10 anos depois escrita por LightHunter


Capítulo 8
Capítulo 8 - Vic




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12 anos atrás

— Que tal irmos para a cozinha ver o que tem pra beber? – Pergunto e, antes de ouvir a resposta, já arrasto Lena comigo para o outro cômodo. Passamos por Gabrielle, que nos empurra, e tenho vontade de esfolar a cara dela no asfalto quente, mas respiro fundo e deixo passar.

O calor na cozinha estava insuportável, mas melhor do que a discussão bem mais quente que iria acontecer na sala. Acendo as luzes e dois pares de olhos viram para a minha direção, a conversa entre eles cessando.

— Gus? Você não estava na sala? – Analiso o outro menino dos pés a cabeça, e percebo que nunca o tinha visto antes. Será que ele era da escola? Ele era bem bonito…

Afasto esse pensamento da cabeça e desvio o olhar. Não podia pensar nisso. A voz de Gus me traz de volta à realidade.

— Eu estava. Mas você acha mesmo que eu vou ficar no mesmo espaço que aquela vaca? E por que vocês não estão vendo a treta e gravando como sempre fazem?

— Bom, sabe como é, tudo fica melhor com uma taça de vinho na mão. Mas como não temos vinho, nem taça, serve um copo de vodka com soda. – Pego um dos drinques que Lena está preparando e bebo, o garoto desconhecido sorrindo e olhando para o chão.

— Vou voltar então. Até mais, Gus. – O garoto se despede e volta para a sala, lançando um olhar para mim ao passar do meu lado. Interessante. A festa agora tinha algum propósito, não só ficar vendo adolescentes burros bebendo e fazendo burrices, esperando alguma coisa acontecer para registrar e espalhar.

— E aí. – Vou para perto de Gus, ficando de frente para a porta e para Lena, que cortava um limão em rodelas com cuidado para não estragar as unhas. – Como foi ontem com a sua crush? Deu tudo certo.

— Nem, não era meu tipo. Na verdade, fui eu que estraguei tudo.

— Como sempre. – Digo baixo, mas não o suficiente para ele não escutar.

— Mas tudo bem, já segui em frente. Agora to gostando de outra garota.

— Você é rápido hein? Na sua idade, eu não era desse jeito.

— …Nós temos apenas alguns meses de diferença. – Ele me olha confuso.

— Tanto faz.

Assim que Lena e Gus arranjam os próprios drinques, voltamos para a sala, que está fervorosa. Se eu pudesse resumir o cômodo em uma palavra, seria: puberdade. Vejo o centro de tanto alvoroço perto da varanda, onde duas garotas loiras estão discutindo.

— O pedaço de carne apareceu de novo. O açougue tava com moscas demais?

— Pelo menos eu tenho carne, sua vaca anoréxica. – Lara havia se levantado, os olhos faiscando.

Olho para Lena, um sorriso se formando em meu rosto. Finalmente a festa estava ficando boa. Ela já estava com a câmera gravando tudo. Até segunda-feira, toda a escola teria visto essa briga. De repente, Gabrielle olha pra mim e começa a andar na minha direção.

— Finalmente minha bebida chegou. Já não era sem tempo. – Ela estende o braço, e eu fico parado, olhando pro nariz empinado dela.

— Tudo bom?

— Vai me dar o copo ou o quê? Vou precisar espalhar seu “segredinho”?

— Como se eu devesse alguma coisa pra você, né? – Ignoro a ameaça dela e me viro para Lara, torcendo para ela continuar a deixa. – Aqui está a bebida que você pediu, Lara.

— Mas eu nã… - Dou um olhar significativo para ela, e seus olhos brilham de entendimento. – Ah, sim, obrigada Vic.

Gabrielle me olha com ódio no olhar, e se vira novamente para a loira, seus cabelos batendo no meu rosto. Ela até que era bem alta para conseguir esse feito. Me encosto na parede e fico observando o resto da briga, Lena em um dos lados, Gus do outro. Olho ao redor da sala: quatro casais se beijando, duas pessoas desmaiadas, uma menina chorando e um menino correndo para o banheiro para vomitar.

Como eu adoro o Ensino Médio.

Mas a música tava boa, afinal de contas. Depois do momento hipster com Nina tocando violão, Maya tinha conectado o celular na caixinha de som de BB, e a música invadia a festa, dando um clima mais agitado. Na parede oposta, encostado de olhos fechados, está aquele garoto que encontrei na cozinha.

— Ei, Gus, qual o nome dele? – Pergunto, apontando discretamente para o menino.

Antes que ele pudesse me responder, a briga na nossa frente se intensifica.

— Cuidado pra não beber muito, senão vai inflar que nem um balão. Não que a realidade esteja muito distante disso, não é mesmo? – Gabrielle solta uma risada esganiçada, parecida com um hamster sendo estrangulado.

Sem que ninguém pudesse prever, Lara se descontrola e joga a bebida na cara da loira arrogante, fazendo com que ela caia no sofá e grite de espanto.

— Sua… Sua vadia! – Ela se levanta e parte para cima de Lara, mas Nina e Maya intervém e conseguem segurá-la.

— Estraguei sua chapinha, foi? – Lara começa a rir, e coloca o copo em uma mesa. – Quer mesmo ver a vadia que tem dentro de mim? Quer mais um pouco disso?

— OK..., acho melhor irmos para o térreo agora... – Gus sai de seu torpor e começa a arrastar a loira para fora do apartamento.

— Ótima ideia. – Lena se junta a ele, e os dois levam Lara para tomar um pouco de ar fresco.

Percebo que estou sozinho e decido explorar a casa, passando por um corredor e chegando no quarto de BB e de sua irmã, Ju. Ela estava sentada na varanda, mexendo no celular. Apesar de ser do mesmo ano que eu, não costumava beber ou se envolver em festas desse tipo. Ela era inteligente, muito inteligente, e gostava de ser reconhecida por isso.

Abro a porta devagar, ainda ouvindo os gritos de Gabrielle vindos da sala por causa do cabelo molhado, e ouço o som de beijos. Antes que eu pudesse fechar a porta, os dois se viram e me encaram, e reconheço-os instantaneamente. BB e Letícia. Fico sem jeito, mas os dois não voltam a se beijar; pelo contrário, esperam que eu faça alguma coisa.

— Hm…? As pessoas estão um pouco descontroladas, acho melhor já mandar todo mundo embora.

— Ahn? Ah, sim sim, faça isso por mim, certo, Vic? E feche a porta quando sair. – BB se vira para Letícia, e eles recomeçam. Fecho a porta rapidamente e volto para a sala, pedindo a ajuda de Maya para expulsar todo mundo.

Depois de vinte minutos até conseguir arrastar os mais bêbados pelo elevador até a calçada, e conseguir expulsar uma Gabrielle aos prantos para sua casa, eu e Maya voltamos ao apartamento, onde Nina, Lara, Gus e Lena já tinham retornado, e estavam sentados no sofá conversando.

— Meu pai já está vindo nos buscar. – Lena diz, e suspiro agradecido. Ela está sorrindo enquanto olha para a tela do celular, provavelmente mandando o vídeo da briga para todo mundo que tinha alguma rede social. Os barulhos no quarto só tinham aumentado, e ninguém precisava escutar mais daquilo. Coitada da Ju que não podia ir embora, pelo motivo da casa ser dela também.

Eu queria apenas chegar em casa e dormir.


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