The Long Road escrita por Bella P


Capítulo 10
Capítulo 9




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- Você não precisa ir tão cedo. - Laura comentou enquanto via a neta colocar a mochila nas costas, parada na varanda da casa da fazenda durante as primeiras horas da manhã.

- Quanto mais rápido eu resolver isto, mas rápido retorno as Caçadoras. - explicou a garota e a mulher franziu as sobrancelhas.

- Retornar as Caçadoras... Laurel? - a adolescente ergueu os olhos das fivelas que ajeitava na mochila para mirar a avó. - Você já se perguntou qual é o objetivo desta missão?

- A senhora Ártemis...

- Já conversamos sobre isso, Lily. - a mulher a interrompeu. Na noite passada ficaram até tarde com Laurel contando para a avó o que fizera nos anos em que se tornou uma Caçadora, sobre a guerra entre o Olimpo e Cronos e sobre a missão. - Ártemis disse que ser uma Caçadora é apenas parte do seu caminho. Mas que caminho é esse? E que respostas você precisa buscar com essa jornada?

- Talvez saber mais sobre as minhas origens...

- Suas origens a própria deusa poderia lhe dizer, você faz parte da corte dela. Talvez a pergunta não seja: quem você é, mas sim o que você quer.

- Como?

- O que você quer Laurel?

- Como assim o que eu quero?

- O que você quer da sua vida?

- Oras eu... Sou uma Caçadora.

- Não, querida, isto é o que você é. Mas você quer continuar sendo uma Caçadora?

- Claro que eu quero! Se eu não for uma Caçadora, o que eu vou ser? Onde vou viver? Não tenho lugar neste mundo...

- Isto não é verdade. As portas da minha casa sempre estarão abertas para você minha filha.

- Eu sei vovó, mas o mundo mortal não é mais o meu lugar. Sinto isso.

- Entendo.

- Bem, eu preciso ir. - foi até a mulher, a abraçando com força e depois afastando-se dela e descendo os degraus da varanda.

- Lily! - parou, olhando por cima do ombro para ela. - Uma curiosidade... Quando foi que começaram as suas dúvidas? Quando foi que você começou a se perguntar o que você quer? - inspirou profundamente, refletindo a pergunta da avó e assustando-se ao chegar a uma conclusão surpreendente.

Foi no dia que conhecera Apolo.

- Manterei contato. - foi a única resposta que deu, terminando de descer as escadas apenas para soltar um grito surpreso ao deparar-se com uma caminhonete que já vira melhores dias parada em frente a entrada da casa. E podia jurar que segundos antes ela não estava ali.

- Oras... Visita? Tão cedo? - Laura desceu da varanda, parando atrás da neta e mirando a porta da caminhonete que se abrira e um adolescente de dezessete, dezoito anos, descera da mesma.

- Mas será o Benedito! - Lily jogou as mãos para o céu, não acreditando no que via. - O que é isso? - apontou para a caminhonete verde musgo cheia de ferrugem, com amassados na lataria, pneus carecas e vidros trincados.

- O que você acha que é isso? Já que o Maserati não te impressiona... Resolvi ser discreto desta vez. - a morena arregalou os olhos.

- Isso deveria ser considerado heresia. Você transformou a carruagem do sol em uma lata velha! - Laura ofegou atrás da neta ao ouvir a conversa. O jovem que já lhe parecia familiar tivera a identidade completamente confirmada só com essas palavras. O que, afinal, o senhor Apolo estava fazendo ali naquela hora da manhã, antes mesmo do sol nascer?

- Você realmente é uma criatura difícil de se agradar. - resmungou o deus.

- E pela enésima vez eu pergunto: o que o senhor faz aqui?

- Espera ir para o continente como? Nadando?

- Cheguei aqui sem o senhor...

- Hah! Sem mim! Acha mesmo que foi pura sorte ter passado pela alfândega com as suas armas e pela imigração sem chamar a atenção do juizado de menores por estar viajando sozinha sem ter uma ajuda divina?

- Pelos deuses no Olimpo!

- Deixa de ser ingrata! É caminho mesmo.

- Caminho? Não vou viajar em um carro que corre o risco de desmontar. - aproximou-se da caminhonete, esticando a mão para tocá-la e provar o seu ponto de vista quando uma mão fechou em seu pulso.

- A não ser que você seja fã de queimaduras de primeiro grau sugiro que não faça isso. - a jovem assustou-se diante do toque repentino e arrancou seu pulso do aperto da mão de Apolo em um gesto brusco, afastando-se dele aos tropeços.

- Repito, não vou viajar em um carro que corre o risco de desmontar com a primeira brisa que aparecer. - resmungou e o deus rolou os olhos, exasperado, retirando o alarme do bolso de seus jeans e apertando o botão com dois cliques. O aparelho apitou e o carro brilhou e logo a velha caminhonete enferrujada dava lugar ao reluzente Maserati vermelho vivo.

- Feliz agora?

- Não necessariamente. - Apolo bufou.

- Você sente prazer em me contrariar! - Laurel apenas empinou o nariz e caminhou até o carro cujas portas abriram-se com um sibilo de ar pressurizado.

- Senhor Apolo. - Laura parou ao lado do deus que a mirou longamente.

- A conheço?

- Não senhor.

- Mas a senhora me conhece.

- Apenas de vista. - a velha mulher deu um sorriso que era uma mistura de divertimento e mistério enquanto via a neta entrar no carro cheia de pose e pompa. - Agradeço por estar acompanhando Lily nesta viagem.

- São parentes?

- Lily é minha neta. - explicou-se e o deus olhou longamente para a mulher como se procurasse algo nela.

- Noto a semelhança. - afastou-se um passo na direção do carro mas pausou, como se reconsiderando alguma coisa, e voltou-se para a Sra. Graham. - Ela sempre foi assim?

- Assim como? - fez-se de desentendida.

- Teimosa como um Pégaso empacado? - Laura riu.

- Bem... Há dez anos não. Mas há dez anos ela era uma adolescente insegura.

- Ela ainda é uma adolescente.

- Senhor Apolo. O corpo pode ser de uma garota de quatorze, mas a mente é de uma mulher adulta. Creio que o senhor já percebeu isto. - claro que Apolo percebera. Lily tinha a teimosia, a língua afiada e o olhar sábio de alguém que ia muito além da idade que aparentava ter, normal para uma Caçadora. O corpo poderia permanecer jovem, mas a mente amadurecia conforme os anos passavam, mesmo que o físico não a acompanhasse.

- Imaginei. Bem, melhor irmos. Está na hora de amanhecer. - comentou, olhando para o céu ainda escurecido e Laura assentiu com a cabeça enquanto via o olimpiano ir até o Maserati e acomodar-se atrás do volante, batendo a porta com força. Laurel nem ao menos virou o rosto para reconhecer a chegada do deus ao carro e somente apertou a sua mochila entre os dedos e continuou mirando o horizonte com um olhar vago. A Sra. Graham sorriu.

- Espero que os deuses saibam o que estão fazendo. - comentou baixinho, virando o rosto no momento que o conversível brilhou e disparou em direção aos céus. Poucos minutos depois a mulher pôde ver o sol nascendo no horizonte e retornou para dentro da casa para preparar-se para mais um dia atarefado.

 

oOo

 

- É nisto que se resume a sua carona? - Laurel disse aborrecida enquanto descia do carro em uma calçada do Champs Elysées.

- Bem, você mesma falou sobre “interferência direta”. Então... Estou tentando não interferir. - Lily rolou os olhos. Agora que ele resolvia se preocupar com as regras do Olimpo? Justo quando ela estava mais do que disposta a aceitar uma viagem direta, sem escalas, até a Grécia. E não até a França.

- E logo hoje o senhor resolveu tomar consciência de suas responsabilidades. - Apolo deu um sorriso maroto para ela através da janela do motorista e a jovem teve a sensação de que ele fizera de propósito. A deixara no meio do caminho apenas para irritá-la.

- Bem, tenha uma boa viagem. - desejou, retirando os óculos escuros do porta luvas e o colocando no rosto, dando outro sorriso charmoso para a garota e girando a chave do conversível na ignição, acionando o motor e em seguida disparando com o carro. Um rastro de fogo ainda brilhou no asfalto onde o Maserati estivera antes de apagar-se por completo e Lily suspirou exasperada, jogando a mochila nos ombros e tomando o caminho na direção dos Arcos do Triunfo. Não tinha verba para pegar um avião até a Grécia e ao mesmo tempo manter-se nesta viagem, mas ao menos tinha para pegar um trem.

Parou em uma banca de jornal que terminava de levantar as suas portas e arrumar suas prateleiras, comprando com algumas moedas um mapa da Europa e um guia das linhas do Eurorail que cruzavam o continente. Com um aceno de cabeça em agradecimento ao vendedor, encaminhou-se para a estação mais próxima e comprou a primeira passagem para Viena. De lá pegaria uma carona para Budapeste e depois outro trem para Sofia, na Bulgária. Mais uma carona até Atenas e então um barco até Creta.

Suspirou, dobrando o mapa e o guardando em sua mochila. Realmente seria uma longa viagem.

 

oOo

 

Viena era fria. Foi a primeira coisa que atestou assim que desceu do trem e chegou as ruas da cidade, no meio da noite, fechando a sua parca prata fortemente em torno de seu corpo para tentar conservar algum calor no mesmo. Pegou o mapa de volta de sua mochila a procura da estrada mais próxima que levava a fronteira da Áustria e começou a caminhar na direção dos limites da cidade. Como Caçadora, já rodara vários lugares do mundo com a senhora Ártemis, mas confessava que era a primeira vez que ia para aqueles lados da Europa. E sozinha tudo parecia ainda mais assustador.

Logo encontrou um posto de parada onde carros e caminhões se encontravam, as luzes de néon causando um show de luz e sombra na rua escura visto que a cada passo que dava a popular e histórica Viena ficava mais e mais para trás. Cruzando os braços sobre o peito e incerta, foi na direção da lanchonete que havia no posto, entrando na mesma e agradecendo pela atmosfera quente que encontrou contrastando com o frio da madrugada que estava na rua. Acomodou-se em uma mesa.

- O que vai querer minha jovem? - um homem de meia idade, baixinho, com cabelo já retrocedendo nas têmporas e magricela aproximou-se da mesa dela empunhando uma caneta e um bloquinho nas mãos e Lily assustou-se com a aparição repentina do garçom.

- Ah... - abriu o cardápio que estava apoiado em um saleiro. - O que o senhor recomenda? - o garçom franziu as sobrancelhas espessas.

- A salada de ovos com torradas está divina! E o chocolate quente é especialidade da casa. - Laurel assentiu com a cabeça.

- Então é isso o que eu vou querer. - pediu, fechando o cardápio e o homem fez que sim com a cabeça, afastando-se da mesa dela e sumindo atrás do balcão. Desviou o olhar para a grande vitrine que servia de janela do restaurante e pôs-se a observar a movimentação no posto. Alguns carros saíam, outros entravam e paravam em frente as bombas de combustíveis. Teve um sobressalto ao achar ter visto um familiar conversível vermelho em uma das bombas, mas pensou o quão estúpido seria testemunhar o carro do sol em um lugar como aqueles. Quando que a carruagem do sol iria sofrer, algum dia, de pane seca?

- Aqui está. - o garçom retornara, depositando um prato com ovos e torradas em frente a jovem e uma caneca fumegante de chocolate quente. - Se não for muita ousadia a minha perguntar... Mas para onde uma jovem da sua idade estaria indo sozinha? - Lily mirou o garçom curioso, de seus olhos escuros aos cabelos grisalhos e estreitou os olhos em desconfiança. Algo nele fazia todos os seus sentidos ficar alerta.

- Por que quer saber?

- Parece que vai ser uma viagem longa. - o homem puxou uma cadeira e sem convite algum sentou-se de frente a garota.

- Quem é você? - ele sorriu, tamborilando os dedos sobre a mesa.

- Aquele caminhão – indicou com a cabeça um caminhão baú que estava parado a poucos metros de distância do lado de fora do restaurante e que tinha nas laterais o logo de uma transportadora de carga alemã. - Está indo para Belgrado na Sérvia. Sei que não é para onde você pretende ir, mas a deixará perto de onde quer chegar. - Lily abriu a boca, estupefata, diante do que ele estava sabendo sobre a sua missão.

- Como... - surpreendeu-se quando com um estalar de dedos o seu jantar transformou-se em pacotes de lanche para a viagem que foram prontamente colocados em sacolas.

- Talvez seja melhor você ir... sua carona já vai partir. - hesitante ela ergueu-se da cadeira, recolhendo a sacola e ainda mirando o garçom com mais intensidade, tentando reconhecê-lo.

- A conta...

- Por conta da casa. - ele sorriu maroto e a luz fez-se na cabeça da jovem.

- Muito obrigada... senhor Hermes. - agradeceu, virando-se sobre os pés e disparando pela porta da lanchonete na direção do caminhão baú. Quando chegou próximo ao mesmo, lançou um último olhar para a vitrine do restaurante apenas para ver que o olimpiano já havia sumido. Com gestos rápidos destravou a porta do bagageiro do caminhão e adentrou o mesmo, batendo a porta atrás de si. Revirando a sua bolsa, encontrou dentro dela a lanterna que carregava nesta viagem e ao rodar o feixe de luz pelo baú percebeu estar cercada por caixas contendo vários produtos eletrônicos.

Calmamente caminhou até o fundo do caminhão, acomodando-se entre duas largas caixas que continham TVs de plasmas e usando a sua mochila como travesseiro, acomodou-se contra a parede de ferro do carro. Logo sentiu o tremer suave do motor percorrer toda a lataria da carreta e a mesma começar a se mover e com o cadenciar proporcionado pelos amortecedores e suspensão de ar ela permitiu que o sono e o cansaço a dominasse, adormecendo rapidamente durante toda a viagem.

 


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