Prelúdios Etéreos I: A Ascensão escrita por Raffs


Capítulo 2
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/735956/chapter/2

Arthuel sempre odiou cerimônias.

E aquela em especial parecia se arrastar por horas. Não, dias.

Não que ele não estivesse acostumado a elas. Foram anos de entediantes cerimônias, ascendendo de escola a escola. Mas ele nunca conseguira entender o porquê de tanta demora apenas para apresentar a estudantes seu novo espaço de estudo.

Um homem de feições familiares acenou. Arthuel não tentou se esforçar para lembrar quem ele era exatamente. Apenas fez o de sempre.

Sorriu e acenou de volta.

— ...e recebam com aplausos o sétimo colocado! – um sorridente e desdentado senhor de idade exclamava num volume tão forçado que se tinha a impressão de que ele perderia a voz e cairia ali mesmo. Era, pelo que Arthuel entendera, o Grão-Mestre Darkas, representante do Conselho na cerimônia de iniciação dos novos estudantes da Academia. – Enrien Kasar! – o próprio Darkas iniciou a onda de aplausos que, mais uma vez, tomou o salão.

Que tipo de pai coloca o nome de um déspota no filho?

Quanto ao salão?

Aquilo impressionava Arthuel. Uma arquitetura fantástica, projetada pelos melhores da área. Unindo o rústico ao modernismo da atual era. As colunas douradas talhadas com símbolos complexos demais para um leigo entender. Um sem-fim de bancadas se estendia por cerca de 200 metros até o fundo do grandioso espaço. Todos ocupados, é claro, por alunos, ex-alunos e pais orgulhosos. O tapete vermelho de seda-imperial que passava por entre as duas fileiras de bancos ia da entrada do salão até um altar elevado, onde o Grão-Mestre se localizava, em pé. Atrás do Altar não havia parede ou teto, e sim um campo aberto onde mais à frente havia um grande muro, protegido pelos Guardiões enfileirados.

Eram cerca de setecentos alunos, então, obviamente a Academia quis poupar tempo e cortou da lista de chamada cerimonial seiscentos e cinquenta deles. Esses eram convocados para fazer um juramento único, todos em pé, com o braço esquerdo no peito e o direito levantado, formando um “L”.

Os cinquenta primeiros da lista de aprovados foram sendo chamados, um por um, para proferir o juramento.

O juramento. Mais óbvio, impossível.

Aos ouvidos do desatento Arthuel, soava como “Eu prometo me empenhar nos estudos para sair daqui o mais rápido possível, e tentar não arranjar briga com ninguém, focando apenas nos estudos.

Estudos.

Arthuel já estava cansado daquele termo.

O tempo passou lentamente. Mais lentamente do que Arthuel pensava ser possível.

Chegou a vez do terceiro colocado. Um jovem, pelo jeito um pouco mais velho que Arthuel, de pele parda.

— ...Kadrach! – Arthuel não ouvira o primeiro nome do garoto. Tanto faz, pensou, apenas mais um com quem nunca falarei.

Estranhamente, em meio à salva de palmas, o único grupo que não se manifestara fora o que parecia ser a família… Kadrach. Eles se vestiam de maneira rústica, até certo ponto selvagem. E possuíam tatuagens em seus corpos. Muitas. Quase tantas quanto as marcas dos feciter.
Seus rostos permaneciam imóveis, tão estáticos que Arthuel se perguntou se não eram estátuas vivas.

Pela quadragésima nona vez naquela tarde, o maldito juramento foi proferido. E Arthuel estava ali, plantado, desde a manhã, quando o sol mal havia aurorado. Seus pais o pediram para permanecer imóvel, ali, no mesmo lugar, para que todos que passassem pudessem ver o “orgulho da família”.

Arthuel estava morrendo de fome. Em jejum desde a noite anterior, seu estômago roncou. Mas soou internamente demais para que alguém pudesse ouvir o apelo do seu sistema digestivo.

De repente, Darkas desfez seu sorriso (o que era inacreditável; parecia impossível arrancar o maldito sorriso sem dentes daquele rosto), passando imediatamente para uma expressão melancólica enquanto lia o envelope.

— Infelizmente, o segundo colocado, Julian Syinke...sofreu um acidente em sua viagem para cá. A Academia fez questão de mostrar que não medirá esforços para encontrar o trem que saiu dos trilhos, vindo de Ciras.

Um pequeno burburinho atravessou as bancadas de uma ponta a outra do salão, com pessoas se perguntando o que exatamente havia acontecido, outras dizendo que o garoto estava provavelmente morto.

Um turbilhão de coisas veio na mente de Arthuel, mas nenhuma delas tinha a ver com o caso do acidente de trem.

Arthuel estava preocupado porque sabia que era o próximo.

Da lista de aprovados, é claro. Até onde ele sabia, ninguém o marcara para morrer num incidente envolvendo transporte a longas distâncias.

Antes mesmo que o Grão-Mestre pronunciasse seu nome, o garoto se levantou de maneira triunfal, com um sorriso largo direcionado para todos. A onda de aplausos inundou o salão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Prelúdios Etéreos I: A Ascensão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.