10 anos depois escrita por LightHunter


Capítulo 3
Capítulo 3 - Gus




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Presente

Acordo com dor nas costas por causa da cama nova que ainda não tinha me acostumado, e minha boca está seca. Vou para a cozinha, e pego um copo de suco de laranja, bebendo um pouco da bebida até a ardência da garganta passar. Depois, caminho para o quarto quando tropeço em uma poça de água e caio de costas no chão, o suco caindo em cima de mim e o copo caindo ao meu lado, trincando. A chuva de ontem deve ter entrado por um buraco no teto antigo da casa e formado uma poça no chão. Xingo a maldita poça e vou para o banheiro me lavar, tirando a roupa no caminho.

Ligo o chuveiro e sinto a água fria caindo no rosto, aquecendo aos poucos. Lavo o cabelo bagunçado, desfazendo os nós com os dedos e me lavo. Depois de uns seis minutos, pego a toalha, enrolo em meu corpo e ando pela casa, deixando marcas molhadas de pé pelo piso de mármore.

Assim que me visto, a campainha toca. O caminhão de mudanças havia chegado finalmente, depois de se perder ontem. Ainda bem que tinha levado uma mala para a casa nova se algo desse tipo acontecesse. Abro a porta, e vejo dois homens tirando os móveis de dentro do caminhão, e outro parado em frente à porta com uma prancheta nas mãos e me encarando.

— Desculpe-nos pelo atraso de ontem. Garantimos que não acontecerá de novo. – ele diz, escrevendo na prancheta e batendo o pé impaciente.

— Sim, eu também garanto que não acontecerá novamente. – Isso que dava contratar gente incapacitada. Respiro fundo e abro a carteira, enquanto o homem estende a prancheta pra mim. – Aqui está o dinheiro, descontado do atraso que aconteceu.

O homem pega o dinheiro e se vira. Dava pra ver que ele estava bravo pelo desconto, mas o que eu poderia fazer? Eles tinham se perdido, logo a culpa era inteiramente deles. E eu precisava economizar, talvez tivesse sido até oportuno esse acontecimento. Os outros dois homens começam a descarregar os móveis dentro de casa enquanto vou para a cozinha e preparo um chocolate quente.

Saio da casa para observar minha nova rua. Vejo dois outros caminhões mais a frente, que também estão descarregando móveis. Pelo jeito todo mundo havia decidido se mudar hoje. Olho para a casa à minha diagonal, onde uma moça loira sai aos tropeços e quase cai no jardim. Seguro um riso, e bebo um pouco do meu chocolate. Ela entra no carro apressada e dá a partida, indo provavelmente trabalhar. Olho para a frente e vejo uma moça de cabelos escuros, mais baixa que eu (e olha que eu não era a definição de “alto”). Ela começa a me encarar, e percebo que já tinha visto ela em algum lugar. Desvio o olhar rapidamente e ouço buzinas, quando um carro ultrapassa o da moça loira e a mulher no volante começa a gritar com ela. Dou uma risada, quando um cachorro aparece do inferno e pula em cima de mim, me fazendo derrubar o café e cair na grama molhada da chuva de ontem.

— Mas que caralh… - digo alto, tentando me soltar do cachorro e me limpar, quando ele começa a me lamber. – Urgh, sai de cima de mim!

 Um cara aparece com uma coleira, chamando o cachorro de volta, e me pedindo desculpas.

— Me desculpe, a coleira soltou e ele saiu correndo… - ele dizia, prendendo o animal e com um sorriso de desculpas no rosto. Ele morava na casa ao meu lado, e a moça loira olhava pra ele quando tropeçou.

— Aham, OK, só deixa esse bicho longe de mim. – vou para dentro de casa me limpar, deixando o moço com o bicho sozinho.

Depois de meia hora, os móveis já estão nos lugares, e os três homens vão embora. Não eram muitos móveis para serem descarregados; a maioria tinha sido vendida para conseguir pagar a dívida da outra casa. Ainda bem que tinha achado essa por um preço acessível. O resto do dia iria se resumir a tentar conseguir um papel ou emprego de meio-período para conseguir pagar as contas. Suspiro e vou até meu carro, dando a partida e saindo.

No fim da tarde, depois de um dia nada produtivo, vou para um bar na rua de cima, cansado. Abro o computador e começo a mexer no feed do Twitter e me distrair com as pessoas em volta. Uma garçonete vem me atender, e sinto que também já tinha visto ela.

— O que vai querer? – ela pergunta, e reconheço sua voz ao mesmo tempo que ela reconhece meu rosto. – Gus?

— Maya? Quanto tempo! – Me levanto e abraço ela, e ela retribui meio sem jeito. Lembro-me então do que havia acontecido dez anos atrás e me afasto, pigarreando. – Então… O que faz aqui?

— Ah, sabe como é, a vida me trouxe aqui e tudo o mais… - Ela olha para mim, me analisando. Eu havia mudado muito em dez anos, e ela parecia mudada também. – Ah você não sabe quem eu encontrei hoje mais cedo quando fui fazer uma consulta. Lembra da L… - de repente um cara chama ela no balcão, pedindo batida de maracujá, e ela vai atender. – Já volto, só um minuto.

Me levanto no mesmo momento que um cara vem em minha direção e nos trombamos, fazendo com que as bebidas que ele levava na mão caíssem em cima de mim.

— Mas que merda! Hoje ta no dia do mundo derrubar alguma coisa em mim? – me levanto, ignorando o pedido de desculpas do moço e vou para o banheiro tentar me lavar.

Volto para minha mesa com uma mancha enorme de água na camisa, e sento na mesa. Já haviam recolhido os copos e limpado as bebidas caídas, e o moço já tinha ido embora. Reviro os olhos e me sento.

Fico observando as outras pessoas sentadas em volta, e vejo a moça loira sentada na minha frente de costas. Decido conversar com ela, mas quando me levanto ela vai para outra mesa, onde um moço está sentado esperando alguém. Era o mesmo moço que tinha me derrubado com o cachorro, e paro para olhar a situação quando outro cara chega com duas batidas, e percebo que eles são namorados.

Vejo que o homem com as batidas e a moça loira já se conhecem, e rio da situação antes de perceber que eles não me são estranhos.

Meu Deus.

Será que eram o… Não, não podia estar todo mundo reunido no mesmo lugar. Começo a caminhar até lá quando um moço sentado na mesa ao meu lado, meio mal-vestido e com a cara sonolenta, começa a convulsionar, caindo no chão. Me ajoelho ao lado dele, sem saber o que fazer, e ele treme nas minhas mãos.

— Um médico! Tem um médico aqui? Ele está passando mal!


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