Se Eu Fosse Você [Hiatus] escrita por KL


Capítulo 3
Capitulo 2




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Temari

Cheguei à entrada da vila um pouco depois do nascer do sol. Suspirei de forma pesada conforme andava até minha casa no bairro do clã Nara, pedindo aos céus que Shikamaru já tivesse saído para trabalhar. Eu estava fora fazia dez dias, três a mais do que minha missão requeria e eu sabia que isso poderia gerar mais uma briga das incontáveis que estávamos tendo no último ano, mas eu realmente queria ficar longe por uns dias e colocar meus pensamentos em ordem.

Adentrei a casa em silêncio. Tudo estava perfeitamente arrumado, ainda que uma fina camada de poeira cobrisse os móveis. Shikamaru nunca foi bagunceiro, tanto pela preguiça infindável de arrumar quanto pela criação de minha sogra, e Shikadai não era diferente. Os dois nunca me davam trabalho de verdade e sempre que possível me ajudavam, mesmo agora quando meu casamento estava indo tão mal e ele nunca tinha tempo, Shikamaru não deixava as coisas para eu fazer sem necessidade.

Deixei minhas coisas no quarto que dividíamos, a cama arrumada me fazia pensar se ele tinha dormido em casa todos esses dias. Shikamaru nunca tinha passado a noite fora em todos nossos anos casados a não ser quando uma missão requeria, e eu me sentia quase culpada de pensar algo assim, mas todos os dias que ele chegava tarde da noite, às vezes de madrugada, e todas as folgas que ele simplesmente não tinha, sem nenhuma explicação além de estar trabalhando, faziam com que esse tipo de pensamento começasse a aparecer em minha mente.

Deixei o quarto e tomei um banho demorado. Estava com saudade de casa. Fazia dezesseis anos que eu chamava Konoha de casa e eu nunca tinha me arrependido de mudar para cá, casar com Shikamaru, ter Shikadai. Mesmo naquela situação em que meu casamento se encontrava, eu ainda assim não me arrependia, mas me sentia cansada, frustrada e irritada com tudo aquilo. Às vezes me sentia idiota por ainda acreditar nele, ainda confiar.  Eu queria entender o que estava acontecendo com meu marido e queria que nossa convivência voltasse ao normal.

Terminei meu banho e coloquei uma roupa leve, deitando na cama por cima do lençol. Puxei o travesseiro de Shikamaru e o abracei, sentindo seu cheiro que mesmo depois de tantos anos ainda fazia meu coração acelerar. O cansaço dos três dias de viagem me abateu e eu dormi logo, mesmo com os pensamentos conturbados em minha mente.

OoOoOoOoOoOoOo

Shikamaru

Naruto havia se lembrado de avisar que Temari chegaria hoje apenas depois da hora do almoço, que na verdade foram dez minutos para engolir a refeição comprada, o que me deixou totalmente impossibilitado de tentar me organizar e voltar mais cedo para casa. Eu estava morto de saudades, mas também estava ressentido com a forma que ela estava lidando com as coisas após nossas brigas. Eu realmente queria sentar e conversar com ela, mas não havia o que eu pudesse dizer além do que já foi dito. Meu casamento estava por um fio, eu sentia isso e mais ainda me sentia de mãos atadas.

O sol se punha no horizonte e eu tragava o cigarro devagar na varanda da minha sala. Ali havia um cinzeiro que era esvaziado todo dia, mas todo dia voltava a se encher. Eu estava fumando cada dia mais, a situação me deixava nervoso e eu descontava dessa forma. Eu sabia que não poderia sair dali nas próximas horas, mesmo Temari tendo chego hoje de viagem. Naruto e a vila precisavam de mim e eu precisava que ela entendesse isso, o que ela não vinha fazendo ultimamente.

Suspirei pesadamente. Eu estava sendo injusto. Temari havia sido paciente até demais com toda aquela situação. Antes que nós começássemos a discutir por isso, foi-se quase um ano. Um ano aonde eu chegava tarde quase todos os dias e praticamente não tinha folga e não podia explicar para ela porque aquilo estava acontecendo. Eu chegava cansado, irritado por mais um dia frustrante de um problema sem solução, e isso continuou a se repetir por mais todo o tempo até aqui. Vergonhosamente, eu tinha que admitir que nem para sexo eu vinha tendo energia ou vontade, e eu sabia que toda essa falta de atenção e todo esse segredo sobre o que eu vinha fazendo haviam levado minha não tão paciente esposa ao limite.

Mas ela conseguir fazer Naruto mandá-la para missões em Suna sempre que brigávamos estava me esgotando também. Temari não era covarde, mas ela parecia estar fugindo dos confrontos que ela mesma iniciava. As brigas quase sempre eram começadas por ela, não que eu fizesse muito esforço para pará-las de qualquer forma. Novamente, eu estava a culpando por algo que nem era mesmo sua culpa.

Joguei a bituca do cigarro fora e voltei para dentro da sala. Me esforcei para me concentrar em minhas obrigações, tentando não me distrair e pensar em minha esposa problemática. Quanto mais rápido achássemos uma solução para aquilo, mais rápido minha vida voltaria ao normal.

E talvez eu conseguisse salvar meu casamento.

OoOoOoOoOoOoOoOo

Shikadai

Quando eu cheguei em casa, minha mãe estava fazendo o jantar. Ela sorriu para mim e me abraçou e eu me senti acolhido, a sensação de abandono se dissipando com seu carinho. Minha mãe podia ser uma mulher problemática e mandona, mas também sabia ser doce comigo e com meu pai. Sentei-me à mesa, ajudando-a a cortar alguns ingredientes e conversando. Ela perguntou como estavam minhas missões, eu perguntei como foi sua ida e volta para Suna, sua estadia e como estavam meus tios e meu primo. Conversamos por todo o preparo do jantar, mas ela não estava relaxada ou tranquila. Olhava constantemente para a entrada de casa e eu só torcia para meu pai chegar logo de uma vez em casa.

Mas as horas passaram, eu coloquei a mesa para três, nós nos sentamos e nada do meu pai chegar. Mamãe não me encarou, ficou olhando para o próprio prato, os olhos opacos e, se eu não a conhecesse, diria que ela estava prestes a chorar. Ela me serviu, serviu a si própria, sem falar nada. Eu pensei em dizer algo, mas algo em sua expressão fez eu ficar quieto. Comecei a comer, mesmo que totalmente sem fome, enquanto via ela remexer em seu prato. Terminei de comer sem que ela tivesse levado uma única porção à boca.

—Você tem missão cedo amanhã. –ela disse, tirando a mesa, jogando a comida de seu prato fora, me lembrando do que eu tinha dito mais cedo para ela. –Vá dormir, filho.

—Mãe... –eu chamei e ela me olhou.

Eu me aproximei e a abracei. Ela demorou um momento para me corresponder e eu notei como estava praticamente do tamanho dela. Ela passou seus braços finos pelos meus ombros e me apertou de leve. Nos soltamos alguns segundos depois, e trocamos um olhar cúmplice de mãe e filho. Eu a deixei sozinha, indo para meu quarto, mesmo que eu quisesse ficar com ela.

Quando cheguei no quarto, puxei o pergaminho que eu havia achado na biblioteca de uma pilha que eu tinha em um canto. Minha mãe não mexia nas minhas coisas a não ser que fosse para limpar e ela provavelmente não notaria nada de diferente em um pergaminho novo entre os outros, mesmo que ele fosse de fato mais velho. Abri o mesmo, pensando se era mesmo uma boa ideia tentar usar essa jutsu e ver se meu pai se colocava um pouco no lugar da minha mãe e ela no dele.

Eu comecei a aprontar o que era necessário para fazer o jutsu, mesmo achando que eu não iria usá-lo. Desenhei em um outro papel os ideogramas e círculo que instruía no pergaminho, coloquei os nomes dos meus pais nos respectivos lugares destinados a eles. Fiquei trabalhando naquilo por quase duas horas e depois fiquei mais uma tentando identificar algum erro. Quando me senti satisfeito, chegando à conclusão que estava perfeito, decidi que podia guardar enquanto decidia se usava ou não.

Nesse momento, meu pai chegou.

Dois minutos depois, ele e minha mãe estavam discutindo em alto e bom som.

—Você absolutamente acha que eu tenho que estar aqui a seus serviços para a hora que o senhor bem entender, não é? –escutei ela gritar com ele.

—Temari, você sabe que não é bem assim... –meu pai falou mais baixo, mas a voz dele estava alterada também.

—É assim, sim, Shikamaru! –ela respondeu –Eu trabalho o dia inteiro, faço missões, chego em casa e cuido dela, cuido do nosso filho, do nosso jantar, das suas roupas e do seu conforto e mesmo assim você não pode nem chegar na hora depois de eu ficar dez dias fora.

—Você ficou dez dias fora porque quis. –ele respondeu –Sua missão, que também foi você que quis, tinha duração de sete. Três pra ir, um em Suna, três para voltar.

—Claro que fiquei porque quis! –ela respondeu –Quem é que iria querer voltar para casa, pra essa droga que está nosso casamento e sem nenhuma explicação?

—Eu já te expliquei milhares de vezes. –ele respondeu soando exausto –Eu estou trabalhando. Naruto precisa de mim, a vila precisa de mim.

Uma pausa, os dois ficaram quietos por um momento e eu apurei os ouvidos, querendo saber que fim ia dar essa discussão.

—Não é só a vila que precisa de você. –a voz da minha mãe saiu mais baixa e mesmo um pouco dolorida.

Meu pai bufou audivelmente.

Eu cansei de ouvir aquilo e numa decisão quase totalmente impensada, abri o papel onde eu havia desenhado e traçado toda a configuração do jutsu. Conferi rapidamente os selos e os executei, transferindo chakra pra palma da minha mão e encostando no centro do círculo que havia no pergaminho. Uma luz azulada ofuscou minha visão por um momento e eu caí para trás, fazendo barulho, mas meus pais não pareciam ter escutado nada daquilo ou visto, pois continuaram:

—Eu queria ver você no meu lugar! –meu pai falou alto.

—Eu queria ver você no meu lugar! –minha mãe repetiu tão alto quanto.

Os dois bufaram e continuaram em uníssono:

—Você só pensa em você. –se acusaram –O problema é esse! Se eu fosse você...

A frase morreu no ar e eu solucei, frustrado. Não parecia que o jutsu tinha funcionado.

OoOoOoOoOoOoOo

Temari

Nós nos encaramos em silêncio depois da frase que havíamos falado juntos, nossas respirações estavam levemente aceleradas por conta da discussão acalorada

—O quê?  -falamos juntos novamente.

Revirei os olhos

—Vai repetir tudo que eu falo? –perguntei, levantando as sobrancelhas.

Shikamaru bufou.

—Não. –ele respondeu e desviou o olhar, foi até a geladeira e a abriu.

Ele estava dando a briga como encerrada e eu até cheguei a abrir a boca para continuar, mas me sentia esgotada demais para isso.

—Quer saber? –perguntei –Tem comida no fogão. Boa noite.

Senti os olhos dele em minhas costas enquanto eu sumia pela entrada que levava à nossa sala. Fui para o quarto, tirei as roupas que eu usava e coloquei uma camisola, me deitando na cama. Eu não estava com sono, tendo dormido a maior parte da manhã, mas também não estava com vontade de fazer mais nada. Meu casamento estava por um fio e a única pessoa que podia fazer algo para mudar isso não parecia interessado. Fiquei encarando a janela fechada, deitada de lado, de costas para a porta, repassando a briga de hoje e a última que tivemos antes de ir pra Suna na cabeça, tentando achar uma lógica em tudo isso, tentando entender se Shikamaru me deixava pistas do que acontecia em suas falas e eu que não estava percebendo. Senti os olhos arderem, mas segurei o choro. Ele sempre foi um estrategista melhor e, se ele estava me dando informações, eu não estava conseguindo achá-las.

Não sei quanto tempo se passou entre minhas reflexões, mas a porta do quarto se abriu, Shikamaru entrou e foi até o banheiro da nossa suíte, eu não o olhei em nenhum momento, sem sair da posição que eu estava. Eu esperava que ele fosse se trocar, pegar seu travesseiro e um lençol ir para o sofá, como ele tinha feito ultimamente em todas as nossas brigas. Mas ele saiu do banheiro e apagou a luz, senti o lençol se levantar e o colchão afundou com seu peso. Franzi o cenho.

—Oras, vai me dar honra da sua companhia essa noite? –perguntei irônica. –Não vai dormir no sofá?

—Não começa, Temari. –ele pediu impaciente. –A cama é minha também, vou dormir aqui.

—Faça o que você quiser. –mandei.

Ele bufou, mas não me respondeu. Fiquei ainda um bom tempo encarando o nada, sentindo Shikamaru tão perto de mim na cama, seu calor a menos de um palmo de distância de mim. Eu queria tocá-lo, estava com saudade dele. Mais do que os dez dias longe, fazia algum tempo que não tínhamos um contato mais íntimo e eu desejava isso. Mas Shikamaru não se moveu, nem mesmo para me abraçar e eu me limitei a ficar encarando o escuro, contendo a vontade de chorar.

OoOoOoOoOoOo

Shikamaru

A luz da rua que entrava pelas frestas da janela iluminavam muito pouco o quarto, mas dava pra ver os contornos de Temari ao meu lado. Eu queria tocá-la, trazê-la para meus braços e dormir sentindo seu calor, mas se eu tentasse, era quase certo que ela iria me repelir, estando irritada com toda a situação, e eu não estava em condição de lidar com uma rejeição, então só fiquei encarando a silhueta de minha mulher até adormecer.

Acordei um pouco depois do nascer do sol, como todo dia. Fazia tanto tempo que eu acordava esse horário que nem de despertador mais eu precisava. O que me era estranho ainda, pensar sobre isso e eu acabava evitando. Eu tinha me tornado o cara que eu não queria ser quando era um adolescente, mas eu não achava isso de todo ruim.

Levantei da cama me sentindo estranho. Cocei os olhos e bocejei longamente. Sai do quarto, entrando na porta um pouco mais a frente no corredor.

—Shikadai. –chamei duas vezes, vendo o menino espalhado na cama de bruços  –Acorde, o Hokage vai estar te esperando dentro de uma hora.

Shikadai resmungou alguma coisa ininteligível e se apoiou nos cotovelos, mostrando que estava acordado. Eu saí do quarto e escutei sua voz sonolenta questionando:

—Mãe...?

Franzi o cenho, me perguntando porque ele estava chamando por Temari, mas eu próprio estava com sono e ignorei isso. O amontoado que era minha esposa dormindo na cama encolhida me chamou a atenção por um momento, até pensei em acordá-la com um beijo, mas deixei pra lá. Entrei no banheiro da suíte e liguei a torneira, os olhos um pouco fechados ainda por conta do sono. Joguei água no meu rosto, esfregando os olhos, afastando o cabelo da cara, passado o dedo por eles e sentindo a textura mais áspera e grossa do que de costume. Franzi o cenho, mas não dei muita importância, passando os dedos pelos fios e tentando desfazer os nós que pareciam mais difíceis de tirar do que o habitual. Suspirei, desistindo e pegando um pente e correndo os olhos para o espelho do banheiro, para talvez entender o que diabos tinha acontecido com o meu cabelo.

Os olhos verdes de Temari me fitaram de volta do espelho em uma expressão estranha. Olhei para trás rapidamente, esperando encontrar ela atrás de mim, mas não havia ninguém. Arregalei os olhos, olhando para o espelho novamente, não me vendo no espelho. Apenas Temari. Levei a mão ao rosto e o toquei e a imagem de Temari repetiu meu ato.  Franzi o cenho, tentando entender o que estava acontecendo.

—Kai! –exclamei, fechando os olhos e fazendo o selo necessário com a mão.

Abri os olhos, esperando que se fosse um genjutsu, estivesse desfeito. Mas não foi o que aconteceu. Ainda eram os olhos de Temari que me devolveram o olhar quando eu olhei para o espelho. Uma sensação de pânico dominou meu peito.

—Temari! –chamei, a voz feminina de minha esposa saindo de minha boca, muito mais fina por conta do horror daquela situação, ainda sem deixar de encarar o espelho. –Temari!

—O que é? –uma voz grossa soou vinda do quarto e, quando eu não respondi, reconhecendo minha própria voz, eu apareci na entrada do banheiro.

Nós nos encaramos, eu arregalei os olhos –ou seria Temari? – ao me ver –ou se ver. Belisquei meu braço, eu só podia estar sonhando.

—Que brincadeira idiota é essa, Shikamaru? –eu falei, franzindo o cenho.

Ou seria ela? Minha cabeça rodou, confusa. Eu não estava sonhando, meu próprio beliscão latejando em meu braço.

—Não é uma brincadeira. –eu disse –Se olhe no espelho!

Eu –ela – franziu o cenho e se adiantou até o espelho. Seus olhos se arregalaram.

—O que...? – perguntou exasperado.

Ou exasperada? Céus, o que diabo estava acontecendo?

Encaramo-nos de novo, eu vendo meus olhos, ela vendo os dela. Eu –ela –respirou fundo e juntou as mãos no mesmo selo que eu tinha feito a alguns minutos, os olhos fecharam e disse:

—Kai!

Os olhos abriram e olhou para mim.

—Não é um genjutsu. –eu disse o obvio

—Jura, idiota? –ela exclamou. –O que é essa merda?

Encaramo-nos de novo, o pânico dominou nas minhas feições refletiam nas suas –ou das suas refletiam nas minhas.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam dos pensamentos do Shika e da Tema sobre a situação? e Sobre a troca de corpos? O que será que vai acontecer agora? :O

Comentem pfv!



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