Percy vivia fazendo promessas.

Ele se lembrava de cada promessa que havia feito e, até o dia atual, não havia cumprido nenhuma.

Sua promessa mais importante e marcante foi no segundo ano do ensino médio. Percy estudava em uma escola bastante simples. Sua escola tinha dois prédios de dois andares cada com, mais ou menos, 20 salas no total. Também continha uma biblioteca, uma quadra, um refeitório e uma área que era pra ser de estudos, mas ninguém estudava, só fofocavam e se agarravam uns com os outros. Percy estudava nesta escola á seis anos e pretendia formar nela. Mesmo com metade dos professores o odiando, Percy se esforçava muito para se sair bem nos estudos.

Percy tinha uma melhor amiga chamada Annabeth. Ela era aquele tipo de pessoa com quem você podia contar tudo e para tudo. Assim que Percy a conheceu, ele sabia que ela era diferente e que seria uma amizade eterna... Ou não.

Os dois realmente ficaram muito próximos depois de pouco tempo. Eles até chegaram a ficar em uma gincana que teve na escola, e não deixaram isso atrapalhar sua amizade. Alguns meses depois da gincana, Annabeth assumiu para Percy que havia se apaixonado por ele. Foi um choque para ele. “Eu não estou em um bom momento para um relacionamento, entenda, por favor.” Ela assentiu e, com maturidade, a sua amizade não mudou em nada.

A promessa aconteceu em uma aula de química. Percy era parceiro de Annabeth no laboratório da escola. Era um laboratório sofisticado para uma escola simples como a de Percy. Tinham duas bancadas grandes de mármore que se estendiam paralelamente. Na quina uma grande pia e um armário cheio de aparelhos e suprimentos. Na lateral havia um pequeno chuveiro, como uma ducha, e no fundo da sala havia um quadro branco, várias maquetes de sistemas do corpo e elementos químicos. O teto era uma enorme tabela periódica e ao lado da porta havia ganchos em que se encontravam jalecos e óculos de laboratório. Em cada bancada continha três caixas de luvas e máscaras.

O objetivo da aula era desidratar e reidratar CuSO4 , mais conhecido como sulfato de cobre, e anotar o que poderia ser observado, a atividade valia oito pontos e, como estavam no último bimestre, todos corriam para fazer uma atividade bem feita. Percy e Annabeth nada faziam, o que deixava Dite, a professora mais gata da escola, furiosa. A verdade é que Annabeth já havia conseguido os pontos necessários para ser aprovada na matéria, e nem com os pontos da atividade Percy conseguiria ser aprovado, sua nota em química era péssima. O motivo? Ele não prestava atenção nas aulas de química, porquê ficava suspirando pela professora as escondidas.

—Eu ainda não acredito que você ficou de recuperação nesta matéria. Dite praticamente dá ponto de graça- disse Annabeth, enquanto desenhava qualquer coisa no caderno.

—Eu ia gostar mais se ela me desse outra coisa. - Disse Percy com um sorriso malicioso nos lábios.

Annabeth riu e o empurrou.

—Você é um idiota, sabe disso, não é?

—Fala a verdade, - ele apontou para a professora que estava de costas para os dois- olhar pra ela não desperta um desejo lésbico em você?

—Claro que não, seu idiota. – ela riu alto – Você sabe qual o meu desejo.

Percy olhou pra ela e percebeu que ela o olhava também. Ele fez uma careta e desviou o rosto corado.

—Já te disse o que eu penso disso. – disse ele, mortalmente sério.

Annabeth engoliu em seco, mas continuou:

—Percy, você é o único com que eu quero estar. Se você não está pronto agora, quando vai estar?

Percy suspirou:

—Eu não sei, é só o momento. Você conhece minha situação em casa e nos estudos. Eu me esforço, mas com o meu TDAH eu não consigo me concentrar, minhas únicas notas realmente boas são em português, história e filosofia. Eu não posso me dar ao luxo de ter um relacionamento agora.

—Então vamos fazer um pacto.

Percy a olhou com os olhos arregalados.

—Com o diabo? Eu não, não é minha praia e nem sabia que era a sua. – Percy fez um sinal da cruz, como os católicos. Annabeth sorriu e lhe deu um soco leve no ombro.

—Não, um pacto entre nós dois. – Percy assentiu- Se quando tivermos 45 anos e não estivermos casados...

—A gente se mata. - disse Percy a interrompendo. Ela fez uma careta. – Pelo amor de Deus, 45 anos sem aliança no dedo ninguém merece.

Ela bufou e continuou:

—Certo, se chegarmos aos 25 anos e não estivermos em um relacionamento nós namoramos. Antes disso, nós continuamos só amigos. O que acha?

Percy pensou por um tempo e assentiu.

—Então eu prometo que aos 25 anos, se ambos estivermos solteiros, - disse Percy- Eu te peço em namoro.

O sinal bateu e todos da sala se levantaram.

—Então está prometido, Percy. – ela beijou sua bochecha e tirou sua pulseira- Como uma lembrança da nossa promessa.- Colocou a pulseira no pulso de Percy. Era uma pulseira daquelas de praia, trançada com uma pedrinha vermelha, uma amarela e uma verde, um símbolo da paz e novamente as três pedrinhas idênticas. – Até depois Percy. – Ela se levantou e saiu da sala, deixando Percy sozinho com seus pensamentos.

5 anos depois

Percy acordou ás sete da manhã em pleno domingo. Típico. Poderia ter dormido até as duas da tarde, mas não. Depois de acordar, Percy não conseguia dormir mais. Se levantou da cama, abriu as cortinas, deixando a luz do sol entrar e clarear todo o quarto. Arrumou sua cama, que estava totalmente bagunçada já que Percy mexia muito durante a noite. Depois, seguiu até o banheiro de seu quarto. Olhou-se no espelho e riu. Seus cabelos pretos estavam enormes e totalmente bagunçados. Fez uma nota mental de cortá-los mais tarde naquele mesmo dia. Passou a mão em sua tatuagem no braço esquerdo. Era o desenho de duas faixas, uma mais grossa que a outra, que davam a volta em seu bíceps. Ele havia visto esta tatuagem em uma de suas séries favoritas, Teen Wolf, e resolveu fazer, mas isto é outra história.

Tomou um banho e vestiu uma bermuda verde com uma camiseta branca, estava muito calor. Calçou seus chinelos, brancos também e arrumou sua pulseira em seu pulso, a mesma pulseira dada a ele por Annabeth, cinco anos atrás. Percy sentou-se na cama e se permitiu pensar em Annabeth como fazia todos os dias. Depois da formatura do ensino médio eles continuaram amigos. Ela continuou em sua cidade trabalhando em um mercadinho juntando dinheiro para poder pagar sua faculdade de medicina, já Percy, conseguiu 80% de bolsa em uma das melhores faculdades dos Estados Unidos(foi uma grande surpresa ele ter conseguido e Annabeth não), se mudou para a Califórnia e começou a trabalhar como professor em uma escola de ensino fundamental perto de sua faculdade. Percy esperou um ano para começar a faculdade. Com o seu salário ele conseguia pagar os 20% restantes de sua faculdade e dividia o aluguel de um apartamento, à três quarteirões de distancia do seu trabalho, com seu melhor amigo, Jason. Depois de mudar de cidade, Percy e Annabeth mantiveram contato por conversas e Skype. Mas, com o tempo, as conversas começaram a se tornar cada vez mais raras até que se tornaram extintas. Annabeth não tinha nenhuma rede social, então Percy não sabia o que acontecia em sua vida nos últimos três anos. Hoje, Percy tem 22 anos, assim como Annabeth. Ele nunca se esqueceu de sua promessa.

Balançou a cabeça pra espantar estes pensamentos e seguiu para a sala de estar. Ao sair viu Jason sentado no sofá com uma garota em seu colo.

—Bom dia. – disse Percy sem animo algum.

A garota saiu do colo de Jason, com vergonha e se sentou no sofá.

—Bom dia. – disseram juntos.

Percy foi até a garota e estendeu a mão.

—Prazer , eu sou Perseu, mas pode me chamar de Percy.

Ela apertou a sua mão com receio.

—Oi, eu sou Piper, quando chegamos você já dormia, por isso não me viu. Desculpe-me por isso.

Percy sorriu e abanou a mão.

—Relaxa, esta casa não é só minha, ela também é do Jason. – Jason riu – E eu não te vi, mas eu te ouvi a noite toda. – disse Percy, com seu sorriso mal-intencionado natural.

Piper corou e Jason jogou um travesseiro em Percy.

—Seu idiota. – disse Jason, fazendo Percy sorrir e lembrar-se de Annabeth na parte do idiota. Jason era um garoto loiro de olhos azuis, como o céu, e por isso toda as garotas da faculdade suspiravam por ele. Toda semana ele levava uma garota diferente pra casa e Percy já havia cansado de tentar decorar os seus nomes.- Vamos dar uma volta, baby?

—Vamos- disse Piper. - Eles se levantaram e deram as mãos.- Obrigado por tudo Percy.

—Eu nem fiz nada. – ela riu e eles saíram juntos.

Percy suspirou alto e passou a mão nos seus cabelos. Quando iria abrir a geladeira, para tomar um pouco de leite, ele ouviu a campainha tocando. Percy bufou e gritou para a porta;

—Esqueceu a chave, Jason?

A campainha tocou novamente e Percy foi até lá atender dizendo:

—Da próxima vê se não esque... - ele abriu a porta e lá estava ela. Seus cachos loiros iam até os ombros, seus olhos acinzentados brilhavam com a fraca luz do sol que entrava pela pequena janela do corredor. Ela usava um vestido azul simples com uma sapatilha branca. Percy ficou sem palavras.

—Oi, muito prazer, meu nome é Annabeth. – ela apontou para o apartamento atrás dela e Percy pode ver uma pequena tatuagem em seu pulso, a palavra “promised”, prometido em inglês.- Eu sou a nova moradora do 401, você poderia me ajudar com a minha porta? Ela emperrou.

—Annabeth?- disse Percy, ainda aturdido.

—Sim.

—Não se lembra de mim?

—Eu deveria?

Percy ficou sem chão. Por cinco anos ele não se esqueceu dela, o mesmo não pode ser dito dela. Ele balançou a cabeça como tinha costume de fazer e disse:

—Não, prazer me chamo Percy.