The Long Road escrita por Bella P


Capítulo 8
Capítulo 7




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Laurel esfregou os braços como se para espantar o frio, mesmo que o grosso casaco de lã estivesse fazendo um ótimo trabalho em protegê-la da baixa temperatura, e rodou o olhar a sua volta para as pessoas que andavam de um lado para o outro pelo saguão do aeroporto. Através das portas de vidro podia ver que a noite da Escócia estava sendo castigada por uma forte tempestade. Suspirou, caminhando até uma fileira de cadeiras de plástico e acomodando-se em uma delas, largando a sua mochila de viagem em outra ao seu lado.

Depois de sua consulta com o Oráculo adolescente, ela informara a Ártemis sobre a conversa que tivera com a jovem e a deusa a dispensara de sua função como Caçadora para prosseguir com a missão. Laurel ficara extremamente surpresa diante da boa vontade da olimpiana de fazer tal coisa sem temer os resultados desastrosos que isto poderiam acarretar. Retornar as origens para buscar no seu passado por resposta as suas dúvidas poderia ocasionar alguns problemas, mas parecia que a deusa não estava muito preocupada com isto. Parecia que ela já previa que tal coisa iria acontecer.

Jogou a cabeça para trás, mirando o teto do aeroporto e ignorando o barulho a sua volta de conversas, alto-falantes anunciando voos e gritos de crianças extasiadas ou choronas. Agora que estava, tecnicamente, de volta ao seu primeiro lar, por onde iria começar?

- Sempre dizem que é bom refazer os nossos passos quando estamos perdidos. - Lily deu um pulo em seu assento e somente não puxou seu arco e flecha porque estava em local público. Quando virou-se para a pessoa que lhe falara, o coração veio a boca ao ver um adolescente de cabelos dourados, óculos escuros, blazer Armani, calças jeans pretas com barra desfiada, camisa de algodão de grife e sapatos italianos.

- Apolo. - sibilou entre dentes, estreitando os olhos e o rapaz arqueou as sobrancelhas claras, a mirando por cima da armação dos óculos com os seus límpidos olhos azuis.

- O que aconteceu com o “senhor Apolo”?

- Abandonou o meu bom senso no segundo que o senhor mandou o seu Oráculo me enviar para cá. - resmungou aborrecida, erguendo-se da cadeira e recolhendo a sua mochila em um gesto brusco. O deus riu diante do temperamento esquentado da jovem e levantou-se também, a seguindo enquanto ela serpenteava as pessoas que perambulavam pelo grande saguão do aeroporto.

- Eu só estava tentando ser prestativo.

- Olha só como eu estou agradecida! - respondeu contrariada, continuando a caminhar sem nem ao menos lançar um olhar por sobre o ombro para o olimpiano que a acompanhava a alguns passos mais atrás Por fim, passou pelas portas automáticas do aeroporto e foi prontamente arrebatada pelo vento frio e respingos gelados da chuva que açoitavam a noite.

- E então? Vai pra onde?

- Como? - Laurel lançou um olhar para Apolo que parara ao seu lado e puxara um molho de chaves do bolso de sua jeans e apertou o botão do alarme. O farol de uma BMW preta que estava estacionada a poucos metros de ambos piscou e a jovem o mirou incrédula. - Eu não acredito que o senhor me seguiu dos EUA até aqui apenas para me dar uma carona. - o deus ofereceu a Caçadora um brilhante sorriso digno de um comercial de clínica dentária.

- E perder essa aventura de uma das meninas da minha irmãzinha? Nem por Zeus. - um trovão ressoou pelos céus e a garota encolheu os ombros enquanto o loiro gargalhava.

- Por favor... Abstenha-se de falar do seu pai quando estiver perto de mim. - falou, girando sobre os pés e seguindo calçada abaixo.

- Hei, aonde vai?

- Para longe do senhor! - passou as alças da mochila pelos ombros e freou abruptamente quando o deus surgiu na sua frente em um piscar de olhos. Apressada, olhou ao seu redor para certificar-se de que nenhum mortal tinha presenciado aquela pequena travessura do olimpiano, mas parecia que todos haviam fugido da chuva naquela noite e procuravam refúgio no saguão aquecido do aeroporto.

- Laurel! - a mão morna fechou-se em seu pulso, fazendo o mesmo acelerar consideravelmente diante do contato inesperado. - A sua teimosia está começando a me enervar. - Apolo deslizou os óculos escuros pelo rosto, os prendendo no topo da cabeça. - Terei que usar a minha autoridade divina sobre você? Sinceramente... Não gostaria de chegar a tanto. - encerrou em um tom firme e que dizia que não toleraria mais discussões. A jovem engoliu em seco. Estava acostumada a lidar com o deus-sol brincalhão e irresponsável. Esta nova faceta dele lhe causava uma reação que ela não conseguia identificar.

- Como queira... Senhor. - respondeu submissa, lançando um olhar para a mão em seu pulso e os dedos do deus foram abrindo vagarosamente, a soltando lentamente, como se hesitasse se fazia isto ou não. Resignada, deu meia volta e tomou o caminho para a BMW que esperava quieta pelos seus passageiros. Ainda emburrada, a jovem adentrou o carro, acomodando-se no banco de carona e ignorando o homem que sentou atrás do volante e acabara de ligar o motor.

- Então... Pra onde? - Lily silvou entre os dentes.

- Não sei... O senhor não sabe tudo, não vê tudo? Me diga você. - falou em um tom anormalmente adocicado e Apolo riu.

- Claro, claro. - pisou no acelerador e arrancou com o carro, provocando um grito agudo de surpresa da garota ao seu lado.

- O senhor tem algum problema com o excesso de velocidade?

- Gosto de viver perigosamente. A imortalidade pode ser tediosa às vezes.

- Se está entediado eu posso furar o seu olho com a minha sai! - rosnou com o coração aos pulos quando a BMW fez uma curva fechada, patinando no asfalto molhado. Apolo arregalou os olhos claros para ela diante da ousadia e da ameaça e depois gargalhou, de jogar a cabeça para trás e sacudir os ombros. - Olha pra rua!

- Você é muito certinha.

- E o senhor se esquece que se nos espatifarmos em um poste eu irei visitar Hades mais cedo, mas o senhor não! - isso pareceu ter trazido qualquer senso de juízo de volta a mente do deus que prontamente desacelerou e fez o carro percorrer as ruas de Edimburgo em uma velocidade mais amena. - Para onde estamos indo? - olhou a sua volta, mas a chuva intensa e as luzes amarelas das ruas a impossibilitava de reconhecer o caminho. Sem contar que a cidade havia mudado bastante na última década.

- Você vai ver.

Meia hora foi o tempo de viagem desde o aeroporto até o destino o qual Apolo a estava levando e quando chegaram ao mesmo, Lily arregalou os olhos surpresa ao ver os faróis do carro iluminarem os portões de bronze que cediam passagem para uma antiga e familiar casa em estilo vitoriano.

- O senhor só pode estar brincando. - a mansão tinha algumas luzes acesas que transpassavam as janelas de vidro e os jardins bem cuidados eram iluminados pelos raios que desciam dos céus e brilhavam no horizonte.

- Bem, está entregue. - anunciou sem desviar os olhos do portão a frente do carro e com os dedos apertando firmemente o volante. Lily engoliu em seco, mordendo o lábio inferior em seu usual gesto nervoso e lançou um olhar de esguelha para Apolo ao seu lado. Ele não se movia nem a encarava e a sua expressão estava séria como normalmente não ficava.

- Bem... - abriu a porta do carro e algumas gotas de chuva aproveitaram a deixa para invadir o mesmo. - obrigada pela carona. - desceu do veículo, batendo a porta atrás de si e recuando em um pulo quando a BMW deu uma ré brusca, girou sobre a trilha de pedra brita, espalhando algumas, e desapareceu na escuridão. Laurel suspirou, retirando os fios escuros molhados que caíam sobre os olhos e indo até o portão, o escalando com a facilidade que os anos de Caçadora lhe deram.

Latinos a cumprimentaram assim que ela pôs os pés no terreno da mansão Graham e a jovem virou-se para ver dois cachorros da raça doberman se aproximarem com os dentes afiados a mostra e rosnando para a sua pessoa. Com movimentos lentos e suaves, abaixou-se até colocar-se de joelhos na altura dos olhos dos animais e estendeu uma mão para eles. Ambos a miraram desconfiada, ainda latindo, até que o da esquerda calou-se e com um ganido achegou-se da adolescente, fungando a mão estendida e depois a cutucando com a cabeça pedindo por carinho. Seu companheiro logo o imitou.

- Bons meninos. - Laurel murmurou com um sorriso, afagando a cabeça peluda de ambos os animais e erguendo-se do chão. - Agora fiquem aí. - ordenou e os cachorros sentaram obedientes enquanto a garota afastava-se em direção a casa. Deu a volta pelos jardins, passando por um gazebo e uma estufa. Ao longe pôde ver a silhueta da casa que servia como garagem para os carros de luxo da família. Mais abaixo, em um desnível do terreno, ficava a área de lazer com a piscina e a quadra de tênis. Chegou aos fundos da construção onde uma varanda familiar se encontrava e em frente a mesma o salgueiro que lhe foi companhia por quatorze anos.

Escalou a árvore com destreza e usou um de seus galhos como suporte, tomando impulso e jogando-se dentro da varanda, pousando elegantemente na mesma. As portas de vidro estavam fechadas e cobertas por cortinas de seda branca. Testou a maçaneta e encontrou a mesma trancada. Não abalou-se. Retirou um canivete do bolso, o usando na fechadura em poucos minutos encontrou-se dentro do aposento e o que viu a surpreendeu.

A mesma cama com colchão tamanho duplo estava lá, com as cobertas fofas o forrando. Os móveis claros não haviam sido mudados de lugar, assim como os enfeites que os adornavam. Os quadros, os brinquedos, tudo estava como ela havia deixado há anos. Aturdida, abriu algumas gavetas e portas do armário. Suas roupas, as que deixara para trás pois não precisaria delas para a Caçada, estavam intactas. Era como se todo o local tivesse parado no tempo esperando o retorno de sua moradora.

- Isso é loucura. - falou em um sussurro chocado. A passos rápidos foi para a porta do quarto, girando a maçaneta e vendo que a mesma estava destrancada. Colocou a cabeça no corredor e o mesmo parecia ter mudado com o tempo, com algumas decorações tendo sido alteradas e a cor da parede mudada. Fechou a porta e retornou ao quarto. Passou a ponta do dedo sobre a escrivaninha e atestou que a mesma estava isenta de poeira. Ele era limpo e cuidado, mas inalterado.

Era assustador. Olhar para aquele lugar a fazia se lembrar de um mausoléu.

- Eu sabia que você ia voltar! - Lily virou-se abruptamente e amaldiçoou-se pela sua gafe. Não ouvira a porta do quarto se abrir e por isso fora pega de surpresa e agora havia sido flagrada e o pior de tudo, flagrada por seu pai. Ele estava parado sob o beiral vestido com um cardigã vinho e calça social preta, sapato de couro e seus cabelos que um dia foram de um tom caramelo agora tinham vários fios brancos.

- Lorde Graham... - abriu a boca para falar e levou a mão aos olhos, os protegendo quando a luz do quarto foi acesa subitamente pelo homem, a cegando por alguns segundos.

- Por Deus... - Noah cruzou o aposento como um raio e envolveu a garota em um abraço apertado, praticamente a esmagando contra o seu peito largo. - Lily. - ofegou como se algo estivesse impedindo a passagem de ar por sua garganta.

- Senhor Graham! - Laurel afastou-se dele, o empurrando para longe de si em um gesto brusco. - Creio que não sou quem o senhor pensa que eu sou. - explicou-se. Esperava que o homem chamasse a segurança por ter uma invasor em sua casa e não tivesse um ataque de nostalgia com a sua pessoa.

- Lily... - Noah a mirou intensamente como se a estivesse vendo pela primeira vez e recuou um passo, franzindo as sobrancelhas grisalhas. Tinha certeza que aquela era a sua filha, mas ao mesmo tempo não era. Lily deveria ser uma mulher feita há esta altura da vida mas a jovem parecia estagnada no tempo como o quarto ao redor deles. - Quem é você? O que faz na minha casa? - essa era a reação que Laurel esperava e temia.

- Eu... - ótimo, como iria lidar com isto? - Procuro por informações. - história, história. Precisava de uma boa história e precisava agora. E não acreditava que iria fazer isto, mas não tinha outra escolha. Por fim, cedeu e acabou rezando a Apolo pedindo ao deus por um pouquinho de inspiração. Afinal, ele também era responsável pelas Musas. E pôde jurar que ouviu aquela gargalhada que era marca registrada dele em seu ouvido.

- Informações?

- Sobre a... mãe de sua filha... Lily. - isso era o melhor que ele tinha a lhe oferecer? Noah cruzou os braços sobre o peito, a mirando como se ponderasse se chamava os seguranças agora... Ou agora. - Acho... Não, tenho certeza, de que ela também é minha mãe e achei que encontraria pistas sobre ela aqui já que o senhor e ela tiveram um relacionamento... - isso era ridículo. O senhor Graham jamais compraria esta ladainha.

- Bem... - impossível, pensou Laurel com descrença. - vocês até que são parecidas. Não é a toa que eu te confundi com a minha filha desaparecida. - o homem suspirou, caminhando até a cama no centro do quarto e sentando-se sobre o colchão.

- O senhor pode me ajudar?

- Como você chegou até a mim? - Laurel fez uma careta e um gesto vago com a mão.

- Algumas fofocas às vezes têm um fundo de verdade. - explicou, lembrando-se de todas aquelas socialites que gostavam de falar mal da vida alheia. Ainda mais quando se tratava da sua vida. Noah assentiu com a cabeça. O nascimento de Lily havia sido o maior dos escândalos que recaiu sobre a família Graham, mais do que os seus casos. Não duvidava que a jovem tivesse ouvido falar sobre isso e associado uma coisa a outra. O desaparecimento da herdeira também fora notícia por bastante tempo e a foto dela percorrera a mídia por vários meses, o que com certeza deve ter intrigado a menina diante da semelhança entre as duas.

- Daphne era um mistério para mim. - Laurel enrijeceu. Se tinha alguma dúvida se a sua mãe era uma ninfa, acabara de perdê-la. - Ela me fascinava e me intrigava ao mesmo tempo. Por ela eu teria largado tudo, meu nome, posição, minha esposa... - a jovem arregalou os olhos. Esta parte da história ela não conhecia. - Mas alguma coisa a amedrontou. Alguma coisa a fez se afastar de mim e quando percebi ela tinha desaparecido. Não sei porque, nunca tive uma explicação. Então, meses depois, me apareceu aquele bebê na minha porta. Faz ideia da raiva que eu senti? - ah, Lily fazia ideia. Ela sentiu esta raiva por anos. - Como ela tinha a coragem de largar a nossa filha assim? Abandonar a nós dois?

- E o senhor nunca descobriu o por quê? - aparentemente seu pai não sabia que teve um caso com uma deusa.

- Não. Minha mãe vivia dizendo que era para eu ser compreensivo, que ela deveria ter suas razões, que era para eu esquecer e seguir em frente.

- Mulher sábia a sua mãe. - segurou-se para não sorrir ao lembrar-se de sua adorada avó.

- Eu sempre tive a sensação de que a minha mãe sabia era demais.

- Como?

- Era como se ela soubesse o segredo de Daphne e compreendia o porquê dela ter me deixado. - essa era outra novidade.

- Entendo... Só mais uma coisa Lorde Graham. Onde o senhor conheceu Daphne?

- Grécia. Em Creta. Estava implantando uma sociedade no país na época. Fiquei alguns meses lá. - se a árvore de sua mãe não tivesse sido destruída ou trocada de lugar, então ela ainda estaria lá. Mas antes, talvez precisasse fazer uma visitinha a sua avó.

- Obrigada pelas informações Sr. Graham. - agradeceu, indo em direção as portas de vidro que levavam a varanda.

- Espera! - Lily parou, virando-se para mirar o homem. Ele ergueu-se da cama em um pulo, indo até o armário e o abrindo, revirando os cabides e retirando um casaco de tecido impermeável e com capuz, o estendendo para a garota. - Era um dos favoritos da minha filha. - explicou e a jovem surpreendeu-se por ele saber deste fato. - Quero que fique com ele. - muda, pegou a peça de roupa, a vestindo por sobre o casaco que usava, percebendo que a mesma emanava um cheiro gostoso de lavado.

- Se... Se eu encontrar Daphne... O senhor quer mandar algum recado a ela? - perguntou antes de partir e Noah desviou o olhar e depois sacudiu a cabeça em uma negativa.

- Por anos eu perguntei “por quê?”, mas descobri que não tenho coragem de saber a resposta. Boa sorte em sua busca. - Lily assentiu positivamente e deu as costas para ele, saindo do quarto da mesma maneira que entrou e deixando o pai para trás. Quando finalmente encontrou-se segura, longe do perímetro da mansão Graham, deixou-se acomodar entre as raízes de uma árvore centenária e abraçou os joelhos, colocando a cabeça entre os braços cruzados e pondo-se a chorar.


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