Atro Cataclisma escrita por EvellySouza, NatyKatarynna
Notas iniciais do capítulo
Espero que gostem, e desculpa pela demora. :)
Um minuto. Por apenas um minuto tudo não é jogado por água à baixo. Exatamente um minuto após eu conseguir me sair daquela conversa sem fim, a lucidez se esvai do meu corpo e caio antes mesmo que Joseph consiga se mexer.
***
Acordo desorientada e assustada, tudo ainda girava. Joseph tenta me acalmar o máximo que pode considerando sua fraqueza e Mallu está ao pé do colchonete um tanto quanto surpresa com a situação. Isso dura poucos segundos, e então tudo começa a entrar em foco. Passo as mãos pelo rosto certificando-me de que minha consciência se fazia presente, coloco dois dedos à minha frente, vejo três. Novamente. Três. De novo. Dois. Respiro fundo aliviada.
̶ Ei... am... or... – sinto as mãos dele tentando alcançar meus braços.
Estive tão estonteada que nem percebi a poça de sangue em que estávamos. Na tentativa de me reanimar e me conter após eu acordar, Joseph havia gastado toda a pouca energia presente em seu organismo, e a tosse que vinha como anuncio da fraqueza havia o tomado, trazendo junto sangue, muito sangue.
̶ Tudo... be... bem? – ele pergunta, pálido pelo esforço.
̶ Desculpa amor, desculpa. – levanto e ajoelho próximo ao seu rosto para vê-lo melhor. – Deve ser por causa do excesso de esforço que fiz nos últimos dias, acho que Emma não gostou disso. – sorrio.
̶ Se for... ‘ele’, acho... que... que ele não... vai gostar de... de voc... cê chamá-lo assim. – ele ri, antes que a tosse acompanhada de sangue tome espaço e o impeça de continuar.
̶ É sua culpa ele não ter nome. – brinco tentando aliviar a dor que ele sente, e funciona, pois vejo um resquício de sorriso em seus lábios.
Isso alivia minha tensão, e então afasto-me dele.
Preciso me recompor, colocar minha cabeça no lugar para planejar como levaria Joseph daquele jeito, como limparia aquela bagunça e me livraria daquela roupa inundada de sangue antes que alguém visse.
Mãos à obra. Com o chão de terra da nossa cabana não foi muito difícil cobrir todo aquele sangue com mais terra. O complicado foi leva-lo ao rio, mas depois de um banho e da aplicação que fizemos nele, seu estado físico melhorou, não muito, porém suficiente para que conseguisse manter-se de pé e caminhar.
Uma hora e meia, e estamos prontos em formação à frente do Major Van recebendo as últimas instruções. Ora, ou outra desvio meu olhar e encontro-o com os olhos fechados e lábios apertados, talvez só eu enxergasse mais seu corpo pedia descanso, ele não aguentaria por muito mais tempo ali.
Então, faço o que está ao meu alcance.
̶ Major. – chamo sua atenção para mim. – Gostaria de conversar com o senhor por um segundo. – digo já me distanciando do grupo para obriga-lo a vir.
Um pouco relutante, e não muito feliz.
̶ Acredito que saiba que não gosto de interrupções Capitã Fernandez. – diz ríspido.
— Senhor, entendo e prezo sua preocupação com a realização desta missão, contudo, acredito que meus soldados necessitam descansar e se despedir de suas famílias antes de partirmos. Quanto a mim posso ficar aqui e revisar o plano e repassar todos os protocolos necessários. Então, peço-lhe que os libere para que possamos sair antes do entardecer.
̶ Está me dizendo que levará seus homens sem os aconselhamentos necessários?
̶ Não, senhor. – digo engolindo um seco ao ver Joseph cambalear. – O que digo é que repasse as informações remanescentes e os conduzirei e repassarei a eles no decorrer da missão.
̶ Confiei em você para essa importantíssima missão Capitã Fernandez, anseio não me arrepender amargamente com a decisão.
̶ Asseguro-lhe senhor que farei o meu melhor. Todavia, não nos esqueçamos que para estes que estão aqui deixando o que sobrou de suas famílias em prol de um bem maior, pouca esperança resta e acredito que nos braços de seus entes eles encontrarão forças para lutar e voltar para reencontra-los, o que lhe peço é apenas a chance de mostrar a cada um a necessidade pessoal que todos temos de voltarmos vivos.
O olhar gélido dele é a única resposta que obtenho antes que ele vire as costas e saia em direção ao pequeno palanque montado com tábuas gastas que servia para que o interlocutor pudesse olhar a todos que estavam o escutando.
Sigo andando até meu lugar, próximo ao palanque. Do meu lado esquerdo 3º ten. Dylan Bomer que estará me auxiliando, ao meu lado direito 1º Sgt. Lauren a única enfermeira disponível para nos acompanhar. A escassez de peritos da área de medicina era nossa maior preocupação, e quando se achava alguém, tínhamos um diamante em carne osso. Mantê-la em segurança, assim como o virologista que estávamos prestes a encontrar já seria uma missão bem complicada, com Joseph naquela situação seria basicamente, missão impossível.
̶ Capitã Fernandez? – Bomer me chama, despertando-me de meus pensamentos.
̶ Sim? – mas nenhuma palavra é necessária, tomo ciência da situação a volta ao ver o Major Van me encarando, já no último degrau. Minhas instruções.
Em menos de 2 minutos passei todas as instruções restantes, que se reduziam apenas ao nosso horário de saída e a verificação de alimentos, armas e outros itens. Ao dispensar todos, vejo o olhar de agradecimento que Joseph me lança já sentando em um toco de madeira próximo fingindo arrumar o cadarço da bota. Sorrio com a situação. Na verdade, eu poderia ficar observando aquela cena por um bom tempo, mais a voz grave e um tanto irritante naquele exato momento, estava chamando pelo meu nome.
̶ Sim Major Van?
̶ Acompanhe-me, capitã. Temos muitos assuntos a tratar.
Reviro os olhos, antes de seguir para o que viria a ser uma tarde tediosa, ouvindo tudo o que eu já sabia por trilhões de vezes de diferentes formas.
São 18h03m, faltam apenas 27 minutos para nossa saída.
Entro na tenda e sou surpreendida com abraço de alguém que não chega nem ao meu ombro.
̶ Tia não vai, por favor. Não me deixa. – a voz doce e suplicante seguida do soluço de um choro desvelado me deixa sem ar e reação.
Olho para Joseph pedindo ajuda com as palavras, mas seu olhar me diz que já fez o seu máximo. Me agacho para ficar do seu tamanho e abraça-la. Seus bracinhos me abraçam com força, como se aquilo fosse a única forma de manterem a integridade.
̶ Iremos voltar, meu amor. E logo. Jamais te abandonaríamos. – tento explicar, mas seus braços continuam enlaçados em volta do meu pescoço. – Ei, olhe para mim. – peço, e segundos depois aos poucos seus braços vão afrouxando. Seus olhinhos vermelhos por conta do choro me encaram buscando sinceridade. – Eu e Joseph voltaremos, disso tenha certa. Mas quero saber se pode esperar pela gente, você acha que consegue ser forte enquanto estivermos fora?
̶ Vocês irão voltar? Lá fora tem bichos, eles podem machucar vocês.
̶ Claro que vamos, não vê como somos fortões? – levanto os braços mostrando os músculos. – Espantaremos todos para longe daqui.
̶ Tá bom. – ela diz um pouco relutante enquanto passa aos mãozinhas no rosto na tentativa de enxugar as lágrimas.
Abraço-a por um bom tempo, me despeço com o coração partido.
5 minutos para saída.
Uma rápida olhada à minha volta, um dos meus soldados, Gabriel, dá um último beijo abraço no filho e em sua mãe que chora, ao vê-lo entrar no veículo. A sargento Lauren abraça o marido. Soldada Milena anda vagarosamente após deixar as duas filhas chorando para trás. Tenente Dylan beija a testa da irmã grávida e sussurra ao seu ouvido, provavelmente alguma promessa que não pode assegurar seu cumprimento. Sargento Marcus tentar consolar os filhos com a tentativa falha da esposa que também chora. Joseph, encostado no veículo sorrio para mim tentando manter-se positivo e consciente.
2 minutos para saída.
Como um fardo intangível sinto pesar sobre minhas costas, meu corpo, meu espirito a felicidade daquelas famílias. E dói, dói muito.
30 segundos para saída.
Após Joseph subir no veículo, é minha vez. Contudo, algo me puxa pelo braço e sussurra ao meu ouvido:
̶ Quero Dr. Peter e a sargento Lauren à salvos aqui, bem aqui, em algumas semanas. Então, se alguém do seu grupo se infectar, mate-o. Mesmo que seja seu marido. – a voz grave soa aos meus ouvidos.
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