12 anos atrás

Primeiro dia de aula pode ser uma experiência ruim para quase todo mundo. Mas para mim não. O primeiro dia de aula pra mim não era apenas ruim, como também pavorosa, horrível e traumatizante. A primeira coisa que penso enquanto vou para a escola nova é na minha antiga escola, e da vez que eu levei uma galinha para a sala de aula. Sim, uma galinha. E ela havia fugido.

Apago esses pensamentos da minha cabeça e me foco no que pode dar certo, e um vazio preenche minha mente. Começo a me desesperar e peço pra pararem o carro, mas já é tarde demais. Bom, primeiro ano do Ensino Médio, provavelmente teria gente nova como eu na sala e assim eu poderia me enturmar e nada daria errado. Certo?

Eu não poderia estar mais enganada.

De TODAS as salas do primeiro ano a minha era a única com uma novata: eu. Olho para os grupos de amigos já formados e sinto-me sufocada. Olho para meus All Star gastos, tentando evitar fazer contato visual com alguém, e seguro firme minha bolsa preta com vários broches de séries e livros. Respiro fundo e procuro por um lugar vazio. Acabo me sentando atrás de uma garota morena, com cabelos negros encaracolados, e ela olha pra mim intrigada:

— Se eu fosse você, eu não sentaria a… - Antes que ela termine de falar, uma garota com ar de arrogante chega na sala e olha direto pra mim, caminhando na minha direção. Sinto o julgamento no seu olhar, e olho para ela me perguntando “qual a porra do problema dela?”

— Quando disseram que teríamos carne nova, achava que era fresca, e não esse resto do porco que ninguém quis vender pro açougue. – Ela causa algumas risadas pela sala, mas ignoro e não desvio o olhar dela. Ela era magra, até demais. Seu corpo era desproporcional nas curvas e seu rosto era esquelético. Como achavam alguém assim bonita? – E por que você está sentada no MEU lugar?

— O seu nome tá escrito em algum lugar nessa mesa, garota? E eu não te conheço, cuida da sua vida. – Começo a colocar o material em cima da mesa.

— Não precisa diminuir os outros para se sentir superior, Gabrielle. Todos sabemos que você não é. – Uma garota sentada do meu lado fala, se levantando, e seus olhos faíscam iguais aos da garota arrogante.

Todos cessam com as risadas, e olho para a garota que havia me defendido com admiração, sorrindo em agradecimento. A magra-quase-anorexica, Gabrielle, fuzila a garota com o olhar, olha para mim e joga seu cabelo liso no meu rosto, se virando e pegando outro lugar do outro lado.

— Não ligue pra ela. Gabrielle é uma vaca por fora, e pior ainda por dentro. Mas de vez em quando é engraçado ver ela brigar com os professores. Meu nome é Letícia, e o seu é…? – a garota que havia me defendido se senta e começa a me analisar, mas sem o julgamento no olhar, e sim simpatia.

— Lara. – digo, e pego um livro da mala, colocando de lado para ler mais tarde. Não tinha sido um desastre completo, pelo menos. Era só ignorar pessoas que nem Gabrielle, e tudo estaria bem.

— Bom, Lara, essa é Maya, e… Bom, o BB ainda não chegou, mas nós três somos legais, se quiser ficar conosco. – A menina de cabelos encaracolados, Maya, olhava pra mim através de seus óculos, sorrindo, e depois se vira para organizar sua mesa.

Depois de uns 15 minutos, o professor chega. A primeira aula do ano era de física, e o professor apenas passou uns exercícios de revisão e começou a mexer no celular. Assim que terminei os exercícios (com muita dificuldade, diga-se de passagem), Maya voltou-se para mim.

— Ei, me passa o exercício dois? Sabe como é, odeio Física e esse professor não colabora em nada.

— Somos duas então. Física sucks. – empresto o meu caderno para ela, e assim que ela termina, começamos a conversar. Percebo, surpreendentemente, que temos muitas coisas em comum. Gosto musical, séries, livros, filmes de comédia romântica, e nós duas odiávamos Gabrielle.

— Ah, esqueci de te apresentar. Esse é o BB. BB, Lara. Na verdade o nome dele é Bruno, mas todo mundo chama ele assim. BB, ela é nova por aqui e é muito legal. – ela me apresentou o garoto do grupo, que havia chegado mais tarde meio sonolento. Ele sorriu pra mim e voltou para sua lição. Estava fazendo exercícios de matemática que ele mesmo tinha criado durante as férias. De acordo com ele, “fazia isso por pura diversão”.

Maya e eu continuamos a conversar, e eu senti uma conexão que nunca tinha sentido antes com ninguém, e fiquei surpresa em como o dia estava sendo suportável. Num ponto da conversa, Letícia havia se juntado a nós, e Bruno logo em seguida, deixando os exercícios de matemática de lado.

Quando o sinal para o intervalo tocou, Letícia queria me apresentar às outras pessoas com quem tinha amizade, e eu e Maya fomos com ela. BB havia ficado na sala para tirar algumas dúvidas com a professora de Inglês. No caminho, eu e Maya ficamos conversando enquanto Letícia tentava achar seus amigos.

— Sabe, ainda bem que você está aqui. Sem você e a Letícia, meu dia teria sido um desastre. Acho que eu e você vamos ser ótimas amigas. – disse, e fomos para perto de Letícia.