Segundo Capítulo

Estranha Visão

A névoa se desfez aos poucos, o branco foi dando lugar às cores diversas que davam vida ao ambiente.

A primeira coisa que reparei quando tudo ganhou foco foi que ainda estava em Nova Iorque, de frente para o enorme prédio das indústrias Starks. Já o havia visto muito na televisão juntamente com seu dono, o bilionário Tony Stark, conhecido também como Homem de Ferro. 

Minha atenção não ficou por muito tempo no enorme prédio.

A minha volta só havia destruição. Prédios haviam vindo abaixo, carros capotados e incendiados, pessoas correndo em pânico e, o que me deixou completamente apavorada, alienígenas saindo de um grande portal no céu. 

Alienígenas! 

Sei que como mutante não deveria duvidar de nada, mas é sério? Alienígenas invadindo a terra? Por essa eu não esperava. 

Como se nossa vida já não fosse estranha o suficiente. 

Meu desespero triplicou quando vi sair de dentro do grande buraco no céu algo que se parecia com uma cobra de metal com mais de vinte metros de comprimento. 

Corri para o lado contrário da multidão, o que seria burrice se eu estivesse realmente vivendo isso, mas como a vida de um superdotado não é normal, ir direto para o perigo era algo bem comum.

Uns minutos depois me deparei com mais uma cena estranha, ainda mais estranha na verdade. 

Seis seres estavam parados em um círculo no meio de toda a destruição observando a confusão ao redor, provavelmente tão embasbacados quanto eu. 

Não conseguia ver seus rostos direito, estavam embraçados e era como se a névoa não quisesse me deixar saber quem eram. Só reconheci um, pois era impossível não o conhecer. 

Grandalhão e verde, que urrava para todos os bichos do outro mundo que passava. 

Com certeza era o Hulk. 

O que tornava esse grupo bem bizarro, devo confessar. 

De todas as poucas visões que tive, essa está no topo das mais estranhas, sem dúvida alguma. 

Aos poucos a névoa em seus rostos foi se espalhando por toda a parte, se tornando mais densa a cada segundo até tudo estar completamente branco. 

Abri os olhos e estava de novo em meu quarto no Instituto. Ofegava de cansaço, como eu sempre ficava quando tinha uma visão, e me deixei cair sentada no chão encostando as costas na porta. 

Ver o futuro sempre é pior que ver o passado, mexe mais comigo tanto fisicamente quanto psicologicamente. É exaustivo.

Levantei-me depois de um tempo, separei uma roupa mais confortável em meu guarda roupa e sai do quarto em direção ao banheiro. 

Esse era um dos defeitos da Mansão Xavier. Não importa quão grande ela seja, ainda temos que dividir os banheiros porque não a um em cada quarto. 

Era muito irritante isso. 

Provava que a privacidade era quase nula por aqui, sorte minha que ainda não preciso dividir meu quarto. Na verdade ninguém consegue passar mais do que duas noites no mesmo ambiente que eu, dizem que é meio horripilante, principalmente quando estou tendo alguma visão.

Para minha felicidade ele estava vazio desta vez e aproveitei cada segundo de silêncio que tinha, que não durou por mais do que quinze minutos. 

Saí de lá e segui o mesmo caminho que de manhã, desci às escadas em direção ao corredor em que estava o escritório do Professor Xavier. 

Ele precisa saber sobre o que nos espera. 

Dessa vez bati na porta e esperei até ouvir sua voz me dando permissão para entrar. 

— Professor, temos um grande problema. - disse assim que abri a porta e ficando de frente ao homem. 

(...)

Desviei de mais uma rajada de energia vinda de um dos robôs de treinamento. Estava suada, cansada e completamente destruída, mas não iria desistir. Só falta mais uma e acabou. 
Segui em frente durante um tempo, mas uma granada de gás explodiu ao meu lado, me fazendo trocar o caminho. 

Corri até uma bifurcação à esquerda e me escondi abaixo de uma das armas gigantes de tiro, colocando minhas mãos espalmadas no chão e me concentrando. 

Em minha mente apareceu à imagem de todo o labirinto em que a sala de perigo havia se transformado, cada obstáculo e armas implantadas para nos desafiar que estavam escondidos pelo local era desvendado, me permitindo saber qual seria o passo certo a dar. 

Mas dessa vez eu procurava por algo específico, uma pessoa. Permiti que minha mente viajasse por cada corredor, cada encruzilhada e cada bifurcação que tinha por ali, tomando cuidado para não ser pega desprevenida. 

A encontrei uns dez metros de distância, atravessando parede por parede tentando chegar mais perto e me pegar de surpresa, como das outras vezes. 

Levantei-me devagar e desativei a arma acima para poder me concentrar apenas no que devia fazer agora e fiquei em posição de ataque. 

Cinco metros. Três metros. Um metro. 

Assim que vi que ela iria atravessar a parede ao meu lado, estendi meu braço direito acertando com toda a força seu tórax no exato momento em que ela apareceu, fazendo com que ela caísse no chão. 

No mesmo instante um alarme soou anunciando o fim do treinamento, tornando a sala no que era antes. 

— Peguei você, Pryde. - comentei divertida estendendo minha mão para ajudar a castanha a levantar. 

— Foi mais rápida dessa vez, Reed. Esta melhorando cada vez mais. - Kitty falou já caminhando em direção à porta da sala, onde Professor X e Scott nos esperavam. 

Cada dia mais tem estado mais puxado na sala de treinamento, desde que tive aquela estranha visão há dois meses. Segundo o professor, devia me manter preparada para o que quer que viesse a acontecer. E como se não bastasse ser massacrada diariamente nos treinos, ainda tinha essa maldita visão que se repetia constantemente sem uma trégua. 

— Onde estão os outros? – perguntei ao Scott quando nos aproximamos, pegando uma garrafinha de água que ele me oferecia.

— Jean, Vampira e Kurt foram levar o Bob para a enfermaria. Você acabou com ele hoje. – falou ele – Tirando isso, esta de parabéns! Na próxima sessão de treinamento talvez eu e até mesmo Wolverine entre para ver como você se sai.

Realmente eu peguei pesado com meu amigo, acho que não lembrei o quão forte tenho estado ultimamente, ainda mais por causa dos treinamentos de defesa com Logan.

— E a Ellie? – perguntei depois de reparar que a menina também não estava ali.

— Foi falar com Colossus. Parece que os dois iriam atrás daquele encrenqueiro. – respondeu crispando os lábios.

Não pude deixar de rir pela cara que ele fez. Não o culpo por não gostar do Wade, são poucos os que o aturam. Da até para contar nos dedos quem gosta dele aqui na mansão, o que prova que não são muitos.

Mas, em minha opinião, não existe ninguém mais divertido do que o Deadpool.

— Poxa! – resmunguei chateada – Eles bem que poderiam ter me esperado, faz tempo que não vejo aquele babaca.

Antes que ele pudesse dizer algo, Vampira apareceu correndo em nossa direção com uma expressão preocupada no rosto. Ela parou ofegante ao nosso lado, e seu cabelo castanho quase negro com uma mecha branca caia bagunçado em seu rosto.

— O que aconteceu, Vampira? – Professor X perguntou mesmo aparentando que já soubesse a resposta.

— Tem dois homens lá em cima procurando pela Celeste, e eles estão com muita pressa. – respondeu ela respirando fundo – E falaram que era urgente. Jean os levou para sua sala, Professor.

— Tudo bem. Vocês três podem voltar para seus afazeres. – disse Xavier apontando para Scott, Kitty e Vampira – Celeste, me acompanha até o escritório para saber o que esses homens querem.

Subimos todos juntos e nos separamos no andar principal do Instituto.

Ao entrarmos na sala do Professor, os dois homens que ali estavam se viraram para nós. Um deles, o moreno, chamou minha atenção assim que pus meus olhos nele. Mas não pelo fato de ele usar um tapa-olho, e sim por ter certeza de que já o havia visto antes.