Proibida Pra Mim escrita por TessaH


Capítulo 32
26.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/736383/chapter/32


26|

Rose Weasley

O dia parecia refletir o clima do momento. Diante de um pastor, estava eu, Una e sua vizinha. Os caixões já haviam descido, optei por ficar afastada com minha amiga nesse momento até que pudesse voltar a se aproximar. Era doloroso só de olhar.

Una não gostava de chorar, tantos anos ao seu lado eu a vira vulnerável poucas vezes. Mesmo com os anos, aquilo não havia mudado. Só a peguei chorando durante uma noite enquanto voltávamos na cabine do trem para Londres, tentei ao máximo ficar acordada para acompanhá-la na insônia, mas nem percebi quando sucumbi.

Acordei com um leve barulho ao lado e percebi que chovia fora e dentro das janelas de nossa cabine. Una estava chorando, deitada no outro banco, e senti meu coração pesar. Não conseguia nem me imaginar em sua posição.

Terminamos a viagem abraçadas uma a outra, até à estação, na qual fomos amparadas por meu primo, o mais próximo que já estava na faculdade. James Sirius era o que tinha o horário livre de nos buscar e o que tinha mais proximidade comigo e Una, era o ideal no momento.

Pelo teor do encontro, James apaziguou seu lado brincalhão, fora uma das raras ocasiões em que não o vi fazer brincadeiras. Saímos da capital apenas para entrar em outra zona do estado onde minha família morava. Deixamos nossas coisas em minha casa e já partimos para a casa de Una, em que estava sua tia - a vizinha - cuidando de tudo. Vi Una desabar, sem conseguir pronunciar nada quando viu a mulher que também fez parte de sua vida.

Então seguimos para o cemitério e eu tentava escutar as palavras do celebrante para me trazerem alguma paz.

— Você tem a mim, minha querida, eu prometi a seus pais e prometo a você. - a senhora apertou Una em seu abraço.

Ela assentiu, e já não chorava, só estava com aquele olhar longe e abatido. Provavelmente a cena daquele dia se desdobraria em seus olhos quando, pela noite, tentasse dormir.

Tudo seguiu seu curso e estávamos à espera da carona de meu primo novamente quando uma moça apareceu, arfando, como se tivesse corrido uma maratona para nos alcançar.

— Quem de vocês é a Una Stark?

— Sou eu, por quê? - minha amiga indagou, com todas nós curiosas.

— Posso falar com você? Sou Giovanna Fiore, vim da Itália, estava procurando por você.

Não sei se pelo desespero no rosto da menina ou por ter mencionado o país de sua mãe, Una cedeu e se afastou com a menina.

— Ela é italiana, será um parente da mãe da Una? - perguntei à tia de Una ao meu lado.

A senhora franziu o cenho.

— Ela costumava dizer que não tinha ninguém, que fazia muito tempo que tinha saído de lá. Filha única também, mas pode ser que tenham ramos da família, não sei.

Ficamos esperando as duas conversarem mais na frente. A tal Giovana era loira, alta, e de perfil, mesmo com tanta diferença óbvia, seus trejeitos corporais pareciam os mesmos de Una, que estava à sua frente.

— Rose, vamos? - James apareceu para despertar minha atenção das duas garotas afastadas.

— Ah, Jay, agora estamos em um momento delicado. Aquela menina chegou querendo falar com a Una - respondi e apontei para meu primo ver. Ele assobiou baixo.

— Vou poupar meus comentários por conta da situação, ok?

Eu tentei repreendê-lo pelo olhar, mas ele deu de ombros. James era uma mistura de tia Gina com tio Harry que surpreendia.

Não possuía os fios laranjas da mãe nem os negros do pai, era de uma mescla entre os dois que resultava em uma marrom. Os olhos seguiam o mesmo princípio, mas até que parecia mais com o de Lily. O olhar, porém, era o da mãe em refletir brincadeira e leveza, um bom humor que se misturava à simpatia.

Tinha saído do colégio - Hogwarts também - há um ano e ingressado na faculdade de Direito, uma carreira que ninguém imaginava tendo em vista sua personalidade tão despretensiosa até mesmo com a lei. Mas ele surpreendeu em nos mostrar o quão dominava a área e aspirava veementemente a alta patente. Gostava de esporte e havia sido um dos jogadores que tinham feito fama no colégio e nas ligas pelos estados ao sair para jogar e talvez por isso tivesse um corpo de fazer as meninas olharem duas vezes.

Eu sentia saudade da convivência com o primo protetor que já não dividia o colégio conosco, mas eu me lembrava que logo seria eu a sair dessa rotina, deixar todos para trás porque queríamos carreiras diferentes. Balancei a cabeça para afastar o rumo de meus pensamentos.

— Então vamos dar um momento para conversarem. Quer tomar sorvete comigo? - James me perguntou, girando a chave do carro nos dedos. - Vamos aproveitar que estamos vivos. - ele cochichou.

— James, que horror!  Disse que ia maneirar nas palavras?

— Falei só pra ver sua reação, Rose - meu primo riu da minha cara. - Mas vamos mesmo, acho que elas precisam conversar.

De fato, agora Una parecia entretida pela conversa e a tia até tinha se aproximado. Concordei com James, mas tentei avisá-las que já voltava.

Às vezes, nossa mente só quer fugir de onde está.

(...)

A diretora Minerva tinha dado uma licença de três dias para que eu e Una ficássemos em Londres. Eu sabia que estávamos perdendo o período de prova, mas teríamos tempo para repor. Eu queria fazer valer a pena os dias longe do colégio para que Una arrumasse sua vida e se sentisse segura quanto a isso, afinal as férias do Natal estavam chegando e eu sabia que ela se preocupava quanto a isso. Como seguiria com a vida.

— Rose, por que não sobem para um banho e depois sirvo o jantar? Já arrumei o seu quarto para qualquer coisa, se estiverem cansadas - minha mãe anunciou ao adentrar a sala em que eu e Una estávamos com a televisão ligada. 
Nem sabia dizer se assistíamos a algo, só com o olhar vidrado na tv sem de fato vê-la.

— Obrigada, tia. Na verdade, obrigada por tudo - Una disse, a voz rouca, tinha ficado tanto tempo calada que todos estranhávamos.

Minha mãe fez um gesto com a mão e a abraçou forte. Eu sabia que aquele abraço significava muitas coisas, um acalento que minha amiga precisava, se certificar de que não estaria sozinha.

— Você tem a nós, ouviu? Se Rose não disse, vou dizer. Eu e Rony conversamos e é óbvio que estamos de braços abertos para receber mais uma filha em nossa casa, Una, já é nossa de coração. Se quiser concretizar isso, por favor não se sinta receosa.

— Eu sei, tia, não duvidaria do bom coração de vocês - minha amiga a respondeu e a voz embargou. - Minha tia, a vizinha, também falou isso e vejo que não falta casa pra mim, me sinto protegida dessa forma. Obrigada.

— Sinta-se mesmo, nos faria muito feliz. Já estive disputando com Gina sobre isso - mina mãe deu um leve risinho e o clima atenuou-se.

— Eu imagino, até poderia ter um quarto na casa de cada uma - Una deu um meio sorriso. - Não sei ainda, queria pensar um pouquinho. Sabia que descobri uma prima hoje? Filha da prima de minha mãe, na Itália. Veio para morar em Londres, descobriu a família depois de um tempo procurando e acabou por achar no momento que sobrou só a mim... Mas quer uma chance para se aproximar, também não tem ninguém, estou vendo ainda como fazer de toda forma.

— Que bom que achou um parente, minha querida.

— Elas são quase da mesma idade também. - pontuei.

— Sério?

— Sim, tia, ela tem a idade do James, acho.  De qualquer forma, muito obrigada. Vamos subir, Rose? Estou um pouco cansada mesmo.

— Fique à vontade, querida. Rose, pode vir aqui um minuto? Tem correspondência pra você. - Hermione me disse.

— Vou subindo, então.

Aproximei-me de minha mãe enquanto Una subia as escadas.

— Que carta, mãe? Não me disse nada mais cedo.

— Não pude, querida, sabia que tinha compromisso. Vem dos Estados Unidos. Tive que esconder do seu pai para que ele não invadisse sua privacidade.

Arregalei os olhos ao me lembrar.

— Deve ser de Henry, não é? Por isso deixei seu pai bem longe disso. Tome, aqui.

Recordei-me da novela ofensiva a qual Henry me ofereceu no início do ano letivo e mordi os lábios para não deixar nada escapar. Não tinha contado nada aos meus pais, não queria, foi algo bobo que eu só quis esquecer  e se meu pai soubesse de algo, causaria uma tempestade.

— Obrigada, mãe. Fez bem. Vou ler lá em cima.

Subi com a carta em minhas mãos e notei que estava datada de uma semana atrás. Aquele cretino ainda tinha coragem de entrar em contato comigo, pior, por meio de minha família.

Abri o conteúdo apenas por curiosidade, porque percebi que meu coração nem mesmo deu sinal de vida.

O barulho do chuveiro me distraiu no quarto e vi a única frase da carta.

"Me perdoa por tudo, Rose, estive errado sobre tudo. Estou indo te ver em dezembro, tenho uma grande notícia."

— Que cara é essa? - Una me tirou do torpor em que me meti há alguns minutos, incapaz de racionalizar aquelas palavras.

— Não foi nada, relaxa. - dobrei e guardei a carta. A última coisa que eu queria era encher minha melhor amiga de problema, principalmente de um maluco. - Vamos comer?

Arrumamo-nos e então tentamos jantar. Não tinha fome nem clima, na verdade, mesmo que Una tentasse relaxar a todos nós quanto a seu humor, mas sabíamos da tristeza de seu coração. Uma hora tio Harry e tia Gina apareceram e foram só abraços e beijos. Una deixou uma lágrima escapar depois de umas palavras que tia Gina sussurrou em seu ouvido. No fim da noite, tio Harry a chamou para conversar no jardim.

Como demoraram, só encontrei com Una já no quarto. Estava escuro e ela não disse nada. Trocou-se em silêncio e meus olhos estavam abertos na penumbra para caso ela quisesse dizer algo.

— Rose... - finalmente ela soltou um sussurro na escuridão. A cama ficava de frente para a minha e a janela entre nós deixava o brilho da luz nos interceptar.

— Oi...

— Tio Harry conversou comigo, falou da vida dele, de como viveu sem os pais....

Fiquei sem saber o que falar. Ela continuou.

— Mesmo vivendo a pior ocasião da minha vida, agora eu agradeço por ao menos ter vivido com meus pais até onde deu. Poderia ser pior, como o tio.

— É verdade... - meu coração pesou. Os olhos dela se fixaram na janela e na lua.

— Ele contou como conseguiu superar esse vazio que fica na gente. O tempo nos ajuda a lidar, pelo menos. A saudade me mata muito. E arrependimento por ter tido oportunidade para muitas coisas e as perdi.

— A vida é cheia de surpresa. - refleti. Ela tinha razão. O que sobrava depois que a morte levava nossos momentos egoístas? Nossas decisões sem propósitos, nossas chances? Quanto tempo tínhamos de verdade?

— Ele disse que quando conheceu sua mãe tudo mudou. Quando viveram juntos e os filhos vieram. Por mais que ele tivesse rodeado de muitas pessoas que o amavam, ele disse que construir a família dele mudou tudo. Ajudou a cicatrizar a dor.

— A gente sabe o quanto ele ama todos eles.

— Quero isso também, Rose. Quero uma família minha, construir e ajudar a seguir em frente. - Una deu um riso sem humor. - Só queria muito isso. Acho que meus pais ficariam muito felizes lá de cima também.

Eu sabia que ela estava chorando, mas era muito silenciosa. Sai de minha cama para a sua e a acalentei.

— Rose? - ela cochichou de novo depois de parar de chorar.

— Diz, minha rainha.

— Falei a ele do meu problema. Disse que ia marcar um médico pra mim ainda esses dias e que me ajudaria. Me senti muito tocada por ele, ele é um pai incrível, não é?

— Sim, ele é. Ele é incrível, que bom que iremos fazer isso. Quero estar perto.

— Tudo bem, também te quero perto. Obrigada, amiga.

(...)

No dia seguinte, tio Harry fez o que prometeu, mas sem alardes. Inventou que iria ajudar minha amiga com os papéis do testamento dos pais e seguimos os três para um médico.

Ele tinha conseguido dois profissionais, um psicólogo e nutrólogo. Eu não sabia como lidar na situação e fiquei um pouco aliviada em poder contar com seu apoio.

Mesmo naquele dia, Una tentava ser forte e conseguia. Pediu pra entrar sozinha e a deixamos à vontade.

— Ela é uma garota especial. Que bom que vamos poder ajudá-la.

— Tem razão, tio, eu soube recentemente também e nem acreditei... Muito obrigada por nos ajudar. - abracei meu tio bem forte para que minha gratidão se transmitisse no gesto.

— Não precisa agradecer, me sinto responsável por ela também... Cresceu com você, sempre a vimos e tudo mais, me sinto  lisonjeado em ter sido escolhido para estar com vocês.

Ficamos os dois conversando e esperando até minha amiga gastar seu dia todo nos médicos. Saiu um pouco calada, acho que o impacto de enfrentar o problema estava tomando conta dela.

— James me falou que a papelada vai sair hoje. É verdade? - tio Harry perguntou quando estávamos no carro indo para o apartamento de Una.

— Sim... Rose achou que James poderia dar uma olhada nesse lance, sei lá, não entendo. Só sei que tudo que era deles agora é meu, vou poder mexer quando ficar  de maior.

— Vou ver com ele também, então.

O prédio ficava em Londres, diferente de minha família que morava em uma zona mais afastada do condado. A vizinha estava limpando o apartamento quando chegamos.

— Vou deixar vocês sozinhas. Rose, qualquer coisa pode me telefonar. - tio Harry comunicou quando entramos e vimos Una fraquejar.

Foi difícil voltar ao lugar deles e pensar que só existia ela. A tia e ela começaram a arrumar as coisas deles, Una preferia que tudo fosse tirado, as roupas e utensílios seriam doados.

— Estou pensando em assumir essa casa. - ela me avisou depois de voltar do primeiro andar onde estava arrumando as coisas durante a tarde.

— Sozinha? Já nesse fim de ano? - perguntei dividindo minha atenção entre ela e a comida que estava preparando. A tarde já estava indo embora e não tínhamos comido nada.

— Sim... O que você acha? Eu quero organizar tudo, mas não me sinto preparada para deixar esse apartamento ou virar as costas, vendê-lo. É da minha família, cresci aqui.

— Mas... Sozinha? Não gosto de pensar em você dormindo só nessa casa imensa.

De fato, era um bom apartamento. Grande o suficiente, um primeiro andar com quartos e boa área.

— Eu também não - ela deu um risinho e se aproximou para beber água. - Mas eu vou aprender, tem tanta coisa que vou ter que fazer sozinha a partir de agora, não é? Sinta-se convidada para dormir aqui quando quiser, dona Rose!

— Encantada com seu pedido, Una.

Minha amiga deu um sorriso. O rosto estava vermelho pelo esforço que fazia, fazendo com o que a palidez que adquirira tivesse diminuído. Os cabelos estavam revoltosos em um coque e parecia melhor.

— Vou te ajudar com isso, vai que você queima a única comida a que temos acesso, Rose Weasley!

— Não me insulte dessa forma! De nós duas, é você quem nem se aproxima de preparar comida.

— Você tem razão, estou ferrada - Una riu enquanto lavava as mãos. - Pelo menos terei a tia aqui do lado para me ajudar, hein, e não se esqueça que existem delivery de pizzas 24hrs! Salvação para a humanidade!

— Você não existe!

— Sei que não... Mas já falou com Lily? Estive pensando que ela ficaria preocupada conosco, dois dias que desaparecemos.

— Meu afastamento acaba amanhã, conto pra ela lá mesmo. Você vai ficar mais tempo por aqui? Sinto muito não poder ficar.

— Vou sim, aproveitar que a Minerva pôde me estender o tempo... Vou ver esse lance dos advogados, espero que James finja ser um bem incrível porque só tenho a ele - nós rimos. -, e depois eu volto. Não fica preocupada, Rose, vou ficar na casa da vizinha, acho que só volto pra cá no Natal e olhe lá.

— Tudo bem, mas entra em contato com minha mãe todo dia, ouviu? Ou tio Harry, sei que eles vão ficar no pé! Tem médico também?

Una mordiscou os lábios.

— Sim... Acho que vou transferir a psicóloga para o colégio, dar um jeito, algo do tipo, vou ver se ela entra em contato com a Minerva porque não posso esperar mais de um mês para voltar a fazer uma sessão. Tenho medo da minha própria mente.

— Vamos dar um jeito, hm? Vai ter ajuda sim - eu a abracei, e ela retribuiu.

—*-

— Cuide bem dela, mãe, nem a deixe só. - pedi para minha mãe ao abraçá-la naquela noite na estação. 

— Para com isso, minha rainha, vou ficar bem, daqui a pouco chego para acabar com sua paciência! - Una exclamou e me abraçou. - Boa viagem, arruma nosso quarto, pelo amor de Deus, Lily Pimentinha deve ter deixado sem varrer todos esses dias.

— Coitada da minha afilhada, meninas! Ela não deve ser tão ruim assim - meu pai entoou e fez todas nós rirem. 

— Ah, papai, não seja iludido, sua afilhada tem muita culpa no cartório! - dei um beijo em seu rosto. - Tchau, gente, nos vemos em breve! Una, não esquece de falar com mamãe e, mamãe, liga pra ela todo dia, ouviu?!

— Acha que vou bobear, Rose? Posso ser chata que nem seu pai! 

— Mione! - meu pai rebateu. 

O trem soou e era hora de ir. Despedi-me de minha família, papai, mamãe e Una, todos me levaram até a estação para que eu pegasse o trem e chegasse ainda pela manhã em Hogwarts. Era, ao mesmo tempo, dolorosamente bom deixá-los. Lógico, doloroso pela saudade e por minha amiga - que iria voltar ao colégio no final da semana -, mas bom porque eu tinha muita coisa para ajeitar.

Como por exemplo, o senhor Malfoy em minha vida. Passei toda a viagem observando a noite virar dia e tentando conter a ansiedade que se alastrava por mim ao pensar que faltava pouco para vê-lo. Voltar a vê-lo e dá-lo uma resposta.

No fundo, eu já a tinha. Estava com medo de dizê-la em voz alta, me assustar com seu peso e significado. Medo de me arrepender depois, mas... Tentando vivido um caso abrupto de morte de perto, eu me perguntava de que valia tanto esforço em complicar a minha própria vida e felicidade quando eu não sabia quando tudo poderia acabar? O que meu coração mais queria era começar algo com Scorpius, então por que me negar algo? Tudo era tão passageiro...

— Seja bem vinda de volta, Rose - Hagrid me saudou ao me buscar. Voltamos para os muros altos do colégio e lá estava eu de volta para casa.

— Você chegou na hora certa, querida, daqui a pouco servirão o café da manhã, então apronte-se! 

Segui o conselho de Hagrid e fui para meu quarto. Para meu espanto, nem havia sinal de Lily por lá. Coloquei o uniforme e todas suas parafernalhas apenas para sair, preocupada, à procura de Lily. Nada de vê-la. Saí perguntando a todos que vi, mas nada sabiam. Fui para o salão principal, talvez ela estivesse na loucura de morrer de fome e esperar desde cedo o café ser liberado.

Estava cheio bem cedo, burburinhos e a velha rotina em Hogwarts. Fui pisando cautelosamente, com os olhos à espreita de algum sinal da cabeleireira ruiva de minha prima. Eu tinha deixado passar um problema grande de Una, mas não iria mais ser assim. Talvez Lily realmente precisasse de minha ajuda.

Quando virei a cabeça, captei os olhos de Scorpius. Ele já me olhava, eu que não havia percebido. Levantou, rápido, quase derrubando um copo em cima de Kellen ao seu lado. Sorri de seu jeito atrapalhado.

Estava com saudades, Malfoy?

Ele retribuiu e quebrou nossa troca de olhar quando Kellen falou alguma coisa. Ele riu mais um pouco e voltou a se sentar. Com as batidas do meu coração soando forte em meus ouvidos, fui procurar meu lugar. Não tinha sinal de Hugo, Alvo ou Lily. Muito estranho.

— Rose! - escutei Scorpius me chamar quando, depois de terminar o café, saí para procurar todo mundo. - Chegou hoje?

Ele falava baixo e muito próximo, as pessoas já estavam ao nosso redor olhando. Fiquei nervosa e vermelha, Scorpius percebeu.

— Puta que pariu, eles nunca têm nada pra fazer. Vem cá - me puxou pela mão e saímos pelos emaranhados do colégio, descendo sem saber que rumo tomar. 

— Acho que estamos seguros agora - Scorpius parou quando chegamos em um corredor, lá embaixo, quase inabitável. - Que bom que chegou.

— Onde estamos? Cheguei agora.

— Perto das masmorras. - ele respondeu e pareceu analisar meu rosto. Estava de braços cruzados, os olhos risonhos. - Parece diferente.

— Foram três dias longe e já está pontuando diferenças? Estava com saudades, Malfoy? - brinquei com ele, na esperança de que pudesse retribuir, mas ficou calado.

— Estava. Pior que estava. Muitas. - anunciou, solene. Ainda parado, encostado na parede e o olhar cinza sobre mim. - Ficou também?

— Também... Scorpius, preciso falar algo.

Meu estômago pareceu se revirar dentro de mim e as mãos suaram.

— Fica à vontade, furacão.

— É que... eu sei que ia esperar por uma resposta minha e... - o ar parecia rarefeito e eu não conseguia falar. Tentei respirar fundo. 

— Tô aqui, não fica assim - Scorpius me puxou para um abraço. - Não precisa dar uma resposta agora, não tem prazo esse maldito tempo que demos.

— Mas eu quero. Uma agora.

Os olhos cinzas me olharam, apreensivos.

— Tem certeza, Rose?  Não faz as coisas assim, pensa direito, eu sei que não tenho muito voto a ser dado, mas...

— Está achando que vou desistir de tudo? 

— Não vai? Tão decidida, talvez pense que é o melhor pra você e pode até ser, mas...

— Fica calado, Scorpius - pus meu dedo sobre seus lábios. - Não sabe o que vou dizer, então relaxa. Senti sua falta, muitas, vi um lado de dor que sabemos que existe, mas achamos que somos inatingíveis por ela. E se fosse eu no lugar da Una? Nenhuma briga boba daqui é páreo para a morte e...

— Não fala isso, furacão - Scorpius contorceu o rosto numa careta e me apertou em seus braços. - Não quero nem imaginar você sofrendo.

— Eu sei que não, mas é a vida... Não quero dizer não a algo que só consigo pensar nisso. Só penso em você, na gente, no que me traz e no que me transforma. É diferente de tudo antes, quero descobrir mais, e por mais que você tenha errado, fez certo em me falar e me dar essa chance de escolher, então... Eu quero você, Scorpius, e só sei disso.

— Se soubesse o quanto te quero de volta, saberia de mais coisa. - ele me deu um grande sorriso. - Nem imagina como isso parece surreal pra mim.

Scorpius me beijou e percebi o quanto realmente de saudade sentia dele. Seu corpo me abraçava forte, e eu tentava retribuir. Era maravilhoso beijá-lo, senti-lo de forma tão íntima. Mãos na pele, respiração no rosto, língua fazendo carícias, suspiros, um prazer que eu podia tirar dele e me deixar poderosa.

— Sentiu mesmo minha falta - cochichei quando colamos nossas testas ao tentar normalizar a respiração.

— Ah, furacão! - sorriu mais uma vez, os lábios vermelhos e marcados. Me puxou novamente e perdi a noção de tempo e qualquer outra coisa que não fosse sua boca quente.

Seus beijos e suas mãos, carinho, proteção e desejo. Scorpius era um mistura de tudo, intenso demais.

— O que será da gente agora? - perguntei entre mais uma pausa. Dedilhei o rosto tão bonito dele, a pele branca e macia que me deixava arrepiada. 

— Só quero estar com você. Nunca fui namorado de ninguém, então você vai fazer o test-drive, senhorita...

— Scorpius! Nem me pediu! - brinquei, com um sorriso quase rasgando a boca, só para vê-lo arregalar os olhos.

— Meu Deus, começando mal... Como que faz isso, Rose?!

— Não sei, você é o segundo namorado, não precisa ser igual.

Scorpius fechou os olhos e grunhiu.

— Quase esqueci esse lance de que você me tem em segundo, não é? Que bom que aquele babaca foi embora então!

— Bobo. - dei mais um beijo em seu rosto. - Faz a pergunta, só pra convenção social mesmo, sabe como é, sou presa à formalidades...

Scorpius riu. Seus dedos arrumaram uma mecha de meu cabelo.

— Quer ser minha namorada, Rose Weasley? Não me responsabilizo pelos efeitos colaterais se aceitar essa decisão, hein.

— Aceito, idiota, você foi tão insistente, né. - revirei meus olhos, mas rimos. 

— Namorada... - Scorpius soprou em minha boca. - Olha, Rose Weasley, você 'tá me surpreendendo a cada dia. 

— Eu quem o diga...

O loiro me beijou novamente e ficamos juntos por um tempo indefinido. Quando nos demos conta, o sinal tocou alto lá em cima e levamos mais um tempo para nos despedir. Ele fez questão de me segurar pela mão até chegarmos ao corredor principal, já que seguiríamos rumos diferentes para as aulas.

— É coisa de namorado, não? Eu já vi em filme, nem me engane, Rose Weasley, segura essa minha mão! 

Eu ri o caminho todo. 

— Agora, tem que se despedir de mim, gato, como faz nos filmes? - perguntei para diverti-lo, no meio do corredor, alguns já olhando para nós.

— Não faço ideia dessa parte... Posso inventar, namorada? - murmurou pra mim com um sorriso. Me deu um longo beijo e quase pude ouvir o arfar de quem nos viu. - Até mais, não se esquece que tem um namorado agora...

— Não me esqueço, criatura! Tchau - soltei sua mão e nos desvencilhamos. Olhei duas vezes para trás quando seguimos caminhos opostos e foi na mesma hora que ele. Saí rindo mais uma vez.

Surreal. Quem diria?

Fui buscar minhas coisas no dormitório, porém a porta estava trancada.

— Lily, está aí? - bati na porta. Logo um barulho soou e a porta foi aberta.

Lá dentro, uma Lily chorosa estava sentada no meio da cama.

— Oi, Rosie, que bom que chegou - falou bem baixinho e não a notei até que me aproximasse.

— Ai meu Deus, Lily, o que houve com você?! - exclamei ao ver seu rosto todo vermelho e lágrimas descerem pelos olhos.

— Ah, isso? - ela fungou, ainda sem parar de chorar. - Não foi nada... Só cometi um erro bobo..

Ela soluçou e corri para abraçá-la.

— Que erro cometeu, Pimentinha? - perguntei, receosa pela resposta. Lily tinha um certo temperamento que às vezes era assustador.

— Eu ataquei o Hugo, Rose. - ela chorou mais forte. - Meu Deus, eu beijei meu melhor amigo que é meu primo!

.

.

.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

OLÁ!!!! sei nem o que dizer! só queria pedir para que comentem, gente, por favor! sinto falta de vcs! e obrigada a quem comenta, porém não fiquem fantasminhas, não cai o dedo e me deixa mais propensa a voltar mais cedo!
DIGAM AÍ



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Proibida Pra Mim" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.