Marinette respirou fundo e deu três batidas na porta da sala de Damocles, o diretor do filme. Ela tinha recebido uma mensagem dele dizendo que precisavam conversar, e estava torcendo para não ser nada ruim.

— Pode entrar. – ouviu a voz do homem e assim o fez – Sente-se, por favor. – a azulada assentiu e sentou na cadeira em frente à mesa dele.

— Aconteceu algo? – ele suspirou.

— Infelizmente sim. Depois da leitura coletiva do roteiro, recebi uma ligação do estúdio para fazer umas modificações. Vou marcar uma reunião para contar para os outros, mas queria falar com você primeiro, afinal é a estrela do filme.

— Que modificações?

— Acontece que Gabriel Agreste e André Bourgeois acreditam que esse filme vai ser um sucesso e por isso investiram também, o que é muito bom, mas eu tenho que aceitar as condições. – Marinette estava começando a se preocupar. Os dois eram nada menos que, respectivamente, o pai do Adrien e o pai da Chloé. Eles eram empresários famosos em suas áreas e amigos, consequentemente tinham muito poder juntos. – Bem, os personagens deverão se chamar como seus atores.

— No caso a identidade civil da Ladybug agora será Marinette? – ele assentiu – Mesmo sobrenome, ou...

— O sobrenome eu posso mudar. Mas eles quiseram os mesmos nomes, pois assim a imagem dos atores vai estar diretamente ligada a imagem do personagem.

— Bem, isso não é tão ruim. A não ser que o filme fracasse, não que eu acredite que vá, é só um exemplo. Eles pediram mais alguma coisa?

— Existem alguns pontos no roteiro, mas a maior é que pediram para a Chloé ser a Ladybug no seu lugar. – Marinette ficou paralisada, não sabia o que pensar. Tinha adorado o papel e se sentia confiante para interpretar a heroína, não queria que isso fosse tirado dela, tinha se preparado muito. – Mas eu disse que se isso acontecesse, eles podiam esquecer o filme e o meu roteiro eu venderia para outro estúdio. Não vou fazer esse filme com uma Ladybug que não seja você, por isso que eu te escolhi para o papel. – a azulada sorriu sentindo um enorme alívio no peito. Ela e Damocles já haviam trabalhado em dois filmes de sua carreira anteriormente, eram amigos e se ajudavam profissionalmente.

— Eu não sei como te agradecer.

— Marinette você merece, é a melhor atriz que eu conheço. A única coisa que peço em troca é para ter um pouco de paciência com essas mudanças, realmente não é minha culpa. Estou fazendo de tudo para entregar o filme do jeito que eu quero.

— Certo, prometo ser paciente. E sobre essas mudanças no roteiro, como são exatamente?

— Basicamente eles querem que eu altere o tom do filme. Eu queria fazer algo mais sombrio e com sentimentos reais dentro da mitologia que eu criei, mas eles querem que seja algo bem família e não muito complexo, pois assim abrange um público maior. – ele suspirou e se escorou na cadeira – Não é que eu não goste, mas esse não é o tom que eu quero para o meu filme. – Marinette se sentiu mal pelo amigo, sabia que filmes feitos com pressão do estúdio nem sempre se davam bem, afinal, eram duas visões de um mesmo roteiro. A azulada sabia que Damocles tinha competência e que sua ideia era ótima, mas também sabia que não era difícil encontrar pessoas como o pai de Adrien e o pai de Chloé, que só pensavam no retorno financeiro e não na arte em si ou em agradar o público.

— Olha, vamos fazer o possível para fazer o seu filme acontecer, não se preocupe.

***

Marinette desferiu uma sequência de socos no saco de areia, sentindo sua raiva ir embora aos poucos. Não que ela estivesse completamente brava, mas queria se livrar do sentimento ruim antes que piorasse.

— O que faz acordada a essa hora? – Alya entrou na academia do prédio onde ela e Marinette estavam dividindo um apartamento. As duas não moravam em Paris, mas como as gravações aconteceriam lá, alugaram um apartamento para ficar enquanto gravavam.

— Aliviando a tensão. – desferiu mais alguns socos. Desde o último filme, onde Marinette tinha interpretado uma guerreira chinesa, a azulada tinha começado a treinar para melhor suas habilidades e não necessitar tanto de dublês.

— Ah, ainda está irritada com as modificações. – Marinette parou para tomar água e sentou na poltrona ao lado da amiga.

— Na verdade não estou tão irritada, só acho que eles tinham que parar de ficar colocando pressão se já aprovaram o filme.

— Isso aconteceu apenas por causa do Adrien e da Chloé, aqueles metidos idiotas!

— É errado querer que eles explodam?

— Finalmente você está enxergando a vida como eu! – as duas riram – Vamos lá, vou fazer meu famoso chocolate quente e nós vamos dormir, pois amanhã é o primeiro dia das gravações e precisamos estar maravilhosas.

***

Alya observava as reações de Chloé e não sabia se ria ou se comemorava. A loira estava visivelmente irritada por seu plano de tirar Marinette do lugar de protagonista do filme ter dado errado.

— O que está fazendo? – a morena deu um pulo com o susto que Nino tinha dado nela.

— Caramba! Nunca mais faça isso!

— Desculpa, mas quem você pensou que fosse? Um maluco? – o garoto riu.

— Ah claro, porque alguém chegando à espreita do nada, é alguém completamente normal. – o sorriso dele se transformou em uma careta.

— Confesso que fiquei magoado.

— Eu estava brincando! – foi a vez de Alya rir – Mas enfim, eu estava observando as reações histéricas da Chloé. É como observar animais selvagens, eles são perigosos mas podem fazer um completo espetáculo. – Nino caiu na risada.

— Alya, você é demais! – ao mesmo tempo que Alya e Nino conversavam, Marinette tentava tomar coragem para conversar com Adrien.

Não que a azulada tivesse medo ou vergonha, só que Adrien era uma pessoa completamente imprevisível, não tinha com saber o que ele falaria ou faria e Marinette odiava pessoas assim. Ela se sentia transparente, não precisava ser decifrada, era verdadeira, ao contrário do loiro.

— Infelizmente esse filme não vai acontecer se você não for a Ladybug. – Chloé apareceu da frente de Marinette, fazendo a mesma dar um pulo por conta do susto. – Mas fique sabendo que às vezes o coadjuvante acaba roubando a cena, não fique brava quando isso acontecer. – a azulada decidiu não revidar, não queria causar um tumulto já que as coisas que a loira falava, não a atingiam mais – Vou repassar o roteiro, espero que quebre a perna!

— Obrigada. – Marinette estranhou mais agradeceu. A expressão “Quebrar a perna!” significava “Boa Sorte!” para os artistas cênicos.

— Não, eu espero que você quebre a perna de verdade. Assim eu posso ficar no seu lugar, beijinhos! – Chloé beijou a mão e soprou, saindo para o lado de Sabrina, deixando Marinette sem reação.

— O que a loira metida queria? – Alya chegou na frente da amiga.

— Ela disse para eu quebrar a perna.

— Porque ela faria isso? Ela deveria estar irritada com você. – disse a morena estranhando a reação.

— Você não entendeu, ela disse para eu realmente quebrar a minha perna. – explicou.

— Agora sim essa é a Chloé.