Beauty and the Beast escrita por Kosaki
Não sei por onde começo a explicar, mas nos últimos meses, a minha vida mudou em todos os aspectos possíveis. O que era uma rotina comum, corrida e exaustiva, se tornou algo completamente surreal. Afinal, quem tem uma empregada dragão? Talvez você não acredite, mas eu tenho. E agora a minha vida é completamente diferente por causa dela. E a maneira como meu coração funciona também. Claro, ele continua bombeando sangue como sempre, mas tem alguma coisa diferente. Talvez a Tohru saiba algo sobre isso. Era a primeira vez em que eu tirava férias por um longo tempo, e durariam apenas uma semana, mas mesmo assim, eu estava aliviada.
- Kobayashi-san, o que quer que eu faça pro café da manhã? - Tohru indagou, já segurando sua escamosa cauda.
- Nem pense nisso, eu já disse que não como rabo de dragão. Tohru bufou, e eu sorri. Aquela cena era praticamente diária, mas mesmo assim, todos os dias, aquilo ainda me fazia rir um pouco.
- Tem planos pra essa folga? - Tohru parecia animada.
- Talvez... Lembra quando eu disse que eu estava com vontade de visitar meus pais? Talvez... E agora que a Kanna também está de férias... Talvez nós possamos visitá-los, faz tanto tempo... Eles ficariam felizes em conhecer vocês.
Tohru mal pode conter o sorriso. Obviamente, ela estava completamente animada pra conhecer os pais de Kobayashi, e determinada a obter o respeito e admiração deles. Embora estivesse um tanto apreensiva, pois claro, ela é um dragão de uma outra dimensão e claro que nem todos os humanos a aceitariam, mesmo sem demonstrar que ela fosse um, na mesma intensidade estava feliz, pois finalmente conheceria os progenitores de Kobayashi, que botaram aquela belezura no mundo.
- SIMBORA CONHECER SOGRÃO E SOGRINHA - A empregada exclamou, num salto de pura alegria.
- Tohru, mantenha a calma, mulher. Ainda é só um talvez. E talvez eu não vá.
- Por que você não iria? Eles são seus pais e você não os vê faz muito tempo, como você mesma disse!
- Não sei. Só talvez. - Peguei uma lata de cerveja que estava em cima da mesa, com minha mente se distanciando um pouco enquanto o som da latinha se abrindo ecoava em minha mente.
Logo, comecei a me lembrar do passado. Minha infância, o quão aconchegante era o abraço da minha mãe, quão reconfortantes eram os risos e piadas do meu pai... Assim que eu comecei a faculdade, eu fui embora para ter minha própria independência, afinal, os passarinhos nunca ficam no ninho a vida toda. Eu não consigo me recordar da reação deles quando eu parti. Eu… não consigo. Eu imagino se eu acabei por decepcioná-los.
- Kobayashi-san? - A voz de Tohru interrompeu meu dilúvio de memórias. - O que foi?
- Nada. Quer saber? Iremos até lá. Hoje eu vou sair e comprar as nossas três passagens. Eu, você e a Kanna, nós três iremos visitar meus pais.
Tohru acenou com a cabeça, mas ela parecia um tanto preocupada. Não me importei muito, minha prioridade agora era a visita.
Algumas horas depois, lá estava eu, voltando para casa após comprar nossas passagens. Tohru tinha se oferecido para ir comprá-las, mas eu queria fazer isso sozinha, com minhas próprias mãos, afinal, eram os meus pais. Ainda não acreditava que eu havia feito isso. Minhas mãos ainda tremiam, e eu mal sabia o porquê. Meu coração doía um pouco.
- Cheguei. - Saudei Tohru e Kanna, que havia acabado de chegar da casa de Saikawa.
- Bem-vinda, Kobayashi! - As duas dispararam, com um largo sorriso no rosto. Pelo que parece, Tohru já deve ter deixado escapar a notícia bombástica para a nossa pequena loli gótica. "Deixado escapar" entre aspas, pelo jeito.
- Olá. Passagens compradas, amanhã de manhã botaremos o pé na estrada. - Exclamei, com um sorriso.
Passei o resto do dia assistindo TV e cochilando, afinal, folgas são para isso. Os únicos momentos em que passei acordada foram quando Tohru e Kanna pulavam em cima de mim, sem conseguir conter a animação. Bom, na verdade a Tohru pulava e Kanna se agarrava firmemente à sua cauda, fazendo um esforço notável para manter-se ali e acompanhar a animação da empregada dragão. Meu cansaço dos dias anteriores de trabalho, no entanto, foi o que me derrubou e possibilitou minhas sonecas contínuas, mesmo com aquele trenzinho da alegria sendo contra elas.
No meio da noite, eu acordei. Olhei para o relógio do lado da minha cama. 4:06 da manhã. Eu não sentia um pingo de sono, não que isso seja surpresa, já que dormi quase o dia todo. Resolvi ir à sacada, observar as luzes noturnas da cidade e o céu estrelado. O que me faltava de sono, sobrava em preocupações. Em minha cabeça, eu só conseguia ver meus pais desapontados comigo e desgostosos por conta da minha saída de casa anos atrás. Bufei profundamente, junto com a brisa da madrugada, que parecia bufar comigo, em solidariedade.
- Kobayashi-san - Ouvi uma voz familiar vindo da sala. - O que faz acordada à essas horas? Moças bonitas tem que dormir seu sono de beleza, principalmente aquelas que vão ter um grande dia amanhã. - Era Tohru; por algum motivo, sua presença me aliviou um pouco.
- Eu já dormi o suficiente. Vou ficar aqui só mais um pouco, volte a dormir, Tohru. - Eu respondi, tentando não incomodá-la com nada fútil.
- Não minta para mim. - Senti seus braços me abraçarem por trás, protegendo meu corpo do frio que fazia naquelas noites. - Por favor.
Senti o coração pesar. Agora eu me sentia culpada, pois mesmo minha intenção sendo completamente o contrário, eu estava preocupando ela.
- Eu tenho medo, Tohru. Medo de ter os decepcionado. Eu ainda não me casei, não alcancei nada grandioso na vida, sem contar que eu os abandonei e nunca mais fiz contato. Eu devo ser uma péssima filha... Talvez eles me odeiem...
- Eu entendo como é esse sentimento... Mas seus pais te amam, Kobayashi-san. De verdade. Eu aposto que eles pensam que tem a melhor filha do mundo. E eu posso comprovar que eles tem mesmo.
- Obrigada, de verdade. Você... é boa demais para uma pessoa como eu.
- Eu deveria ser quem diz isso.
Tohru me apertou bem forte. Eu realmente senti que ela entendeu meus sentimentos. Ela viu através de mim e todas as minhas preocupações. E enquanto a luz da lua brilhava e nos iluminava, encostei a minha testa na dela. Era macia. E aqueles olhos... Eu podia olhá-los por uma eternidade. Eu jamais havia percebido o quão estonteantes eles eram, um misto de um profundo vermelho rubi e um amarelo âmbar, mais brilhantes que uma pepita de ouro. Eu podia sentir a sua respiração, quase se unificando com a minha. Aqueles lábios pareciam tão doces, eu precisava provar. A esse ponto, eu já não tinha mais noção alguma ou controle sobre o que estava fazendo. Nossos lábios estavam tão próximos quanto o um do dois. Quase se tocando...
- Kobayashi? - Kanna apareceu sonolenta, esfregando os olhos. - Eu tive um pesadelo.
Ainda sem processar a situação, eu abri os olhos, e em alguns instantes, percebi o que havia acabado de acontecer. Ou melhor, quase. Tohru estava mais vermelha que um tomate, tentando disfarçar a vergonha e falhando miseravelmente. O que eu tentei fazer?!
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
diliça de yuri