koini


Capítulo 2
Para te Atormentar


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Eu continuo a mesma.
Sem noção de espaço, sem senso de direção, sem vergonha na cara.
Igualzinha… Talvez com o cabelo um pouco mais comprido.

~#~

— Vou sentir sua falta, Ten-chan. – disse Hinata com lágrimas nos olhos.

— Fiquem bem pessoal, eu amo todos vocês. Hina, por favor, entregue a carta à ele.

Eu estava indo embora, deixando todos os meus amigos para trás. E o meu namorado não fez nem questão de se despedir de mim.

~#~

Quando acordei no outro dia, percebi que Hinata não estava em casa. Depois de escovar meus dentes, olhei-me no espelho do banheiro e respirei fundo para aguentar momentos torturantes na presença do meu ex-namorado.

Quando cheguei à cozinha, lá estava ele, cozinhando ovos para seu café da manhã. Não me surpreendia que logo de manhã ele já estivesse arrumado, parecendo bem disposto, exalando aquele cheiro de perfume masculino, do tipo que acabou de tomar um banho. Era a mesma colônia de anos atrás. Que eu dera pra ele da primeira vez que usou.

Sentei-me na borda da mesa ignorando todos os pensamentos nostálgicos. Fitei suas costas enquanto ele ainda não havia notado minha presença. Chacoalhou a frigideira e então, quando se virou para colocar os ovos no prato, me viu. E me deu aquele mesmo olhar que dizia “sem noção”.

Durante nosso namoro discutimos muito por isso. O cara falava que eu não tinha “noção de espaço”, e eu nem sabia o que isso queria dizer. Mas lembro-me que quando estávamos juntos no sofá não sobrava espaço para ele. Que eu me jogava em qualquer lugar, em cima de mesas, bancadas, penteadeiras, qualquer lugar que não fosse de “se encostar”, eu estava sentando ou me debruçando sobre.

“Você é tão folgada que precisa de uma cama de casal, quando na verdade dorme sozinha todos os dias!” Ele me disse uma vez, entre risos.  

— Não que eu queira falar com você… Mas bem que podia sair de cima da mesa.

— Ora – desci da mesa – Tudo bem.

Diante da minha ação, ele arqueou as sobrancelhas como se não me reconhecesse e eu não havia entendido por quê. Então me veio o pensamento que ele esperava uma reação mais… ofensiva, depois da noite anterior. Mas a minha cabeça estava longe demais nas memórias para brigar naquele momento.

Peguei uma caneca no porta copos e enchi de café até a metade. Durante o tempo que passei em Nova York, aprendi o quão importante era um café, e mesmo as dez de uma manhã de sábado, eu não o dispensava. Porém foi deixar aquele líquido encostar o meu paladar para perder o gosto por café na hora.

— Que é isso?! – exclamei com os olhos arregalados.

Ele levantou o olhar de seu prato e respondeu o óbvio: - Café.

— Tá mais pra dipirona, onde está o açúcar? Deus me livre disso!

Foi quando levantei à procura do açúcar que me lembrei. Neji sempre fora viciado em café, muito mais que eu, porém ele gostava de café assim, amargo e bem forte. Eu mesma já havia feito café para ele muitas vezes.

Bati a mão na bancada do armário e deixei minha cabeça pender para baixo. Aquelas lembranças que eu pensei ter enterrado estavam me atormentando. Cada minuto perto dele era uma lembrança diferente do que vivemos juntos.

Num repente, saí da cozinha a passos largos, fui pro quarto e me troquei rápido. Peguei a bolsa de lado que usei na madrugada (que ainda tinha dentro minha carteira e meu celular) e saí da casa, sem ao menos ver para onde eu ia. Eu só não queria mais ficar perto dele. Eu precisava de distância, eu queria toda a distância de volta, todas aquelas milhas e léguas, seja lá o que for que nos separava…

Quando senti os olhos marejarem, rapidamente os sequei. Eu não chorava por ele, eu não me permitia. Por mais que aquelas sessões de tortura estivessem me sufocando, derramar lágrimas por ele era algo que eu não admitia há muito tempo.

Depois de minutos caminhando sem rumo eu parei, sem saber onde eu estava.

~#~

“Neji, não sei como você consegue tomar esse café horrível!”

Ela sempre me dizia isso. Era um ritual, toda vez que eu tomava café, ela tinha que falar essa frase.

Eu fiquei tanto tempo sem a Tenten que havia me esquecido de como ela era. Bagunçada, agitada… Esqueci que o que agitava meus dias era o furacão Tenten.

Quando foi embora, eu sabia que não ia aguentar um namoro à distância, eu não consegui aceitar sua partida. E sabia também que ela não ia desistir, e que isso acarretaria em mais sofrimento.

Então eu tive que fingir.

Fingi que não li a carta que ela deixou com Hinata. Fingi que não quis responder todos os e-mails que ela me mandou, fingi que não queria ouvir falar dela, fingi que não ligava, fingi que não a amava. Quando na verdade eu li a carta, respondi a todos os e-mails e deletei a resposta em seguida, quando achavam que eu não escutava o que diziam, eu estava atento, eu me importava… Eu a amava mais que qualquer coisa.

Por amar tanto Tenten eu tive de deixá-la livre. Claro que ela não era perfeita, na verdade, Tenten era muito imperfeita, e eu implicava com todos esses defeitos pela graça de irritá-la vez ou outra, porque na verdade eu aprendi a gostar de cada um deles.

Tive outras namoradas. E só então percebi que gostava de implicar com Tenten, e uma namorada sem aquelas manias todas não me parecia divertido. Todas se esforçavam demais para ser perfeitas, tornando-se superficiais, não se permitindo apenas ser. Diferente de Tenten. Sendo assim, nunca deu certo com mais ninguém.

Até que um dia eu quase joguei tudo pro ar e liguei pra ela, mas enquanto a ligação chamava, me lembrei de que eu já tinha conseguido o que queria, Tenten já tinha me esquecido, e eu não tinha o direito de voltar e lhe causar mais dor. Então desliguei assim que ouvi sua voz dizer “alô?”.

E agora, com ela aqui ao lado, é como se os anos não tivessem passado. Ela continua a mesma maluca, bagunçada, idiota, irritante, sem noção. E todas essas lembranças que ela me trás… Chega a ser pior do que tudo que passei durante os anos que ela esteve longe e pior do que tudo que tive que passar para minha família a aceitar.

~#~

“Caramba Tenten, será que você nunca acerta um caminho? Até eu bêbado ando melhor na cidade que você!”

Eu estava perdida. Eu já não sabia andar em Konoha quando vivia ali anos atrás, agora então, era impossível eu saber como voltar. Cansada de dar voltas pelos quarteirões, me sentei na beira da calçada com a cabeça entre as mãos.

— Tenten-chan!

Olhei na direção da voz que me chamava, eu a conhecia de algum lugar. Então vi um rapaz de camiseta verde e calças folgadas, com ataduras nos braços… O cabelo de tigela e as sobrancelhas exageradamente grossas… Era ele, meu amigo Lee, que treinou comigo na academia de artes marciais do Gai Sensei. Ele não havia comparecido na reunião da noite anterior.

— Lee! – exclamei me levantando – Lee, o que está fazendo aqui?

— Eu é que te pergunto! – respondeu, e estreitou os olhos – Tá perdida né?

Abaixei a cabeça meio constrangida e soltei uma risadinha.

— É, estou. Sabe onde é a casa da Hina?

— Claro que sei, eu te levo.

Lee e eu fomos conversando todo o caminho. Ele me mostrou lugares que antes eram uma coisa e agora haviam mudado, como a barraca do Ichiraku, que havia virado um negócio grande. Contou que continuava na academia do Gai-sensei, que pretendia levar aquilo pra frente e ganhar a vida como atleta de artes marciais. Lee era realmente muito bom em qualquer estilo de luta, e explicou pedindo desculpas que foi por isso que não conseguiu ir na “festinha” da minha volta ontem.

— Está entregue! – exclamou sorridente meu amigo, tocando a campanhia da casa.

Eu queria saber onde Hinata estava que até então não havia chegado em casa, pois foi aquele cara quem atendeu.

— Lee, fez o resgate dessa sem noção?

Ah, ele também gostava de me azucrinar pela minha falta de orientação. Ignorei o comentário com um rolar de olhos, mas notei que o cara parecia incomodado por eu estar, quem sabe… Acompanhada de outro rapaz.

— É o mínimo que podia fazer, ajudá-la! – incrível como Rock Lee era sempre tão alegre.

— Obrigada Lee. – murmurei.

— Ora, por nada. Bem-vinda de volta, Ten-chan! – ele veio para me dar um abraço.

Eu não sei de onde tirei a ideia de fazer aquilo, mas aconteceu muito rápido. Eu estava nervosa, angustiada e tudo que eu queria era me livrar das malditas lembranças sobre o cara. Eu queria pelo menos um pouco da alegria do Lee… Ao me abraçar, eu aproveitei e tasquei o maior beijão no meu amigo lutador.

Então constatei que eu também não havia mudado muito. Continuava a mesma sem noção de espaço, sem senso de direção, e pior... Sem vergonha na cara.


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Notas finais do capítulo

Segundo capitulo Ok!
Vish rapaz, é treta! Me contem o que estão achando ;D



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