Os Quatro Elementos escrita por Mrs Moon


Capítulo 4
Ato III


Notas iniciais do capítulo

Segue o 3º Ato, espero que gostem.



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   - Estou sozinha!
    Haruka olhou para os lados. Só havia um vazio mórbido,  iluminado pelo rastro do brilho das almas de suas amigas. Os gritos de Hotaru e as últimas palavras de Michiru ainda ecoavam por aquelas paredes vazias.
    - Por que também não fui levada? O que elas tinham que eu não tenho? Por que preciso ficar sozinha? Eu não gosto de ficar sozinha. Eu sei que está aí, por que não vem me buscar?
    Uma risada cruel seguiu os apelos de Haruka e continuou constante minuto após minuto. As vozes de Hotaru e Michiru misturaram-se a ela; e o que fora um grito e uma despedida amorosa transformou-se em uma risada companheira e elas continuaram rindo dentro e fora da cabeça de Haruka.
    A senshi de Urano caiu de joelhos no chão tapando os ouvidos com força, o som era ensurdecedor e vinha de suas memórias. Risadas que a atormentaram a muito tempo atrás. Começou em um murmúrio e terminou em uma ordem sarcástica gritada pela guerreira dos ventos:
    - Parem! Parem, vocês são muito cruéis e vão pagar por isso!
    - Quem é cruel, Haruka? Você não tem amigos, admiradoras como alguém pode ser cruel com Haruka Tenou, a Sailor Uranus? – a voz soou cínica, mas era muito conhecida dela; a única que chorava ao invés de rir, a dela aos 5 anos.
    - Elas foram cruéis! Todas elas e eles também riram de mim. Riram todos só porque eu era diferente! Só que eles não perceberam que na época eu não era muito diferente, mas me tornei. Naquele dia, eu mudei e fiquei forte e eles nunca mais poderiam rir de mim.
    - Se é tão forte assim, por que ainda os ouve rindo?
    Haruka virou a cabeça para os lados e respondeu muito baixo:
    - Eu não sei! Eu já mandei eles pararem, mas não me escutam mais.
    Uma porta pequena apareceu na frente de Haruka e dela saiu uma bela menininha de pouco mais de cinco anos, olhos azuis e vestido branco, os cabelos loiros caindo pelos ombros presos com fitas azuis com um rabo de cavalo. A menina sorriu para Haruka estendeu a mão e disse para a senshi:
    - Vamos voltar! Lá atrás eles irão ouvir.
    Haruka sorriu e de mãos dadas com a menina adentrou pelos Portões do Passado.

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    - Chibiusa! Espere, onde estamos indo?
    - Ver a mamãe. Vamos Hotaru abra os olhos, precisa olhar para ela.
    - Não posso, eles doem muito. Se os mantiver fechados vão doer menos.
    - De que adianta ter olhos tão bonitos se os mantêm fechados? – indagou Chibiusa com um gesto irritado.
    - O quê? – perguntou Hotaru chocada com o tom de voz de sua amiga.
    - Você é uma boba mesmo! Não quero mais ser sua amiga. – a menina gritou e saiu correndo.
    - Chibiusa! – chamou Hotaru. – Não vá! – em um murmúrio. – Você é a minha única amiga.
    Algumas lágrimas começaram a rolar pelos olhos da garota, escorriam pela face deixando um rastro de carne queimada por onde passavam. Porém, a senshi de Saturno não se importava, a dor em seu coração era muito maior. Começou com uma pontada leve e constante, acalentada pelo gélido bafejo da solidão que a envolvia. Sentia-se sozinha e desamparada no vazio, o mundo parara de existir. Só existia a dor que a envolvia inteiramente. Beirando a insanidade, ela procurava pelas feridas deixadas pelas lágrimas. Não queria mais afastar a dor, aquela era a única prova de que ainda estava viva.
    - Enfim entendeu! A dor é parte da vida minha filha. É impossível viver sem sentir dor. Como é impossível ser sempre boa, sempre há uma pontinha de maldade, o segredo é nunca deixar que passe de uma pontinha. Estou feliz por ter ensinado isso a você meu vaga-lume. Isso redime pelo menos parte dos meus pecados e todo o sofrimento que causei a você.
    A voz do Professor Tomoe confortou o espírito de Hotaru que voltou a sentir-se protegida como a muito tempo não se sentia.
    - Sim, papai. Mas...
    - Você é mesmo uma covarde, ainda não abriu os olhos!
    - Quem é você? Eu te conheço? Onde está meu pai?
    - Abra os olhos e veja por si mesma. - terminou com um sorriso de mofa. – Vaga-lume.
    Com dificuldade, Hotaru abriu os olhos roxos, como que por encanto a dor desaparecera. Olhou para as mãos e levou-as até o rosto curando-se das feridas das lágrimas anteriores. Levantou os olhos procurando a mulher que lhe falara a pouco. O salão estava vazio.
    - Estou aqui.
    - Onde? Apareça, por favor!
    - É você quem está pedindo.
    Hotaru sentiu um estranho formigamento em seu corpo, sacudiu a cabeça tentando se livrar dele, sem querer seu corpo sacudiu junto. Uma poeira roxa saiu dele e começou a tomar a forma à sua frente. A poeira  tomou forma e a figura de uma bela mulher de longos cabelos roxos com uma estrela negra tatuada na testa apareceu em sua frente.
    - Mistress Nine!
    A garota riu da confusão de Hotaru, passou as mãos pelos cabelos e olhou para os lados:
    - Que pena, não há nenhum espelho por aqui! Continuo tão bonita como antes? – perguntou com um sorriso maldoso nos lábios.
    - Não pode ser, você está morta! – murmurou Hotaru. – Morta!
    Mistress Nine riu:
    - Aí, você é muito tola. Eu não posso morrer enquanto você estiver viva. Estivemos juntas muito tempo. Sou uma parte de você agora e enquanto viver, Hotaru Tomoe, eu também viverei.
    - É mentira, eu não sou má.
    - Você demora a aprender mesmo, papai não lhe disse que todos temos uma pontinha de maldade.
    Hotaru confirmou com a cabeça.
    - Então eu sou essa pontinha. Mas com o poder do Pharaoh Ninety eu consegui força suficiente para ser mais que uma pontinha. Infelizmente, seus sentimentos humanos me colocaram no fundo novamente. Mas agora que estou de volta vim para ficar.
    Hotaru fechou os olhos e ficou calada. Mistress 9 sorriu vitoriosa e completou:
    - Já que ficou calada concorda não é? Agora, você decide. Vivemos juntas no mesmo corpo ou você vai virar fantasma, não estou disposta a me contentar com essa poeira mágica.
    Hotaru continuou calada, levantou a cabeça e as mãos e quando abriu os olhos o Silence Glaive apareceu em suas mãos. Com um sorriso decidido apontou para Mistress 9.
    - Não pode me atingir, se me matar, mata a você também.
    - Silence ... – Mistress 9 arregalou os olhos surpresa e voltou ao corpo de Hotaru com esperança de que lá não seria atingida, a Senshi de Saturno riu, apontou a lança para si mesma e murmurou: - Wall!
    - Não! – Gritou Mistress 9. – Por quê fez isso? Vai morrer junto comigo, não vê que é impossível viver sem mim, você nunca será inteiramente boa é a guerreira da destruição.
    - Não quero viver se tiver você junto a mim. Renego a destruição, a dor, o medo. Minha mágica só vai ter uma cor e minhas mãos só irão destruir a dor!
    O ataque chegou ao seu ápice e Mistress 9 gritou em agonia, Hotaru sorria. Não tinha mais medo, seu coração transbordava de certeza, caiu no chão com o corpo todo ensangüentado, sua alegria era tão grande que não sentia a dor, cansada dormiu. Uma luz prateada saiu de suas mãos e envolveu-a em um casulo, quando tornou a acordar estava na frente do Quarto Portal e seu corpo estava curado.

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    O Portal do Presente é o mais lindo e imprevisível de todos. Ele nunca está da mesma maneira, muda de cor, tamanho e formato a cada instante. O mais interessante do Portal do Presente é que ele nunca está fechado. Foi por sua abertura que Michiru entrou pouco depois de deixar Haruka sozinha. O som e a estranha mobilidade a atraíram, sabia que de nada valeria para ela ou para Haruka continuarem juntas se o mundo acabasse, jamais se perdoaria pelo egoísmo.
    Michiru sempre gostou das coisas delicadas, singelas e minuciosamente perfeitas. Sua vida era minuciosamente planejada. Seus gestos, seu corpo, suas roupas e sua casa. Tocava violino com maestria, sentindo a música em cada um de seus acordes. Havia duas coisas que Michiru amava com toda sua alma, o som do mar e o do violino, ambos eram melodiosos e únicos. Amou Haruka por que era única e a compreendia. Ela era a única pessoa em quem podia confiar para guia-la.
    O som misterioso que a atraíra para o portal fora o mar tocando a areia com suas ondas, quando chegou ao portal e o atravessou não encontrou o mar. Encontrou uma sala vazia com haviam vários corredores escuros.  Ela não se atrevia a seguir nenhum. Não sabia onde dariam, não podia ficar andando ao léu assim, precisava voltar para Haruka. Não fora uma boa ideia sair sozinha. Mas não havia como voltar, só podia andar em frente ou ficar parada. As escolhas eram poucas e ela não sabia o quê fazer. Manteve-se parada olhando para os lados, esperando o que aconteceria em seguida.
    - Não pode ficar parada para sempre!
    - O quê? Quem está falando? Haruka é você?
    - Você não pode sempre ficar esperando Michiru. Têm que correr atrás do que quer. Tem que escolher seu caminho.
    - Mas eu não sei qual é o melhor?
    - O melhor caminho é o que você vai escolher. Porque ele será o único que vai percorrer. Os outros você nunca vai saberá.
    - Mas, por que eu não posso ficar parada?
    - Por que se você não escolher um caminho. A vida vai escolher por você.
    Um dos corredores se precipitou e como em uma escada rolante foi puxando a senshi. A garota sentiu um grande alivio, mas a curiosidade imperou e ela perguntou:
    - Mas não seria melhor que o caminho é que escolhesse quem for andar por ele? Não é mais lógico. Se ele escolheu ele é o melhor.
    - Talvez, mas você nunca vai saber. Só vai saber que não foi você quem escolheu. As lágrimas ou os sorrisos que der, não serão frutos de sua vontade. Não importa o caminho o importante é saber percorre-lo e se você não sabe nem dar o primeiro passo, acha mesmo que vai chegar ao final?
    Michiru ficou calada. Olhou para seus pés que percorriam o caminho imóveis, pareciam dois objetos inanimados, sem vida e vontade própria. Chacoalhou a cabeça:
    - Não? Eu não sou assim? Não sou uma covarde que deixa para os outros as decisões.
    Virou-se e começou a correr para o lugar onde estava, mas era muito difícil o chão indicava outro caminho e ela precisava lutar contra ele. Começou a saltar, mas toda vez que caía no chão voltava alguns passos no seu caminho. Lágrimas de exaustão escorriam pelos seus olhos, perdeu o equilíbrio e caiu, mordeu os lábios e disse:
    - Não! Eu não vou desistir!
    Tornou a levantar-se e continuou saltando e correndo até chegar ao ponto original, o chão não se movia mais sozinho. Parou exausta colocou a mão sobre o coração que estava acelerado e tentou recuperar o ar, ainda tinha que escolher seu caminho.
    - Michiru? O que está fazendo aqui?
    A Senshi de Neptune ergueu a cabeça procurando a voz que a chamava, levou um susto ao reconhecer o Quarto Portal em sua frente. Sorriu ao encontrar a Sailor Saturn parada olhando-a:
    - Eu escolhi meu caminho.


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    Risadas, muitas risadas, repetindo-se incessantemente. Todas com o mesmo sentido e cadência vindo de várias pessoas. A risada genuína é uma das maiores demonstrações de felicidade, porém alguns tipos de risos podem magoar. Certas risadas ferem com mais força que um punhal, deixam marcas profundas e cicatrizes eternas.

    As crianças são as criaturas mais adoráveis da terra, pequeninas, belas, inocentes e desprotegidas. Uma criança é inocente mesmo quando é cruel e ninguém pode ser mais cruel do que uma criança. Cada apelido, cada risada, cada demonstração do eterno egocentrismo é cruel e inevitável. Qual criança não gargalhou ao ver outra cair sem se preocupar com algum possível ferimento? Qual a criança que não apontou o dedo ao ver o defeito de outra e riu? O grande problema é que o alvo das risadas talvez nunca as esqueça.

   Haruka chegou em um parque muito bonito com árvores grandes e cheias de galhos. Onde as crianças corriam, subiam nos galhos e se escondiam nos canteiros de flores. Neste parque em especial havia uma pista onde eram realizadas corridas de kart, os meninos vinham competir com os carros construídos por eles mesmos. 

   Naquele dia havia uma grande corrida, muitos meninos estavam pilotando carros e as meninas de longe gritando e torcendo. Um carro de madeira, branco com listras rosas venceu, quando o motorista todo feliz tirou o capacete uma vaia o seguiu. Haruka fechou os olhos. “Deus como se lembrava desse som!”

A menina que a trouxera para lá, estava ao lado do carro, com um macacão branco de listras rosas como o carro e com os cabelos loiros soltos caindo despenteados pelas costas graças ao efeito do capacete. Era uma menininha muito bonita, mas os meninos ao invés de cumprimentá-la, tiraram-lhe o troféu e destruíram o carro. Haruka quis impedir, mas seus pés não se moviam estava paralisada. Lágrimas silenciosas corriam por seus olhos, mas ela não conseguia fazer nada. Os meninos terminaram seu trabalho e saíram dali rindo, a garota ficou sozinha olhando para as meninas que assistiam tudo indiferentes, deu um passo a frente buscando consolo das amigas, mas só viu costas se virando e as lágrimas saltaram e ela correu para casa.
   Depois daquele dia não foi mais aceita nem pelos meninos, nem pelas meninas. As risadas sucederam as vaias e os apelidos foram se multiplicando, até que ela se mudou para um lugar onde ninguém a conhecia. Mas ainda não era aceita, era muito alta e os vestidos não caíam tão bem como nas outras meninas, novas risadas e novos apelidos. Porém continuava a amar os carros e a velocidade. Construiu vários modelos e cortou os cabelos, tornou-se forte e derrotou todos que não a aceitavam. As risadas porém, nunca saíram de sua mente.
Relembrava tudo agora com clareza e com a mesma dor, a menina estava lá com seu vestido branco, fitas azuis no cabelos, mas todos riam, riam. Não aguentando mais o som Haruka aproximou-se e com uma voz imperiosa ordenou as crianças:
    - Parem!
    Os rostos voltaram-se para ela assustados. Era o centro das atenções novamente, os olhos a estudavam com cuidando procurando o apelido mais adequado e as risadas recomeçaram, e o que eram crianças tornaram-se monstros que começaram a atacá-la de todos os lados. Naturalmente começou a revidar, voadoras, socos seguiam-se por fim apelou aos seus poderes já que os monstros continuavam a atacar e estavam começando a machucá-la:
    - World Shaking!
    Uma série de monstros caiu ao chão, mas eles tornavam a levantar-se e atacá-la com ainda mais força e com feixes de energia. Teria que usar seu ataque mais perigoso. Preparou-se e disse:
    - Space Sword...
    Um grito a interrompeu. Era a menina loira que gritava com lágrimas nos olhos. Haruka correu até ela procurando pelo mostro que a havia atacado. Não havia nenhum por perto, eles estavam distantes e ela parada chorando. Abaixou-se e examinando a menina perguntou:
    - Por que está chorando?
    A menina ergueu a cabeça, limpou os olhos azuis com as mãos sujas e com voz chorosa respondeu:
    - Eu não gosto de brigas!
    Haruka sentiu o coração e a mente congelarem. Os monstros aproximavam-se, queriam continuar lutando, sempre lutando, nunca poderia vencer, sempre seria uma luta perpétua. Com a voz baixa ela disse:
    - Eu também não - erguendo a fronte disse com a voz decidida. - Eu não gosto de lutar! Eu não vou mais lutar!
    Os monstros desapareceram e no lugar deles estavam as crianças que continuavam a olhá-la com expressão assustada. Haruka sorriu para elas e disse:
    - Não deveriam rir dos outros assim. Ela vai ficar triste, por que não brincam ao invés de brigar?
    Uma menina de cabelos negros respondeu:
    - Ela é estranha, gosta de carros.
    - Qual o problema? Aposto que você também gosta de carros, toda garota gosta. Só que você gosta de passear neles e ela de dirigir. Isso a torna tão diferente assim?
    A menina parou e pensou, olhou demoradamente para Haruka e depois para a menina sorriu e disse:
    - Não mesmo! – chegou perto da garota e pegou-a pela mão e perguntou. – Vamos brincar?
    A pequena Haruka enxugou os olhos e concordou. A Senshi de Urano olhou para os garotos e indagou:
    - E vocês?
    Os garotos também olharam e disseram para a garota.
    - Desculpe. Mas você ainda é estranha. – e saíram correndo.
    Haruka olhou para a menina abaixou-se deu-lhe um beijo no rosto e disse baixinho no ouvido:
    - Não se pode ganhar todas!
    A garota riu e correu para brincar com as outras, Haruka ficou parada sorrindo e sem perceber estava de volta ao Quarto Portal na frente de Michiru e Hotaru.


    - Elas conseguiram! – Setsuna sorriu. – Elas conseguiram, vão estar aqui em breve. Temos uma chance!


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Notas finais do capítulo

Só falta mais um capítulo para o final da história. Comentem!



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