[Te amar como eu te amo é complicado
Pensar como penso em você é um pecado
Olhar como eu te olho está proibido
Te tocar como quero é um delito]

[Eu só quero te dar um beijo
E entregar minhas manhãs
Cantar para acalmar teus medos 
Quero que não te falte nada]

Darte Un Beso - Prince Royce

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— Senhor Hayes, para minha sala nesse exato momento! - Minerva alardeou, com uma expressão que eu nunca tinha visto em seu rosto. - A polícia já está aqui, Scott. Por favor, me acompanhe.

Alguns seguranças apareceram e seguiram Montanha atrás da diretora. Os amigos dele logo se dispersaram, certamente iriam procurar informações depois, e o tumulto ganhou atenção da minha turma.

— Voltem ao treino, porra. Perderam alguma coisa? - fiz questão de ordenar, afinal era meu dever como capitão na falta do treinador Ernest.

Passamos o resto da tarde em treino e tentei afogar minha mente para me ver livre do problema envolvendo Scott.

Após as aulas da tarde, ainda não haviam chegado até mim o que tinha acontecido com o Montanha, mas logo todos saberiam, já que notícia corre pelos corredores. Por isso não me preocupei com a curiosidade, somente a consciência ficou pesada por saber que eu havia sido idiota em entrar numa furada com ele, ainda mais quando eu me sentia... Próximo a Rose no momento. Era como uma traição.

— Está decidido. É melhor uma consciência limpa e honestidade. Vou contar a ela dessa merda toda e espero que entenda que foi uma brincadeira de mal gosto. - falei comigo mesmo no espelho após tomar banho para ir jantar.

— Tá falando sozinho, puto? Para de falar enquanto caga que eu quero tomar banho! - Thomas apareceu no banheiro e bati a porta em sua cara. Passei mais uma dose de perfume e ajeitei minha camisa, já que o horário permitia que usássemos roupas sem ser uniforme.

Sentei na mesa do jantar da Sonserina, em meu habitual lugar ao lado de Kellen.

— Como anda a minha digníssima amiga?

— Estou bem. - ela me fitou longamente. - Se quer saber da minha psicóloga, não vou contar, Scorpius, cai fora.

Tive que rir de seu bom humor.

— E você? Sabia que ainda estão falando sobre você e a senhorita Weasley no fogo?

— E é? Bom, já faz mais de dois dias, as pessoas não têm mesmo mais novidades. - dei de ombros e comecei a comer a montanha que tinha em meu prato. 

— Pra você ver o nível daqui. Sabia que ela mudou o jeito de se vestir? Além do cabelo é claro, mas esse você já sabia, né.

Eu sabia que minha melhor amiga estava me enchendo o saco, mas foi inevitável procurar por Rose pelo salão principal e fitar a figura ruiva que ria ao lado dos primos.

Parecia diferente sim, o corte tinha dado um novo astral pra ela, mas havia também a mudança de dentro pra fora e aquela eu ficava estranhamente contente em ter acompanhado de perto. Confiante, ela exibia novos trajes que combinavam com seu espírito. As botas não saíam mais dos pés, uma calça jeans justa fazendo par e mostrando como ela podia ser ainda mais bonita.

Pensei na decisão de notificá-la sobre a brincadeira idiota que eu havia feito antes de conhecê-la e fiquei nervoso. Não queria que me entendesse mal, eu não pensava mais da mesma forma que no dia que falei com o imbecil de Scott, então ela precisava saber daquilo.

— Vocês não sabem da maior! - Thomas chegou empurrando o menino que estava à minha frente. Ele parecia não se conter de alegria.

— O que houve? Por acaso você conseguiu recuperar sua dignidade?

— Acredito que não, Scorpius, acho que conseguiu enganar mais uma garota sem cérebro dentro desse colégio.

— Que ciúmes, Avatar, não precisa me tratar assim, tem pra todas. - Thomas revidou e eu quis matá-lo por deixar Kellen vermelha ao meu lado. Ela bateu com o prato na mesa e saiu batendo o pé.

— Porra, Thomas, você não pode segurar sua língua?! Sabe que ela é minha amiga, é diferente de todas as outras com quem você tira sarro e não é porque ela finge não se importar que seja verdade, caralho.

Ele deu de ombros, mas percebi que havia se arrependido.

— Tá, porra. Quer saber da novidade ou não?

— Se tá com a língua coçando parecendo uma velha fuxiqueira, desembucha logo.

— Muito engraçado você, Senhor Malfoy, me sinto muito ofendido depois dessa. - Thomas fez uma voz enfadonha. - Pra me livrar logo de você, vou contar. Scott Hayes foi expulso do colégio.

— Você tá brincando comigo, Thomas?!

— Claro que não, idiota, por que faria isso? É sério, estão falando porque viram sair com tudo junto de policiais.

— Mas o quê aconteceu?

— Não sei ainda, sua puta fofoqueira. Depois te digo. - Thomas pulou do banco e saiu em disparada para algum lugar me deixando sozinho com meus pensamentos e um sorriso.

Por ironia do destino, eu estava livre do Montanha para todo o sempre e ainda poderia fingir que esse acontecimento nunca aconteceu na minha vida. Porém eu ainda iria conversar com Rose e isso ainda me ajudava porque ela poderia entender como uma brincadeira idiota e então riríamos e trocaríamos de assunto.

Comi o resto da comida que ainda me descia pela garganta fechada e decidi tomar um ar antes de procurar por Rose.

Depois de voltar da sala de cartas recebidas a passos de formiga, decidi que não poderia mais adiar. Sai à procura de Rose até Alvo me notificar de que ela estava em alguma sala do terceiro andar com a turma de espanhol ensaiando para o trabalho de línguas. Sai pelas escadas e fui guiado pelo barulho de música já no corredor.

Tinham umas dez pessoas ao redor de um grupinho que tinha instrumentos e cantavam e dançavam. Lily Luna rodopiava com a prima ao som de uma canção latina e as duas se divertiam, rindo e se abraçando. Parei para observá-la, uma blusa mais justa do que usava antigamente, a calça preta delineando o corpo. Um sorriso emoldurava o rosto e esqueci do meu objetivo, até mesmo de onde estava porque alguém notou minha presença e me chamou para a roda até que eu me visse entre um violão e um cajon.

— Sei que toca bem, Malfoy, toca uma pra gente! - o cara ao meu lado gritou. Os outros se entusiasmaram e Rose me notou. Os olhos azuis se suavizaram e ela se aproximou.

— Você toca, Malfoy? Escolham uma música para esse garoto tocar!

Eu não consegui responder. Algo impedia minha garganta até para engolir e eu só assenti para tocar alguma coisa  para me ver livre da aflição.

— Darte Un Beso! Olha a cifra - uma garota me empurrou a folha e um violão apareceu em meus braços.

— É pra cantarem, ouviu? Eu toco, mas cantem! - eu disse e eles riram. Lily Luna saltitou ainda mais, com a imensa cortina de fios ruivos e lisos se balançando. Ela se juntou à prima novamente e comecei os primeiros acordes da música.

Eu sabia um pouco de espanhol por ter tido uma preceptora na infância, ainda assim havia a tradução da música na cifra e pude acompanhar a letra junto da empolgação do grupo.

Rose cantava como todos os outros, mas parecia se destacar. Eu dividia minha atenção em acompanhar as notas musicais e observá-la degustar da música, me lembrando de sua paixão pelo idioma e ritmo.

Eu só quero te dar um beijo
Te levar para conhecer o céu
Eu só quero te dar um beijo
Quero que não te falte nada

Falar em português
Aprender a falar francês
Ou baixar a lua até seus pés

Nossos olhos se prenderam e meus dedos repetiram as notas como se já soubessem. Naquele incomum azul que Rose tinha nos olhos, me reconheci quase como se pudesse me despir do corpo em um espelho. Algo forte me atraía para admirá-la, tão forte e bonita no exterior quanto doce e determinada no interior. Eu reconhecia minhas fragilidades em seus olhos, mas pela primeira vez não as odiava, só aceitava e sabia que não era de todo ruim, que as dores tinham fim e poderiam ser curadas com o remédio certo. Ali eu via um elo que eu já não me identificava com ninguém há bastante tempo, quase tão profundo que me fazia querer me mudar, me reacomodar dentro de mim mesmo para que ela coubesse também.

Ali eu percebia que Rose Weasley não era mais uma na minha vida, mas resumia toda ela.  
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