CONTRADICOES ESPONTANEAS escrita por betarzi


Capítulo 2
3. Entre LAÇOS




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3. ENTRE LAÇOS

Em sobressalto, assustada por um pesadelo, sai da cama de Becca querendo fugir dali. Já tinha combinado que passaria a noite lá, já que provavelmente estaria embriagada demais para ir embora durante aquela madrugada. Calça as sandálias e se encaminha para a porta de saída. Passando pela sala vê vários corpos jogados de maneira provavelmente incomoda, anestesiados pela tequila. Alguns deles dormiam abraçados, o que a fez imaginar que algo de bom tinha saído daquela noite. Ainda atordoada pelo pesadelo, zilhões de informações passam por sua cabeça ressacada. Não lembrava de detalhes, mas o sentimento era péssimo. Enquanto saía daquele cenário em direção a rua principal, comoveu-se ao pensar que não conhecia ninguém. Uma estranha na festa, um rosto perdido na multidão. Procura o celular em sua bolsa para checar a hora. A bateria estava vermelha: treze por cento. Confirmou com a escuridão do céu que ainda eram 4 da manhã. Sua mãe, Angela, acordava pontualmente às 5 horas; advogada e casada com o trabalho. Tábata não queria correr o risco de encontrá-la por motivo de afinidade.
Em direção oposta ao silêncio incômodo e barulhento de sua mãe, resolve ir até seu local favorito: Café Tino, onde rotineiramente fazia suas refeições em horários alternativos. Decidiu pedir um café duplo e um sanduíche vegano. Não era novidade no local. Mal entrava e, Vitor - o funcionário que nunca dorme diz - "O de sempre?", e ela responde que sim, sempre na mesma mesa: número 7. Esta, como todas as outras, era coberta por um papel descartável. Na espera, mexe em sua bolsa a procura de qualquer coisa que a distraísse de maus pensamentos. Acha uma caneta BIC e nada mais. O papel que cobria a mesa estava limpo, exceto por duas manchas redondas de sua xícara de café. Dois círculos: olhos abertos pela cafeína. Na espera pelo sanduba e com a BIC na mão esquerda, começa a preencher o vazio do papel com rabiscos estilosos.

3. Abstrações
Alegórica e alegremente pulou da cama muito antes do despertador. Pensou que a trilha sonora tivesse o levado a sua querida e falecida Nina por isso, fez questão de vestir sua blusa que estampada mostrava o Billy Corgan, careca como sempre. Inquieto, deixou que a ducha morna do chuveiro elétrico molhasse seu corpo inteiro. Se sentia atrasado, anos atrasado. Sua aula naquele dia começava às 8:10. De costume esperava o ônibus 149, que o deixava na rua do pré, mas resolveu mudar: Saiu às cinco. Pegou a bike que dividia com Luís, já parada há uns seis meses na garagem do prédio. Foi até o posto da esquina encher os pneus e de lá pegou o impulso mais bruto, mexendo os pedais direito e esquerdo descendo a ladeira até a porta do famoso e único lugar aberto: Café Tino. Sem pensar, solta a bicicleta na porta do local como se estivesse no jardim de casa ou em algum outro país que não o Brasil, onde muito provavelmente seria roubado.
Empurra a porta de vidro devagar, observando a placa neon do lado de fora e os vários cartazes pregados nas paredes, neles estavam escritas promoções do dia e o cardápio com nomes muito engraçados e originais. Quando entra, limpa os sapatos no tapete verde e escuta o barulho do sininho da porta quando se fecha. Seus sentidos acordaram aguçados e o cheiro do ambiente é incrivelmente adocicado. Café, pães amanteigados, alguma fragrância diferenciada que lembrava cravo e canela. Ele adora.
Anda até o balcão sem ainda saber o que vai pedir, e se sente pressionado porque além de não saber o que significam os nomes diferenciados do menu o local parece estar vazio, sendo ele o único cliente. Passa rapidamente os olhos no mural grande com escritos em giz atrás da atendente e trava ainda em dúvida, com algum receio de perguntar o que era, por exemplo, "unicórnio perneta". Resolve se acomodar em alguma mesa.



3. Ligação direta
Absorta em pensamentos, não conseguia parar de pensar que, como sua mãe, também julgava as pessoas sem realmente conhecê-las. Pensava, agora, pela primeira vez, se faziam o mesmo com ela. Resolveu então que deveria dar uma chance para ser surpreendida, ou quem sabe, surpreender. Tábata ainda desenhava quando o sino avisa que alguém entra. Ela é surpreendida por Billy Corgan - seu artista favorito - estampado em uma blusa preta. Dentro dela, um menino de expressão dócil e intrigante. Ela o observa olhar as opções no mural, imaginando que ele esteja um pouco confuso com os nomes excêntricos do menu. Parece um novato, e ela uma veterana. Ele, ainda perceptivelmente confuso, anda em direção a sua mesa com o cardápio em mãos. Sem conseguir parar de se perguntar se ele realmente seria dócil, intrigada, parecia o momento ideal para se confrontar. Ainda embriagada, aproveitou-se da coragem líquida que lhe restava e exclama sorrindo ao novato:
— Ei, sua blusa é incrível! Precisava falar!
Pietro muda o foco do cardápio para a mesa vizinha ao escutar a voz jovem e feminina. Não era acostumado a ser abordado por estranhos, principalmente por estranhas. Pensou algumas vezes antes de responder. A menina continuava a sorrir.
— Ahn… obrigado! Não pude deixar de notar que a sua mesa está incrível também.
Tímido, mais uma vez muda o foco, agora para a dona da voz que o elogiou. Quando quatro olhos se encontram ele se sente completamente atraído.Todo o resto parecia nublado, sem importância. Na imaginação, o tempo teria congelado, o que impediu proferir qualquer palavra.
— Minha banda favorita! Aliás, meu nome é Tábata, e o seu? Nunca vi você por aqui! - Diz quebrando o silêncio.
— Sou Pietro - chacoalhando o cardápio - e virgem aqui - sorri- estou até pouco confuso, você me indica alguma coisa?
O timbre do menino soou doce como ela havia imaginado. Deixando- a curiosa. Faz ‘’psiu’’ para o atendente que prontamente com a cabeça sinaliza ‘’ o que?!’’ Dobra o pedido para mim, Victor? E…
Pietro, você se incomoda de me levar até em casa? Fica a dois quarteirões, se seguirmos pela orla.
De jeito nenhum. Levo sim.
… Para viagem!
Oba! Obrigada. Pedi pra nós o vegano, meu favorito. E na verdade, o nome é irônico. Não tem nada de vegano nele.
Saem juntos e começam a caminhar falando sobre os álbuns do ‘’ Smashing’’ até que Pietro lembra de ter deixado a bike no café.
Já andou na garupa? Faz algum tempo que não pedalo mas acho que consigo te levar bem…
Tábata faz que não, e diz que inclusive tem péssima coordenação motora, assume até sentir um pouco de medo. Resolvem caminhar, ele leva a bicicleta pelo guidão e ela as sacolas. Enquanto andam pela orla, Pietro observa o céu ficar cada vez mais azul e o sol começa a esquentar o vento frio da manhã. Sente que nenhuma aula o ensinaria tanto quanto aquela paisagem se montando, e ao redor, a arquitetura que se desdobra várias e várias vezes, sem ele normalmente prestar atenção, tem milhares de, muitos mais, cálculos e projeções. Leve, ele conversa com Tábata, agora, bem menos tenso. Ela é espontânea e, como a estrada entre o mar e o asfalto, belíssima.

— Quando o sinal fechar, atravessamos. Aquela é minha rua! - Tábata indica - Que horas são, agora?
Sacou o celular do bolso e, também curioso sobre que horas seriam, prontamente responde: Sete! Em ponto!
— Quer sentar na areia um pouco? Quero dar um dois antes de entrar. Aqui é ideal! Se não se importar… Tábata mexe em pequenos movimentos gentis, seus pés dentro do all star branco, como se tentasse convencê-lo.
Dar um dois. Dar um dois… Dar um dois. Dar um. Dois. Essas palavras ficam soltas dentro da cabeça do alto e levemente tonto, Pietro. Ele sabia que Tábata queria fumar um cigarro de maconha, mas até o momento a seguir nunca tinha sentido o cheiro da erva. De qualquer forma, ele estava pronto a topar qualquer coisa daquela manhã brilhante.
— Tipo, fumar? Nunca fumei. Te acompanho, vamos!
— Jura?! É a segunda virgindade que te tiro hoje.
— Tá ficando boa nisso!

Da cigarreira ela tira um baseado pronto, já com a ponta queimada e um isqueiro tipo zippo, violeta. A bicicleta está jogada à frente, as sacolas no colo de Tábata, e os dois, agora, inclinados para o sol. Alternam olhar para o mar, contemplando-o, e olham um ao outro:
— Sua vez! Aconteça o que acontecer, Drown! - Exclama Tábata.
— Disarm… Perdendo a virgindade em dois, um… - Pietro traga e começa a tossir.
— Pegou! - A menina cai na gargalhada
Na areia, Tábata começa a cantar Disarm, de um álbum lançado em 93, quando os dois ainda eram crianças mas, eles sabem a letra de cor. As poucas pessoas que chegam na praia observam os dois e um grupo atrás bate palmas. Eles ficam sem graça por um breve instante, até que Pietro surpreende, cantando ainda mais alto no refrão. Agora todos riem juntos, como se já se conhecessem.
— Vamos? Diz Tábata, batendo as mãos na bunda da calça para tirar a areia, e depois as estende para Pietro - Ajuda? - Ri.
— Obrigado! Sim - Sorri.

São dois minutos até a portaria do prédio. Pietro não quer se despedir, percebe aos 60 segundos para o segundo tempo. As poucas horas que passaram juntos foram mais incríveis que vários anos da sua vida, até aquele momento. Pensa em pedir o número dela mas veta, se julgando muito formal. Esquece de novo como agir ou falar.
Tábata parece convicta do que faz, e ele começa a se sentir como um bobo.
— Ei, Pi - Diz baixinho - Se não tiver planos, quer subir? Pode deixar a bike na garagem.

3. e meio EMBOLADO

Eram meus pés em sua grama lavanda
Já não era quem pensei
Bebi pela primeira vez até que tudo ficou belo
E o elo que não existia, me fez caracol
Seu cabelo negro e o batom roxo
Eu não sabia o que era tesão, então
Centímetros a mais e nossos corpos mais perto
Eu nunca estive tão imenso
Meu baixo não alcança esse tom
Bom, bom, bom, boom!
Ela ataca, brincando no meu ouvido
Só o que eu escuto, é
Vai, vai, vai, vai!
Lavada, depois de ter roído os travesseiros
Imaginei ser bom naquilo
E vieram mais batidas
Entregue e moleque
Meu pai não sabe que estou aqui!
Fugi para te ver, não poderia estar aqui
Estou crespo com seu rebolado
Nunca olhei e achei uma mulher assim
Filho único e ajustado
Meu baixo, está mais baixo e só toca dó, ôhhh...
Me entreguei em sua grama lavanda
Podíamos só trepar, imagino que normalmente seja suficiente
Meu pai me prende, tenho que ir
Vai, vai, vai
Fui, fora, pequeno
Garoteei.


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