10 anos depois escrita por LightHunter
12 anos atrás
A primeira semana de aulas passou rápida, e antes que pudéssemos nos dar conta, a festa do BB havia chegado.
Olho no espelho enquanto passo um batom escuro e coloco minha jaqueta jeans, a música no celular alta a ponto de não conseguir ouvir o que se passava fora do meu quarto. Procuro pela minha palheta da sorte, e coloco atrás da capinha do celular. Pego a minha bolsa e meu violão no momento em que a música é substituída pela abertura de Friends, o toque do meu celular.
— Já estamos aqui embaixo.
— OK, estou descendo.
Saio do quarto, pausando a música, e abro a porta da casa, não sem antes ouvir:
— Volte antes das onze, querida.
— Certo, mãe, qualquer coisa te ligo. – Suspiro e passo pela porta, fechando-a atrás de mim. Espero pelo elevador quando recebo outra chamada. – Caralho, Lena, eu já to descendo. – Deixo o celular tocar até cair na caixa postal. O elevador chega e desço para o térreo.
Vejo o carro branco estacionado na frente do meu prédio e caminho até lá, tomando cuidado com o violão.
— Demorou hein? – Lena se ajeita no banco pra conseguir me olhar. Penso em uma resposta, mas então lembro da mãe dela no banco do motorista, e decido apenas revirar os olhos.
Chegamos na festa dez minutos depois. Assim como eu, BB também morava em prédio, então o barulho alto da música e o som de copos quebrando não era perceptível. Respiro fundo, já sabendo pelo que esperar, e agradeço a mãe de Lena pela carona. Ela e eu descemos do carro e entramos no condomínio.
Cinco minutos depois, o elevador abre e imediatamente sentimos o calor que emana da festa. O forno estava aberto, e tinha gente demais pra espaço de menos. Agarro meu violão e começo a empurrar as pessoas até conseguir achar um banco livre. Quando consigo apoiar meu violão na parede e sentar, recebo um abraço por trás e quase caio no chão.
— AHHHHHH QUE BOM QUE VOCÊS VIERAM! – BB me larga e abraça Lena, que tem a mesma sensação de sufocamento que eu. Percebo que ele está bêbado, e em uma das mãos uma garrafa de vodka se pendura entre seus dedos. Tiro a garrafa dele, e sob muitos gritos e protestos, coloco em um lugar longe. – Acho que você já bebeu demais por hoje.
Vejo um brilho loiro sentado no sofá e vou até lá, enquanto BB tenta alcançar a garrafa de bebida. Encontro Lara e Maya conversando, totalmente absortas na discussão, e cumprimento as duas. Era surpreendente como a garota nova havia se enturmado tão bem conosco, e em tão pouco tempo. O vínculo que ela e Maya tinham criado era incrível, e tinha se passado apenas uma semana de aulas.
— Olha, vocês não estão bêbadas, graças a Deus. Acho que somos as únicas daqui. – Olho para o drinque que Maya segurava, mas decidi não me importar. Ela era responsável, diferente de certas pessoas.
— Eu não bebo. Sempre me senti como a “mãe do grupo”. Quando formos maiores de idade, acho que eu ficarei responsável por levar todo mundo pra casa depois do bar. – Lara sorri para mim, afastando uma mecha loira de cabelo do rosto.
— Somos duas então. Tirando a parte da carona. Eles que se virem. – Olho em volta e vejo pessoas caindo, chorando, rindo, ou vomitando por tudo quanto é lado.
— Quer se juntar à conversa? Estávamos falando de SKAM. – Lara tinha ido para o lado, abrindo espaço para que eu pudesse sentar.
— Saúde. E acho que não, preciso falar co… - O barulho de vidro quebrando me chama a atenção, e olho para trás. BB havia quebrado um copo tentando alcançar a garrafa. Olho de novo para as duas garotas, que estavam rindo. – Um minutinho.
Empurro dois caras que estão se beijando e chego até BB, que está tentando limpar o chão arrastanto os cacos de vidro com o pé, gargalhando. Era por esses e outros motivos que eu mantinha toda e qualquer gota de álcool fora do meu organismo.
— Baby, eu sei que é sua casa, mas você tá quebrando tudo e precisa arrumar isso até amanhã de noite pra sua mãe não desconfiar da festa. – Suspiro. Isso era o que acontecia quando pessoas de quinze anos bebiam. Pego a garrafa que havia deixado em cima de uma estante e entrego para Lena. – Não deixe que ele beba mais do que o necessário, OK?
— Pode deixar. – Ela diz, e volta a conversar com Letícia.
Depois de vinte minutos, as duas estão em cima da mesa com duas garrafas de tequila pela metade e cantando Like a Virgin.
— Jeez. Eu criei um monstro. – Uma ideia surge na minha cabeça, e pego o violão. Expulso as duas da mesa, peço para abaixarem a música e sento em um banco, apoiando as pernas na mesa agora vazia. – Acho que o melhor jeito de vocês liberarem esses hormônios é com uma boa música. Espero.
Respiro fundo e começo a tocar, e a sala fica em um silêncio quase total.
— Twenty-five years and my life is still
Trying to get that great big hill of hope
For a destination
Não demora para que todos comecem a cantar também, e a sala se torna um coro enquanto a música flui, e por um momento esquecemos dos problemas existênciais da adolescência ou de todo o resto. Olho em volta. Vejo Lena deitada no colo de Vic, cantando; Maya e Lara sentadas seguindo o coro de vozes; e Gus, Letícia e BB, de pé e abraçados, tentando acompanhar a música rápida de mais para a bebida associar, então eles só soltam grunhidos e riem.
Com a música quase no fim, a porta se abre e uma garota entra pela porta, um ar de arrogância preenchendo a sala. Só ouço o amargo da voz de Lara pronunciando seu nome, e percebo que coisa boa não vai sair daí.
— Gabrielle.
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