Sorts: A alma perdida escrita por Alicia LMs


Capítulo 1
A porcaria da porta batendo




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Trevor sentiu o cobertor mexer e percebeu que alguma coisa subiu em sua cama. Olhou para as cortinas e presumiu que devia ser antes das 6:30 da manhã, ou seja, Nala, sua cachorrinha, tinha feito seu papel de despertador adiantado mais uma vez.

— Que foi, garota? - Ele acariciou sua cabeça com o lacinho rosa torto. - Pensei ter ajeitado esse laço antes de dormir, Nala...

Ela balançou o rabinho, contente, e desceu da cama. Trevor a acompanhou, pois o despertador tocou. Foi ao banheiro, tomou banho e desceu para preparar o café.

Depois de fazer toda sua rotina da manhã, ele seguiu para a escola. Ah, a escola. Último ano; formulários de aplicação para faculdades se encontravam em sua escrivaninha, e ele não aguentava mais nem olhar para aquele monte de papel. Mas também estava louco para se livrar dos garotos chatos e implicantes e das meninas de quem já levou mais foras do que pode contar. No meio de tudo isso, para ajudá-lo a passar por essa instituição educacional torturante havia seu fiel amigo Scott.

— E aí, cara? - cumprimentou Scott. - Pronto para mais uma semana de "qual a personalidade histórica envolvida na Batalha de Waterloo?"

— Nunca estive - respondeu Trevor -, e você?

— Nasci pronto. - Scott sorriu, confiante como sempre.

Ambos se tornaram amigos por serem os únicos meninos da série deles que sabiam a diferença entre "mas" e "mais", enquanto os outros estavam muitos preocupados em saber a diferença entre namorar a caloura Sarah Clearlake e a veterana Britanny Johnson. Claro que Trevor sempre quis saber a diferença também, mas respeitava as meninas o suficiente para não namorá-las ao mesmo tempo, como faziam os atletas brutamontes.

— Senhores, temos uma aluna nova - disse o sr. Clark, professor de História. - Senhorita Amber Wayne, pode se sentar na carteira ao lado do sr. Barns.

A menina olhou para Trevor e não abriu um sorriso tão largo quanto ele gostaria, mas foi o suficiente para ele perceber que ela não era a típica novata nerd e tímida dos filmes. Ele era assim.

— Cara... Gata - suspirou Scott.

— Poderia notar outra coisas nas meninas além de beleza? - Amber se virou para Scott e deu dois tapinhas no rosto dele. - Talvez seja por isso que não tenha ninguém ao seu lado.

Scott se encolheu e deu uma cotovelada em Trevor por rir dele.

A maioria das aulas, Trevor percebeu, ele teria com Amber, e que ela preencheria o banco vazio ao lado do seu no laboratório de biologia.

— Consegui descobrir porquê seu amigo só tem você, mas não entendi a razão pela qual ninguém senta aqui. - Amber o tirou dos pensamentos sobre como conseguir criar uma aventura em um RPG.

— Ah... er... - gaguejou ele. - Eu não falo bobagens sobre garotas... ou sobre ninguém, então ninguém também fala comigo.

— Estranho. Com seu porte físico eu juraria que você era um dos atletas. Claro, um dos atletas que sobressai do padrão e estuda.

Ambos riram. Trevor percebeu que o seu sorriso parecia muito com o de alguém muito próximo a ele, mas o sorriso não durou muito para ele lembrar quem.

Com o passar do dia, Trevor perdia e achava Amber pela escola, sempre trocando sorrisos, e ele criando esperanças de que ela seria sua acompanhante no baile de formatura.

— Tchau, Amber - ele disse no fim da aula de Inglês.

— Tchau... Barns - Amber disse, estranhando ele ter vindo apenas dar tchau.

Em casa, Trevor passou pela extremamente feliz por sua chegada Nala e foi para a sala de jantar encontrar os pais.

— Olá, querido, como foi a aula? - Ravena Barns, sua adorável mãe, sorriu.

— Incrível. - Trevor se sentou à mesa, sorrindo. - Há uma garota nova, Amber, ela é muito carismática e inteligente.

— Quando conheceremos essa Amber? - perguntou Josh, seu pai/ professor de Física - Amber de quê, aliás?

— Amber Wayne - respondeu Trevor.

Ravena soltou o abridor de latas na pia e se virou para Josh, ambos pálidos.

— O que houve? - perguntou Trevor.

— Ah... ahn... Nada, querido, lembrei que temos que ir a uma... conferência na Inglaterra. - Sua mãe sorriu nervosa. - Eu e seu pai.

— Sabe como é, filho - continuou Josh -, Bristol e Oxford jamais se esquecem de seus alunos notáveis. - O pai do garoto tentou rir e fazer referência aos anos de estudante de física e literatura dele e da esposa.

Trevor sorriu mais aliviado, porém estranhou tamanho susto apenas por uma reunião.

— Quantos dias? - perguntou o garoto.

— O fim de semana - respondeu a mãe. - Inteiro. 

— Ah, tudo bem. Eu preciso ir?

— Não, não. Fique aqui. Não saia, ouvi falar de uns sumiços de garotos pela região - inventou Ravena.

O jantar correu com os pais de Trevor parecendo meio tensos e tentando disfarçar, puxando assuntos sobre a faculdade de Direito de Havard, para onde Trevor planejava ir.

Ao fim da noite, enquanto fazia o dever de biologia e se lembrava da habilidade de Amber para determinar a diferença entre as fases da mitose, alguém bateu na porta, no andar de baixo.

— Eu atendo - Trevor correu as escadas, pensando ser Scott ou, com um fio de esperança, a encantadora Amber.

Ao invés disso, uma mulher com uniforme de carteira estava na porta.

— Trevor Barns? - disse ela, a voz arrastada. - Assine aqui.

— Não está meio tarde para o correio estar entregando cartas? - indagou ele, enquanto assinava.

A entregadora riu, murmurando algo sobre ele não saber nada sobre seu povo, entregou duas cartas e saiu, sumindo na esquina.

— Quem era, filho? - perguntou seu pai.

— Scott - mentiu ele. - Deixou aqui meus resumos sobre Macbeth.

— Por que não o convidou para entrar? - Ravena indignou-se, adorava Scott e sua amizade com o filho.

— Ahn... Ele estava com pressa para visitar a tia no hospital.

— Ah, puxa! Mande melhoras por mim.

Trevor subiu as escadas tão depressa quanto desceu e trancou a porta do quarto. Ascendeu a luz da escrivaninha e abriu uma das duas cartas, endereçada a ele.

Quando acabou, perguntou-se por que ele atendeu a porcaria da porta batendo.


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