10 anos depois escrita por LightHunter


Capítulo 5
Capítulo 5 - Nina




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Presente

— Acordo com o barulho infernal do despertador, e minha cabeça lateja. Vejo que estou atrasada e me levanto em um salto, a cabeça latejando mais. A cama que consegui arrumar no chão ontem está completamente bagunçada, e consigo achar meu celular no meio das cobertas. Pego um copo d’água e uma cartela de comprimidos que tinha deixado no chão ao lado da cama e tomo ma das cásulas, esperando que o efeito do remédio aconteça logo.

Vou até a cozinha, preparo um café e coloco num copo térmico. Saio de casa correndo e entro no carro. Percebo pelo espelho retrovisor que estou com a mesma roupa de ontem, já que fiquei a noite acordada escrevendo uma matéria para o jornal onde trabalho. Coloco a chave no painel quando o caminhão de mudanças chega.

Solto um suspiro e saio do carro.

— Já não era sem tempo! – abro a porta da casa e vou falar com um dos homens que sai do caminhão com uma prancheta. – Escutem, eu tenho que trabalhar agora, então eu vou deixar a casa aberta para vocês colocarem os móveis. Se alguma coisa estiver fora do lugar e faltando, eu vou escrever horrores sobre vocês em uma coluna no jornal e vocês nunca mais vão conseguir emprego. Bom dia. – Assino o documento preso na prancheta e dou o pagamento adiantado.

Me viro a tempo de ver a minha nova vizinha, uma moça loira que deveria ser da minha idade, tropeçando no batente da porta e entrando no carro apressada, dando a partida e saindo pela rua. Entro no carro novamente e abaixo a janela, chamando os homens da mudança de novo.

— E se algum de vocês encostas nos meus gatos, eu vou perseguir vocês até o inferno!

Dou a partida e começo a dirigir até o trabalho, parando em um sinal vermelho. Tomo um pouco do café e espero impaciente para que a cor do farol mude, batucando os dedos no volante. O vermelho fica verde, mas o carro na minha frente não se move. Começo a buzinar, sem resposta. A mulher no volante se maqueia olhando pelo espelho retrovisor, distraída. Perco a paciência e saio da fila de carros, parando ao lado dela.

— Ô MADAME, DÁ PRA PARAR DE SE MAQUIAR E ANDAR COM SEU CARRINHO? TEM PESSOAS QUE PRECISAM TRABALHAR!

Ela aponta o dedo do meio pra mim, e percebo que é a loira apressada da casa ao lado. “Ótimo jeito de se apresentar à vizinhança nova, Nina.” Foda-se. Acelero e viro a esquina, indo em direção ao meu trabalho e torcendo para não levar uma bronca tão grande do meu chefe.

Chego em casa, exausta após mais um dia de trabalho, e ligo as luzes. Todos os móveis estão no lugar, e sorrio. Pelo menos isso. Os gatos vem ao meu encontro, e me abaixo para afagar a cabeça de todos eles, quando percebo a ausência de um. Sinto uma corrente fria de ar e percebo que uma das janelas está aberta, provavelmente deixada por um dos homens que carregou os móveis.

— Bufo e saio da casa, vendo em quais lugar o bichano poderia ter ido. Decido ir à casa vizinha sem ser a da moça loira. Toco a campainha e bato o pé no chão impacientemente até ouvir passos e a porta ser aberta.

— Me ajude com um negócio. – A moça me puxa pra dentro e eu quase caio de cara no chão. – Eu preciso pegar um livro de rituais ali em cima, mas eu não alcanço. Você pode segurar a escada pra mim enquanto eu subo e pego?

— Ahn… Posso? – A moça me arrasta até a prateleira e seguro a escada, olhando enquanto ela sobe. Ela me parece familiar, com cabelos castanhos e um pouco baixinha. – Escute, um dos meus gatos sumiu, e eu queria saber se por acaso algum deles entrou aqui ou…

— Como? Ah, sim, eu achava que era um gato abandonado e dei leite pra ele. Ele deve estar…

Ouço um miado baixo e então um gato malhado desce pelas escadas da casa. Solto a escada e vou até ele.

— Ah, aí está você, sua bola de pelos fugitiva.

— Ei, você soltou a escad… - Ouço um estrondo quando a moça cai no chão, seguida da escada, e vou correndo até ela.

— Você tá bem?

— PEGUEI O LIVRO. – Ela levanta um braço, segurando um livro preto encadernado onde se via escrito “Rituais e Maldições antigas.” Creepy.

— Vem, deixa eu te ajudar a levantar. – Assim que puxo seu braço, ela grita de dor. – Merda.

— Acho que desloquei o braço. Aliás, meu nome é Lena.

Solto seu braço e olho para seu rosto, ficando séria.

— Lena?

— Nina? O que diabos voc… Esquece, me tira daqui.

— Por que eu deveria fazer qualquer coisa pra te ajudar? – Pego o gatinho e começo a fazer carinho em sua cabeça.

— PORQUE VOCÊ ME FEZ CAIR, INFERNO. – Ela tenta empurrar a escada, mas solta um gemido de dor.

— Tá, espera um pouco. – deixo o gatinho em cima da mesa e empurro a escada, levantando ela. Lena se levanta e limpa sua roupa suja de poeira com o braço bom. – Um “obrigada” seria bom.

— Preciso ir para o hospital.

— E isso é da minha conta?

— Me leve até lá, eu não consigo dirigir assim. – Ela pega as chaves e me entrega.

Reviro os olhos e vou até o carro. O gato vai no banco de trás e começa a se lamber, enquanto Lena senta no banco do passageiro, segurando o braço deslocado.

— Estou apenas fazendo isso porque eu te fiz cair. Não pense que eu te perdoei pelo que aconteceu no passado. – Olho para ela, séria, antes de ligar o carro.

— Tanto faz. Apenas vamos logo.

Piso no acelerador e dirijo até o hospital.


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