Pov Susana

Acordei assustada, não sabia onde estava nem o que estava acontecendo, olhei ao meu redor e pelo barulho da chuva, lembrei que estava na casa do Ed e que a chuva me impedia de ir embora.

— Ah Su, minha linda você acordou. – disse Dona Rosana entrando na sala, sendo seguida pelo o Senhor Rafael e por Caspian.

— Desculpa Senhora Rosana. Acabei pegando no sono! – respondi sem graça ficando de pé.

— Tire o Senhora, minha flor, pode me chamar apenas de tia, você já é como minha filha. E imagino que esteja cansada, você e Ed vem trabalhando muito nesse trabalho. – ela me abraçou forte, arrumando meus cabelos.

— Acho que já vou indo.

— Nem pensar, a senhorita fica aqui janta conosco e vai dormir conosco. Está muito tarde para uma menina sair andando por ai e a chuva está muito forte. – O jeito materno da mãe do Ed me lembrava da minha, nessas horas meu coração se enchia de saudade dos carinhos e abraços da Dona Helena.

— Eu não quero incomodar ninguém! – respondi envergonhada.

— Ela sempre fala isso! – Ed estava acordando e fazia questão de soltar um comentário contra mim.

— Você não incomoda Su, amanhã levo você para casa. – disse Caspian sorrindo levemente. Só aquele meio sorriso fez meu coração vacilar, não entendia bem aquela sensação, mas estava gostando de sentir aquilo.

— Isso meu filho, amanhã você leva a Su. Agora você mocinha, vem comigo. Vou pegar uma roupa minha para você poder tomar um banho. – mal tive tempo de responder e a tia Rosana já estava me arrastando para o quarto dela. – Ai minha filha, eu acho que as blusinhas vão ficar muito larga para você. Eu tenho bem mais corpo que você e mais seios.

— Tudo bem tia, eu coloco minha blusa de volta.

— Não! Jamais! Sua mãe não te contou que tomar banho e colocar roupa usada é o mesmo que não tomar banho? – ela já estava saindo do quarto eu fiquei lá plantada rindo da semelhança que ela tinha com a minha mãe. – Minha Flor, vem comigo!

— Estou indo tia! – respondi rindo, andamos um pouco pelo corredor pude perceber que não tinha fotos do Caspian na casa, apenas lembranças do Ed com a família, um aperto veio em meu coração e lágrimas surgiram em meus olhos, não sabia bem o porquê, mas algo me dizia que o Caspian já tinha sofrido muito na vida. Entramos num quarto com uma decoração simples, escura e sem nenhuma foto. – Filho você está ai?

Antes que eu pudesse assimilar que o filho em questão era o Caspian, ele saiu do banheiro olhando para a mãe com cara de confuso. – Filho, empresta uma camiseta sua para Su? Minhas blusas vão ficar largas no busto dela e Edmundo é bem magrinho capaz das blusas ficarem apertadas nela.

— Rosana! Vem aqui, por favor! – Gritou o senhor Rafael, interrompendo a fala da esposa.

— Filho a ajude! Vou ver seu pai! Ele nunca consegue fazer nada sozinho. – disse ela colocando a mão na cabeça para se lamentar. – Su, o quarto de hospede fica ao lado, pode tomar banho, sinta-se em casa.

— Tudo bem tia, muito obrigada. – ela saiu como um furacão gritando pelo marido.

O silencio reinou no ambiente, fiquei encarrando o chão, tentando ao máximo fugir dos olhos do Caspian.

— Minha mãe é meio doida. – disse ele sorrindo.

— Ela é um amor. Faz-me lembrar a minha.

— Você sente muita falta dos seus pais? – perguntou ele cruzando os braços e me encarando.

— Sinto, mas era meu sonho, minha vida, quero seguir meu caminho, tentar tudo que eu puder errar e acertar. Escrever a minha história.

— Você tem uma qualidade linda Su. – ele se aproximava de mim lentamente, nossos olhos estavam grudados e meu coração disparado. – Seus sonhos se transmitem pelo olhar, isso faz qualquer um ficar contagiado.

— Obrigada. – desviei o olhar encarrando novamente o chão, minhas bochechas estavam vermelhas.

—Bom! Esse é meu guarda roupa. – ele se afastou de mim e foi abrir a porta do mesmo. – Pode escolher a camiseta que quiser.

Caminhei sem graça até onde ele estava e peguei a primeira peça que eu vi na frente, sorri agradecendo, mas quando estava me virando para sair, tropeço em alguma coisa no chão, já estava me preparando para sentir o impacto do chão, mas algo me segurou.

— Su está tudo bem? – perguntou Caspian me segurando próxima dele.

— Está sim, eu só tropecei em algo. – minha respiração estava falha, minhas pernas estavam bambas, aqueles olhos negros estavam me absorvendo.

— Desculpa, sou meio desleixado, deixo tudo jogado.

— Tudo bem, eu sou desastrada. – disse colocando a mão no peito dele para me soltar, nesse momento aquele mesmo choque percorreu meu corpo. – Mais uma vez obrigada! – sai do quarto correndo para o banheiro meu coração estava acelerado e a sensação daqueles braços quentes ao redor do meu corpo ainda estava lá.

Pov Caspian.

Algo dentro de mim estava pulando de alegria, eu não podia acreditar que logo a primeira vez que eu a conheci, ela já vai passar a noite aqui. – Caspian, os céus estão sorrindo para ti. – me joguei na cama, revivendo a sensação de ter ela em meus braços. Susana era tão linda, seu olhar é expressivo, seu sorriso angelical, ela se parece com um verdadeiro anjo.

— Filho? Posso entrar? – disse minha mãe, me fazendo despertar dos meus devaneios.

— Claro mãe! – me sentei na cama, dando espaço para ela se sentar também. – O que a senhora deseja?

— Vim ver se deu tudo certo com a Su. – ela me olhava com ternura, minha mãe era a melhor pessoa do mundo e quando estava feliz não conseguia disfarçar.

— Deu sim mãe, ela escolheu uma camiseta e foi tomar banho.

— Ela é muito bonita né? – estranhei o comentário dela, porém concordei. – Acredita que Ed não gosta dela? Ele gosta de uma menina chamada Alice.

— Mãe aonde você quer chegar? – perguntei receoso.

— Por que você não tenta conhece ela melhor filho? Você tem 28 anos já, está na hora de levar a vida a serio. – ela segurou minha mão. – E eu vi seus olhinhos brilhando quando viu ela. – corei de vergonha. – Por isso pedi para ela vir buscar uma blusa com você. - ela piscou pra mim rindo da situação.

Levantei da cama meio assustado, minha mãe havia percebido que achei Susana interessante, será que a própria Susana percebeu também?

— Mãe, eu apenas achei ela bonita nada demais! – disse de costas para ela.

— Mas filho, isso já é um começo. – ela se levantou e foi ao meu encontro, colocando a mão no meu braço e me abraçando. – E vamos concordar o Senhor achar uma moça realmente bonita é bem difícil! – ri com comentário dela, suspirando de saudade, como aquela alegria me fazia falta. – Então você deve se dar uma chance de conhecê-la.

— Mãe, você sabe que ela não merece um monstro!

— Caspian! – gritou ela me virando para encara-la. Suas bochechas estavam vermelhas – Eu sou sua mãe, e ordeno que nunca mais se chame de monstro. – seus olhos tinham lágrimas, mas ela tentava se manter forte. – Você é um rapaz lindo, educado, carinhoso, um perfeito partido. Nunca mais diga uma barbaridade dessas. E se seu coração quer conhecer a Susana, vá e conheça, pare de usar essa maldita maldição como pretexto para seus medos!

Fiquei abismado, nunca minha mãe tinha falado comigo daquela maneira, seus olhos ainda estavam cheios de lágrimas, num impulso abracei ela forte, ela retribuiu acariciando meus cabelos, soltando as lágrimas. – Mãe eu te amo!

— Eu também te amo meu príncipe, mas vá ser feliz, nunca vi Deus dar um presente de amor assim de mãos beijada, mas pelo seu olhar, ver Susana, foi um presente de amor. – ela falava como se estivesse fazendo uma oração. – Aproveite a oportunidade Caspian, seja feliz, por mim!

Não falei mais nada, apenas fiquei abraçado a ela, sentindo seu carinho e seu cheiro, como era bom ter ela perto, me sentir próximo de todos e menos sozinho. De fato eu era um monstro, mas no fundo eu queria poder receber e dar amor. Queria poder ter uma redenção.

Depois de um tempo minha mãe saiu do quarto e foi arrumar o jantar, resolvi ir falar com Ed, ele estava distraído no computador, então entrei no quarto fechando a porta e sentei cama.

— Eu sei que o Senhor está ai Cas! – disse ele rindo.

— Achei que estava concentrado demais. – respondi pegando um papel solto na cama. –O que é isso? – comecei a ler a poesia enquanto Ed caminhava para o meu lado.

“A mulher de março.

Eu sou a troca,

Do sol quente de verão,

Pelas chuvas de meia estação.

Eu sou a guerreira

De 31 dias...”

— Você escreve poesia? – perguntei assustado pelo talento dos versos escritos.

— Eu? E poesia? Jamais eu não levo jeito pra isso. Certeza que isso é da Su. – ele estava sentado do meu lado com o papel na mão. – Ela ama escrever, ela tem várias no caderno, perdidas pelo apartamento dela, Susana tem alma de artista.

— Ela é muito especial! – pensei alto sorrindo como bobo.

— E você está babando por ela. – Ed começou a gargalhar de mim, dei um leve beliscão nele que o fez parar. – Primeiro estágio do amor, quando é zoado bate na pobre vitima.

— Edmundo! Não estou babando pela Susana, apenas a achei uma mulher muito interessante.

— Finge que eu acredito senhor Caspian, eu vi como o senhor ficou bobinho pelos olhos azuis. – ele estava em pé me olhando serio. – Quem sabe a Su faz você ficar para sempre conosco. – as palavras do meu irmão me despedaçaram, podia ver em seu olhar a mágoa e a dor que ele carregava graças as minhas partidas. Levantei-me e o abracei forte, ele já não era mais uma criança, mas sempre seria o meu menino.

— Ei! Não é mulher nenhuma que vai me fazer ir ou ficar. Eu vou tentar ao máximo ficar, pelo amor que sinto por vocês, minha família. – ele agora retribuía o abraço. – Me perdoe, por te deixar!

Ele se soltou de mim tentando se fazer de forte, mas no canto de seus olhos lágrimas lutavam para sair. – Só te perdoou, se parar de negar e ir conhecer melhor a Su, seus olhos entregam que você deseja isso. – Apenas sorri, negando com a cabeça, como todos estavam sendo insistente, querendo que eu e Susana tivéssemos algo, quando já estava quase saindo do quarto, ele me gritou. – Ah, ela está solteira, pode investir firme!

— Edmundo, cale a boca! –não esperei resposta dele, apenas sai do quarto, tentando tirar os pensamentos sobre me aproximar da Susana da cabeça.

Estava voltando para o meu quarto, pensativo, evitar ela seria o melhor a fazer, mesmo que minha mãe e o Ed achassem que eu deva investir nela, me aproximar de uma garota boa e normal pode ser o pior erro da vida dela.

Pov Susana.

Depois do banho fiquei um tempo no quarto, tentando criar coragem de olhar para o Caspian, eu mal o conhecia, mas algo dentro de mim ficava nervoso vendo ele, ele era lindo, educado parecia uma pessoa ótima, bem diferente do que eu imaginava que ele era.

Como não tinha muita intimidade com as pessoas na casa, resolvi grudar no Ed, sai do meu quarto e estava indo para o dele, mas esbarrei no Cas no meio do caminho. – Cas, me desculpe! – disse nervosa pelo encontro.

— Tudo bem Susana. – respondeu ele frio e distante, seu olhar duro fez meu coração murchar. – Se está indo para o quarto do Ed, ele está desocupado é só entrar. Agora se me da licença, preciso resolver umas coisas. – ele nem esperou minha resposta, saiu rápido batendo no meu ombro como se eu fosse uma ninguém, em seguida entrou no seu quarto batendo a porta. Eu não conseguia entender uma hora ele estava todo fofo, me chamava de Su, conversou comigo de diversas coisas e agora estava assim sendo frio grosso e mal me olhando.

Fui para o quarto do Ed, tentando não demonstrar o meu incomodo com o ocorrido com o Caspian, resolvemos que íamos ver um filme para tentar relaxar um pouco, no meio do filme meus pensamentos só rodavam em volta do Cas, algo nele e na sua história me despertava interesse, curiosidade, eu queria ir a fundo e descobrir tudo que eu tinha direito, porém como eu iria fazer aquilo?