Todo o mundo escrita por fiore


Capítulo 3
Dor




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Pensei em todas as maneiras que tentei mostrar a Bia que seu lugar era comigo e que tinham sido em vão. Minhas energias haviam se esgotado. Talvez aquela fosse realmente a hora de aceitar a derrota. Os medos dela haviam me vencido. Eu havia lutado muito pra que ela aceitasse o que sentia por mim. 

Agora eu tinha uma mistura de vários sentimentos. Naquele momento eu que seus olhos brilhavam suplícios e seus lábios tremiam, percebi que os medos de Bia nunca permitiriam que fossemos felizes. Nunca ficaríamos juntas. 

Havia amor e desejo. Isso ela nunca conseguiu esconder. 

Abraçou-me forte. Minhas lágrimas misturando-se com as suas. A falta de ar nos pulmões assim como a falta de palavras que teriam a capacidade de descrever aquele momento. Agarrava-se a mim como se fosse incapaz de sair dali. As mãos a me buscar em todas as partes. O ar condensado ao nosso redor, o ar quente. O mundo parado ao ouvir meus lamentos silenciosos. Ela chorava mais, a pedir perdão. Acariciava-me os cabelos enquanto seus ombros sacolejavam. Os meus pesavam como se eu fosse o próprio atlas a segurar os céus, talvez Bia sentisse o mesmo. 

Não lembro-me com clareza como aconteceu, lembro-me apenas de dar-me conta que Bia estava de novo nos meus braços. Beijava-me com fome e desejo, eu tocava-lhe o corpo, sua voz sussurrante e macia nos meus ouvidos a gemer, e beijava-me novamente. Sua boca quente como se fosse o próprio inferno, não o céu. Me senti o próprio diabo. Mantive minha mente nevoada, fora de mim. Navegava em cada curva e cada ângulo que me cabia. Ou que não me coubesse, eu estava lá. 

Toquei sua barriga a deslizar a mão, senti-a estremecer, quando toquei-a na parte quente entre suas pernas. Conhecia todas as partes do seu corpo, sabia o que gostava e o que precisava. Senti-a contorcer-se sob meu toque. Engoli seu gemido rouco com um beijo, seu desesperado prazer perdeu-se no movimento de nossas bocas furiosas. 

Penetrei-lhe mais um dedo na carne quente e viscosa, arrancando-lhe ainda mais gemidos. Senti-a estremecer novamente, os dentes a marcar-me a pele do pescoço. 

Ouvi-a dizer ' eu te amo' entre meus cabelos, a palavra encheu-me o coração. Seus lábios vermelhos tremiam sem rumo, beijando tudo que havia pela frente. Senti-me terna. Naquele momento o mundo já não existia. A terra girava lenta e fora de órbita como se fosse um sonho. Sua voz doce e fraca sussurrava-me em eco as palavras. Os corpos suados, e a imensidão do mundo se perdia entre nós duas. Amava-a com sofreguidão. De alguma maneira sabia que era difícil para ela também. Mesmo que eu não entendesse. 

Em algum momento, Bia puxou-me para baixo de si. Seus olhos marotos carregavam um brilho diferente. Beijou-me os seios com devoção, dedilhando cada parte do meu corpo como se fosse um mapa, estremeci de prazer. O formigamento a carregar minha alma ao céus. Trilhou um caminho do meu pescoço à minha barriga, e continuava a descer. Forcei-me a conte-la. Normalmente ela não fazia aquilo, e não queria que ela se sentisse pressionada a nada que não quisesse. 

Os olhos suplícios novamente a me dizer que por favor. Não mais resisti e deixei que continuasse. Senti-me amada, e grata por ela existir. Pedi silenciosamente ao universo que me perdoasse por todas as garotas que fiquei para substitui-la. Bia era única. Isso eu sabia. 

Neguei-me a acreditar que fosse um despedida. Aquilo era um reencontro. 

Contorci-me dos pés à cabeça. Sua boca a beijar minha fragilidade. Agarrei-lhe o cabelo quando o terceiro rompante me atingiu. O mundo empalideceu.  

Quando acordei, tive medo de abrir os olhos. Mas senti sua respiração morna no meu pescoço, o peso quente de seu corpo nu sobre o meu, e permiti que um sorriso fosse posto em minha face, de maneira sincera e espontânea, como a muito tempo já não era. Beijei-lhe a testa. E voltei a dormir, os olhos pesavam exaustos, tranquilos de que estava tudo bem. 

Acordei novamente mais tarde e Bia já não estava. Senti-me fazia e fraca, com medo que tivesse ido embora. Obriguei-me a me manter calma e procura-la pela casa. 

As veze, quando Bia passava a noite comigo, eu acordava e ela não estava. Saia pela casa arrasada e a encontrava chorando arrependida em algum canto, os olhos vermelhos de chorar. 

Irritava-me mas tentava afastar seus medos e mostrar a beleza  que havia no que tínhamos feito. Ela tentava se mostrar convencida, mas dizia que era algo imperdoável. Perguntava-lhe se havia sido ruim, dizia-me que não. Eu a ajudava a se erguer e beijava-lhe com ternura e compreensão. 

'Amar uma mulher mesmo sendo uma mulher não é uma doença' dizia a ela 'não pense assim, você só se machuca. E esse pensamento nem é seu' ela assentia e voltava comigo para a cama. Me abraçava forte a pedir perdão em sussurros. Eu acabava adormecendo. 

Naquela noite fiz o mesmo na esperança de ter um final parecido. Ergui-me da cama mas antes de chegar a sala ouvi a porta de fechar. Corri a tempo de ver pela janela, Bia subir a ladeira a passos rápidos e trôpegos. Algo dentro de mim estralou e eu caí no chão. 

Em prantos fiquei ali encolhida por horas. 

Como um homem que se satisfaz, havia se erguido antes do cantar do galo e ido embora. 

A sua imagem ia-se se desfazendo em minha mente. As costas curvadas o cabelo despenteado. Andava troncha quase que aos tropeços, parecia um vídeo modificado para ficar lento. As coisas ao meu redor derretiam-se, o fogo a morder-me o pescoço. As palavras a flutuar no espaço, enforcando-me a goela. 

Aquela fora a ultima vez que eu a vi.


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