Glacius- Habitantes do Desconhecido escrita por Alice Prince


Capítulo 6
CAPÍTULO SEIS – Sinta o nosso frio


Notas iniciais do capítulo

ESSE ERA PARA SER O ÚLTIMO CAPÍTULO, MAS NÃO VAI AAAH ♥
É isso meus amores da minha doce vida eu tive mais umas ideias pra amarrar umas pontas e bom talvez venham mais dois capítulos ♥
Amor vcs boa leitura!



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Eu só pedia para que não encontrasse algo, eu não sabia se seria capaz de fugir, ainda conseguia lembrar o quão hipnotizante eram os olhos esverdeados daquela coisa, e a presença que aquilo que iluminava o céu teve sobre mim.

Mexi os ombros enquanto pisava de forma lenta, tentando ser discreta, arrumei o taco em minhas mãos, sentindo o suor em meus dedos fazer com que o aperto não ficasse firme o suficiente. Praguejei tanto pelo maldito plano de Josh enquanto seguia pelo extenso beco, havia escolhido a rua do lado direito, espera que a rua sete estivesse realmente vazia, não apenas daquelas, mas de tudo que eu não queria ter que encarar.

Vez ou outra eu podia sentir um arrepio correr por meu corpo inteiro fazendo-me temer cada vez mais, o nó em minha garganta parecia se apertar a cada passo que eu dava, meu ritmo era inconstante e meus olhos lutavam para não deixar nenhum canto sem um olhar aguçado, era tudo tão irreal, como uma cidade podia ter sido esvaziada em tão pouco tempo.

Quando eu estava finalmente na esquina em que a porcaria da fonte que Joshua havia citado se encontrava eu senti meu corpo inteiro travar, como se eu sentisse que não era o que imaginava, não ficaria ali calma esperando ele retornar, precisei encostar na parede de um dos prédios, apoiando o taco ao meu lado eu senti meus joelhos fraquejarem, a coragem parecia escorrer de cara poro do meu corpo, me abandonando rápido demais.

— São pessoas mortas, Sofia, apenas um corpo sem vida...— murmurei para mim mesma quando num piscar de olhos tomei o taco em mãos de novo, apoiando em meu ombro. Não me senti surpresa ao ver que as coisas estavam piores por lá, alguns postes da praça em que a fonte ficava estavam no chão, onde faíscas escapavam iluminando o cenário de horror a volta, tinha corpos ali, mais do que em qualquer ouro canto, acho que estavam sendo levados para lá, pois havia um padrão, todos alinhados de forma ajeitada, lado a lado.

Minha mãe sempre me disse que a alma não abandona seu corpo até que se despeça de seus amados, sendo velada e enviada aos braços da paz eterna, aquilo sempre ficou guardado em mim, e uma vez, no velório de um ente querido eu não consegui encarar o corpo sem pensar que sua alma estava lá, vendo todos sofrendo por sua partida, lembro de ter rezado para que ele não sentisse pena de nós, que fosse em paz, a religião não tinha haver com isso, era uma crença de que há algo depois, era o tipo de desconhecido que me fascinava.

Ergui a cabeça e tentei não olhar para eles, havia sangue e eu temia não conseguir continuar ali, observei o que meu campo de visão permitia em busca de um lugar para me esconder, o quanto mais afastado deles era melhor, mas eu deveria passar por eles para chegar a uma banca aberta, não dava muito bem para identificar do que era, mas eu não estava me importando muito. Apenas fique longe dos corpos Sofia.

Não havia nada a se temer, eu poderia ser algum deles ali também, o destino age de formas tão obscuras que nada pode prever seu próximo passo, eu esperava que Josh estivesse tendo sucesso com seu plano idiota, pois eu sabia que teria que passar por cima de meus medos naquele momento. Ainda de cabeça erguida eu iniciei meu percurso, minha respiração era pesada e o taco em minhas mãos parecia se tornar pesado demais para continuar sendo mantido erguido em meu ombro.

A ideia parecia ótima na minha cabeça, mas andando com os olhos presos na banca eu não tinha quase noção de onde meus pés iam, e sabia que precisava me guidar, então baixando o taco eu me forcei a olhar para baixo onde os corpos estavam, havia uma trilha em meio as filheiras e eu comecei minha caminhada novamente, de forma lenta eu não conseguia tirar meus olhos daquelas pessoas, rostos desconhecidos pelos quais eu sentia uma enorme empatia, eram pessoas que estavam vivendo suas vidas num segundo e no outro, bom, eu não poderia dizer, assim como havia sido com o avião no começo desse dia maluco, algo fez com que o curso de tudo mudasse.

Num instante pareceu que tudo se tornou escuro e o ar se fez mais preciso que o normal, senti meus joelhos cederem assim como a força na mão que segurava o taco que bateu no chão produzindo um baque surdo junto com meus joelhos ao se chorar com o concreto da praça…

— Não, por favor não.— choraminguei enquanto sentia que meu coração iria parar de bater naquele instante, minhas mãos tremiam tanto que eu precisei contê-las entre minhas pernas, olhei para cima tentando não observar a cena a minha frente, aquele céu, aquelas luzes, aqueles malditos, era impossível. Ainda de joelhos eu me esgueirei para mais perto de um dos corpos que assim como muitos estavam jogados de bruços, eu reconheceria aquela jaqueta em qualquer lugar, quando consegui pôr as minhas mãos sobre o cadáver que estava gelado e melado por um sangue quase seco eu levei uns segundos até tomar coragem para virá-lo.

Quando eu o fiz foi como se nada mais importasse, pois era ela, minha amiga estava lá, os cabelos negros colados sob a pele agora pálida, os olhos abertos sem vida encaravam o nada e ela tinha muitos cortes pelo rosto. Eu senti meu corpo perder todas as forças naquele momento, mas não tive coragem de desmaiar ali.

— Eu sinto muito, estar aqui foi decisão minha, meu deus.— Minha voz falhou terrivelmente enquanto eu me afogava em minhas lágrimas, toquei seu rosto com receio, com medo e culpa, ao fechar seus olhos eu senti meu corpo ser tomado por um frio tão intenso que não sei como poderia explicar, era como se tivesse pulado em um lago congelado.

Só então notei que havia uma iluminação diferente, algo atrás de mim emitia uma luz de cor azulada, eu não conseguia distinguir se eu tremia pelo frio ou pelo medo que abraçava meu corpo com tanta força que respirar era uma tarefa quase impossível. Com dificuldade ergui meu corpo ainda de costas para o que quer que fosse, olhei mais uma vez para o corpo de minha amiga antes de me virar.

Não havia movimento em meus músculos nem força para gritar ou correr, a única coisa que eu pude fazer foi permanecer ali paralisada sentindo meu corpo todo amortecer. Precisei levantar a cabeça para encarar os olhos daquilo, era muito mais alto do que um homem normal, talvez mais de dois metros, também maior que aquilo que vi na sala no prédio com Josh, diferente daquela coisa esse possuía a pele em um tom azul-claro que de certa forma emitia uma luminosidade azulada, o corpo esguio mostrava o que pareciam ser músculos e os olhos, meu deus, aqueles olhos eram ainda mais indecifráveis do que o ser anterior.

Eu perdi a noção do tempo que fiquei encarando o profundo azul escurecido dos olhos dele, as lágrimas estavam secas em minha face e o frio parecia ter se intensificado de uma forma impossível de acreditar, como se viesse dele. Aquilo estendeu uma das mãos em direção ao meu rosto enquanto ainda estava hipnotizada, sem reação, o toque foi dolorido como tocar em algo quente demais, no caso era pelo frio intenso que me transmitiu…

— Sofia!— Era a voz de Joshua, parecia longe, como se eu estivesse dentro de uma bolha que me isolasse de tudo ao redor, minha mente parecia enevoada, sem pensamentos, sem dor, mesmo que o corpo de minha amiga estivesse logo ali atrás de mim, era como se não houvesse o porquê de permitir que a dor me consumisse.— Afaste-se dela, Sofia…

Senti a mão dele se fechar em torno de meu pulso me puxando para perto de seu corpo, era tão diferente, quente, calor humano, a respiração, os batimentos do coração, Josh me envolveu em seus braços com tanta força que eu senti meu corpo doer, nossos passos eram vacilantes enquanto nos afastávamos cada vez mais daquilo.

— Josh, n-não, você não entende.— Tentei argumentar enquanto ele me levava para cada vez mais para longe de tudo, quando paramos ele olhou por cima de meu ombro, eu sabia que aquela coisa ainda estava lá, por mais que Joshua fosse quente o frio que aquilo emitia fazia com que meu corpo ainda tremesse, os olhos negros dele pareciam não querer acreditar no que via, ele demorou longos segundos até desprendê-los dele e voltá-los a mim.

— Você está bem, não é? Eu falei para se esconder, quer acabar com o que restou de mim?— Havia urgência em sua voz, com uma das mãos ele acariciou minha face enquanto a arma estava firme na outra, haviam alguns ferimentos distribuídos de forma uniforme sobre a pele pálida de seu rosto. Eu não conseguia discernir muito bem tudo o que eu havia começado a sentir novamente. Meus lábios estavam entreabertos para que as palavras pudessem sair, mas não havia o que ser dito.

Segurei a mão de Josh e me virei para encarar mais uma vez o profundo azul intenso daquilo, alto e luminoso, nos observava com o que parecia calma, era o que ele transmitia além do frio, uma calma estranhamente acolhedora, mas ali estava minha amiga ao seu lado, ela ainda estava morta. Me desvincilhei de Joshua e abandonei seu calor dando alguns passos em direção do ser novamente.

— Sofia, o que pensa que está fazendo?

— Tudo bem, Josh.— Eu disse simplesmente ao virar para encará-lo, havia um sorriso fraco em meus lábios, mesmo que eu não pudesse explicar o porquê dele ter surgido. Ele negava enquanto fazia mais uma vez o gesto de checar a arma, logo tratando de apontá-la.— Não!

Ele me olhou como se eu fosse a palavra mais absurda que meus lábios já haviam pronunciado, estava confuso, eu me sentia assim também, mas era mais forte que eu, e não conseguia compreender porque ele não sentia o mesmo.

— Isso não está certo, olhe para esses corpos, Sofia, foram eles, é o que vieram fazer aqui, há pessoas que eu conheço aqui, boas pessoas. Por favor, é apenas um, podemos lidar com ele e sair daqui, juntos, agora afaste.— Era verdade, eram pessoas boas, almas que mereciam seu descanso, mas ele não entendia.

— Joshua, o que um animal selvagem faz quando se sente ameaçado pelo homem?— Ele inclinou a cabeça e me olhou como se eu fosse uma doida, firmou ainda mais o aperto sob a arma, seu dedo roçava o gatilho vez ou outra.

— Ele ataca.— respondeu por fim, a voz rouca e penetrante, os olhos negros vacilavam da criatura para os meus.

— Exatamente, o que somos para o nosso pobre e inocente planeta se não uma raça que destrói tudo aquilo que toca, causamos medo em tudo que nos observa, quem é capaz de trazer tanta dor ao lugar onde vive se não o ser humano...— Eu podia sentir lágrimas grossas e quentes escaparem por meus olhos e rolarem por minhas bochechas com rapidez. Aquelas não eram minhas palavras, não até um tempo, aquela coisa de alguma forma conversara comigo, não era uma bolha em que Josh parecia distante, era como se ele estivesse em minha mente, eu sabia o que fizeram e o porquê.

— Está delirando, precisa se afastar dessa coisa, precisamos ir embora, encontrar pessoas, lutar.— Ele havia dado mais alguns passos em minha direção, as duas mãos sustentavam o revólver com uma determinação que me assustava.

— Matar é sempre o ponto de fuga não é? Abaixa a arma, você pode ver também.— Estendi uma das mãos a minha frente fazendo menção para que ele largasse aquela porcaria.— Só tem que largar a arma, ou seremos mais um entre eles.— falei, por fim, abrindo os braços para poder representar todos os corpos ali presentes, Josh balançava a cabeça diversas vezes respirando fortemente.— Josh por favor abaixa a arma…


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Notas finais do capítulo

Então é isso logo teremos mais eu me recuso a dizer adeus agora então esperem por mais e teremos ♥ vou correndo escrever amo todos ♥
Beijinhos gélidos ♥



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