Proibida Pra Mim escrita por TessaH


Capítulo 51
44. Se essas asas pudessem voar




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"Oh, luzes se apagam
No momento estamos perdidos e achados
Eu apenas quero estar ao seu lado
Se essas asas pudessem voar

 

 

Oh, danem-se essas paredes
No momento nós temos três metros de altura
E como você me disse, depois de tudo
Nós lembraríamos desta noite
Para o resto de nossas vidas." -
WINGS - B I R D Y

 

 

Scorpius Malfoy

 

 

— A verdade é que eu não gostaria de estar indo para casa esse fim de ano. - soltei uma imprecação ao jogar mais peças de roupa na mala e fechá-la, revoltado.

 

 

— Eu também não, meu amigo, mas não temos como ficar. - Thomas terminou as malas dele e me esperou para trancarmos o quarto que deixaríamos por algumas semanas.

 

 

— Você poderia ficar mais que eu. Meu odioso pai me convocou para casa, convenceu até a diretora a não me deixar ficar no colégio e estou sendo obrigado a ir embora. E você, por que não manda seu pai procurar o que fazer?

 

 

— Você sabe que não posso.  Pelo menos não por agora, ainda tem a minha mãe. - meu amigo suspirou e esfregou o rosto nas mãos, como que preocupado com isso.

 

 

Vasculhando as informações da família Uckermann em minha cabeça, eu recordava que Thomas tinha uma péssima relação com o pai, um influente político alemão. Era filho único e a mãe ainda era casada com o pai dele. Thomas odiava o pai por alguma coisa e, mesmo assim, sempre fazia o que lhe era ordenado por algo a ver com a mãe. Eu ainda não entendia e não o forçava a falar, da mesma forma que eu não gostava de falar sobre Cassiopeia, minha mãe, e Draco.


— Você consegue aguentar seu coroa até sair do colégio e poder ter seu próprio dinheiro, cara, sei que deseja isso. Vai seguir para a Alemanha?

— Vou, mas estou pensando em voltar para meu apartamento em Londres na última semana. Espero que meu pai não me prenda muito.

Descemos de nosso quarto com nossas malas para o salão comunal quando encontramos Kellen Brice repousando em um dos sofás. Uma das pernas ainda estava engessada, junto do braço, então estava constantemente precisando de ajuda.

— Como está indo minha aleijada favorita? - fiz questão de brincar de sua condição apenas para fazê-la rir. Dei um beijo em sua cabeça para logo depois Thomas se jogar ao seu lado no sofá e puxá-la para seu abraço. Ainda era muito estranho vê-los tão... Carinhosos um com o outro. Não parecia meu velho trio.

— Ah, vai procurar o que fazer, Scorpius. Já terminaram de se arrumar?

— Já, babe. Você também, não é? Fico mais calmo em saber que aceitou a companhia de nosso querido amigo Scorpius a passar as férias com ele. - Thomas deu um beijo em Kellen, que ficou vermelha, e tentei me acostumar com o novo casal.

— Eu não queria dar trabalho a ninguém. Scorpius, ainda posso ficar pelo colégio.

— Mas de jeito nenhum! Não iria te deixar nesse estado, não iria ser capaz de te mandar a Escócia para seus pais relapsos e pelo menos eu ganho uma companhia na mansão enquanto ignoro meu pai e sua noiva.

— Ainda está ressentido com isso? Aposto que está nervoso com o encontro e a conversa. - minha velha amiga de cabelo azul conseguia me ler como ninguém.

— Precisa segurar a mão dele, babe. Obrigado por cuidar dela, Scorpius, encontro vocês assim que terminar tudo na Alemanha. Você sabe como eu gostaria de cuidar pessoalmente de você, não sabe? - a última frase foi dita próximo ao ouvido de Kellen, que só assentiu, compreensiva, e alisou a mão dele.

— Sei. Sei também que se obriga a ir por sua mãe e respeito isso acima de tudo. Como disse, preciso segurar a mão de Scorpius quando se encontrar com o pai.

— Alô, o Scorpius está aqui e não precisam tomar decisões por mim como se fossem meus pais. Pelo amor de Deus, vamos logo? Só quero que tudo passe rápido.

— Vamos, me dá a mão, babe. - Thomas ajudou Kellen de um lado e peguei nossas malas para seguirmos.

Depois de nosso transporte até o trem, fiquei olhando de longe as torres altas de nosso colégio. Estava perto de terminar minha jornada ali dentro, logo, logo deveria escolher minha carreira e trilhar meu lugar no mundo que ainda não sabia qual seria.

— Estranho, tudo bem? - Kellen, ao meu lado na cabine, esparramada sobre o banco com todas suas parafernálias.

— Sim, tudo bem. Estava só... Pensando. Está preparada para conhecer a mansão Malfoy?

— Mal posso esperar. - Kellen fingiu um entusiasmo e tive que rir disso.

~~~~~~~~    ×      ~~~~~~~~~

— Uau, Scorpius. Minhas definições de "mansão" foram atualizadas com sucesso. - Foi a primeira coisa que Kellen me disse quando a ajudei a sair do carro do motorista que foi mandado para me buscar na estação.

— Lar doce lar, hein. - retruquei. - Se apoia mais desse lado, Kellen, isso, assim. Vamos.

— Posso levar as malas, senhor Malfoy. - alguém surgiu para nos ajudar e só assenti. Caminhei com Kellen pelo caminho entre as gramas que dava acesso a porta principal.

— Seja bem vindo, Scorpius! - foi o que escutei de Draco Malfoy ao pisar no salão de entrada da mansão. - Ah, você trouxe uma convidada? Seja bem vinda também, senhorita...?

— Kellen Brice, senhor Malfoy. Desculpe atrapalhar, ainda mais nesse estado.

— Não peça desculpas, estranha. - retruquei para minha amiga, fingindo que meu pai não estava ali.

— Isso mesmo, não peça desculpas. Tem um quarto ao lado do de Scorpius pronto, pode se instalar lá. Podem levar a mala dela para lá, Ethan. - meu pai deu ordem a algum empregado que eu nem conhecia mais. - Por que não ajuda sua amiga e a leva para o quarto? Mandei fazer uma comida para vocês.

— Obrigada, senhor Malfoy. Vamos, Scorpius? - Kellen precisou me apertar mais forte para me tirar do topor que era estar de volta. Foram tantas férias no próprio internato que voltar para casa ainda era estranho.

— Depois você pode descer, Scorpius. Estou te esperando no gabinete. - não foi um pedido, foi uma ordem e eu tinha notado. Aquilo só me enfurecia e só não respondi a ele porque Kellen apertou meu braço em reprimenda.

— Vou te levar para o quarto.

Subi com Kellen e a deixei confortável na cama, apareceu uma moça designada para ajudar Kellen no que fosse necessário e fiquei satisfeito. Quando estava pronto para ir para meu quarto e tirar uma boa soneca, minha amiga me chamou.

— Scorpius, seu pai está te esperando. Não vá se trancar no seu quarto. Se já fizemos essa viagem, vá esclarecer algumas coisas com ele. Por você, por suas dores. Dê uma chance para cicatrizá-las.

— Não sei por que razão ainda te dou ouvidos. Vou vê-lo, você sabe, só para me livrar logo.

— Isso mesmo. Estarei aqui quando precisar. - minha amiga me piscou um olho.

Naquele momento, vi o quanto ela era uma versão melhorada de si mesma. Como cresceu em poucos meses, como a mudança tinha sido, principalmente, interna. Tanta dor, tantos pesadelos que antes a atormentavam visivelmente e agora... Parecia um mar outrora bravo. Estava pacificando suas águas e me perguntei se era isso que ela queria pra mim e se me via como um peixinho no mar turbulento que era meu mundo.

De certa forma, eu também me enxergava assim e queria mudar. Ser esse peixinho perdido no caos não tinha me levado a nada, os últimos acontecimentos me provavam isso. Talvez fosse a hora de criar asas e trocar esse mar por um céu. Ser como Kellen e me libertar das amarras, das correntes que me puxavam para o fundo das águas.

Então eu tinha que enfrentar meu pai uma hora. E era minha oportunidade. Respirei fundo e fechei a porta de Kellen ao sair do quarto. Desci toda a escadaria com uma calma invejável. Caminhei pelo maior corredor da casa, me inundando com lembranças tristes e solitárias de uma vida entre aquelas paredes. Deixei que tudo viesse a tona e não tentei sufocá-las, eu tinha que aprender a lidar com tudo aquilo porque  era muito pior quando eu olhava para a cara do homem que, no espelho, era tão igual a mim.

Draco me olhou do outro lado da sala quando cheguei em sua porta.

— Você é minha cara em todos os aspectos, que engraçado. Mas quando fala, se expressa, se movimenta, tudo isso é dela, não há nada meu.

— Nunca me disseram isso. Uau. - minha ironia era difícil de conter.

— Pode entrar, Scorpius. Se sente.

Alguns segundos ainda parado, admirei Draco puxar o ar como quem cria coragem e então dedilhar alguns quadros de sua estante, me dando as costas. Dei alguns passos até uma das cadeiras e me acomodei diretamente para assistir todos os seus movimentos.

— Por que sempre que nos falamos voltamos ao assunto dela? E sempre brigamos. - as palavras voaram por minha garganta antes que eu pudesse contê-las depois de minutos nós dois em silêncio.

— Porque é o que nos liga e o que nos separa, ao mesmo tempo. Levei meses para entender e lidar com isso.

— Tarde demais, pelo visto. Olha, Draco, o que você quis me chamando até aqui?

— Vou contar tudo, conversar com você como deveria ter feito há tanto tempo, meu filho. Você é tão duramente Cassiopeia que me doeu o coração tantos anos enxergar tanto dela em alguém que eu não sabia como cuidar, como consolar e que era tão dependente , no momento, somente de mim.

— Você percebe agora o quanto errou em nos distanciar? Em não saber lidar com um luto e negligenciar sua maior responsabilidade, seu filho? - a raiva era amarga e o abandono também. Queimavam quando saiam e flutuavam pela sala, pairando entre meu pai e eu, nunca ditas em voz alta.

— Percebo. Percebo e como chegamos os dois na conclusão que foi tarde demais. Por isso peço desculpas.

— Nunca será suficiente. - ainda doía. Meu Deus, como achei que seria capaz de conversar e atravessar esse mar com correnteza tão forte? Me levantei para sair da sala e deixá-lo, mas o que disse me fez parar.

— Ela estava no final da gestação. Cassy estava esperando uma menina e estava radiante em te dar uma companheira. - Draco disse e me fez parar no caminho da saída. De costas, esperei o restante. - Eu não gostava de deixá-la sozinha, por Deus, era uma desajeitada e o final da gravidez estava cansando-a demais. Naquele dia, eu precisei me ausentar para assinar um documento qualquer na empresa que pedia urgência e mesmo assim eu não queria ir. Sua mãe insistiu muio, disse que era rápido. Então fui no nosso carro e deixei vocês brincando. Pelo menos eu achava - Ele deu um riso amargo. Ouvi seus passos e imaginei que estivesse outra vez passando os dedos pelos retratos de nossa família antes da tragédia.

— Me disseram depois que sua mãe queria muito comprar alguma coisa, nem me lembro o que era, apenas sei por alguns empregados que ela te deixou com a babá e disse que voltava logo. O resto que sei foram informações colhidas por policiais e pelo hospital. Sua mãe estava atravessando, um carro não parou, ela foi atropelada e então a levaram para a urgência. O responsável não ficou, só a deixou lá e durante os cuidados no hospital, ela... Não resistiu.

Meu corpo endureceu. O peito doeu e as lágrimas - tão raras pra mim - arderam. Imaginar isso com uma pessoa tão querida era como arrancar às mãos meus próprios órgãos.

— Perdi a cabeça, Scorpius. Não sei se você sabe, mas sua mãe me salvou bem antes. Eu era tão perdido, sem futuro, sem perspectiva. Ninguém imaginava que um dia eu teria uma família e ela me fez ter uma. Quando ela se foi, foi como se aquele Draco que ela ajudou a construir tivesse se desintegrado. Olhar você, tão pequeno, que chorava como se entendesse os motivos da balbúrdia que te cercava, me fez sentir a incapacidade de antes, de como eu era antes de tudo. Procurei um vício, achei na bebida a pouca lucidez que me era bem vinda. Te exclui da minha vida como se você tivesse ido embora com a Cassy e sua irmã. Me arrependo tanto de tão ter sido o homem que sua mãe acreditava que eu era e, ainda mais, por não ter sido o pai que você merecia.

— Como o dia 12 de dezembro pôde destruir nossa família. - minha voz saiu embargada, com o nó na minha garganta querendo me sufocar. Passei as mãos pelo rosto, sendo devorado por lembranças e mágoas. Tanto sentimento sendo engolido por anos ao olhar para o homem em minha frente. O homem que já chorava abertamente, os olhos prateados molhados, os braços frouxos ao lado do corpo, só... Vulnerável.

Como nós dois só fomos esses anos todos: vulneráveis. Tanto que criamos armaduras inexistentes para repelir um ao outro.

— É a primeira vez que me abro pra você, mas não é a primeira nem a última que choro por isso e reconheço. Ainda choro pela perda, ainda sinto a dor, mas o que se sobrepõe é o peso das minhas decisões, Scorpius, então... Eu só queria que você pudesse me ouvir. Sei que não posso pedir mais que isso de você, meu filho. - Draco se aproximou de mim até sobrar dois passos entre nós.

Eu conseguia ver as marcas do tempo em seu rosto. Seu semblante tão... Miserável que eu apostaria tudo que também me representava no momento.

— Só... Me perdoa. Perdoa, vou melhorar, quero ser um homem melhor e... Eu sinto muito por você ter perdido sua mãe, meu filho, ela nos fez muita falta.

Eu não conseguia mais conter o que tudo dentro de mim explodia. Não tentei limpar meu rosto das lágrimas de dor que por tanto tempo ficaram presas, nem vergonha existia, só o tempo, nu e cru, entre eu e Draco. Dei os dois passos que nos separavam, incapaz de dizer alguma coisa porque eu só chorava.

Ele quem me cercou primeiro. Seus braços me puxaram para um abraço e meus soluços se misturaram aos dele. Nossos corpos tremiam quase como sincronizados e aquilo foi o suficiente para lavar boa parte do passado, para, finalmente, ir acalmando meu bravo mar.

 

{•••}

 

 

Rose Weasley

 

 

— Meu amor, como é bom te ter de volta! - o abraço de Hermione Granger era um bálsamo.

 

 

— Também senti muita saudade de você, mãe. Não sabe quanta!

 

 

— Você esquece que tem outro filho, dona Hermione? Olha eu aqui, poxa! - Hugo tinha que bancar o ciumento e arrancou nossa mãe aos risos de mim. Ele se apegou a ela e foram conversando até nosso carro.

 

 

— Bem vinda de volta, filha. - Ronald Weasley me disse e só pude assentir, não conseguia ir abraçá-lo com tanta coisa pendente entre nós. Lembranças do dia em que nos encontramos no camper de rugby, do que me disse, de como confrontou Scorpius e se meteu em minha vida e me tratou como uma criança mimada, me inundaram e me impediram de ser falsa e abraçar meu pai como sempre.

 

 

Minha mãe percebeu nosso estranhamento e sabendo como eram os dois, ele já devia ter dito tudo a ela faz tempo, porque ela não nos forçou a nada. Me sorriu, pegou na mão e fomos para casa.

 

 

Eu já tinha tentado explicar um pouco da situação para Hugo durante nossa viagem de volta, então ele sabia como não forçar a barra. Quis tomar meu partido, mas Ronald Weasley também era seu pai, eu não deixaria que mais alguém ficasse nessa briga.

 

 

— Depois de todo mundo se acostumar em estar de volta podemos ir na casa da vovó Molly. Ela está com saudades também.

 

 

— Também estamos, mãe, mas eu queria comer alguma coisa e dormir antes, dá certo, não é? - Hugo perguntou quando levou nossas malas para cada quarto.

 

 

— Dá sim, meu filho, vou preparar algo pra você. Você quer também, Rose?

 

 

— Sim, mas vou estar lá em cima. Qualquer coisa você me chama, mãe. - eu já estava subindo nossas escadas quando meu pai me chamou.

 

 

— Rose, podemos conversar? - a sala ficou em um breve silêncio até ele pedir de novo. - Por favor. Não queria um clima chato entre nossa família justamente nas férias de vocês.

 

 

— Minha filha. - Hermione me olhou e eu sabia que ela iria me deixar à vontade para decidir sobre o que fazer, mas também sabia que a machucava duplamente ter a mim e o papai brigados. Então, pensando além de mim, me voltei para trás, concordando em conversar.

 

 

— Vamos. No jardim?

 

 

Meu pai foi na frente e eu em seu encalço. Por trás de nossa casa, existia uma área que foi muito utilizada quando éramos mais crianças. Tinha balanços, mesas, uma grande área para brincar.

 

 

Sentei-me de um lado da mesa e meu pai ocupou o outro.

 

 

— Queria pedir desculpas, Rose. Eu sei que você ainda está brava comigo e com minhas atitudes daquele dia e... Eu cheguei a conclusão que eu já tenho uma filha de 17 anos e não 7, que foi muito bem criada para ter bom senso e ser esperta e racional, eu que agi como uma verdadeira criança e... Só peço desculpas, minha filha. Eu já errei muito nessa vida.

 

 

— Pai... Você me magoou. Mais do que me deixar brava e irritada, você me magoou porque foi como se você não confiasse em mim, pai! Eu te tenho como um exemplo e ver como sou tão pouco confiável em minhas decisões a você me fez... Pequena. E você e a mamãe não me criaram pra isso, pai, eu mereço mais.

 

 

— Meu amor, eu sei que sim. Deus, eu sei que sim! Vem cá, claro que eu confio em você, minha filha. - Rony buscou minhas mãos sobre a mesa para colocar entre as suas e nos ligar. - Você é minha princesa, meu mundo, eu só precisava de uma chacoalhada para entender que esse bebê não precisa mais da minha intervenção, ela já é capaz de fazer isso sozinha. Mas é claro que eu confio em você, minha filha, não pense o contrário nunca. Você quer uma prova? Eu seria capaz de contar algo a você que ninguém mais sabe.

 

 

— Não, pai, você não precisa fazer isso, eu acredito em você. Foi um momento ruim pra nós dois. Eu entendo melhor agora. - tentei acalmar meu velho pai diante de mim. Ele era a última pessoa de quem eu gostaria de estar distante. Saber que ele reconheceu o erro já me era o suficiente.

 

 

— Não, minha filha, deixa eu me abrir. Já estava na hora, eu... Preciso compartilhar.

 

 

— Só se você se sentir confortável com isso, pai.

 

 

— Me sinto, me sinto... É que ainda é estranho. Você sabe da história do dia do nascimento do seu irmão, não é?

 

 

— Que eu ainda pequena passei o dia no seu trabalho até a mamãe entrar em trabalho de parto de repente, do outro lado da cidade, e o Hugo entrar em sofrimento fetal e depois precisar ir para os cuidados intensivos? Disso eu sei. Ainda tem mais?

 

 

— Sim, na verdade foi no meio disso tudo. Naquele dia 12 de dezembro, você estava particularmente irritada. Era um bebê pequeno e ruivo tão calmo todos os dias, eu não sabia o que tinha te ocorrido para ficar tão agitada. Talvez entendesse meu desespero de pai em saber que a esposa precisava de socorro  mas estava longe demais para atendê-la, não sei, talvez fosse, mas as coisas pioraram naquele dia.

 

 

— Eu imagino como foi horrível, pai. Eu nem posso imaginar como eu me sentiria em saber que teria meu filho indo para a UTI com risco de vida ainda ao nascer.

 

 

— Sim, foi tudo tão horrível, meu Deus. - a cabeça ruiva de meu pai encostou na mesa e ele suspirou. - Mas piorou porque eu atropelei uma pessoa naquele dia, Rose. Atropelei uma grávida também.

 

 

Os olhos azuis safira me fitaram, com um sofrimento visível, estampado. Era dolorido dizer aquilo em voz alta, eu percebia, mas eu não pude conter o choque da notícia.

 

 

— Meu Deus... Mas e aí?

 

 

— E ai que foi um momento de descuido, eu estava atrapalhado, você berrou na hora, eu precisei olhar se você estava presa na cadeirinha atrás e então aconteceu. Eu me desesperei, mas a moça respirava, eu a trouxe pro carro e então a levei na emergência. Ela ainda agradeceu, Rose, eu era o errado e ela ainda foi gentil. Pedi tantas desculpas, disse que meu filho estava nascendo e quase morrendo ao mesmo tempo e ela me expulsou para ir atrás da sua mãe no outro hospital. Na verdade ainda estava distante, mas consegui ir. Levei a moça e ela foi atendida e então parti. Está vendo que confio em você, minha filha?

 

 

— Pai, não precisava. - eu ainda tentava assimilar as notícias.

 

 

— Me sinto ainda hoje envergonhado disso, não gosto de falar sobre, mas... Eu confio em você o suficiente para dividir isso e ser capaz de me colocar em julgamento para sempre dentro da sua cabeça. Viu? Não ache que desprezo você, minha filha. - Ronald Weasley estava desolado e me levantei junto com ele para abraçá-lo.

 

 

— Não se sinta assim, pai. Foi um acidente, você não teve culpa, não precisava dividir comigo, mas fico feliz que o peso diminua um pouco para você. Você sempre vai ser meu pai, a quem tenho muito orgulho e amo mais ainda. Estou com você. Aqui. - eu o abracei forte, querendo que todo mal se dissipasse de nossa família.

 

 

— Amo você, Rose. Também estou com você. Aqui.

 

 

.

 

 

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É tiro e porrada e bomba. Vocês estão vivas?

 


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