Apesar do cansaço e da vontade de permanecer deitada, precisava se levantar, desenvolveria a sua pesquisa em mais um hospital e não poderia se atrasar no seu primeiro dia. Se sentou na cama e ficou olhando por a fresta da cortina mal fechada, lembrara que sua mãe havia falado algo sobre ter aberto as cortinas e ter limpado o quarto, mas que com certeza não a fechara direito. A luz que entrava por a brecha lhe certava bem nos olhos, os deixando ainda mais claros. A luz não a incomodava tanto, na verdade ela lhe acariciava, como se desse as boas-vindas depois de muito tempo.

O sono não tinha sido dos melhores e muitas coisas poderiam acontecer naquele dia, esse pensamento não deixou que dormisse bem nem no avião e nem em casa, casa... Há muito tempo não chamava aquele lugar de casa.

 A escolha de viajar a noite e chegar à casa dos pais de madrugada foi proposital. Quando chegou, a sua única preocupação foi vestir um pijama na filha e colocar ela em um lugar confortável para que pudesse dormir melhor. Ela e a filha dormiram juntas na sua antiga cama, no seu antigo quarto de quando ainda morava com os pais.

Ainda reunindo coragem para levantar, deu uma olhada no seu antigo quarto, por onde agora estavam espalhadas as malas para serem desfeitas, pensou na falta que sentia do quarto, da casa, dos seus pais, da vida que viveu ali naquela cidade, e sentiu uma pontada ao pensar que para sua filha, aquilo não significava nada. Foi interrompida dos seus devaneios por suaves batidas na porta.

— Pode entrar.

— Bom dia filha, dormiu bem?

— Dormi sim. — mentiu.

— Já passa um pouco da hora do café da manhã, mas eu deixei a mesa pronta para vocês.

— Obrigado.

— Você vai ao hospital hoje?

— Vou. — falou coçando olhos para evitar contato visual direto com a mãe, já imaginava onde aquela conversa poderia dar.

— Tem certeza? Não acha melhor descansar e só ir amanhã?

— Não mãe, eu não posso, já estou aqui, tenho que ir.

— Você deveria ter vindo mais cedo pelo menos.

— Você sabe que eu não podia, corria o risco de eu cruzar mais cedo com... Você sabe que eu não podia.

— Você sabe que isso vai acontecer.

— Eu vou tomar banho, tá bom? — falou se pondo de pé e cortando o assunto. — Quando eu sair, não deixa a Luna dormir muito, se não ela vira o dia assim, e se ela fizer manha, acorda do mesmo jeito.

Emma tomou um banho quente para ajudar a relaxar os músculos que estavam tensos devido a mudança e a viajem, pelo menos era nisso que ela queria acreditar. Quando terminou o banho, se vestiu, e antes de sair, afagou a juba negra e farta de Luna e lhe deu um beijo, mas a menina sequer se mexeu, o que fez Emma rir, a garota sempre fora dorminhoca e sempre deu trabalho para acordar, especialmente quando era para ir para escola.

“Boston Hospital Center, aqui estou eu de novo”, Emma pensou quando chegou à frente do prédio.

— Bom dia Dra. Swan — um homem que estava parado em frente a porta de entrada recepcionou Emma. — Sou o Dr. Locksley, Robin Locksley. — falou estendo a mão, Emma a apertou — Sou membro do conselho e chefe do setor da neurologia, devido as atividades cirúrgicas da nossa chefe do departamento cirúrgico, hoje eu que irei acompanha-la no seu segundo primeiro dia aqui no hospital.

— Prazer, Dr. Locksley, é bom estar aqui novamente. — Emma não o conhecia, com certeza não era do seu tempo, mas ficou grata por ser ele e não outra pessoa.

Robin levou Emma às novas alas do departamento, falando sobre a mudanças que correram e os futuros projetos em vista. Umas das mudanças que ocorrera no hospital tinha sido a mudança na chefia do departamento cirúrgico, mas essa Robin sabia que não precisava comentar, afinal, as pessoas falam, e falam muito, e ele não era surdo, sabia das histórias que tinham antecedido a sua chegada.

— Não imaginei que você fosse filha do David Swan. — falou puxando assunto. — Esses dias estivemos com ele aqui ajudando os nossos técnicos no desenvolvimento de algumas medicações.

— Pois é, o meu pai é um farmacêutico que não aceitou muito bem a aposentadoria.

— Ele é um homem sagaz. Bom Dra. Swan, e é aqui que você irá trabalhar. — falou abrindo a porta de um laboratório.

Para Emma, haviam montando um laboratório completo. Quando a convidaram para voltar e desenvolver o seu estudo lá, ela passou ao hospital uma lista de materiais específicos que seria necessário, porém ali, havia muito mais do que ela tinha pedido.

— Nossa, estou vendo que as coisas mudaram por aqui. — falou entrando no laboratório.

— Espero que possa fazer bom uso de tudo.

— Farei, com certeza farei.

— Tendo esse suporte no hospital, vai diminuir em números substanciais o gasto de tempo e de dinheiro, pois quando precisamos desse tipo de leitura, temos que pedir a outros hospitais ou laboratórios particulares.

— Você já deve saber que esse projeto poderia ter sido desse hospital, e que seriam vocês a estarem implantando ele em outros.

— Sim, eu estou ciente, mas infelizmente eu não estava aqui para dar a minha opinião. Mas apesar de tardar, ele chegou, e o seu projeto de sequenciamento do genoma humano será de grande importância aqui. Nós investimos muito aqui, Dra. Swan, na verdade, não só aqui, nos últimos anos temos investido em pesquisas que nos possibilitem sermos sinônimo de referência.

— Esse é o pensamento de uma gestão visionária.

— As mudanças vem acontecendo desde a renovação quase que completa do concelho e da mudança da chefia do departamento. Bom, no mais, seja bem-vinda, Emma.

 — Obrigado

Procurando esquecer qualquer coisa que tirasse a sua concentração, Emma se focou no laboratório, testou os aparelhos, conferiu a vidrarias, regulou os microscópios e desembalou o que ainda estava embalado, parando apenas para almoçar no refeitório. Lá, viu muitos rostos conhecidos, alguns acenaram e sorriram, e outras a cumprimentaram, porém, para almoçar, sentou sozinha. Inocentemente, acreditou que encontraria poucos conhecidos, e se perguntou como que ela tinha ficado lá, sob tantos olhares curiosos, depois do que aconteceu, quando a própria Emma foi embora.