Incógnita escrita por Lua Chan


Capítulo 2
5.0.5




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Pensei que nunca mais encontraria Tiberius vagando pela cidade, mas quando saí da aula, eu o vi com mais cartazes. Dessa vez, ele andava junto a uma garota tão estranha quanto ele, que vestia um capuz de lagarto super extravagante.

Os dias se passaram e o Cara dos Panfletos e eu nos tornamos amigos. Sempre nos encontrávamos em frente a escola, antes e depois das aulas, em dias seguidos ou não. Cada vez que ele enfeitava mais paredes com os panfletos do seu "chefe", mais eu ficava intrigado. O que era aquilo? Um tipo de sociedade secreta? Quem seria esse Black Hat e por que ele está tão louco por um empregado? Pessoas normais fazem anúncios pelas redes sociais ou algo do tipo, não é? Esse cara parecia tão desesperado...

— No que está pensando? - Tiberius me interrompe, enquanto anexava seu último panfleto na parede de uma farmácia. Eu o ajudava de vez em quando, nos momentos em que eu não desconfiava tanto desse Black Hat. Ou seja, literalmente, de vez em quando

— Ah, sei lá. Não acho uma boa ideia espalhar essas coisas por todo o lugar. É ilícito, não?

— Quem liga pra regras, Hector? - ele rebate, arregaçando as bordas de seu casaco. Havia algo tatuado em sua pele, semelhante a uma combinação de números - Estamos falando do Rei da Vilania, não é qualquer pessoa.

— Ele não é um traficante, é?

O garoto ficou calado, apenas ouvindo o barulho quase que ensurdecedor de um dos fones de ouvido, o qual estava pendurado em seu pescoço. Voltei-me à tatuagem, parecia algo menos perturbador do que os panfletos. 

— O que é isso em seu braço? - aponto para os três números cravados em sua pele. 5.0.5. Tiberius abriu um pequeno e tímido sorriso e o escondeu, misteriosamente, após segundos.

— Besteira.

— Agora eu quero saber!

Ele ajeitou seus cabelos azuis para o lado e suspirou, como se fosse difícil demais falar algo.

— É o nome da banda que eu e Demência formávamos, antes de Black Hat nos encontrar. - explicou, monotonamente - Tive a maluca ideia de tatuá-la caso um dia fôssemos famosos, mas isso nunca irá acontecer, obviamente.

— Demência? Isso é nome de gente?

— É aquela garota que estava distribuindo os panfletos comigo, naquele dia. - oh! A Garota Lagarto, assim como eu resolvi apelidá-la. Ela me dava um certo medo e desânimo, era como se ela realmente fosse um lagaroto gigante e eu um pequeno e inofensivo inseto - Ela fala muitas coisas idiotas. Por isso nós a apelidamos assim.

— Nós quem? Você e seu chefe? - provoquei. Nem sei por que ainda tinha vontade de saber mais sobre esse maníaco. Não era de admirar se ele estivesse envolvido num sistema de tráfico de escravos.

— Por que se interessa tanto em Black Hat? Quer se unir a nós?

A pergunta me pegou de surpresa. Por que eu gostaria de fazer isso? Eu mal conhecia esse Black Hat e tudo o que eu sabia sobre ele se resumia a "cara louco e desmiolado". Mas por que eu me sentia tão interessado?

— Só tenho a dizer que é um caminho sem volta, caso escolha viver com a gente. - advertiu e eu só balancei a cabeça. Olhei para meu relógio que indicava 8:18 p.m. Eu estava estupidamente atrasado para o jantar em família!

— Droga. Vou ter que ir agora. - falei pra ele - Até mais, Tiberius.

Então eu só corri. 

 ( . . . )

Cheguei em casa faltando 4 minutos pras 8:30. Meus pais me disseram sobre esse jantar na noite anterior, mas eu falei que estaria com um "amigo do colégio". Ao entrar em casa, me deparo com Bertram sentado no sofá como um verdadeiro robô. Ele parecia estar assustado com algo, só não pude identificar muito bem com o quê. Seus olhos estavam petrificados na tela negra da TV. Sentei-me ao lado dele, tentando chamar sua atenção.

— Ei. - estalo os dedos e ele finalmente acorda do "transe" - O que houve?

Bertram, de repente, encontra um empecilho para falar, mas depois de segundos, ouvi sua voz.

— Papai está extremamente zangado com você. - ele mal vira a cabeça - Por favor, Hector, tome cuidado ao falar com ele.   

Engoli em seco, sem desprezar nem uma vírgula do conselho do meu irmão. Dei alguns passos até chegar no laboratório do grande dr. Stanley e estremeci só de pensar no que ele tinha a me falar. Eu sabia que ele estava lá dentro, eu conseguia sentir.

— Hector! - ouvi sua voz. Meu coração disparou, mas continuei descendo as escadas.

Fiquei na sua frente, admirando o homem que por 9 anos chamei de pai. Seu rosto estava rígido e os vestígios de uma barba mal feita indicavam que ele estava trabalhando em algo - que eu não deveria saber -. Sua voz estava calma demais para vir algo bom, portanto, tentei manter distância.

— S-Sim, pai?

— Sabe o que eu penso das pessoas que descumprem meus acordos? - não sei por que, mas ele resolveu enfatizar o "meus". Neguei com a cabeça - É mesmo? Pois bem, nem eu!

Dessa vez, sua voz veio como um rugido. Ele se ergueu da cadeira, cerrou os punhos e bateu na mesa com toda a força que tinha - e era muita! -. Continuei a me afastar dele, mas Stanley só se aproximava cada vez mais, como um verdadeiro ímã.

— D-Desculpe, pai.

— Estou farto de te ver em meu laboratório e agora, ainda mais por não me obedecer. - a esse ponto, minha mãe ouvira tudo e desceu as escadas do laboratório. Ela se posicionou na minha frente, para me proteger.

— Stan, tenha calma. Ele é seu filho.

— Não me venha com essa, Laura! - esbravejou, apontando pra mim - Sabe muito bem que Hector se mete em muitas confusões. Não se lembra quando seu último experimento falhou? Foi um fracasso!

Meu peito foi engolido por chamas, parte por eu me obrigar a não chorar, como também por causa do medo que ele emitia.

— Se me desse uma chance, eu poderia ter feito melhor. - argumentei. Stanley apenas olhou para mim com mais raiva.

— Não ouse dizer mais uma palavra! Agora vá para seu quarto e só saia de lá quando eu ordenar.

Obedeci às suas ordens, mesmo sem nenhuma vontade. Tranquei-me naquela zona, que já chegou a ser confortável em algum dia, e chorei. Até meus pulmões arderem. Enquanto eu apertava meu travesseiro e o empurrava miseravelmente contra o rosto, sinto algo roçar contra meus dedos do pé. Era o panfleto do tal Black Hat.

PROCURA-SE MORDOMO DO MAL

 BLACK HAT CORP. 

 Aquilo era um sinal? E se eu realmente desse uma chance a esse cara? Sem mais delongas, sequei minhas lágrimas com um lençol e abri a janela do meu quarto. Eu sabia muito bem qual era meu destino, agora. Peguei o jaleco que Stanley me dera no meu aniversário de 11 anos e me despedi da casa dos Flug.


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