O Passado Sempre Volta escrita por yElisapl


Capítulo 20
Capítulo 19: Medo avassalador.


Notas iniciais do capítulo

Eu: Depois de um tempo fora do ar, retornamos! Nosso convidado é Oliver.
Oliver: Oi *nos cumprimenta sem animo*
E: O que aconteceu? Ainda triste por Felicity?
O: Sim, aquela mulher mexe comigo.
E: E você com ela.
O: Não, ela nem me quer.
E: PARA DE CHORAMINGAR RAPAIZ! VAI E PEGA TUA MUIÉ, MOSTRA PRA ELA QUEM É O GATÃO!
O: Tem razão! EU SOU O GATÃO!
E: Isso aí! Vamos ao capítulo.



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Eu vou esperar, eu vou esperar 
Eu vou te amar como você nunca sentiu a dor 
Eu vou esperar, eu prometo que você não tem que ter medo 
Eu vou esperar, o nosso amor está aqui e veio para ficar 
Então, coloca sua cabeça em mim 

Sete anos atrás:   

Meu pai começou a bater na porta com força. Fiquei com medo de que ele pudesse chutá-la e abri-la, então, para evitar que aquilo acontecesse, decidi colocar na frente dela a cômoda pesada que havia em nosso quarto.   

Para minha sorte, o quarto que dividia com minha irmã possuía apenas uma maneira de entrar e sair. Comecei a olhar em volta para buscar um jeito de escaparmos dessa situação. Eu não podia ficar em pânico, precisava agir, caso o contrário, algo podia acontecer a mim e minha irmã.   

— Fe, o que está acontecendo? - perguntou Diana se levantando de sua cama, estava nítido o medo que ela sentia naquele momento. - Por que o papai está bravo e gritando? - tentei me concentrar em minha irmã, não na voz que gritava atrás da porta.  

— O papai não é o mesmo, ele fez algo terrível e nós não podemos deixá-lo entrar, me escutou? - falei elevando a voz e pegando nos seus ombros, mas acabei sujando a roupa dela, pois a minha mão esquerda estava segurando a faca.   

— Por que esta faca está com sangue? - ela pergunta recuando de mim. - O que aconteceu? Onde está a mamãe? Conte para mim, por favor – choraminga.   

— Não temos tempo para isso! - afirmei tentando me manter calma. - Me escute: Precisamos sair daqui. Você confia em mim, certo? - ela nada disse, apenas concordou com a cabeça. - Nós vamos sair pela janela e correr o máximo que conseguirmos, entendeu? Não pararemos por nada.   

— Iremos deixar a mamãe? - os olhos dela começaram a lacrimejar novamente. - Não podemos deixá-la! - gritou em desespero, senti o meu coração doer naquela hora. Eu não podia dizer a minha irmã que a nossa mãe estava morta.  

— Ela está bem - menti, sabendo que não era correto iludi-la - Ela está nos esperando do lado de fora, agora temos que ir. - coloquei a faca na cama e tentei abrir a janela. Mas, minha janela sempre teve problemas para abrir, pois era emperrada e mesmo que abrisse, não haveria espaço suficiente para nós duas passarmos. Forcei mais algumas vezes para abri-la, no entanto, minha força foi inútil.  

Comecei a pensar em outra maneira. Se nós saíssemos pela porta, eu não sabia o que podia nos acontecer. Porém, não havia outra saída, a janela não abria, apenas meu pai conseguia abrir, nem mesmo minha mãe que era mais forte comparado a mim.   

— Precisamos nos esconder - declarei para minha irmã que está parada no mesmo lugar olhando para porta com medo. - Esconda-se no guarda-roupa - começo a empurrá-la para dentro dele. - Só saia quando eu mandar! - tento parecer séria, para que daquela maneira evitasse problemas. Fechei as portas do guarda-roupa e comecei a pensar qual seria o meu próximo passo.   

Uma outra ideia veio em minha mente: fingir que havia alguém na cama. No entanto, antes de colocar alguns travesseiros sobre ela, peguei a faca que estava em cima dela.  Com os travesseiros, eu os arrumei na cama e joguei um coberto em cima deles, fazendo parecer que havia alguém deitado nela.   

Apaguei a luz do quarto e deixei apenas o abajur acesso. Quando acabei de arrumar tudo, entrei no guarda-roupa junto com minha irmã e deixei na porta uma brecha para que eu pudesse ver meu pai entrar.   

Esperamos apenas por minutos, até que ele finalmente conseguiu arrombar a porta e entrar. Com a brecha que eu havia deixado, comecei a observá-lo, ele logo se direcionou até a cama e quando puxou o cobertor achando que havia alguém nela, eu abri a porta do guarda-roupa, pulei por de trás dele e o esfaqueie nas costas. Um grito de agonia veio dele, aproveitei minha vantagem, pois ele começou a tentar tirar a faca que ficou parada em suas costas, puxei minha irmã para fora do esconderijo e comecei a arrastá-la comigo.   

No entanto, Diana parou no meio do caminho quando viu o corpo de nossa mãe no chão. Eu a puxei com força, mesmo sabendo que estava a machucando. Nos arrastei até a porta que podia ser nossa saída, mas, ela estava trancada. As chaves não estavam onde nós sempre deixávamos. Isso só podia ser coisa de meu pai. Deixei Diana sozinha por um momento e fui até a outra porta que continha no fundo, mas ela também estava trancada. Quando voltei até minha irmã, ela estava encarando para o corpo morto de minha mãe, chorando.   

Se houvesse tempo para nós, eu também pararia e começaria a chorar juntamente com ela. Entretanto, avistei meu pai caminhando até nós e precisei puxá-la para subirmos as escadas.   

No andar de cima possuía apenas três cômodos. Quarto dos meus pais, banheiro e escritório de meu pai. Tentei ver qual seria o melhor lugar para se trancar e opinei pelo quarto, nele havia uma janela na qual nós podíamos usar para sair da casa.   

Logo que entramos, eu tranquei a porta e arrastei a cômoda pesada que também havia no quarto deles até a porta. Eu peguei todas as roupas que havia no guarda-roupa de meus pais e  comecei a amarrar uma na outra, para poder fazer uma corda que com ela íamos usar para descer na janela.   

— Fe - a voz de Diana saiu tão baixa que quase nem ouvi. - O que aconteceu com a mamãe? Ela está doente? O que era aquele sangue todo?  

— Não se preocupe. - falei indo até ela e abracei-a. - Todas nós vamos ficar bem, apenas confie em mim. - me afastei um pouco dela e me inclinei para ficar no mesmo tamanho que o dela. - Eu irei te proteger, nada irá te acontecer – declarei a ela com tanta certeza e tanta esperança, que não havia outra razão para pensar o pior.    

— Eu acredito em você! - a sua confiança que depositou em mim havia me enchido ainda mais de pensamentos positivos. Lembro que pensei: Nós vamos sair dessa.   

Voltei a amarrar os panos, consciente que se eu demorasse ainda mais, meu pai entraria no quarto e faria a mesma coisa que fez com minha mãe. Ao acabar de confirmar que dei um nó e que está preso, abri a janela e joguei a minha corda de panos. Prendi na cama para evitar que não desamarrasse quando eu descesse.   

— Você precisa descer primeiro - pedi para Diana, ela apenas concordou e começou a descer. Eu tentei ajudá-la ao máximo enquanto minha preocupação se aumentava. Estávamos ficando sem tempo, pois do outro lado da porta meu pai estava tentando abri-la.  

Quando confirmei que minha irmã estava segura no chão, comecei a descer também. Eu estava quase perto da minha chance de escapar de tudo isso, no entanto, meu pai apareceu na janela. Ele desamarrou a corda que fiz e me faz cair com tudo no chão.   

Para minha felicidade, eu não estava tão longe do chão, evitando que minha queda causasse algo irreversível. Apenas bati minha cabeça e desmaiei. Não sei por quanto tempo fiquei inconsciente, apenas me lembro de acordar e ver a minha irmã com os olhos em cima de mim e segurando minha cabeça.  

—  Você precisa acordar, Fe! - gritou ela para mim. - O papai está vindo, ele vai nos machucar - com o desespero dela, tentei me levantar mesmo com a tamanha dor em minha cabeça e em meu braço. Tentei correr, mas acredito que eu não estava correndo nada rápido.   

— Acha mesmo que irão fugir de mim? - vociferou meu pai. - Não há como escapar - por mais difícil que fosse para mim admitir, ele estava certo. A minha perna me atrasava, eu não conseguia correr tão rápido quanto desejava, então, para evitar que nós duas fossemos pegas, eu pensei em algo, ou talvez não pensei, minha cabeça estava em um estado ruim, deve ter sido por isso que foi uma má ideia.   

— Diana, eu quero que você continue correndo. Vá até alguma casa e ache alguém para nos ajudar. Eu ficarei aqui e segurarei nosso pai. Acha que pode fazer isso?  

— Não! - foi fácil notar o medo em sua voz. - Nós precisamos ficar juntas. O papai vai te machucar, sabe disso. - a situação não era as das melhores para nós. Não havia ninguém que morasse perto de nós, levaria cerca de dez minutos ou mais para ela encontrar alguém que nos ajudaria.  

— Eu estou ferida, não irei longe, mas você sim. Eu preciso que seja corajosa, preciso que se salve e que peça ajuda. - falei fitando sua íris negras. - Agora vai! - berro e ela me dá um rápido abraço e volta a correr.   

Me viro e começo a caminhar na mesma direção que meu pai. Era complicado evitar o medo que sentia, eu não conseguia deixar de senti-lo, mas estava tudo bem, pois Diana ia conseguir ajuda e se manter segura. Eu consegui protegê-la conforme prometi a minha mãe.   

— Desistiu de fugir? - inquiriu meu pai se aproximando de mim. O seu olhar de prazer ao ver que meu braço e perna estava machucado e que ele foi a razão disto, me machucou muito mais que a dor física. Eu não disse nada, não conseguia, o medo me sufocava para me permitir dizer. A única coisa que pensava era: Eu não posso morrer.   

Para minha felicidade temporária, meu pai decidiu voltar para dentro da casa e me arrastou junto, nós não falávamos nada. Não havia o que falar. Ele apenas parou de me arrastar quando chegamos perto do corpo de minha mãe. Eu não conseguia olhá-la para ela de novo. Vê-la sem vida. Mas, eu nem precisei, pois meu pai bateu em minha cabeça me fazendo desmaiar novamente.   

Quando acordei, eu sentia que algo estava errado. Eu não estava presa e nem amarrada, o que era estranho, meu pai nem se quer fez esforço para me colocar em outro lugar, apenas me deixou desmaiada ao lado do corpo de minha mãe.   

Decidi ir até a cozinha, no caminho não encontrei meu pai, então aproveitei para pegar uma faca e dar outra olhada para ver se as duas portas de casa estavam trancadas, porém meu pai não era burro e as manteve fechadas.  

Ao voltar para onde o corpo de minha mãe estava, notei que no corredor, onde se direciona ao meu quarto, uma luz estava acessa e com isso comecei a ir até ela, contudo, preparada para qualquer coisa que pudesse me acontecer.   

Quando cheguei ao meu quarto, a cena que vi me fez questionar o que estava acontecendo e se eu estava tendo alucinações. Quando entrei dentro dele, vi meu pai colocando Diana para dormir. Estava claro no rosto dela que ela não queria e que estava com medo, mas ele estava tentando tranquilizá-la.  

Uma parte de minha queria perguntar o que ele estava fazendo, a razão dele ter feito essas coisas, ter assassinado minha mãe, aterrorizado a mim e minha irmã. No entanto, não adiantava perguntar naquele momento.   

Eu não podia aceitar o que estava acontecendo. Era para Diana estar a salva e segura, mas meu pai não a deixou ir, ele provavelmente pegou seu carro e começou a procurá-la, um veículo com certeza foi mais rápida que ela. A raiva começou a crescer dentro de mim, as seguintes palavras se repetiam em minha cabeça: Isto não é certo, isto não é certo.  

 Quando os olhos de Diana focaram em mim, meu pai notou e se virou para trás, entretanto, antes que ele pudesse pensar em fazer qualquer coisa, eu o esfaqueei no ombro e desta vez levei comigo a faca. Minha irmã não pensou duas vezes e saiu da cama para vir comigo.   

Nós duas subimos novamente para o segundo andar e fomos até o quarto de meus pais. No entanto, não havia mais como sair, a janela estava trancada e mesmo que eu a abrisse, não tinha como impedir de meu pai entrar, a porta não fechava mais. Fomos até o banheiro, mas não havia nenhuma maneira de sair, não tínhamos como fazer uma corda com roupas, não tínhamos como pular a janela, simplesmente não havia nada para nos ajudar, apenas uma faca.   

Rapidamente, criei um pequeno plano sem garantias de que ia dar certo. Fiz com que minha irmã se escondesse atrás da cortina do banheiro, eu fiquei atrás da parede, apenas esperando o momento certo. Os passos ficavam mais pertos e eu tinha noção de que uma hora ou outra que nosso pai ia entrar. Antes dele ir ao banheiro, ele foi até seu escritório, pois reconheci o som de chaves, meu pai sempre o mantinha trancado.  

Foi estupidez minha pensar que ele não iria adivinhar que eu estava escondida atrás da parede, só me toquei da burrice que fiz quando meu pai me puxou para fora do banheiro e me jogou no chão.   

— Onde está sua irmã? - inquiriu com raiva.  

— Nunca irei dizer.  - afirmei com ódio. Faria de tudo para protegê-la.   

— Isso não importa, eu a encontrarei e levarei comigo, já você, bem, eu levarei para o lugar que devia estar há muito tempo – suas palavras me atingiram como um soco, não podia deixar de jeito algum ele levar Diana de mim, deixá-la nas garras dele, eu precisava impedir.   

Me levantei do chão, peguei a faca que tinha caído e tentei acertá-lo, no entanto, eu não tinha forças e não adiantou em nada fazer o esforço. A única coisa que fiz, foi deixar meu pai furioso e fazê-lo tomar uma atitude que resultou em uma coisa terrível. Tudo por culpa minha.    

— Estou farto disso. Estou farto de você! - gritou meu pai para mim, após me empurrar para cair novamente, mas desta vez com mais força, fazendo com que doesse ainda mais. - Isso tudo vai acabar, você sempre foi um peso em minha vida – ele retirou de suas costas uma arma, o medo ficou maior e tomou conta de meu corpo, eu simplesmente não conseguia reagir, não conseguia me movimentar – Está na hora de me livrar desse peso.   

Meus olhos fecharam automaticamente. Não havia nada para se fazer. Mesmo que eu tentasse fazer qualquer coisa, seria em vão. Não tinha como evitar. Mas isso não queria dizer que aceitei, eu não queria morrer. Eu não podia morrer. Não era correto deixar Diana nas mãos de meu pai, eu ainda precisava protegê-la, não podia simplesmente desistir.   

Ao escutar o som de tiro, pensei: Eu falhei, sou uma grande falha. Não consegui proteger ninguém, eu apenas fiz promessas vazias.  

No entanto, após ter passado segundos e eu não ter sentido nenhuma dor, nada em mim, abri meus olhos e avistei o motivo do tiro não me acertar.   

Minha irmã entrou na frente.   

Não sei como e quando, mas apenas vi seu corpo caindo no chão e eu me arrastei até ela. Muito sangue saia dela e eu tentei pressionar o sangramento, os olhos dela estavam fechados e eu temia o pior.   

— Diana – sussurrei seu nome – Por que fez isso?  - puxei seu pequeno corpo para mais perto de mim, como se isso fosse ajudá-la – Minha irmãzinha, minha princesa – comecei a balançar seu corpo. O choque não me deixava pensar em nada e eu não queria acreditar no que acabara de acontecer. - Vamos, você precisa acordar - implorei – Era para mim te proteger, não ao contrário! - berrei sem me importa.   

Meus olhos desviaram de minha irmã quando escutei a arma cair no chão, na minha frente estava meu pai com um olhar inexpressivo. Acho que não estava nos planos dele matar sua pequena menina. Foi algo inesperado.   

De repente, o medo sumiu de mim. Afastei-me do corpo de minha irmã e peguei a arma. Comecei apontar para meu pai enquanto me levantava. Ao conseguir ficar completamente em pé, encarei os olhos do homem que não reconhecia mais.   

— O que pretende fazer? - questiono-me ele – Vai me matar? Acha que tem coragem para isso? Acha que apenas por estar sentindo raiva vai conseguir?   

— Cala a boca! - decidi segurar a arma com as minhas duas mãos, para ver se eu parava de tremer. - Eu te odeio! Você é um monstro!   

— Então por que não aperta o gatilho? - um sorriso se abriu em seu rosto. - Vai em frente, acabe com tudo isso. Me mate – eu queria muito mostrá-lo o quanto ele estava errado. Eu conseguia, ao menos pensava que sim.  Quando apertei o gatilho, senti meu coração parar, a arma estava sem bala e com isso o sorriso de meu pai se aumentou ainda mais, contudo nem me importei.   

Com a decepção de não conseguir matá-lo, apenas aceitei o fato de que não havia mais nada para se fazer. Joguei a arma no chão sem me importar, a faca que ia usar para matá-lo estava também no chão, eu podia pegá-la, porém não peguei. Eu estava cansada. Eu apenas queria que tudo acabasse. Eu queria que me levassem junto com minha mãe e minha irmã.   

— Não sou um monstro igual a você - desviei meus olhos dos deles. Caminhei até o pequeno corpo de Diana e me sentei ao seu lado, logo em seguida coloquei o corpo dela em cima dou meu novamente.  

Eu não me importava em morrer, não mais. Antes, eu queria viver para proteger Diana, no entanto, quem me protegeu foi ela. Não sei por qual razão, não consigo ver o que veio na cabeça dela querer me salvar, mas mesmo assim fez. Deu a vida por mim, como minha mãe também deu. E eu não as vinguei quando tive chance. Eu deveria, era o correto. Se eu pudesse voltar naquele dia, eu teria matado meu pai, teria torturado ele, teria acabado com ele. Mas não posso voltar.   

— Não se preocupe, Felicity – falou meu pai chamando minha atenção. - Eu não irei matá-la, há outros planos para você - afirmou tirando um pano de seu bolso e o usando para pegar a arma, evitando que suas digitais aparecessem nela. Ele jogou a arma ao meu lado - Não pensei que fosse apertar aquele gatilho, tive sorte que não havia balas, caso o contrário eu também estaria morto igual sua mãe e sua irmã.  

Um sorriso insano se abre novamente em seu rosto.   

 -  Confesso que eu te subestimei, você realmente possui os traços de seu pai. É uma assassina.   

— Eu não sou nada parecida com você! - afirmei sem olhá-lo.  

— Tem razão, pois você ainda se importa. Tem medo de tirar uma vida, isso precisa mudar e eu sei como posso ajudá-la – ele falou essas coisas sem sentido para mim e eu não senti vontade alguma de respondê-lo, não valia mais a pena. - Se prepare, pois sua vida acaba de começar - declarou se afastando de mim e começou a descer as escadas, me deixando sozinha com o corpo morto de minha irmã. Eu apenas a abracei mais forte.   

Atualmente:   

É difícil ver alguém partir, principalmente porque a culpa é minha. No entanto, continuo acreditando que fiz a coisa certa. Se eu deixasse que Oliver ficasse comigo, nesta cidade, ele ia descobrir ainda mais coisas de mim. Coisas que não contei a ninguém, pois sempre foi doloroso demais para mim repetir.    

Quando tive certeza de que Oliver não está mais na cidade, saquei uma boa quantia de dinheiro e fui até um hotel barato, porém perto dos lugares que eu irei precisar, aluguei um quarto e paguei com o dinheiro, pois assim evita que minha pessoa seja reconhecida. Por hora não quero que ninguém saiba que estou na cidade.   

Tento dormir um pouco, mas meu esforço é em vão. Meus olhos não se fecham, pois eu sei e tenho medo de rever as imagens novamente. Para evitar de ficar no quarto sem fazer nada, decidi sair e dar uma volta na cidade.  

Depois de horas perambulando e evitando o único lugar que eu realmente queria ir, voltei para o hotel e peguei o meu celular. Havia algumas mensagens de Sweet, Bruce e Diggle. Todos perguntando a mesma coisa: Você está bem?    

Uma pergunta simples, mas tão difícil de respondê-la. Eu não me sinto bem, mas não é por estar em minha cidade e reviver os terríveis acontecimentos. É por ter magoado Oliver. Seu olhar quando eu pedi para que fosse embora me machuca. De todos, ele é o que eu mais desejo que esteja ao meu lado. No entanto, eu sei que não posso ser egoísta.   

Se eu pedisse para que ele ficasse, ele ia entender que eu o quero – mesmo eu realmente o querendo - não posso deixá-lo saber. Não quero manter laços ainda mais profundos, eu vim a Starling City para tentar ajudar as pessoas, não me envolver com elas.  

Depois que eu resolver a situação de Blue, precisarei recomeçar. Irei embora da cidade e não quero que Oliver sofra, eu quero ele seja livre para poder seguir em frente, para ser feliz como eu tanto desejo a ele.   

Respiro fundo e me levanto da cama, já amanheceu, está na hora de começar a fazer minhas coisas. Primeira coisa a fazer: comprar uma roupa descente.   

Vou até uma loja de roupas e compro apenas o necessário para os seguintes dias que passarei aqui. Após terminar minha compra, volto ao hotel para me trocar. Visto um jeans e uma camisa com manga longa na cor rosa. Deixo meu cabelo solto, apenas coloco uma presilha que prende apenas um lado.  

Decido ir à biblioteca, onde eu posso fazer minhas impressões para poder ler os jornais e qualquer informação sobre o que aconteceu com minha família. Usei uma hora para poder imprimir tudo que eu preciso. Comprei até uma pasta para poder deixar tudo organizado e guardado, evitando de perder os papeis.   

Sinto uma fome e decido ir até a lanchonete, nela eu posso tomar meu café da manhã e ler enquanto como. Fui de a pé, pois a biblioteca é perto, além do mais, não tenho carro e não me importo em andar.  

Fiz o meu pedido e comecei a comer enquanto lia os arquivos. Eu estou tão focada em achar algo nos meus textos que não noto várias pessoas se aproximando de mim. Apenas percebo quando uma delas decide falar comigo.   

—Você é Felicity Smoak? - questiona uma mulher com um bebê no colo, não a reconheço, talvez seja uma nova moradora na cidade - Não adianta mentir, sabemos que é você - o tom de voz dela é tão repugnante que começo a sentir raiva.  

—Se sabe, por que perguntou? - indago seca. Desvio o meu olhar dela e apenas começo a fingir que estou lendo para ver se me deixam em paz, no entanto, me mantenho atenta para qualquer coisa. Não sei do que essas pessoas são capazes.   

—É realmente a filha do diabo! - afirma um homem. - Nós não queremos a filha do diabo aqui, vá embora!   

—Por que está me chamando assim? - pergunto curiosa, mas mantenho meu rosto inexpressivo. Não quero que tirem precipitações de mim.  

—Ninguém assassina a mãe e a irmã sem motivo, a menos é claro se for o diabo, pois ele faz coisas ruins por puro prazer, tudo que acontece de mau é culpa dele. Porém você não é ele, é a filha dele.   

Simplesmente não consigo evitar de soltar uma gargalhada. Havia me esquecido o quanto a minha cidade era bastante religiosa.   

—Essa é a coisa mais estupida que escutei – digo tentando conter minha risada. - Acreditam mesmo nisso? Se sim, é melhor terem cuidado, caso o contrário irei levá-los direto para o inferno – o homem pega na cruz que está em seu pescoço e se afasta de mim.   

—Não queremos problemas, senhorita. Apenas queremos que saia, nossas crianças não fizeram nada de ruim a você, elas não merecem sofrer e nem ninguém nesta cidade - pede a mulher que está segurando o seu bebê.  

Interessante o pensamento dessas pessoas. Eu também não merecia sofrer, não merecia nada do que aconteceu comigo, mas ninguém fez nada para evitar. Ninguém quis escutar o meu lado, apenas me julgaram e continuam julgando.   

—Eu não irei embora – afirmo e desvio o meu olhar das pessoas que pensam que eu sou uma pessoa horrível, cruel e sem emoções. Nenhum deles sabem o motivo pelo qual eu virei o que sou hoje.   

Muitas ofensas começam a vir em respeito a mim. Por mais que sintam medo do que eu possa fazer, de acharem que irei jogar alguma maldição neles, isso não os impede de me machucar, mesmo sendo apenas psicologicamente. Pensam que o que estão fazendo é o certo. Livrar o mundo do mau.   

—Filha do diabo! - gritou outro homem.   

—Vocês todos estão errados - todos param de me encarar e decidem olhar para a pessoa que fez o comentário - Felicity Smoak é um anjo comparado a vocês. Cada um de vocês parecem ser o próprio demônio, ofendem essa mulher sem saber a história real.   

—E por acaso você sabe, meu jovem? - eu continuo sentada, entretanto, paralisada e sem saber o que fazer, apenas fixo o meu olhar para o papeis a minha frente.  

—Sei muito mais que vocês e podem ter certeza de que todos irão se arrepender quando souber o que realmente aconteceu. Quando souberem que passou anos julgando uma pessoa inocente, eu estarei ao lado dela, vendo a culpa começar a surgir no rosto de cada um.  

—Aposto que nunca esteve nesta cidade e não tem ideia de como ela funciona. Irá se arrepender de fazer ameaças vazias, meu jovem.   

—Vocês não gostariam de mexer com um Queen. Minha família possui muito poder, um que nenhum de vocês possui e nunca possuirá.   

Começo a pegar minhas coisas e deixo dinheiro na minha mesa. Aproveito que ninguém está olhando para mim e saio rapidamente sem ser notada. Decido voltar para o hotel e começo a andar ainda mais rápido.  

Como eu pude ser tão ingênua ao pensar que aquele maldito velho do cemitério não diria a ninguém sobre minha pessoa? Eu odeio as pessoas daqui, se elas morressem não fariam falta para mim, principalmente se eu for a causadora da morte delas!   

Droga, não acredito que acabei pensando em uma coisa horrível como essa. Eu não posso matá-las, não posso machucá-las, só porque estou sentindo raiva e ódio delas. A culpa não é deles, meu pai fez com que todos acreditassem que eu sou uma louca e eu o ajudei.   

Não estou aqui para lamentar, estou aqui para contar a verdadeira história. Contar quem realmente causou a morte de minha família, tentar limpar e tirar o sobrenome Smoak da desgraça que meu pai colocou.  

—Felicity? - olho para trás e quando vejo a pessoa que me chamou, acelero ainda mais meu passo. Para minha infelicidade, levar várias coisas nas mãos e correr com elas não fica nada fácil, pois é complicado segurá-las sem deixar cair.  

Fico surpresa quando sou empurrada para o chão e acabo caindo na grama, evitando de me machucar por completo.  

—Sai de cima de mim, Oliver! - começo a bater em seu corpo com raiva. Não acredito que ele me derrubou no chão para evitar que eu continue correndo.  

—Sairei se prometer não correr – diz me fitando, mas evito de olhá-lo nos olhos.   

—Não vou correr – com a minha afirmação, ele se levanta e me ajuda a levantar. - Olha só o que fez – digo pegando alguns papeis que acabaram saindo da pasta.   

—Só fiz isso porque não parou – explica me dando um papel. Eu o pego o de sua mão com raiva, depois de guardá-lo, Oliver pega em minha mão - Olhe para mim, Felicity – pede com uma voz calma.    

—O que quer, Oliver? - pergunto impaciente. Não acredito que ele está aqui, depois de tudo que eu falei, depois de machucá-lo, ele ainda está aqui.   

—Quero que olhe para mim – devagar, eu faço o seu pedido. Sinto meu coração doer ao ver seus olhos cansados. Parece que ficou a noite toda acordado. Continuamos a nos encarar por mais alguns segundos até ele quebrar o silêncio - Eu estava preocupado com você.  

—Eu falei que não preciso de sua ajuda. Falei que podia ir, não tinha nada com que se preocupar -  digo tentando parecer convencida e com raiva. Mas, eu não sentia nenhum pingo de raiva, sentia uma felicidade egoísta por saber que Oliver não me abandonou.  

—Isso não quer dizer que nunca deixarei de me preocupar com você - sinto minhas pernas balançarem. - Sabe que sempre me importarei com você - ele abre um pequeno sorriso.  

—Problema é seu – afirmo emburrada, mas não consigo segurar a risada. Merda, esse homem mexe comigo sem fazer esforço.  

—Caramba, você é realmente difícil - declara pegando a pasta da minha mão e a jogando no chão.   

—Oliv... - ele faz com que eu pare de falar colocando um dedo em meus lábios. Não demora muito para seus lábios se juntarem com os meus e nossas línguas se encontrarem.   

Nós começamos a nos beijar com intensidade, com saudade. É como se fizesse anos que não nos víamos, que não nos beijamos. Enquanto provamos o sabor novamente de nossas bocas, nossas mãos se entrelaçaram e nossos corpos se aproximaram ainda mais.  

Quando o ar se fez presente, Oliver para de me beijar e me abraça com tamanha força que pensei que seria esmagada. Tento abraçá-lo na mesma intensidade, fazendo com que eu abra um enorme sorriso.   

Ficamos abraçados por minutos e só paramos para voltar a nos encarar. É tão bom ver seus olhos azuis, sentir sua respiração próxima de mim, sua pele tocada na minha me fazendo arrepiar e ficar com um frio na barriga.   

—Felicity, eu não irei embora. Não vou deixá-la, eu irei ficar e ajudá-la no que for preciso. No entanto, antes de começarmos uma busca por respostas, eu quero que me mostre onde era o seu lugar favorito de ir quando criança, quero conhecer sua vida antes da terrível tragédia.   

—Você quer? - ele assente. Começo a encarar os olhos a minha frente enquanto penso.   

Eu quero que Oliver me conheça, pelo menos a antiga eu, a garotinha inocente. Mas se eu fizer isso, irá nos aproximar ainda mais e não conseguirei me afastar dele. Contudo, parando para raciocinar, não há mais como me distanciar.   

Mesmo eu magoando Oliver, mesmo ele indo embora, ele voltou. E parece que sempre será assim, não importa o quanto eu tente me afastar ou afastá-lo, no final, ele acaba voltando para mim e eu para ele.   

—Aceito sua proposta – digo pegando do chão minha pasta. - Siga-me, irei mostrar a você o lugar que Felicity Smoak aprendeu a se tornar uma especialista em computador - começamos a andar e apenas paramos quando ficamos de frente a uma lan-house. Nós entramos no lugar e eu pude notar rapidamente a diferença. - Antigamente, nesse lugar não havia muitos computadores, apenas três. Quando eu tinha por volta dos meus seis anos, minha mãe me trouxe com ela, enquanto eu apenas olhava, ela mexia. Porém, ela não estava conseguindo acessar, então foi pedir ajuda a dona.   

Deixo um sorriso escapar dos meus lábios.  

—Desde pequena sempre fui curiosa, então quando vi uma oportunidade para mexer no tão misterioso computador, eu mexi. Comecei a clicar no lugar que eu achava certo. Depois de alguns minutos, minha mãe apareceu com a mulher e ambas notaram que eu tinha conseguido acessar. Nunca vou esquecer das palavras de Lydia Martell, a dona do lugar: Pelo visto temos uma gênia. Depois de seu elogio, ela se ofereceu para me ensinar a mexer. Claro que precisei insistir muito para minha mãe deixa e quando comecei a aprender nunca quis parar, me tornei amiga de Lydia, até trabalhei para ela, mas por volta dos meus dezesseis anos, ela se mudou para outra cidade e eu nunca mais recebi notícias dela.   

—Estou imaginando você pequena e aprendendo a mexer no computador – diz Oliver rindo. - Aposto que foi difícil para ela te ensinar, você não deve ter facilitado muito.   

—Nem sempre eu fui teimosa, Oliver. - começo a rir com ele. - Além do mais, a minha teimosia aparece apenas quando você está por perto.   

—Devo me sentir ofendido? - nego com a cabeça e pego na mão dele.  

—Venha! Há outro lugar que quero que veja - começo a puxá-lo e depois continuamos andando de mãos dadas.   

Para o meu alivio, ninguém me parou na rua para dizer qualquer ofensa a mim. Na realidade, passei despercebida, Oliver foi quem chamou toda a atenção, muitas mulheres passaram olhando e o secando. Confesso que senti uma pontada de ciúmes, mas não tinha o que fazer e o que falar. Oliver é um homem que deve ser apreciado.   

—Qual é a razão de vir a um parquinho? - pergunta ele, enquanto eu me sento em um balanço que está um pouco enferrujado.   

—Foi aqui que dei o meu primeiro beijo – declaro com certa vergonha, no que deu na minha cabeça falar disso para ele?   

—Com quem? - começo a balançar algumas vezes, apenas por saudades.  

—Não sei quem era, eu tinha quinze anos e estava cuidando da minha irmã. Um jovem, acho que era uns três anos mais velho que a mim, sentou ao meu lado e começou a conversar comigo. Me lembro de reparar na beleza dele e me sentir totalmente tímida com ele, desviei por um segundo os meus olhos dos dele e quando voltei a olhá-lo, ele se aproximou de mim e me roubou um beijo - suspiro ao me lembrar do belo rapaz de cabelos longos e olhos verdes. - Depois o jovem simplesmente saiu correndo e nunca mais o vi e nunca soube o nome dele.  

—E nem quer saber – acrescenta Oliver na minha história, não sei se é por ciúmes, mas não pude segurar a minha risada. - Estou errado? - uma das suas sobrancelhas se levanta.   

— Não. Você está totalmente certo - afirmo e paro de balançar, me levanto e vou até ele, coloco meus braços em volta do pescoço dele e o fito. - Quer acrescentar uma memória maravilhosa, aqui e agora? - seus lábios se curvam em um sorriso e sua cabeça apenas balança em concordância.  

Nos aproximamos lentamente, como naqueles filmes de romance. Mas em vez de nos beijarmos direto, eu comecei a depositar vários beijos em sua boca e em seu rosto. Enrolo o possível, porém Oliver não aguenta, me inclina para baixo e me rouba um beijo feroz.   

Suas mãos seguram minha cintura para que eu não cair, as minhas estão segurando seu rosto. Uma sensação de borboletas voando em meu estomago começa a aparecer e o arrepio em meu corpo. Espero nunca deixar de sentir essas sensações, pois elas são incríveis e só sinto elas com Oliver.   

Isso significa que, enquanto eu manter Oliver comigo, eu sentirei tudo. No entanto, ele também sente? Eu não posso ser a única a sentir, não posso mantê-lo comigo porque apenas eu sinto essas sensações, estou tentando deixar de ser egoísta.   

Céus, é tão complicado ser uma pessoa correta e fazer o certo. Pensar na felicidade da outra, mesmo que custe a sua própria foi sempre fácil para mim, pois eu sempre abri mão de tudo pelas pessoas, mas, parece que abrir mão de Oliver é algo tão errado, tão difícil. Talvez, um grande talvez, eu não seja um erro para ele, nós podemos ficar juntos, apenas dependerá de mim e minha vontade.   

Antes de tomar uma decisão precipitada, sem pensar igual fiz quando eu o mandei embora, ire conversar com ele. Oliver não é um brinquedo que posso usá-lo como eu bem entender, mandá-lo embora quando não quero escutá-lo e fazê-lo ficar quando sinto sua falta e quando estou sozinha.  

Meus pensamentos param por um segundo quando eu sinto Oliver chupar o meu pescoço com força e me fazer suspirar pesadamente.   

—Da onde tirou isso? - pergunto o encarando surpresa.   

—Eu quero que quando se lembrar deste lugar, se lembre de mim, não daquele rapaz. Apenas de mim, prometa-me - pede me fitando e eu quase solto uma risada por ver o seu lado ciumento, ao menos parece ser ciúmes.   

—Eu prometo que, quando eu me lembrar deste lugar, me lembrarei apenas de você, pois é o único que importa – deposito um leve selinho em seus lábios e o faço me soltar para poder ficar em pé corretamente. - É melhor irmos.   

—Há mais algum lugar para me mostrar? - nego com a cabeça.   

—A minha pessoa não era de sair muito, os únicos lugares que eu ia era para escola, lan-house, biblioteca e parquinho. Poucas vezes saía para tomar um sorvete com minha irmã e desviar caminho. Além do mais, quando eu voltava para casa, minha mãe sempre estava lá, o que sempre foi uma maravilha.   

—Bom, sendo assim, posso lhe pedir outra coisa? - indaga com hesitação.   

—Você vai acabar pedindo do mesmo jeito – abro um inocente sorriso.  

—Hoje, apenas hoje, vamos curtir a presença de nós dois?  

—Como assim? - perguntando rindo.  

—Eu quero ficar apenas com você. Sem nenhuma preocupação, sem pessoas interrompendo – a minha cabeça acaba pensando em algo nada correto e sinto minhas malditas bochechas corarem.   

—Oliver, nós não vamos fazer nada indecente – afirmo tentando não usar a palavra que vem a minha mente. Eu nunca fui tímida, porém algo que não posso e não consigo fazer é amor com alguma pessoa.   

—Nós não vamos, iremos fazer apenas o que você mandar – concordo levemente com a cabeça. - Onde está hospedada?   

—Em um hotel barato.   

—Você vai pegar suas coisas e vai ficar comigo na casa que aluguei. - arregalo os olhos.   

—Como assim alugou uma casa?   

—É o único lugar de luxo que é digno para você. - sinto meu coração se acelerar com o seu comentário. Amo quando ele se importa comigo e como demonstra.   

—Está bem! - sorrio. - É melhor irmos, estou cheia de fome, antes de irmos direto à casa, podemos pedir algo para almoçarmos, que tal?  

—Não. Eu irei preparar o nosso almoço.   

—Olha, eu tento não fazer de você meu cozinheiro, mas quando não faço, você mesmo se oferece para ser.   

—Gosto de vê-la degustando minha comida e a vendo suspirar – ele me dá um sorriso sacana.   

—Oliver! - o advirto e o soco levemente no ombro. Isso não o impede de continuar sorrindo, me obrigando a sorrir juntamente com ele.   

Nós fomos até o hotel no qual me hospede, para meu alivio o atendente não estava lá. Então peguei minhas coisas que por sorte estavam ainda no meu quarto, talvez o moço que trabalha neste hotel não soube de mim.   

A casa que Oliver alugou é realmente uma das melhores – ou a melhor – desta cidade. Eu me lembro dela, ela sempre foi a mais arrumada e bonita. Por sorte as pessoas mantiveram a casa em um bom estado e, além dela ser linda, fica um pouco afastado da cidade (não tanto quanto a minha ficava).   

Rapidamente colocamos minhas poucas coisas no nosso quarto - as coisas dele já estão lá - e andamos até a cozinha. Enquanto Oliver prepara nosso almoço, pego em meu celular e confiro se há alguma mensagem de Sweet ou Bruce. Não há de ninguém.   

—O que está procurando? - inquira abrindo a geladeira e pegando alguns alimentos.  

—Achei que haveria mensagens em meu celular – digo colocando o aparelho no mármore e então cruzo os braços sobre o peito. - O time sabe que está aqui?  

—Sim, contei a eles que nós dois vamos ficar fora alguns dias para resolver uma coisa - ele começa a cortar os legumes.  

—Espere, está dizendo que não irá voltar para Starling quando anoitecer? - pergunto preocupada. - A cidade precisa de você.   

—Até pode precisar, porém é você quem necessita mais. Já lhe disse que não deixarei resolver isso sozinha, não ire te abandonar – ele para de cortar e me olha. - Esqueceu-se?  

—Não. Mas tem certeza de que quer ficar aqui, com a filha do diabo? - digo irônica, chega até ser engraçado, pois se eu for pensar bem, meu pai não era nada bom, parecido com o diabo, talvez não erraram em me apelidar deste jeito.   

—Sabe que não é verdade. Aquelas pessoas não a conhecem, pois se conhecessem, saberiam que você é como um anjo – eu abaixo o meu olhar e tento esconder o meu sorriso melancólico.  - Não há maldade em você, nós dois sabemos disso. A única coisa que lhe aconteceu, foi o azar de ter presenciado algo tão terrível.   

—Por que tem tanta certeza de que não existe maldade alguma em mim? - inquiro curiosa. Mesmo eu nunca demonstrando ser uma pessoa diferente, do tipo que opina por violência, isso nunca quis dizer que sou uma santa, mas parece que para Oliver significa isso.   

Escuto um suspiro cansado dele, provavelmente porque acha que isso não é necessário ser explicado. No entanto, ele não sabe que para mim é difícil acreditar nisso.   

—Posso lhe perguntar algo? - concordo, mesmo não entendendo a razão. - Por qual motivo acha que sua mãe colocou seu nome de Felicity? - procuro por uma resposta razoável, mas nada vem a minha mente – Deve ser porque você foi a felicidade dela, porque quando nasceu ela quis deixar claro o que você sempre significou a ela, a felicidade dela – não, eu não significo isso a ela, pois se significasse, eu não seria a causa da morte dela e ela estaria viva - E também traz felicidade para mim. Caramba, Felicity! Ontem, ficar sem você, sem escutar sua voz, sem vê-la depois da patrulha foi a pior noite para mim. Eu não me lembro mais das noites na qual eu patrulhava e você não estava lá.   

—O que mudou, Oliver? - crio coragem para perguntá-lo – Eu lembro que você me tratava de maneira rude, sempre curto e grosso. Tanto na arque, quanto na empresa. Sempre buscava corta os assuntos comigo, apenas comigo me tratava diferente, de maneira difícil. Então, pode me dizer o que mudou entre nós?   

—Meus olhos se abriram – friso a testa não entendendo, mas ele pega em minha mão e começa acariciá-la – Meus relacionamentos sempre deram errados e pensei que não seria diferente com você. Eu preferia continuar a ser o seu amigo, ou melhor, o Oliver rude e sem educação, mas que podia ficar com você sem ser estranho ou desconfortável. Além do fato de saber que, quando acabasse, eu iria sentir falta e saber que perdi a melhor coisa que posso ter em minha vida.   

—Mesmo pensando deste jeito, você tentou, por quê? - pisco meus olhos não acreditando no que estou ouvindo, Oliver nunca fora muito aberto sobre seus sentimentos e nem os explicava, nós avançamos muito nesses últimos dias.   

—Porque você ia me abandonar – o encaro surpresa, não me lembro de alguma vez que afirmei a ele que ia abandoná-lo - Naquela noite que você disse que precisava deixar o time, aquilo mexeu comigo, quando você disse que estava namorando, aquilo me deixou irritado. Eu não podia permiti-la sair, eu precisava de você e ainda preciso.   

—Mas você não tem medo? - franzo o cenho – Medo de nós acabarmos e acontecer o que você menos quer?  

—Ainda tenho, mas o meu desejo de estar com você é maior, muito maior. - ele deposita um pequeno beijo em meus lábios e volta a cozinhar.  

Enquanto ele prepara, eu começo a pensar em nossa relação. Eu achava que a única pessoa que tinha algum medo era eu, pois Oliver nunca demonstrou sentir alguma insegurança, mas agora sei que ele sente.   

Seu medo é compreensível, pois as mulheres que ele amou, algumas morreram ou a relação deles não acabaram bem. Sua preocupação é em me perder, igual a minha. Mesmo ele não sabendo, nós dois nos colamos em risco. Oliver por ser o Arqueiro e a mim por ser Babydoll, minha vida está na mão dele e a vida dele em minha mão.  

Para os nossos inimigos, isso é a nossa fraqueza, mas para nós dois é o que nos deixa forte. Quando estamos separados, nós dois agimos sem pensar e com violência, se não é física, é por palavras. Mas, quando estamos juntos, funcionamos perfeitamente, pois um consegue equilibrar o mundo do outro.   

Agora, olhando para o homem a minha frente, eu tenho certeza absoluta que não posso mais fugir dele. Não importa o quanto eu tente, não importa quanto medo eu sinta, ele é quem importa.  

Quando a comida ficou pronta, nós almoçamos tranquilamente e Oliver não me decepcionou, preparou um verdadeiro prato de cozinheiro e tive que aguentar os seus comentários nada decentes e provocativos.  

Após nós arrumarmos a louça, deixo Oliver na cozinha e começo a dar uma volta pela casa, apenas admirando sua beleza. As paredes dos corredores são azuis, o chão é de madeira clara, há bastantes plantas e flores, do jeito que gosto. Essa casa seria a escolha perfeita se eu fosse querer morar com Oliver.   

Caramba, minha cabeça foi longe. Pensar em morar no mesmo teto que Oliver? Fazer coisas juntas como um casal? Quem sabe em um futuro, por agora nós nem estamos namorando, estamos apenas aproveitando a companhia um do outro.  

Decido parar de pensar em coisas que não são possíveis agora e vou dar uma olhada na sala. Grande, confortável e muito arrumado, há dois sofás da cor branca, uma mesa de madeira no centro e logo atrás dela uma televisão. De repente, sinto o cansaço de não dormir pensar em meus ombros, aproveito que estou perto de um sofá e deito nele, fecho meus olhos e apenas escuto o som do ventilador girando.  

—Olha só o que encontrei – afirma Oliver. Eu abro meus olhos e o vejo se aproximando de mim com duas taças e um vinho.   

—Vamos encher a cara? - pergunto apenas por diversão e me sento corretamente para que ele possa sentar ao meu lado.   

—Não. Nós vamos comemorar.   

—Comemorar? - friso a testa e pego o copo que me oferece. - Sobre o quê?   

—Sobre sua empresa – declara colando vinho em meu colo e eu continuo não entendendo – Quando a senhorita limpar seu nome, quando todos souberem que Felicity Smoak é na realidade um anjo, elas irão depender de você.   

—Certo, mas o que tem haver meu nome com uma empresa? - encaro confusa.   

—Sua empresa – me corrige – Ontem, na volta, eu observei e notei que essa cidade não possui uma indústria igual a Queen Consolidated. Mas, em breve terá e será em seu nome.  

—Whow – o olho surpresa. Tento respondê-lo, mas me perco por um segundo.  

Nesses anos nunca passou por minha cabeça ter uma empresa minha, principalmente em minha cidade. Desde que meu pai me tirou dela, nunca pensei em retorná-la e achei que nunca voltaria. No entanto, eu estou aqui e não estou sozinha, Oliver está comigo e me apoiando, mesmo querendo saber das coisas que me aconteceram, pois vejo em seu em seu olhar a curiosidade, ele quer que eu conte, mas espera que seja por vontade própria e não por obrigação.     

Ter uma empresa com o meu sobrenome, com o da minha família, isso significa muito para mim. Eu sempre estive me mudando de cidade em cidade, nunca fiquei parada, pois considerava um perigo para mim, me preocupava que Blue pudesse me encontrar. A única cidade que fiquei e ainda estou morando por muito tempo é Starling City.    

Não será necessário eu permanecer na minha cidade, apenas precisarei vir algumas vezes aqui para ver como as coisas estarão funcionando. Irei cuidar dela, como cuido da empresa de Oliver. Honrarei o nome Smoak e tudo isso será graças a um Queen. Um Queen que magoei.    

 - Por que fez isso, Oliver? - inquiro me sentindo culpada.   

— Por você - responde, colocando sua taça em cima da mesa e eu faço o mesmo.   

— Mesmo depois de eu te magoar? Gritar com você? Oliver, eu sinto muito por ontem, fiz aquilo por pensar que seria o melhor para você.   

— O melhor? - franze o cenho.   

— Sim, pois as pessoas a minha volta costumam se machucar. Eu não quero isto para você, porque não merece. Eu quero que seja feliz e sempre irei querer. Voltar a minha cidade, me fez lembrar das coisas horríveis que aconteceu comigo e que não posso fazer ninguém feliz.  

— Está errada. Você pode e faz, talvez não perceba, mas me faz muito feliz, não somente a mim, como a todos que estão a sua volta. Todos os seus amigos, todos que se importam com você. Pare de pensar que não pode.  

— Isso é difícil - desvio os olhos dos dele e começo a olhar para minhas mãos, como se houvesse sangue nelas. - É algo que faço há anos, desde que minha mãe e minha irmã morreu – suspiro pesadamente.   

— Façamos o seguinte: Toda vez que pensar nisso, irá falar comigo, pois irei acalmá-la.   

— Mas e se eu pensar nisso em relação a você? Como pensei ontem?  

— Vai fazer do mesmo jeito - ele pega em meu queixo e me faz voltar a fitá-lo. - Combinado?   

— Sim -  eu o faço me soltar e pego as duas taças de vinho, uma entrego a Oliver e a outra eu levanto para que possamos brindar – Um brinde a esse nosso acordo e que eu consiga realiza-lo.   

— Você irá conseguir – diz com veemência, eu sorrio e nós dois brindamos com a certeza de que irei fazer o nosso combinado. Agora eu tenho Oliver.  


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Notas finais do capítulo

Ah, esse otp! ♥



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