O Estranho e Improvável Teorema de Nós Dois escrita por Siaht


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!! ;D
Tudo bem com vocês?
Sim, eu sou um ser humano sem nenhum autocontrole e estou postando uma fic nova, mas juro que as outras serão atualizadas em breve.
Espero que gostem, porque estou bem empolgada com essa história! ♥



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Ele se lembrava – com uma clareza assustadora – do dia em que sua vida fora bruscamente retirada dos eixos. Era apenas uma quarta-feira monótona, cinzenta e sem qualquer atrativo. A chuva caía fortemente e sem tréguas desde a tarde anterior, fazendo com que o frio e a melancolia fundissem-se ao oxigênio. Em uma pequena e solitária mesa no – igualmente pequeno e solitário – refeitório da Academia Shoreline para Abortos, Louis Weasley mantinha os olhos fixos à página amarelada de um velho livro sobre a Revolução Francesa, enquanto propositalmente ignorava o macarrão com almôndegas – ou sabe-se Deus o que era aquilo – em seu prato. A poucos metros a água caia por uma goteira, produzindo estalidos ao se chocar com o piso de mármore, algo que se somava de forma irritante aos barulhos dos talheres, às fofocas sussurradas e às risadinhas baixas e maldosas dos demais adolescentes.

Em circunstâncias normais ele estaria bloqueando aquela insuportável cacofonia com seus fones de ouvido e alguma banda indie norueguesa, mas naquela manhã os malditos fones haviam dado um último suspiro e sua bolha pessoal implodido, deixando-o suscetível ao caos que o rodeava. Talvez aquele houvesse sido o primeiro sinal de que sua zona de conforto – e a paz de sua existência – estava ameaçada. Em uma tentativa vã de ignorar o mundo ao seu redor, o garoto ajeitou os óculos e manteve os olhos azuis focados no texto em francês a sua frente, forçando seu cérebro a reconhecer as palavras de seu segundo idioma, aquele que aprendera com a mãe. Se não estivesse tão concentrado na tarefa teria percebido o instante em que todos os burburinhos cessaram – fazendo com que ploc ploc da água fosse o único som preenchendo o ambiente – e a tensão tomou conta da atmosfera.

Se naquele átimo de segundo, Louis Weasley houvesse retirado os olhos do livro e levantado a cabeça teria presenciado o perfeito instante em que Sagitta Malfoy adentrou o recinto, fazendo todos os sorrisos morrerem. Teria visto como a moça manteve o queixo erguido, pegou sua bandeja e, com suas longas botas de couro e uma saia muito mais curta do que o permitido por qualquer um dos códigos de conduta do colégio, caminhou com toda sua dignidade pelo refeitório como se não se importasse com o que nenhuma daquelas pessoas pensava a seu respeito. Se houvesse levantado os olhos naquele momento, o Weasley poderia ter se preparado para o que viria a seguir, no entanto, o instante do impacto não foi evitado. A pária da escola, que na noite anterior tingira os cabelos com um gritante tom de roxo – dando mais motivos para que falassem sobre ela – se dirigiu até a mesa do rapaz, jogou a bandeja ali, espalhando gotas de molho de tomate pela madeira branca, e, sem dizer uma única palavra, se sentou.

Foi apenas aí que a atenção do garoto deixou a Queda da Bastilha e se voltou para o cenário que tentava bloquear. Ao erguer a cabeça seus olhos encontraram espantados o fenômeno – não havia outra palavra para descrevê-la – que era Sagitta Malfoy. Os longos cabelos, agora tingidos, a destacavam como um marca-texto florescente em meio a todo o cinza do refeitório. Havia maquiagem preta em excesso (e um tanto borrada) ao redor dos olhos e os lábios também haviam sido pintados de negro. A moça trazia um grande headfone azul nas orelhas – essas dominadas por brincos e piercings – e ostentava uma pequena argola no septo. As unhas, em um estranho esmalte verde musgo, tamborilavam na mesa. Ainda assim, o mais assustador sobre a menina eram seus olhos de um azul cinzento que deveria emanar gelo, ao fita-los, entretanto, tudo o que Louis conseguiu enxergar foi um crepitar intenso de fogo.

Sagitta o encarou de modo penetrante, como se o convidasse a desafiá-la ou a ordenar que saísse. Todos sabiam que aquela mesa, afastada e deslocada no fim do salão, pertencia a Louis. Era um privilégio de vinha de seu sobrenome, da afeição que despertava nas autoridades e de sua personalidade completamente antissocial. O Wealsey não tinha amigos e não os desejava. Com o tempo todos ali simplesmente entenderam tal conceito e pararam de tentar forçar qualquer aproximação. Durante as refeições ele se sentava sozinho, com seus livros, seus fones de ouvido e a muralha que construíra em torno de si mesmo. E ali estava aquela garota – aquela criatura bizarra de quem ele sequer sabia o nome – penetrando sem autorização suas trincheiras.

Ele poderia tê-la mandado sair, poderia ter sido rude ou tecido um de seus mordazes comentários sarcásticos. Poderia ter dito qualquer coisa, simplesmente aberto a boca e deixado palavras irritadas escaparem. Poderia ter agido de um milhão de formas diferentes. Porém, não fez nada e ainda não sabia exatamente o motivo. Alguma coisa naquela menina esquisita, e no modo como ela o encarava, o deixou, pela primeira vez na vida, sem saber como reagir. Então, simplesmente abaixou o rosto, grato por quebrar o contato visual, e voltou seus olhos para o livro que ainda segurava nas mãos. A menina se manteve muda e sem dizer uma única palavra, delicadamente abriu a bolsa, que largara na cadeira vazia ao seu lado, retirando dela um grosso exemplar com um dragão na capa, o abriu no ponro onde havia pausado a leitura e se voltou para a história de fantasia medieval que tanto lhe agradava.

 Os dois adolescentes se ignoraram mutuamente enquanto liam em silêncio. Apesar disso, a ordem natural do universo já havia sido abalada. Se, naquele momento, Louis Weasley soubesse o que sabe agora, talvez houvesse feito tudo diferente, evitando que a garota se esgueirasse sorrateiramente para seu mundo, trazendo o caos e a desolação com ela. Se Louis Weasley realmente soubesse o que sabe agora, entenderia que era impossível impedir que a menina fizesse o que desejava. Entenderia, acima de qualquer coisa, que era impossível se manter imune ao encanto que Sagitta Malfoy exerceu sobre ele desde o primeiro instante.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Espero que tenham gostado e prometo que o primeiro capítulo logo será postado! ♥

Beijinhos...
Thaís



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